Sim, havia tudo, mesmo tudo, para um concerto do caraças. JP Simões, o líder do Quinteto Tati, não diria assim. Diria "do caralho". Músicos bons, convidados de luxo, uma boa sala... mas não. Não é assim que estas coisas funcionam. Para um concerto cujo alinhamento já vinha numa folha distribuída à entrada, o improviso e o "logo se vê" estiveram demasiado em alta. Não havia um planeamento, não havia um fio condutor, e os ensaios não devem ter sido muito produtivos.
Mas as canções - essas - estavam lá. Bem como os músicos, todos de alto gabarito, e a voz de JP Simões. E - apesar de reduzido - o carisma de Simões também. Havia, da parte dele, um excesso de "alegria", o que fez com que as suas habituais interacções com o público não tenham sido das melhores. Normalmente refrescantes, divertidas e acutilantes, no Fórum Lisboa faltou-lhes algum sal.
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Para além do sexteto normal, que inclui Sérgio Costa (teclas, acordeão e flauta transversal), Miguel Nogueira (guitarra), Rui Alves (bateria e percussão), Pedro Pinto (contrabaixo e baixo eléctrico) e Daniel Tapadinhas (trompete e alguma percussão), havia músicos e vozes convidadas. Na secção de metais tínhamos mais saxofones, trompete e trombones. Na voz tínhamos Vitorino e Petra. O primeiro dispensa apresentações, a segunda pertence à banda de blues Nobody's Bizness e aparece em Exílio, o disco de estreia do Quinteto Tati.
Em Exílio, Petra canta em três temas: "Valsa Quase Anti-Depressiva", "Suor e Fantasia" e "No Jazz". Sabia-se que ia cantar neste concerto, por isso foi uma surpresa não ter cantado em "Suor e Fantasia". Só foi chamada ao palco para interpretar "No Jazz", onde a sua voz é fulcral. Este é, aliás, o único tema do Quinteto Tati cantado em inglês. Aí revela-se uma verdadeira jazzwoman, com uma belíssima voz. Fica por lá, tímida, risonha, visivelmente feliz, e canta com JP Simões "se este mundo fosse / feito p'ra ser doce / eu seria doce / fosse eu quem fosse", de "Valsa Quase Anti-Depressiva". Dança, abana-se de um lado para o outro, cheia de graciosidade. É pena, aqui, que a sua voz se tenha ouvido muito mal, devido a uma idiota gestão sonora.
Vitorino só deve ter ensaiado com o Quinteto Tati no próprio dia do concerto. Cantou "Mais uma para o caminho", do Quinteto, e mais dois temas do próprio. Demonstrou não conhecer bem o original da banda e fez tudo um pouco de improviso. Esteve em grande, aí sim, quando pegou em dois temas originais. "Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto" (poema de António Lobo Antunes) e "Tango do marido infiel numa pensão do Beato" com o acompanhamento do Quinteto Tati, cuja qualidade dos seus músicos se fartou de frisar, foram dos momentos altos do concerto.
Como o Quinteto Tati não tem muitos temas, ficou-se pela totalidade de Exílio, pelos temas de Vitorino e por versões de Chico Buarque ("Gota d'Água", que é uma constante nos concertos do grupo) e Scott Walker ("Rosemary", tema com que JP Simões e Sérgio Costa contribuiram para Angel of Ashes, um tributo português ao artista). Tiveram até que repetir "Suor e Fantasia", desta feita já com Petra, e "Mais uma para o caminho", com Petra e Vitorino a esquecer-se novamente da letra.
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"Não era bom guitarrista mas tinha uma bela guitarra", disse JP dos seus tempos com os Pop Dell'Arte em entrevista ao Bodyspace apenas uma semana antes. Mas é treta - pelo menos já o vimos fazer muito melhor na guitarra do que fez no Fórum Lisboa com o Quinteto Tati. Assim, tropeçar nas cordas da guitarra e enganar-se não ficou lá muito bem. O concerto podia ter sido melhor. Foi demasiado curto e a sala estava demasiado vazia. Mas, como já foi dito, as canções estavam lá. O Quinteto Tati estava lá. Apesar de não ter sido "muito bom", foi "bom". Não vamos dizer razoável, isso não se aplica quando as bandas são assim.
rodrigo.nogueira@bodyspace.net