ETC.
LIVRO
Warp – labels unlimited
Rob Young
· 01 Set 2006 · 08:00 ·
Warp – labels unlimited
Rob Young
2006
Black Dog Publishing
Warp – labels unlimited
Rob Young
2006
Black Dog Publishing
Atravessando os dezassete anos de actividade da Warp, Rob Young faz a apologia da análise à lupa e reúne em livro momentos significativos e curiosidades da editora de Sheffield.
Não é má ideia aproveitarmos alguns pretextos para conceder tempo de antena a outros agentes da indústria discográfica que não os músicos. E, se a vida de alguns desses músicos constitui matéria abundante para um livro, o percurso de certas editoras também. Disso se terá lembrado certamente o jornalista Rob Young (editor da revista Wire) na escolha do seu objecto de estudo. Ao longo de quase duzentas páginas, é disponibilizado o trajecto da editora Warp desde a sua criação em 1989, passando inevitavelmente revista aos músicos que nela encontraram o abrigo ideal. Volvidos quase dezassete anos sobre o arranque, a Warp goza indiscutivelmente de um estatuto privilegiado no seio das editoras mais aventureiras. É essa reputação que ilustra a pertinência deste lançamento. Felizmente, ao interesse do tema junta-se uma estrutura original que evita uma mera e entediante exposição dos acontecimentos, introduzindo dados curiosos como cópias de documentos manuscritos, entrevistas, etc. Warp pretende ser o primeiro de diversos volumes a publicar sob a designação de “labels unlimitedâ€, uma colecção que se prestará a acompanhar a trajectória de outras editoras igualmente bem implantadas. Enquanto não chegam as sagas seguintes, seguimos o rasto da matéria deste volume.

Sheffield. A incontornável tradição electrónica perdura. O apelo a caminhos cada vez mais criativos manifesta-se. Steve Beckett e Rob Mitchell aspiram a uma filosofia conceptual capaz de revolucionar a oferta discográfica. De aspiração a projecto, de projecto a realizações concretas, a Warp surge como uma editora centrada no arrojo, obcecada pela sua identidade, obstinada na sua missão de dar visibilidade a uma electrónica cada vez mais inteligente. Os primórdios da Warp são descritos nas primeiras páginas, às quais não faltam indicações quanto a uma “pré-temporada†da editora, correspondente ao tempo em que os fundadores da mesma trabalhavam na loja de discos FON. No enquadramento do projecto, surgem ainda dados relativos à cena musical vigente e tendência políticas eminentes. A partir daí, vamos percorrendo a espiral que desembocará na instituição reputada que conhecemos hoje. Quando, em retrospectiva, analisamos o percurso da Warp (que esteve para se chamar Warped), compreendemos o porquê de Steve Beckett e Rob Mitchell encararem a designação que escolheram para a sua editora como uma sigla para “We Are Reasonable Peopleâ€. Certamente o têm sido.

Concretamente, o que terá elevado aos píncaros a editora da cor púrpura? Unanimemente considera-se que tenha sido a audácia dos seus lançamentos. Rob Young não poupa o seu livro a imagens dos primeiros discos e slogans que promoveram a casa, numa demonstração do burburinho que os inícios de actividade despoletaram. E o arranque propriamente dito verificou-se por alturas da edição de Track With No Name dos The Forgemasters, Dextrous dos Nightmares On Wax’s e o disco de remisturas dos Sweet Exorcist’s Testone, primeiros lançamentos da Warp a verem a luz do dia. Simultaneamente revelava-se feliz a parceria da editora com o trabalho dos Designers Republic, responsáveis pelo artwork dos discos lançados pela casa, numa altura em que se afirmavam como gurus de uma nova era do design. De resto, a Warp usufruía de uma plataforma de promoção que assentava fundamentalmente no seu site, onde os ávidos consumidores podiam encontrar informação abundante. Formas de promoção clássicas como a entrevista eram menos garantidas, nomeadamente por músicos como os Drexciya ou Vincent Gallo, que raramente as concediam. Daí que para compreender a filosofia da editora seja necessário ter em mente a especificidade de nomes que constituem o seu importante catálogo.

Aquilo que à primeira vista poderá transparecer a opção pela exclusividade electrónica, demonstrou também revestir-se de uma base rock igualmente do agrado de Steve Beckett e Rob Mitchell (este último já falecido). É o caso de músicos como os Stereolab ou Tortoise, casos para conferir nas últimas páginas da presente publicação, que apresenta por ordem alfabética todas as entradas do catálogo da Warp. Nele descobrimos lançamentos óbvios que catapultaram a editora de Sheffield para o reconhecimento mundial, momentos significativos como os garantidos por nomes como Aphex Twin, Autechre e Boards of Canada. Recentemente, a política de vanguarda seguida pela Warp, mostrou sinais de uma nova abertura com a edição de A Certain Trigger dos Maxïmo Park, deixando assim em aberto um possível novo capítulo que contemple as fileiras da pop. Resta saber se os fiéis seguidores das anteriores escolhas (Thom Yorke chegou mesmo a conferir aos discos da Warp o papel de fonte inspiradora no processo de composição de Kid A/Amnesiac) entusiasmar-se-ão da mesma forma com as diferentes apostas. Até lá fica este fundamental registo dos passos de uma das mais vanguardistas editoras indie em actividade.
Eugénia Azevedo
eugeniaazevedo@bodyspace.net
RELACIONADO / Rob Young