
Como nasceram então os Veados Com Fome? Diz-se algures que resultaram da fusão e do fracasso de outras bandas como os Minimal Experimental Animal!, 1984 e dAnCE DAMage…
Os M.E.A. e os 1984 eram constituídos pelo Sr. Ferreira e pelo Sr. Pinto, eram bandas inconsequentes formadas na garagem e na garagem enterradas. Entretanto o Sr. Ferreira entrou para os dAnCE DAMage e as coisas abrandaram, em Março de 2005 quando saiu dos mesmos juntou-se novamente ao Sr. Pinto, chamaram o amigo de longa data, o Sr. Gonçalves, e criaram os Veados Com Fome.
A que se deveu o fracasso dessas bandas que pretendem evitar agora?
Nada fracassou, as outras bandas foram apenas outros projectos que nos ajudaram a entender mais concretamente o que queríamos fazer. Apenas falharam em não conseguirem ser o que se desejava deles.
Há alguma coisa dessas três bandas anteriores que sobreviva nos Veados Com Fome?
Há sempre alguma coisa que vai ficando, acho que o que fica mais é a atitude com que se aborda a música e as bandas. Todos os projectos em que nos envolvemos ou envolvamos têm de ser desprendidos e directos.
Em que diferem os vossos dois trabalhos, Volume #1 e Volume #2? Os títulos parecem conferir-lhes alguma ligação…
Na verdade a nossa ideia era ir gravando volumes de tempos a tempos para podermos registar o que fazíamos, porque estamos sempre a fazer músicas e não as queríamos perder. Mas a ideia travou ao segundo número, porque ficou muito mal gravado, não gostávamos do som daquilo, e mudamos de estratégia. Decidimos gravar agora um EP e fizemo-lo na nossa sala de ensaios com poucos meios mas o resultado agrada-nos mais.
De St. Tirso são também os – como vocês costumam dizer – vossos vizinhos, os Dance Damage. Há mais alguma coisa a acontecer em Santo Tirso, mais algum projecto que valha a pena referir ou é tudo ramificações dos Dance Damage como os Tropa Macaca?
Não há mais nada de significativo, pelo menos no espectro em que nós nos mexemos. Existem bons músicos mas colectivos ou bandas, não. Há tão pouca gente que só se pode fazer um “baralhar e dar de novo”.
Editar em CD-R foi a vossa primeira opção?
Devido à nossa dimensão enquanto banda não nos pareceu que propor o nosso trabalho a qualquer editora fosse uma boa ideia. Por outro lado editar em CD-R permite-te mandar à merda quem tu quiseres, não estas vinculado a nada, e sabes que tudo o que tens foi alcançado pelo teu trabalho e de mais ninguém.
Tendo em conta a liberdade que a edição em CD-R permite, não acham que o processo pode descurar alguma qualidade musical? Por outras palavras, a ânsia e a facilidade de edição não podem ser barreiras à qualidade dos lançamentos?
Neste processo da edição em CD-R há ganhos e perdas. Ganhas a facilidade de divulgação da música e a possibilidade de promoção de projectos mais marginais e que nunca teriam qualquer tipo de hipótese. É claro que tudo isto é feito num espírito de DIY, e o resultado final não é profissional, mas o balanço final é muito positivo.
Os Loosers já dispõem de uma label própria onde editam os seus próprios discos e discos de outros projectos. Já vos passou pela cabeça lançar uma editora de CD-R?
De um momento para o outro surgiram muitas editoras CD-R, nós estamos simpaticamente associados à Lovers & Lollypops, e isso deixa-nos plenamente satisfeitos pelo que não queremos criar uma editora.
Sentem alguma ligação com a assim chamada comunidade onde se incluem bandas como os Loosers, os Frango, os Caveira, entre outros? Ou os lançamentos por vias mais periféricas são a única coisa que vos une?
Em termos de sonoridade não sufragamos os mesmos ditames desses exemplos. Estamos unidos talvez pela abordagem que fazemos à música, e isso é um grande denominador comum, e é por aí que as coisas se podem tornar interessantes.
Da vossa lista de concertos até ao dia de hoje constam apenas seis entradas. No entanto estão a pensar num périplo galego – como lhe chamam no site – que foi adiado entretanto. Há novidades nesse aspecto?
Infelizmente o périplo galego foi um fracasso, estamos no entanto a tentar organizar alguns concertos em Espanha, sobretudo na Galiza, porque parece ser mais fácil tocar lá do que cá…
Sentem dificuldades em marcar concertos? Não acham que o roteiro habitual de bandas como os Veados Com Fome é ainda, em Portugal, um pouco limitado?
Temos muitas dificuldades e desilusões no que toca aos concertos, os Veados Com Fome tocam em qualquer lado em qualquer circunstância, não precisam de PA, nem de palco, nem de Hotel nem de cachet, e ainda assim para marcarmos um concerto temos de suar muito. As pessoas aparentam ter algum medo de coisas novas ou diferentes, preferem ter um espaço vazio do que uma banda a tocar, assim sendo é complicado.
Há algum tempo atrás diziam estar em fase de pouca ou nenhuma actividade, devido a inadiáveis obrigações académicas e ao facto de terem ficado sem sala de ensaio. Sei que a segunda barreira já foi ultrapassada, mas e a segunda? Quais são as vossas intenções reais em relação à música?
A música será sempre uma actividade paralela, viver da música não nos passa pela cabeça em altura alguma da nossa vida. A música tem de ser uma amante, se lhe dedicas demasiado tempo dás cabo da tua vida. E assim as coisas são mais difíceis tens de te esforçar mais, não relaxas e isso é positivo.
Actuaram recentemente nas três FNACs do Porto. Como foram essas experiências? Acham que isso chamou mais atenção das pessoas para aquilo que andam a fazer?
Tocar nas FNAC’s é muito mau. Marcamos lá os concertos porque na altura eram as únicas hipóteses que tínhamos para tocar ao vivo. Num dos concertos até estava bastante gente, e num outro tivemos cobertura do Blitz, ou seja, em termos globais até foi positivo, como concertos foi mau.
Os Loosers andaram recentemente digressão pela Europa fora com os Mouthus. É algo que vos passa pela cabeça para um futuro próximo?
Sim, se as coisas nos correrem bem, seria muito bom poder fazer um tour pela Europa, aliás foi para isso que nos juntamos, para tocar ao vivo, se for lá fora em sítios bons e para pessoas diferentes, melhor.
Anunciaram há pouco tempo que têm quase pronto para editar um EP de 6 faixas gravado nos estúdios Tchemple em São Paio de Guimarei. Esse EP será editado pela Lovers and Lollypops ou vai ser outro lançamento que marcará a vossa estreia pela recentemente criada editora?
Sim, os estúdios são a nossa sala de ensaio depois de munida com um computador e alguns microfones. Gravamos com o Filipe dos Fat Freddy e ficamos muito satisfeitos, quer com o processo de gravação quer com o resultado final. Assim sendo e como a L&L mostrou interesse em que integrássemos as suas fileiras, vamos editar com o selo deles o EP até ao fim do ano.
Veados com Fome, Tropa Macaca, Frango, Caveira… anda tudo a ver quem é que consegue o nome mais peculiar? De onde vem o vosso (se é que vem de algum lado)?
Veados Com Fome é uma faixa do Vénus em Chamas dos Mão Morta, tem uma letra muito boa e o nome agradou-nos, não estamos a tentar ser bizarros. Aliás Veados em Brasileiro quer dizer homossexuais, o que dá azo às mais entediantes das piadas que já estamos fartos de ouvir, ainda assim gostamos do nome.
andregomes@bodyspace.net