Perry Blake
Auditório de Espinho, Espinho
25 Jan 2008
O público português sabe ser, diga-se, dono de uma senhora lealdade digna de registo, no que aos seus ídolos diz respeito. Pois bem, Espinho prepara-se para receber um deles e a adesão imediata é algo mais do que previsível. Os bilhetes esgotam, claro está. Perry Blake é uma das coqueluches dos apreciadores de songwriters de palavra doce sussurrada e tem sido presença assídua em Portugal ao longo da sua carreira, que conta com sete álbuns de originais e um registo ao vivo. Se nos detivermos nos últimos três anos, constatamos que esta é a terceira passagem pelo Norte de Portugal após concertos na Casa das Artes de Famalicão e Theatro Circo de Braga. São dados que atestam a tendência do músico de visitar um país onde se sente sempre bem-vindo. É aqui que joga a lealdade dos fãs que se vão mantendo, indiferentes a variações de nível existentes nos seus discos e indiferentes à falta de novidade que o seu regresso a Portugal representa. O Auditório de Espinho (lotado) é o palco escolhido, desta feita, para a apresentação das músicas que constituem o álbum Canyon Songs, lançado em 2007.
A postos para ouvirem Blake, os presentes depararam-se, pouco depois da hora marcada para o início do espectáculo, com a subida ao palco de um chefe de cerimónias chamado Ian James. James não é contratação feita para assegurar primeiras partes, mas sim um músico que, ultimamente, tem acompanhado Blake e mantém, em paralelo, a sua produção musical independente que nos é desvendada durante escassos vinte minutos, antes da entrada em palco da atracção da noite. Diante do silêncio atento da plateia, o músico canta como se cada verso carregasse o peso de um acontecimento especial da sua vida, com comentários pelo meio que esclarecem nesse sentido. Noutro contexto, a sua prestação à guitarra poderia revelar-se inócua, boçal até, não fosse o auditório mostrar-se ideal para proporcionar resguardo e conferir enquadramento. Vinte minutos de tempo de antena pode soar a pouco ou parecer um desprestígio, mas pelo menos composições como “Follow Your Dreams” ou “Keep Off the Beach” souberam fazê-los render. Ian James granjeava visibilidade para as histórias do seu íntimo e assegurava um clima propício à entrada em palco do seu sucessor.
Após um intervalo de sensivelmente dez minutos, surge finalmente Perry Blake, que se faz acompanhar por Glenn Garrett e pelo reincidente em palco Ian James.Este ensemble trouxe suficiente arsenal de cordas dedilhadas (Garrett alterna inclusive o uso da guitarra com o manejo de um bandolim), mas não consegue esconder a ausência de um companheiro fiel na carreira do irlandês: o piano. A diferença entre o material gravado em estúdio e as escolhas do músico para o formato live é, de facto, bastante evidente, mas não suficiente para fazer cair em descrédito a opção por um suporte despido. “Forgiveness”, retirado do álbum The Crying Room, inaugura o repertório escolhido para Espinho e revela a importância do computador na criação de envolvência para as composições. Blake graceja dizendo que os bilhetes para o concerto seriam caríssimos caso ele se fizesse acompanhar por uma orquestra, ao invés do computador. Sem orquestra e com múltiplas pré-gravações, o desfile de faixas pertencentes ao álbum lançado no ano passado é quase integral .
Há elegância q.b.na voz de crooner de Perry Blake. Essa característica aproxima-o de um outro protegido do público português e visita igualmente regular no nosso país: o sueco Jay-Jay Johanson. Johanson que, curiosamente, também pisou recentemente o palco deste auditório. E há frases orelhudas que se levam para casa, como a tirada People are scared / But they don’t like showing wounds ou These pretty love songs they’re what keep us alive. Blake planeara um slideshow para acompanhar o seu alinhamento, pretensão que sairia gorada, devido à falibilidade dos computadores. A actuação viveu uma segunda parte “assombrada” por esse problema técnico, por essas imagens-fantasma que teimavam em não aparecer. Sem poder fixar-se nas imagens, o público não se fez rogado em canalizar atenções para o seu cantor de charme em casaco de veludo. E ele terá sentido, mais uma vez, que tem condições de sobra para voltar, quanto antes, a agraciar os seus fiéis súbditos portugueses.
A postos para ouvirem Blake, os presentes depararam-se, pouco depois da hora marcada para o início do espectáculo, com a subida ao palco de um chefe de cerimónias chamado Ian James. James não é contratação feita para assegurar primeiras partes, mas sim um músico que, ultimamente, tem acompanhado Blake e mantém, em paralelo, a sua produção musical independente que nos é desvendada durante escassos vinte minutos, antes da entrada em palco da atracção da noite. Diante do silêncio atento da plateia, o músico canta como se cada verso carregasse o peso de um acontecimento especial da sua vida, com comentários pelo meio que esclarecem nesse sentido. Noutro contexto, a sua prestação à guitarra poderia revelar-se inócua, boçal até, não fosse o auditório mostrar-se ideal para proporcionar resguardo e conferir enquadramento. Vinte minutos de tempo de antena pode soar a pouco ou parecer um desprestígio, mas pelo menos composições como “Follow Your Dreams” ou “Keep Off the Beach” souberam fazê-los render. Ian James granjeava visibilidade para as histórias do seu íntimo e assegurava um clima propício à entrada em palco do seu sucessor.
Perry Blake © João Pedro Barros |
Após um intervalo de sensivelmente dez minutos, surge finalmente Perry Blake, que se faz acompanhar por Glenn Garrett e pelo reincidente em palco Ian James.Este ensemble trouxe suficiente arsenal de cordas dedilhadas (Garrett alterna inclusive o uso da guitarra com o manejo de um bandolim), mas não consegue esconder a ausência de um companheiro fiel na carreira do irlandês: o piano. A diferença entre o material gravado em estúdio e as escolhas do músico para o formato live é, de facto, bastante evidente, mas não suficiente para fazer cair em descrédito a opção por um suporte despido. “Forgiveness”, retirado do álbum The Crying Room, inaugura o repertório escolhido para Espinho e revela a importância do computador na criação de envolvência para as composições. Blake graceja dizendo que os bilhetes para o concerto seriam caríssimos caso ele se fizesse acompanhar por uma orquestra, ao invés do computador. Sem orquestra e com múltiplas pré-gravações, o desfile de faixas pertencentes ao álbum lançado no ano passado é quase integral .
Há elegância q.b.na voz de crooner de Perry Blake. Essa característica aproxima-o de um outro protegido do público português e visita igualmente regular no nosso país: o sueco Jay-Jay Johanson. Johanson que, curiosamente, também pisou recentemente o palco deste auditório. E há frases orelhudas que se levam para casa, como a tirada People are scared / But they don’t like showing wounds ou These pretty love songs they’re what keep us alive. Blake planeara um slideshow para acompanhar o seu alinhamento, pretensão que sairia gorada, devido à falibilidade dos computadores. A actuação viveu uma segunda parte “assombrada” por esse problema técnico, por essas imagens-fantasma que teimavam em não aparecer. Sem poder fixar-se nas imagens, o público não se fez rogado em canalizar atenções para o seu cantor de charme em casaco de veludo. E ele terá sentido, mais uma vez, que tem condições de sobra para voltar, quanto antes, a agraciar os seus fiéis súbditos portugueses.
· 25 Jan 2008 · 08:00 ·
Eugénia Azevedoeugeniaazevedo@bodyspace.net
RELACIONADO / Perry Blake