Barreiro Rocks
Barreiro
4-6 Dez 2015
Quis o destino que, este ano, regressássemos ao Barreiro Rocks, 365 dias depois de lá termos vivido três das melhores noites das nossas vidas festivaleiras; quis igualmente o destino que este ano só lá puséssemos os pés por uma vez, na primeira noite, aquela que puxava mais pelo nosso paladar melómano e uma em que tudo aquilo que faz do Barreiro um lugar mágico e especial não fosse esquecido. Desde as conversas de café, ao ambiente único do festival (em que o rock impera nas vestimentas e nas mentalidades, naturalmente), até à visão maravilhástica de um céu estrelado quando às 5h da manhã se sobe um viaduto rumo ao barco que nos levará de volta para a outra margem. O Barreiro que nos desculpe só o termos revisitado nesta sexta, mas saímos de lá de coração cheio - acreditem.

Um coração que se começou a encher com os Cave Story, que voltaram este ano para tocar, desta vez, no quentinho e que fecharam um enorme 2015 com chave de ouro, naquele que foi um concerto sobretudo competente e onde não faltaram os êxitos - "Southern Hype", "Hair", "Richman" et al - nem algum avacalhanço noise rock (do bom). E se neste parágrafo falta qualquer coisa, é só porque já os vimos uma dúzia de vezes este ano e já não há muito na língua portuguesa por onde se possa pegar para os descrever. But we can do it in english if you'd like. それとも日本語で. Competência também não faltou aos d3ö, naquele que foi o seu regresso ao Barreiro Rocks treze anos depois, para apresentarem o rock musculado e dançável que os caracteriza, com as filas da frente manifestamente irrequietas, tal como Toni Fortuna, que a dada altura trepa os espaldares do pavilhão dos Ferroviários (porque nem seria Barreiro Rocks se alguém não o fizesse) e logo depois "força" o público barreirense a ajoelhar-se em adoração ao deus eléctrico. Can I have an hallelujah? Claro que podes, meu.

Com a chegada da meia-noite veio também a notícia de que os passes gerais e os bilhetes para domingo estavam completamente esgotados, um prémio merecidíssimo para o festival, ainda que ninguém mereça ficar sem a sua dose de rock n' roll - infelizmente, devem ter sido uns quantos. Uma dose que os britânicos The Baron Four serviram com requinte beat, ainda que, em palco, só estivessem três pessoas. O baixista rebola-se pelo palco, há crowdsurf q.b. e umas quantas canções bonitas para dançar agarrado à namorada. E até se recusaram a sair do mesmo, fazendo-o apenas quando saltam para o pit e se atiram a uma versão garage de "I Just Want To Make Love To You", imortalizada por Etta Jones e pela Coca-Cola. Depois deles, coube ao omnipresente e omnipotente Crooner Vieira servir, como sempre o faz, os melhores momentos do festival através de interpretações bombásticas de "Only You" e "Sex Bomb", já com os The Routes em palco a olharem-no atordoados e fascinados em doses exactas, não se inibindo de registar tais momentos para a posteridade através dos seus estranhos telemóveis japoneses. Quanto ao seu concerto? Também ficou para a posteridade: garage rock danado de bom que levou à loucura todos os presentes, que foram arrastando progressivamente as barreiras até se encontrarem o mais perto possível do palco. O final, com "Fire", encerrou da melhor forma o primeiro dia deste Barreiro Rocks - pelo menos no que ao palco principal diz respeito, porque logo depois os >b>Sunflowers espalhavam o caos no bar d'Os Ferroviários, numa loucura desembargada e regada a cerveja onde couberam os temas deles e de outros, entre "Paradise City", "Atirei O Pau Ao Gato" e a melhor canção de amor que a humanidade já escreveu - "I Wanna Be Your Dog", pois claro. Por tudo: foi o melhor concerto que eles já deram e talvez o melhor que darão em muito tempo. E foi também o melhor concerto do festival. C'um caralho. Deixaríamos a nota aos PISTA, que se apresentaram em modo surpresa, mas (perdoem-nos) estávamos já cá fora a descansar as pernas e a beber uma ou outra cerveja. Mas para o ano voltaremos a ir dar tudo.
· 07 Dez 2015 · 22:11 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com