Spoon / Mazgani
Aula Magna, Lisboa
23 Fev 2008
Pouco mais de meio ano depois, Portugal volta a receber o quarteto do Texas responsável por um dos mais recomendáveis lançamentos de 2007, o álbum Ga Ga Ga Ga Ga. Os Spoon visitam Lisboa para uma merecida actuação em nome próprio após a estreia em território nacional, no Festival Heineken Paredes de Coura. Diga-se, em abono da verdade, que o alinhamento das bandas presentes no festival não havia sido muito favorável ao colectivo liderado por Britt Daniel, obrigado a dar o pontapé de saída para as actuações desse dia no palco principal, ao fim da tarde e com o público ainda muito disperso. Desta vez, porém, a realidade seria bem diferente, com os Spoon a serem o alvo das atenções do público presente na Aula Magna. Antes do esperado concerto, tempo ainda para a prestação de Mazgani, escalonado para o preenchimento da primeira parte, em jeito de aquecimento. A visibilidade proporcionada a projectos portugueses chamados a abrir para nomes de projecção internacional tem sido lógica vigente dos últimos tempos e uma aposta pertinente.
Shahryar Mazgani é um iraniano radicado em Portugal e mentor do projecto ao qual empresta o seu nome. Em 2005, ainda em fase embrionária, Mazgani havia sido recomendado pela revista Les Inrockuptibles, que o colocava entre as 20 promessas europeias a ter debaixo de olho. Dois anos volvidos, chega o primeiro registo longa-duração, intitulado Song of the New Heart. É com ele que se apresenta na Aula Magna, onde se fez acompanhar de dois músicos dos conterrâneos Hands on Approach – Sérgio Mendes, na guitarra, e Rui David, na bateria -, e ainda de Victor Coimbra, no baixo. Com Britt Daniel atento a assistir, o iraniano que assentou arraiais em Setúbal fez desfilar o repertório que tem vindo a apresentar pelo país, introduzindo aqui e ali comentários sobre a origem e significado das suas composições, que desembocam sempre na demagogia amorosa. A espaços, a sua voz parecia querer aproximar-se da de Nick Cave, mas com muitas arestas por limar. Longe de ser uma primeira parte de luxo, Mazgani conseguiu, ainda assim, arrancar alguma reacção do público afecto ao patamar mais elevado onde se inserem os Spoon.
Pouco depois das 22h15, a Aula Magna conhecia uma moldura humana bem mais consistente do que a que se avistava por altura da entrada em palco de Mazgani. Assim, quando Jim Eno, Eric Harvey, Rob Pope e Britt Daniel dão início ao seu set, a ocupação dos lugares já rondava os 80 por cento, dissipando-se a ideia de que a sala escolhida para o concerto representaria mais olhos do que barriga. O álbum Ga Ga Ga Ga Ga é de imediato invocado através das faixas “My Little Cigarette Case”, “Don’t you Evah” e “Rhythm & Soul” que abrem a actuação. “Don’t You Evah”, adaptado de um original dos Natural History é, de resto, o nome do EP que os Spoon verão ser lançado em Abril e que conta com vários convidados chamados a remisturar essa mesma faixa. Algumas incursões a anteriores discos da banda seriam igualmente de prever com Gimme Fiction, o álbum de 2005, à cabeça do baú. E depois, o recuar no tempo para a incontornável “The Way We Get By”, single que lhes deu projecção, retirado de Kill the Moonlight.
Nos Spoon, é fácil notar que algumas composições são mais susceptíveis de resultar ao vivo do que em disco e vice-versa. Quanto à primeira vocação, é exemplo disso “The Ghost of you Lingers”. Já sendo um tema forte do último álbum, é ao vivo que revela de forma mais flagrante o seu potencial. Dois teclados frenéticos (Pope troca o baixo por um segundo teclado), bateria muda e eis que chegamos a um dos momentos altos da noite, com a electrizante sequência de abertura a resultar na perfeição. Ao invés, “The Underdog”, gravada originalmente com instrumentos de sopro, como trompetes, perde aqui parte da sua exuberância, numa apresentação discreta. “I Summon You” tem também pormenores de artesão que, compilados em estúdio brilham, ao vivo dissipam-se. Os arranjos inventivos que foram pontuando sobretudo os últimos anos da banda, tiveram aqui um tratamento diferente, vendo-se confinados ao reduto guitarra-baixo-bateria-teclados. E chegou para fazer a festa.
Britt Daniel não é um frontman falador, porém é exímio na demonstração de forte presença em palco, para lá de grandes falas. Junto do seu público-alvo, os Spoon tiveram outra entrega que em Paredes de Coura não se justificaria, devido à limitação de tempo e da atenção flutuante do público presente nesse contexto. Desta vez, o alinhamento conseguiu destacar as múltiplas soluções, ainda que limitadas aos músicos presentes, que a banda engendrou para as suas faixas e que, na anterior passagem por Portugal, não foram bem evidenciadas. Aqui, impuseram-se como um colectivo que pouco se repete, que não dá azo a aborrecimentos nem a faltas de virtuosismo, quer seja nas guitarras implacáveis, exploradas até decibéis elevados com competência, quer na voz segura, expressiva e capaz de Daniel. Ao cabo de pouco mais de hora e meia de concerto e debitadas que foram cerca de duas dezenas de canções, o público abençoava o bilhete adquirido.
Spoon © Andreia Roque |
Shahryar Mazgani é um iraniano radicado em Portugal e mentor do projecto ao qual empresta o seu nome. Em 2005, ainda em fase embrionária, Mazgani havia sido recomendado pela revista Les Inrockuptibles, que o colocava entre as 20 promessas europeias a ter debaixo de olho. Dois anos volvidos, chega o primeiro registo longa-duração, intitulado Song of the New Heart. É com ele que se apresenta na Aula Magna, onde se fez acompanhar de dois músicos dos conterrâneos Hands on Approach – Sérgio Mendes, na guitarra, e Rui David, na bateria -, e ainda de Victor Coimbra, no baixo. Com Britt Daniel atento a assistir, o iraniano que assentou arraiais em Setúbal fez desfilar o repertório que tem vindo a apresentar pelo país, introduzindo aqui e ali comentários sobre a origem e significado das suas composições, que desembocam sempre na demagogia amorosa. A espaços, a sua voz parecia querer aproximar-se da de Nick Cave, mas com muitas arestas por limar. Longe de ser uma primeira parte de luxo, Mazgani conseguiu, ainda assim, arrancar alguma reacção do público afecto ao patamar mais elevado onde se inserem os Spoon.
Pouco depois das 22h15, a Aula Magna conhecia uma moldura humana bem mais consistente do que a que se avistava por altura da entrada em palco de Mazgani. Assim, quando Jim Eno, Eric Harvey, Rob Pope e Britt Daniel dão início ao seu set, a ocupação dos lugares já rondava os 80 por cento, dissipando-se a ideia de que a sala escolhida para o concerto representaria mais olhos do que barriga. O álbum Ga Ga Ga Ga Ga é de imediato invocado através das faixas “My Little Cigarette Case”, “Don’t you Evah” e “Rhythm & Soul” que abrem a actuação. “Don’t You Evah”, adaptado de um original dos Natural History é, de resto, o nome do EP que os Spoon verão ser lançado em Abril e que conta com vários convidados chamados a remisturar essa mesma faixa. Algumas incursões a anteriores discos da banda seriam igualmente de prever com Gimme Fiction, o álbum de 2005, à cabeça do baú. E depois, o recuar no tempo para a incontornável “The Way We Get By”, single que lhes deu projecção, retirado de Kill the Moonlight.
Spoon © Andreia Roque |
Nos Spoon, é fácil notar que algumas composições são mais susceptíveis de resultar ao vivo do que em disco e vice-versa. Quanto à primeira vocação, é exemplo disso “The Ghost of you Lingers”. Já sendo um tema forte do último álbum, é ao vivo que revela de forma mais flagrante o seu potencial. Dois teclados frenéticos (Pope troca o baixo por um segundo teclado), bateria muda e eis que chegamos a um dos momentos altos da noite, com a electrizante sequência de abertura a resultar na perfeição. Ao invés, “The Underdog”, gravada originalmente com instrumentos de sopro, como trompetes, perde aqui parte da sua exuberância, numa apresentação discreta. “I Summon You” tem também pormenores de artesão que, compilados em estúdio brilham, ao vivo dissipam-se. Os arranjos inventivos que foram pontuando sobretudo os últimos anos da banda, tiveram aqui um tratamento diferente, vendo-se confinados ao reduto guitarra-baixo-bateria-teclados. E chegou para fazer a festa.
Britt Daniel não é um frontman falador, porém é exímio na demonstração de forte presença em palco, para lá de grandes falas. Junto do seu público-alvo, os Spoon tiveram outra entrega que em Paredes de Coura não se justificaria, devido à limitação de tempo e da atenção flutuante do público presente nesse contexto. Desta vez, o alinhamento conseguiu destacar as múltiplas soluções, ainda que limitadas aos músicos presentes, que a banda engendrou para as suas faixas e que, na anterior passagem por Portugal, não foram bem evidenciadas. Aqui, impuseram-se como um colectivo que pouco se repete, que não dá azo a aborrecimentos nem a faltas de virtuosismo, quer seja nas guitarras implacáveis, exploradas até decibéis elevados com competência, quer na voz segura, expressiva e capaz de Daniel. Ao cabo de pouco mais de hora e meia de concerto e debitadas que foram cerca de duas dezenas de canções, o público abençoava o bilhete adquirido.
· 23 Fev 2008 · 08:00 ·
Eugénia Azevedoeugeniaazevedo@bodyspace.net
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