ETC.
DVD
Tradição Oral Contemporânea
B Fachada
· 05 Jan 2009 · 00:42 ·
Tradição Oral Contemporânea
B Fachada
2008
B Fachada
2008
Tradição Oral Contemporânea
B Fachada
2008
B Fachada
2008
Documentário/celebração do mais promissor songwriter português da actualidade. Está a nascer uma nova tradição.
Bernardo Fachada surgiu ao mundo pela mão da Merzbau: o cartão de apresentação tinha por tÃtulo Até Toboso e desvendava um pouco do seu potencial. Apesar do mau som, já se percebia que havia ali qualquer coisa, desde logo se via uma clara eficácia na construção de melodias e uma rara destreza na feitura das letras, combinando elegância, erudição e humor. Ao vivo a suspeita confirmou-se, num primeiro contacto que aconteceu em Março de 2007, num concerto na Crew Hassan.
Desde então Fachada continuou a trabalhar de forma constante e quem teve oportunidade de assistir a alguns dos seus concertos constatou uma notória evolução. Os temas abordados deixaram de ser apenas miúdas e pêlos púbicos (que caracterizavam Até Toboso, EP que não deixou nenhuma canção especialmente marcante), para começarem a surgir novas músicas, novas temáticas - até começarem a aparecer canções verdadeiramente memoráveis.
Com a edição de Mini CD – Produzido por Walter Benjamin e Sings the Lusitanian Blues (ambos 2008, Merzbau) foram já publicadas algumas canções de altÃssimo nÃvel – a fantástica “Mimi†ou “A Primaveraâ€, fabulosa revisão do standard “Let’s Do It (Let’s Fall In Love)â€. E nos concertos começaram a surgir outras belas canções, algumas entretanto já gravadas no EP Viola Braguesa (edição FlorCaveira) – “Pior que Tioâ€, “Balada à Marianaâ€, “Tradição†ou a irónica (e profética) “Resposta à FlorCaveira†- vale a pena lembrar os versos “se eu gravar a jejuar / o Ãpsilon vai-me beatificar†e a sua surpreendente entrada no top dos melhores discos do ano do suplemento do Público.
Foi num desses concertos que Tiago Pereira, realizador, autor da premiada curta "11 burros caem no estomago vazio", descobriu B Fachada. E o fascÃnio foi tal que despoletou uma ideia: fazer um documentário sobre o excêntrico músico de Cascais. O filme foi feito em tempo recorde e vive da alternância entre as interpretações das canções (em locais muito dÃspares) com pontuais citações do músico em registo de entrevista.
Este filme é essencialmente sobre a música de Fachada, mas não se fica por Lisboa, aventura-se ao interior do paÃs e, qual Giacometti pós-moderno, arrisca uma viagem à s origens daquilo que será a “tradiçãoâ€. Vemos velhinhas, vemos campo e vemos cidade. Há fragmentos de velhas histórias, há uma tentativa (nem sempre conseguida) de ligação dos velhos temas do campo com as canções originais de Fachada e há uma frágil (e bem-vinda) humanidade que percorre todo o filme.
Mas vemos sobretudo um músico com um repertório cada vez mais consistente. Bernardo Fachada diz que não é herdeiro da tradição portuguesa do folclore, mas descobriu já a sua própria tradição: "perguntei ao sangue a minha tradição / e o sangue respondeu-me esta canção". Poderá não corresponder exactamente aquilo que se esperava de uma coisa chamada "tradição", trata-se simplesmente de uma folk urbana muito bem desenhada. Mas quando se trata de música desta envergadura o nome deixa de ter importância e há que deixar florescer essa tal coisa nova chamada de "tradição oral contemporânea".
Nuno CatarinoDesde então Fachada continuou a trabalhar de forma constante e quem teve oportunidade de assistir a alguns dos seus concertos constatou uma notória evolução. Os temas abordados deixaram de ser apenas miúdas e pêlos púbicos (que caracterizavam Até Toboso, EP que não deixou nenhuma canção especialmente marcante), para começarem a surgir novas músicas, novas temáticas - até começarem a aparecer canções verdadeiramente memoráveis.
Com a edição de Mini CD – Produzido por Walter Benjamin e Sings the Lusitanian Blues (ambos 2008, Merzbau) foram já publicadas algumas canções de altÃssimo nÃvel – a fantástica “Mimi†ou “A Primaveraâ€, fabulosa revisão do standard “Let’s Do It (Let’s Fall In Love)â€. E nos concertos começaram a surgir outras belas canções, algumas entretanto já gravadas no EP Viola Braguesa (edição FlorCaveira) – “Pior que Tioâ€, “Balada à Marianaâ€, “Tradição†ou a irónica (e profética) “Resposta à FlorCaveira†- vale a pena lembrar os versos “se eu gravar a jejuar / o Ãpsilon vai-me beatificar†e a sua surpreendente entrada no top dos melhores discos do ano do suplemento do Público.
Foi num desses concertos que Tiago Pereira, realizador, autor da premiada curta "11 burros caem no estomago vazio", descobriu B Fachada. E o fascÃnio foi tal que despoletou uma ideia: fazer um documentário sobre o excêntrico músico de Cascais. O filme foi feito em tempo recorde e vive da alternância entre as interpretações das canções (em locais muito dÃspares) com pontuais citações do músico em registo de entrevista.
Este filme é essencialmente sobre a música de Fachada, mas não se fica por Lisboa, aventura-se ao interior do paÃs e, qual Giacometti pós-moderno, arrisca uma viagem à s origens daquilo que será a “tradiçãoâ€. Vemos velhinhas, vemos campo e vemos cidade. Há fragmentos de velhas histórias, há uma tentativa (nem sempre conseguida) de ligação dos velhos temas do campo com as canções originais de Fachada e há uma frágil (e bem-vinda) humanidade que percorre todo o filme.
Mas vemos sobretudo um músico com um repertório cada vez mais consistente. Bernardo Fachada diz que não é herdeiro da tradição portuguesa do folclore, mas descobriu já a sua própria tradição: "perguntei ao sangue a minha tradição / e o sangue respondeu-me esta canção". Poderá não corresponder exactamente aquilo que se esperava de uma coisa chamada "tradição", trata-se simplesmente de uma folk urbana muito bem desenhada. Mas quando se trata de música desta envergadura o nome deixa de ter importância e há que deixar florescer essa tal coisa nova chamada de "tradição oral contemporânea".
nunocatarino@gmail.com
RELACIONADO / B Fachada