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LIVRO
Beyond Jazz - Plink, Plonk & Scratch: The Golden Age of Free Music in London 1966–1972
Trevor Barre
· 30 Jul 2016 · 11:00 ·
Beyond Jazz - Plink, Plonk & Scratch: The Golden Age of Free Music in London 1966–1972
Trevor Barre
2016
Compass Publishing
Beyond Jazz - Plink, Plonk & Scratch: The Golden Age of Free Music in London 1966–1972
Trevor Barre
2016
Compass Publishing
Documento essencial sobre a génese da improvisação europeia.
O título deste livro não só é todo um programa, como explica exactamente aquilo que poderemos encontrar lá dentro. A música designada de “improvisação livre” nasceu do jazz, partindo da sua característica definidora - a improvisação - mas extrapolou essa origem para dar origem a algo novo. Essa nova música, que já foge aos idiomas (do jazz e de outras músicas de regras pré-definidas), passa também pelos “plinks” e “plonks” do subtítulo: os sons estranhos fazem parte do processo. A improvisação livre surgiu no final da década de ’60 e sobrevive até aos dias de hoje, continuando a ser um mistério para muitos.

Mais do que um documento científico, este livro é um trabalho de amor de um fã de música improvisada que viaja até ao passado para reconstruir a história da génese da música livremente improvisada na capital inglesa. O trabalho assume um foco, local e temporal, mas ainda assim a tarefa não é fácil, dadas as múltiplas conexões entre músicos e bandas, sendo que o material gravado regista apenas uma parte da história. O inglês Trevor Barre parte de uma selecção de músicos, grupos e discos fulcrais para estabelecer uma “timeline” coerente.

Após um início de contextualização, apresentando as formas de jazz existentes em meados da década de 1960, Barre traça a génese da improvisação livre em 1996, ano em da formação de dois grupos fundamentais (AMM e Spontaneous Music Ensemble), para fechar o ciclo no ano de 1972, altura em que já uma primeira geração de improvisadores se tinha afirmado. A esse período, de fundação e consolidação, o autor apelida de “era dourada”.

Evitando a simples cronologia, o autor divide o livro em quatro grandes capítulos centrais. O primeiro é dedicado ao Spontaneous Music Ensemble, projecto que arrancou como trio de John Stevens, Trevor Watts e Paul Rutherford para se ir transmutando ao longo dos anos. Neste capítulo, além de se traçar a história e evolução da banda, são analisados vários discos, essenciais também para a definição da historia da improvisação livre, como Challenge, Withdrawal ou Karyobin.

O segundo grande capítulo é focado nos AMM, outro grupo seminal. Este grupo desenvolveu uma música improvisada mais afastada do free jazz, quase inclassificável, e nesses “anos dourados” reuniu uma equipa all-star com Cornelius Cardew, Eddie Prévost, Keith Rowe, Lou Gare e Cornelius Cardew. Deste grupo são analisados os discos fundamentais Laminal, AMMMusic e The Crypt.

Provavelmente as duas figuras de maior dimensão da improvisação inglesa (e não só), Evan Parker e Derek Bailey têm direito a um capítulo próprio. Músicos excepcionais, o saxofonista e o guitarrista foram, além de parceiros musicais (o disco Topography of the Lungs é um marco obrigatório), também parceiros de negócios - na editora Incus. O afastamento entre os dois também não é esquecido e o autor trata de expor os argumentos de ambos os lados, sem tomar partidos.

O quarto grande capítulo do livro é dedicado a outros grupos que tiveram relevo particular naquela altura. Neste capítulo, dedicado aos “Supergrupos”, é analisado o trabalho dos grupos Iskra 1903 (Paul Rutherford, Derek Bailey e Barry Guy), dos grupos de Tony Oxley, da Music Improvisation Company (também com Parker e Bailey) e do Howard Riley Trio - todos com registos discográficos.

Trevor Barre passa pelos pontos e actores principais, num documento bem estruturado que, apesar de não se tratar propriamente uma investigação académica, assenta sempre em informação factual. Esta é uma obra fundamental para todos os interessados na música livre e na sua história.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
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