O Café La Palma é um dos sítios mais cool, de uma das ruas mais cool (La Palma), de um dos bairros mais cool de Madrid: Malasaña. É igualmente um dos espaços com uma das programações mais coerentes da cidade: além de acolher grande parte dos projectos indie de Madrid e da Espanha, o Café La Palma recebe no seu pequeno palco algumas propostas internacionais, muito por culpa da Acuarela, que tem por vezes responsabilidade na programação do espaço. E foram precisamente dois projectos com ligações com a editora Madrilena que marcaram presença no Café La Palma (que registou pouca afluência de gente) no passado dia 27 de Abril, depois de terem passado por Portugal no dia 21 (O meu Mercedes é maior que o teu, no Porto) e no dia 22 (Clube Mercado, Lisboa). Dois projectos norte-americanos, ambos com três elementos em palco. Ao contrário daquilo que seria de esperar, os primeiros a subir ao palco foram os Maquiladora – trio oriundo de San Diego que anda nisto há mais de 10 anos –, que recentemente editaram o EP The Gulf pela já referida Acuarela.
Maquiladora © Angela Costa |
Parece mentira mas os Maquiladora são um pintor, um actor de teatro e um director de colégio. São três tipos curiosos em palco. Empurram-se, abanam-se imenso, brincam e dizem piadas – riem-se. Um deles apresenta-se como sendo Jennifer Aniston, para depois corrigir e voltar a apresentar-se como Angelina Jolie. Todos cantam, todos trocam constantemente de instrumentos (baixo, guitarras acústicas e eléctrica e teclados), todos ajudam a construir canções onde cada um pode emprestar a sua voz. Temas essencialmente serenos (embora alguns contassem com ritmos saídos de um teclado), com forte presença de uma guitarra eléctrica que tratava de pintar a fundo os traços gerais da paisagem pintada pelos restantes; paisagens clara e necessariamente americanas, em alguns dos casos belas. Quiseram pegar no EP The Gulf para apresentar por exemplo “The Ballad Of Sexual Dependency”, essencialmente acústica e lamentosa. O último tema, uma incursão nos temas mais rock de um Neil Young com os seus Crazy Horse, contou com o baterista dos Strugglers e com um final: no meio de solos de guitarra e percussão forte, os empurrões que se registaram no palco a certa altura fizeram com que o som fosse cortado sem que nada o fizesse prever.
The Strugglers © Angela Costa |
Quando os Strugglers entraram em palco chamava a atenção a menina tímida que se foi sentar junto de uns teclados mas pela insegurança que parecia mostrar. Felizmente, essa inquietação acabou por não afectar a actuação dos Strugglers; na verdade, os teclados tiveram quase sempre uma presença calorosa e acertada. Mas é à volta de Randy Bickford que os Strugglers giram. Vinham a Madrid - pela segunda vez – para apresentar o seu terceiro disco, You Win (Acuarela), folk-rock em nove temas que podem fazer lembrar (Smog) ou Magnolia Electric Co.. Apesar da presença de uma teclista e de um baterista, os temas ao vivo são obrigatoriamente mais intimistas e despidos do que em You Win, e muito por culpa da ausência das cordas. No entanto, Randy Bickford tratou de fazer um bom trabalho na guitarra e o mesmo se pode dizer dos restantes membros nos seus respectivos instrumentos. Em “The Cascade Range”, uma canção sobre viajar, lembraram os presentes que antes de chegarem a Madrid já tinham andado pela Espanha (24 em Gijón (La Colegiata, Festival Intersecciones 2006), 25 em Vigo (Vademecwm), 26 em Valladolid (Malbicho). Apesar do azar de terem de enfrentar alguns problemas técnicos e demoras para afinação, os Strugglers não deixaram uma má imagem. Já perto do final, quando Randy Bickford anunciava que iam apresentar mais um par de canções, alguém sobe ao palco para lhe sussurrar ao ouvido e pouco depois o discurso muda: apenas mais uma canção, “You Win”. Mas antes disso Randy Bickford avisou que esse último tema, essencialmente feito de teclados e voz, poderia vir a aborrecer todos de morte. Felizmente, tal não sucedeu.
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