Minta & The Brook Trout
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
12- Out 2017
O disco Slow foi editado originalmente, em versão CD e digital, há mais de um ano, em Fevereiro de 2016. Esse mesmo disco foi agora reeditado, numa bonita versão em vinil, ao mesmo tempo que foi lançada a cassete Row, com três músicas inéditas; esta dupla edição, em formatos menos convencionais, deu o mote para o regresso de Minta & The Brook Trout à Galeria ZDB.
Este último disco representa um culminar de um percurso que arrancou oficialmente em 2008, com o lançamento do EP You (na altura apenas assinado como Minta), e que de disco para disco se vem aprimorando. Ao longo de quase uma década de trabalho, Francisca Cortesão e banda vêm construindo canções sóbrias e aveludadas, a meio caminho entre a folk americana e o indie-pop, com uma rara qualidade melódica, assentes num metódico trabalho de arranjos.
O trabalho de composição é notável, uma canção não é apenas uma melodia simples, dá voltas surpreendentes e, ao mesmo tempo, conquista o ouvinte facilmente, com eficácia pop. Característica marcante é a voz de Francisca, distinta, com uma rara clareza, dicção perfeita, tecnicamente impecável. A qualidade das letras é também fundamental, as canções nunca se perdem em excessos poéticos, transmitem pequenas histórias em poucas palavras, com expressões simples e marcantes e polvilhadas por pormenores deliciosos. E se as canções de Minta não têm a ambição de abordar os grandes temas, criam pequenas ficções que são metáforas para assuntos maiores (sobretudo o amor).
Esta actuação na ZDB teve a vantagem de apresentar canções já conhecidas pelo público, uma vez que a essência do espectáculo – o disco Slow – já teve tempo para ser digerido. E não faltaram canções de discos anteriores, algumas delas que já poderemos chamar de “pequenos clássicos”. Ao lado de Francisca Cortesão (voz principal e guitarras) esteve a versão actual da banda The Brook Trout: Mariana Ricardo (baixo e segundas vozes), Bruno Pernadas (guitarra eléctrica), Margarida Campelo (teclados, electrónica, segundas vozes) e Tomás Sousa (bateria).
O concerto arrancou com temas de Slow, abrindo com “Light Blue Blues”, com a banda a exibir uma qualidade técnica irrepreensível (só o som da sala não começou perfeito, mas foi melhorando). O segundo tema, “Plaid and Denim”, não é apenas um dos grandes momentos do disco, como de toda discografia “mintiana” (a letra é a descrição de alguém que está a assistir a um concerto de uma banda que toca canções tristes e que termina com uma surpreendente recordação de um gato). Além do referido Slow, o alinhamento incluiu os três temas da cassete Row e ainda temas mais antigos – como “Blood and Bones”, “The Right Boulevards” e “Large Amounts”, esta última muito aplaudida.
E, claro, não poderia faltar “Old Habits”. Poderemos arriscar dizer que é a mais bela de todas as suas músicas? Balada belíssima ancorada na guitarra melancólica (verdadeiro “slow” de Slow), onde o tema do amor é explorado de uma perspectiva pouco comum (“there are days when I regret the hour we met / but I know I’d be lost out on my own”). O entusiasmo do público no aplauso confirmou como uma das favoritas, no mínimo.
Não faltaram outras canções com letras marcantes como “Devil We Know” (“I’ll let you know it’s so good to see you / you’ll let it slip you found someone new”), “Future Me” (sobre uma hipotética separação, “how about the cat, is it mine or yours?”) ou “Family” (“the vilest thing about family it's that they own your heart for life / they can make it hurt and make it bleed and they don't even have to try”). Ao mesmo tempo que somos embalados pelas melodias, estas letras deixam também um arrepiozinho na espinha.
Perante um público previamente conquistado, que já conhecia muitas canções e até cantava algumas letras, o quinteto teve uma actuação descontraída, apresentando as músicas fiéis aos registos nos discos. Após um primeiro encore muito aplaudido, houve um segundo encore, com o já clássico “A song to celebrate our love”, a música mais antiga do repertório, do tal EP de estreia. Final perfeito. O aquário da ZDB não chegou a esgotar. É pena, estas canções de fina delicadeza melódica e poética mereciam alcançar muito mais gente.
Este último disco representa um culminar de um percurso que arrancou oficialmente em 2008, com o lançamento do EP You (na altura apenas assinado como Minta), e que de disco para disco se vem aprimorando. Ao longo de quase uma década de trabalho, Francisca Cortesão e banda vêm construindo canções sóbrias e aveludadas, a meio caminho entre a folk americana e o indie-pop, com uma rara qualidade melódica, assentes num metódico trabalho de arranjos.
O trabalho de composição é notável, uma canção não é apenas uma melodia simples, dá voltas surpreendentes e, ao mesmo tempo, conquista o ouvinte facilmente, com eficácia pop. Característica marcante é a voz de Francisca, distinta, com uma rara clareza, dicção perfeita, tecnicamente impecável. A qualidade das letras é também fundamental, as canções nunca se perdem em excessos poéticos, transmitem pequenas histórias em poucas palavras, com expressões simples e marcantes e polvilhadas por pormenores deliciosos. E se as canções de Minta não têm a ambição de abordar os grandes temas, criam pequenas ficções que são metáforas para assuntos maiores (sobretudo o amor).

© Vera Marmelo
Esta actuação na ZDB teve a vantagem de apresentar canções já conhecidas pelo público, uma vez que a essência do espectáculo – o disco Slow – já teve tempo para ser digerido. E não faltaram canções de discos anteriores, algumas delas que já poderemos chamar de “pequenos clássicos”. Ao lado de Francisca Cortesão (voz principal e guitarras) esteve a versão actual da banda The Brook Trout: Mariana Ricardo (baixo e segundas vozes), Bruno Pernadas (guitarra eléctrica), Margarida Campelo (teclados, electrónica, segundas vozes) e Tomás Sousa (bateria).
O concerto arrancou com temas de Slow, abrindo com “Light Blue Blues”, com a banda a exibir uma qualidade técnica irrepreensível (só o som da sala não começou perfeito, mas foi melhorando). O segundo tema, “Plaid and Denim”, não é apenas um dos grandes momentos do disco, como de toda discografia “mintiana” (a letra é a descrição de alguém que está a assistir a um concerto de uma banda que toca canções tristes e que termina com uma surpreendente recordação de um gato). Além do referido Slow, o alinhamento incluiu os três temas da cassete Row e ainda temas mais antigos – como “Blood and Bones”, “The Right Boulevards” e “Large Amounts”, esta última muito aplaudida.
E, claro, não poderia faltar “Old Habits”. Poderemos arriscar dizer que é a mais bela de todas as suas músicas? Balada belíssima ancorada na guitarra melancólica (verdadeiro “slow” de Slow), onde o tema do amor é explorado de uma perspectiva pouco comum (“there are days when I regret the hour we met / but I know I’d be lost out on my own”). O entusiasmo do público no aplauso confirmou como uma das favoritas, no mínimo.

© Vera Marmelo
Não faltaram outras canções com letras marcantes como “Devil We Know” (“I’ll let you know it’s so good to see you / you’ll let it slip you found someone new”), “Future Me” (sobre uma hipotética separação, “how about the cat, is it mine or yours?”) ou “Family” (“the vilest thing about family it's that they own your heart for life / they can make it hurt and make it bleed and they don't even have to try”). Ao mesmo tempo que somos embalados pelas melodias, estas letras deixam também um arrepiozinho na espinha.
Perante um público previamente conquistado, que já conhecia muitas canções e até cantava algumas letras, o quinteto teve uma actuação descontraída, apresentando as músicas fiéis aos registos nos discos. Após um primeiro encore muito aplaudido, houve um segundo encore, com o já clássico “A song to celebrate our love”, a música mais antiga do repertório, do tal EP de estreia. Final perfeito. O aquário da ZDB não chegou a esgotar. É pena, estas canções de fina delicadeza melódica e poética mereciam alcançar muito mais gente.
· 16 Out 2017 · 12:02 ·
Nuno Catarinonunocatarino@gmail.com
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