Um Dia a Caixa Vem Abaixo
Caixa Económica Operária, Lisboa
27-28 Jan 2006
DIA 1 |
"Pós-rock" foi, como já se escreveu mil vezes, uma designação encontrada por Simon Reynolds (mas o próprio argumenta que já se usava antes) para descrever um certo tipo de música, com elementos de rock, de música experimental, avant-garde, de kraut-rock, de jazz, de minimalismo, de electrónica, do que quer que seja. Pode servir para descrever bandas que vão desde os Slint até aos Labradford, ou dos Tortoise até aos Godspeed You! Black Emperor, e também para poupar imenso tempo a quem é demasiado preguiçoso para descrever o som das bandas. O Festival Um Dia A Caixa Vem Abaixo, na Caixa Económica Operária, lugar que tem tanto de sinistro como mágico (é num prédio velho na Graça; tem todo um ambiente low budget; é um Santiago Alquimista dos pobres; é acolhedor), trouxe-nos, muito mais de 10 anos depois, bandas portuguesas conotadas com o "movimento" e não só. O pós-rock está velho, quase datado e talvez já não faça tanto sentido na vanguarda como fez antes. O mundo da música mudou, a vanguarda virou-se para o noise e o indie rock, tal como conhecíamos nos anos 90 e talvez, durante um bocadinho de nada, nos anos 2000, morreu, mas ainda há muito a reter do que se passou. Dos Slint aos Mogwai, ainda há ensinamentos que se devem manter, mas não emular, até porque os Mogwai ainda aí andam e fazem aquilo melhor do que quaisquer imitadores (e, por favor, não entremos numa discussão sobre Mogwai ser ou não imitação de Slint).
No primeiro dia, o mais pós-roqueiro de todos, a sala não estava muito composta, talvez pelo pouco interesse que os lisboetas têm em ouvir pós-rock quase conservador (não houve muito, contudo). Acabou por ser a noite Bor Land, tendo os Ölga já editado pelo selo nortenho e estando os Lemur e os Bypass quase a editar. Antes, entre e depois dos concertos, o DJ de serviço abusava (tanto no bom como no mau sentido) das Sleater-Kinney (só de The Woods), dos Nine Inch Nails e dos Animal Collective, enquanto dava cheirinhos dos Oneida, dos Clap Your Hands Say Yeah ou dos Modest Mouse.
Lemur
A julgar pela maqueta de três temas datada de 2003, os Lemur evoluíram e muito. O tema na compilação do OutFest Animal Repetitivo já dava conta de uma maturação e de uma evolução no som dos Lemur. Onde existiam previsíveis baterias, ritmos quaternários banais, riffs de guitarra e melodias fracas, e uma colagem ao pós-rock anglo-saxónico extremamente desinteressante e, não o neguemos, aborrecida, agora existe uma fuga a essas normas, com desbundas na guitarra cheias de feedback, com temas grandes cheios de partes diferentes, todas interessantes, com bateria, baixo, guitarra e ocasionalmente teclados, mas não existe ainda uma personalidade totalmente vincada que os eleve acima da mistura do pós-rock com o ruído e os freakouts de guitarra. Num concerto curto, os Lemur conseguiram manter as coisas interessantes e não aborrecer, demonstrando que podem vir a ser muito bons.
Ölga
Os Ölga não são maus, até são bem interessantes, se nos conseguirmos abstrair da bateria. Após um início sofrível, com uma "canção" que lembrava, sei lá, uma banda de garagem manhosa de algum lado, com vozes ora cantadas, ora gritadas que nada adicionavam àquilo, os Ölga finalmente começaram a sentir-se mais à vontade, e trouxeram, entre outras coisas, duas baterias (sendo que a segunda quase eclipsava as falhas da primeira) em delírio tribal, instrumentos para chamar a chuva, gritos friques, tudo como mandam as regras das bandas de Brooklyn, mas com uma aproximação à coisa típica do pós-rock e não do noise ou derivados. Disseram que, apesar de os conotarem com o pós-rock, não se consideram uma banda de pós-rock, e está no seu melhor quando tenta escapar à norma e se deixa ir. Ao longo de todo o espectáculo projectavam-se atrás da banda vídeos da própria banda no meio da montanha a fazer poses estranhas, tudo a preto e branco com alguns filtros, algo incompreensível e que em nada beneficiou o concerto.
Bypass
Eduardo Raon é um metaleiro. Mesmo que se meta na cena improv 'tuga como harpista, não deixa de ser um metaleiro. E os Bypass provam-no. Do início ao fim, sempre que pega na sua guitarra metaleira, faz poses típicas do metal, com todos os tiques que retiram um bocado de seriedade ao grupo. Todos óptimos músicos, mais próximos do rock progressivo do que qualquer outra banda da noite, os Bypass têm, contudo, demasiado interiorizado o disco Millions Now Living Will Never Die que os Tortoise lançaram em 1996. Seja a bateria e o baixo a mimetizar uma das mil partes de "Djed", ou a bateria quase a parecer "The Taut and the Tame", há sempre lá qualquer coisinha que remete para os pós-roqueiros de Chicago. Tal como nos Ölga, a voz é totalmente dispensável, as letras não servem praticamente para nada e não adiciona nada de novo à mistura. Tirando isso, os Bypass conseguem momentos bem interessantes, que só são castrados pelo excesso de elementos, sejam as percussões friques do teclista-vocalista ou as constantes divagações metaleiras de Raon.
No primeiro dia, o mais pós-roqueiro de todos, a sala não estava muito composta, talvez pelo pouco interesse que os lisboetas têm em ouvir pós-rock quase conservador (não houve muito, contudo). Acabou por ser a noite Bor Land, tendo os Ölga já editado pelo selo nortenho e estando os Lemur e os Bypass quase a editar. Antes, entre e depois dos concertos, o DJ de serviço abusava (tanto no bom como no mau sentido) das Sleater-Kinney (só de The Woods), dos Nine Inch Nails e dos Animal Collective, enquanto dava cheirinhos dos Oneida, dos Clap Your Hands Say Yeah ou dos Modest Mouse.
Lemur
A julgar pela maqueta de três temas datada de 2003, os Lemur evoluíram e muito. O tema na compilação do OutFest Animal Repetitivo já dava conta de uma maturação e de uma evolução no som dos Lemur. Onde existiam previsíveis baterias, ritmos quaternários banais, riffs de guitarra e melodias fracas, e uma colagem ao pós-rock anglo-saxónico extremamente desinteressante e, não o neguemos, aborrecida, agora existe uma fuga a essas normas, com desbundas na guitarra cheias de feedback, com temas grandes cheios de partes diferentes, todas interessantes, com bateria, baixo, guitarra e ocasionalmente teclados, mas não existe ainda uma personalidade totalmente vincada que os eleve acima da mistura do pós-rock com o ruído e os freakouts de guitarra. Num concerto curto, os Lemur conseguiram manter as coisas interessantes e não aborrecer, demonstrando que podem vir a ser muito bons.
Ölga
Os Ölga não são maus, até são bem interessantes, se nos conseguirmos abstrair da bateria. Após um início sofrível, com uma "canção" que lembrava, sei lá, uma banda de garagem manhosa de algum lado, com vozes ora cantadas, ora gritadas que nada adicionavam àquilo, os Ölga finalmente começaram a sentir-se mais à vontade, e trouxeram, entre outras coisas, duas baterias (sendo que a segunda quase eclipsava as falhas da primeira) em delírio tribal, instrumentos para chamar a chuva, gritos friques, tudo como mandam as regras das bandas de Brooklyn, mas com uma aproximação à coisa típica do pós-rock e não do noise ou derivados. Disseram que, apesar de os conotarem com o pós-rock, não se consideram uma banda de pós-rock, e está no seu melhor quando tenta escapar à norma e se deixa ir. Ao longo de todo o espectáculo projectavam-se atrás da banda vídeos da própria banda no meio da montanha a fazer poses estranhas, tudo a preto e branco com alguns filtros, algo incompreensível e que em nada beneficiou o concerto.
Bypass
Eduardo Raon é um metaleiro. Mesmo que se meta na cena improv 'tuga como harpista, não deixa de ser um metaleiro. E os Bypass provam-no. Do início ao fim, sempre que pega na sua guitarra metaleira, faz poses típicas do metal, com todos os tiques que retiram um bocado de seriedade ao grupo. Todos óptimos músicos, mais próximos do rock progressivo do que qualquer outra banda da noite, os Bypass têm, contudo, demasiado interiorizado o disco Millions Now Living Will Never Die que os Tortoise lançaram em 1996. Seja a bateria e o baixo a mimetizar uma das mil partes de "Djed", ou a bateria quase a parecer "The Taut and the Tame", há sempre lá qualquer coisinha que remete para os pós-roqueiros de Chicago. Tal como nos Ölga, a voz é totalmente dispensável, as letras não servem praticamente para nada e não adiciona nada de novo à mistura. Tirando isso, os Bypass conseguem momentos bem interessantes, que só são castrados pelo excesso de elementos, sejam as percussões friques do teclista-vocalista ou as constantes divagações metaleiras de Raon.
· 27 Jan 2006 · 08:00 ·
Rodrigo Nogueirarodrigo.nogueira@bodyspace.net
DIA 1 |
RELACIONADO / Bypass
Discos |
![]() |
Bypass 2002 |
![]() |
Mighty Sounds Pristine 2006 |
Entrevistas |
Sem prazo de entrega |
14 Jun 2006 |
Discos |
![]() |
Cena Espírita / Quebranto 2006 |
Entrevistas |
Cena Espírita |
27 Jan 2006 |
Ao Vivo |
CAVEIRA / Ghost |
03 Mai 2007: Lux, Lisboa |
Comets On Fire / CAVEIRA |
14 Out 2006: Porto Rio, Porto |
CAVEIRA / Comets on Fire |
13 Out 2006: Galeria Zé dos Bois, Lisboa |
Damo Suzuki / CAVEIRA |
20 Jan 2006: Galeria Zé dos Bois, Lisboa |
CAVEIRA / Devendra Banhart |
12 Nov 2005: Aula Magna, Lisboa |
Out.Fest 2007 |
16,17,23 Jun 2007: AMAC, Barreiro |
Sexta-feira 13, 13 nomes |
13 Jul 2007: Avenida da Liberdade 211, Lisboa |
Psychic Ills / CAVEIRA |
27 Set 2007: Galeria Zé dos Bois, Lisboa |
Discos |
![]() |
Sem Título (EP) 2006 |
Entrevistas |
O Tempo é agora |
11 Mar 2006 |
Discos |
![]() |
Marsupial 2008 |
![]() |
Casa Ocupada 2010 |
![]() |
Sirumba 2016 |
Entrevistas |
Uma história de metades a sentirem por inteiro |
14 Jul 2016 |
As memórias vão-me devorar |
24 Mar 2015 |
Salvação renovada. |
18 Jan 2014 |
Na catedral do fato-de-treino |
27 Jan 2006 |
Ao Vivo |
Festival Naked |
06 Abr 2007: Santiago Alquimista, Lisboa |
Linda Martini |
11 Nov 2006: Tertúlia Castelense, Maia |
Linda Martini / The Strugglers / Maquiladora - Kid City |
22 Abr 2006: Clube Mercado, Lisboa |
Linda Martini |
07 Abr 2006: Galeria Zé dos Bois, Lisboa |
Linda Martini / The Vicious Five |
13 Out 2005: FLUL, Lisboa |
Linda Martini |
24 Set 2005: Maus Hábitos, Porto |
Pelican / Linda Martini / Riding Pânico |
31 Mai 2007: Santiago Alquimista, Lisboa |
Linda Martini |
2- Abr 2016: Coliseu, Lisboa |
Linda Martini |
3- Mar 2017: Hard Club, Porto |
Linda Martini |
15- Fev 2018: Lux, Lisboa |
Discos |
![]() |
Bully Bones of Belgie 2006 |
![]() |
Otha Goat Head / Endlosung 2006 |
Entrevistas |
Uma luz ao fundo do túnel |
26 Set 2005 |
Ao Vivo |
Sunburned Hand of the Man / Loosers |
19 Set 2006: Galeria Zé dos Bois, Lisboa |
Loosers + Mouthus = Mousers |
21 Dez 2005: Galeria Zé dos Bois, Lisboa |
Frango + Dance Damage + Loosers. |
14 Mai 2005: Teatro Passos Manuel, Porto |
Loosers |
09 Abr 2004: Maus Hábitos, Porto |
Liars / Loosers |
09 Jun 2008: Santiago Alquimista, Lisboa |
Out.Fest 09 |
22-23 Mai 2009: Barreiro |
The Men / Loosers |
09 Fev 2012: Galeria Zé dos Bois, Lisboa |
Discos |
![]() |
Ölga EP 2004 |
![]() |
What is 2005 |
Entrevistas |
Um violento despertar |
01 Mai 2005 |
Ao Vivo |
Noites Ritual Rock 2005 |
26-27 Ago 2005: Jardins do Palácio de Cristal, Porto |
Ölga + Logh |
08 Abr 2005: Santiago Alquimista, Lisboa |
Ölga |
08 Abr 2004: O Meu Mercedes é Maior Que o Teu, Porto |
ÚLTIMAS REPORTAGENS

ÚLTIMAS