Porto e Barcelona são duas cidades distantes por razões óbvias, mas durante todo o mês de Julho têm estado bastante próximas. O espaço Maus Hábitos recebe cerca de setenta artistas vindos de Barcelona, num evento que se apelidou de “BCN, T'ho Porto, BCN To Porto”. A ideia, segundo os comissários Gerald Altaió, Matilde Grau e Daniel Pérez, é a de “transformar os 600 metros quadrados do Maus Hábitos numa pequena Barcelona” e, desta vez, seriam os The Linn Youki Project os responsáveis pela união ibérica. Peculiarmente chamado por um trompete que irrompeu no meio da sala principal do Maus Hábitos, o público encaminhou-se até ao local do espectáculo, caminhando e percorrendo as pequenas salas e corredores do espaço. No palco, dois baixos e uma bateria. Ao seu lado, um ecrã fazia adivinhar que o concerto seria acompanhado de imagens.
© Matilde Grau |
Os The Linn Youki Project, provenientes obviamente de Barcelona, nasceram em finais de 2002 e são o projecto de Marco Morgione, ex-membro dos Fluzo, mais conhecido pelo seu trabalho com os Glissando. Segundo o próprio Marco Morgione, a intenção deste projecto é a de “criar uma banda sonora de vanguarda e lo-fi para desenhos animados”, e a verdade é que os resultados são animadores. Para descrever o som dos The Linn Youki Project, haviam sido referidos nomes como Neu!, My Bloody Valentine, Tortoise, DJ Shadow e Boards of Canada, mas ao vivo o seu som assemelha-se mais a uma junção dos sons arrastados e da tensão de uns Godspeed You Black Emperor! com a mutabilidade de estruturas de uns Don Caballero. Os The Linn Youki Project enquadram-se no panorama do pós-rock, e até já partilharam o palco com bandas como os Camping e os Explosions in the Sky. A juntar aos dois baixos e a uma bateria, os The Linn Youki Project trabalharam com algumas programações e samples de vozes e presentearam os espectadores do Maus Hábitos com um espectáculo audiovisual onde são apresentadas pequenas histórias de desenhos animados criadas por Albert Aromir e Jesto, sincronizadas com cada peça musical. Essas histórias mostravam um super-homem que se aventurava pelos céus de uma movimentada cidade, ou simples narrativas legendadas de algumas personagens.
Apesar de alguns erros, provocados obviamente pela ainda curta experiência ao vivo, os The Linn Youki Project são um projecto a ter em conta. A agressividade dos baixos e a complexidade de alguns temas mostraram ser motivos mais do que suficientes para um concerto no mínimo interessante. O trompetista surgiu para dar a cara em alguns temas, fazendo com que a margem de diversificação sonora dos The Linn Youki Project aumentasse. O som, esse, é melancólico, como muitas vezes se pede no pós-rock. É contemplativo, tenso, nervoso. Muitas vezes é provocador e cerebral, mas não deixa nunca de ser uma boa banda sonora para narrativas obscuras. Há qualquer coisa de inquietante nestas composições; qualquer coisa que vale a pena ser descoberta.
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