Explosions In The Sky
Blá Blá, Matosinhos
07 Mai 2004

Quem, no dia 27 de Junho do ano passado, se deslocou ao bar O Meu Mercedes é Maior Que o Teu para ver os texanos Explosions In The Sky sabia o que podia esperar desta segunda passagem por palcos portugueses. Há um ano, o palco e a sala quase iam abaixo com a força da actuação do quarteto. Desta vez o palco era maior, e também as expectativas. Mark Smith, Michael James, Munaf Rayani e Christopher Hrasky estão irreconhecíveis, todos eles de cabelo e barba comprida, mas mal entraram em palco, essas diferenças foram esbatidas pela ansiedade e nervosismo que se registava na plateia do composto Blá Blá. Uns sentados, outros de pé preparavam máquinas fotográficas, arranjavam o melhor lugar ou simplesmente abriam o coração para aquilo que mais desejavam: um grande concerto.

© Marisa Alves

A actuação começaria da mesma forma que acaba o último disco dos Explosions In The Sky. “Your Hand In Mine” arrancou os primeiros aplausos da noite e os primeiros arrepios. Começa uma guitarra, junta-se outra mais espaçada. Junta-se ainda mais uma criando uma espécie de inquebrável malha etérea de sons. Ouve-se o som da bateria, distante, que depois acelera, em rufo. As três guitarras soltam cadentes tramas de som que impelem a angústia para terrenos distantes. Por momentos, somos transportados para uma extensão indefinida, impalpável, quase incorpórea. Emoção em bruto, estados de alma em cadência, seguros apenas pela infinita esperança injectada pela música dos Explosions In The Sky.

Seguir-se-ia depois uma longa passagem por Those Who Tell the Truth Shall Die, Those Who Tell the Truth Shall Live Forever. “Greet Death”, canção que abriu o concerto do ano passado, mostrou pela primeira vez a força dos Explosions In The Sky. Ouvem-se guitarras esfuziantes, nervosas, prontas a rebentar com estrondo. E rebentam mesmo durante alguns instantes. Depois da tempestade, a bonança, pois ficou-se durante alguns minutos a ouvir os sons arrastados e dolorosos das guitarras, em delay. Ao contrário de The Earth Is Not a Cold Dead Place que tem como forças maiores a delicadeza, a serenidade, “Those Who Tell the Truth Shall Die… assenta em construções dinâmicas de estruturação/explosão que são, por vezes, quase violentas; as canções são mais obscuras e raramente permitem o mais pequeno feixe ou raio de luz que traga esperança. “Yasmin The Light” seguiu-se, mantendo-se bastante similar e fiel à versão do disco, acrescentando apenas ocasionais pormenores próprios da música da banda.

“Memorial” começa com o ruído das guitarras que parece anunciar boas novas. É uma canção minuciosa traçada por linhas de baixo brandas. Começa jubilosa mas depressa se transforma numa incursão por territórios mais agrestes. A percussão vigorosa, próxima da neurose ou quase quieta, prepara a explosão final. Uma explosão colérica e tumultuosa que provoca intenso headbanging e espasmos variados. De seguida, uma inesperada incursão por “With Tired Eyes, Tired Minds, Tired Souls, We Slept”, incluída em Those Who Tell the Truth Shall Die..., uma composição com cerca de dez minutos repleta de variações rítmicas, explosões sonoras, jogos de guitarras. Uma peça impressionante do início ao fim. Para finalizar, a melhor música do último álbum dos texanos: “The Only Moment We Were Alone”. Crescendos, mini-explosões, variações, quebras de estrutura, percussão cavalgante e guitarras sinos-alike. A canção explode violentamente no fim, mas nem precisava de o fazer pois vale por si própria desde os primeiros segundos. Quando os Explosions explodem (confusos?), não o fazem por obrigação, antes por omissão.

O público estava ansioso por mais, sedento, mas a banda abandonaria o palco logo de seguida para não mais voltar. Não valeu de nada o esforço da plateia que bateu palmas e pés durante minutos pedindo que regressassem. O guitarrista principal voltou ao palco para pedir desculpa por não tocarem mais, alegando cansaço. É verdade que para quem assistiu ao absolutamente arrebatador primeiro concerto dos Explosions In The Sky em Portugal, a noite de sexta-feira soube a pouco, mas o certo é que nunca o Blá Blá teve um céu tão estrelado. E muito menos explosões.


Setlist

Your Hand In Mine
Greet Death
Yasmin The Light
Memorial
With Tired Eyes, Tired Minds, Tired Souls, We Slept
The Only Moment We Were Alone

· 07 Mai 2004 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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