ENTREVISTAS
LÖBO
Dá-lhe com a Älma
· 08 Set 2017 · 17:15 ·
O mundo parece desabar logo aos primeiros segundos de "Aqui Em Baixo A Alma Mede-se Com Mãos Cheias De Pedras", a faixa com que abre o tenebroso Älma, EP que os LÖBO editaram em 2010 e que muita tinta fez correr. Bem, não só a tinta, como também os corações; em pouco tempo, o grupo deixou de ser uma surpresa para se tornar num dos valores mais seguros do Portugal pesado, antes de um fim algo abrupto, em 2013. Um fim que não o era de facto.

Dois anos depois, os LÖBO anunciaram o seu regresso, uma reedição de Älma e, agora que que voltaram a uivar, é tempo de fincar os dentes no futuro - pode vir aí material novo. Antes disso, falámos com Ricardo Remédio para fazer um ponto da situação.
© Pedro Roque
Que ficou por dizer que motivou o regresso dos LÖBO?

Acho que ficou por provar que o Alma não um foi um acaso. Acho também que a banda cedo conseguiu criar uma identidade que, ao invés de fechar horizontes, como acho que acontece muito no espectro da música mais pesada, podia levar a banda para muitas direcções interessantes. Ficou sempre a curiosidade de explorar mais essa identidade e essa liberdade.

Juntamente com o regresso foi anunciada uma reedição do Alma, EP que editaram em 2010. Muitas reedições procuram fazer acrescentos ao material original, seja através de temas bónus ou inéditos, mas esta manteve-se inalterada. Sentiram que seria difícil melhorá-lo?

Sentimos que fazia sentido ser fiel à versão original. Tanto a nível de artwork como de alinhamento. Todos na banda ficaram surpreendidos com a receptividade do Alma, e foi um daqueles casos em que não quisemos arriscar e correr o risco de alterar a magia que o álbum possa ter.

© Pedro Roque

Os títulos das canções presentes no disco soam a curtas histórias ou mesmo poemas. Quanta literatura, e até mesmo quanta filosofia, cabe nos LÖBO?

Penso que os títulos, numa banda instrumental, ganham ou podem ganhar um peso enorme. Quisemos como banda aproveitar isso, e passar algo mais que pudesse contextualizar a música e criar um imaginário à volta da mesma. As referências visuais da banda cedo se focaram no espaço, e alguma literatura sci-fi certamente ajudou a isso. Muitos filmes também tiveram a sua influência. Para além disso, alguma literatura existencialista, sem dúvida: O Mito De Sísifo, de Camus, foi uma das influências do Alma e do seu ADN. É preciso imaginar Sísifo feliz.

Deram já vários concertos após o regresso. Foi fácil encontrar a faísca original? Quanto tempo passaram, ou passam, a ensaiar?

O desafio, mais que procurar a faísca original, foi dar novos arranjos às músicas e tentar, passados estes anos, voltar àquele mundo. Todos mudámos como pessoas, e as nossas referências musicais [também] evoluíram e mudaram. Temos sorte, pois o material é "elástico" o suficiente para aguentar novos arranjos sem perder a sua essência. Sobre os ensaios, começámos de forma bastante intensa até a máquina ficar oleada novamente. Neste momento a prioridade é mais a de pensar em material novo, por isso tirámos o pé do acelerador no que toca a ensaios.

Durante o vosso primeiro período de existência, foram quase sempre considerados como uma das melhores bandas de "peso" (queria fugir ao termo heavy metal) dos últimos anos em Portugal, e alvo de um certo culto. Este retorno é também uma forma de se reencontrarem com os fãs, de uma forma que não soe a falsa - como no caso dos LCD Soundsystem?

Acho que o retorno surge mais por querermos provar algo a nós próprios e explorar mais o som da banda, do que necessariamente reencontrarmo-nos com os fãs. Mas é impossível ignorar o facto de que muita gente nunca nos viu tocar, e só começou a conhecer a banda já esta tinha acabado. E muita gente procurava o Alma e não o encontrava. Esse encontro com esses fãs no pós-fim da banda foi muito bom.

© Lais Pereira

De 2009 para cá muita coisa mudou na música portuguesa, tanto em termos gerais como no campo da música mais pesada e experimental. Como acompanharam esta evolução? Se se puder falar de uma "cena" actual, qual a vossa visão sobre a mesma?

Quando surgimos, a cena post-metal era forte e acho que fomos um pouco colocados dentro desse chavão. Apesar de não nos revermos a 100% no género, penso que ajudou a banda a encontrar concertos e a fazer estrada. Hoje em dia tudo parece mais fragmentado, e pessoalmente até prefiro isso. Ninguém tem paciência para concertos com três bandas todas do mesmo género. É bom misturar e não ficar fechado dentro de uma cena musical.

Que conselhos dariam os LÖBO de hoje aos LÖBO de 2009?

Tenham calma e não stressem tanto. Estão no caminho certo.

Que nos reserva o futuro dos LÖBO?

Alguns concertos no final do ano e no princípio do próximo e, se tudo correr bem, material novo!
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

Parceiros