ENTREVISTAS
Humanoid
Humanóides psicadélicos
· 04 Jul 2017 · 23:22 ·
“Uma mistura de stoner, blues e rock psicadélico”. Quem nunca ouviu falar de Humanoid, uma banda do Porto que este ano lançou o primeiro álbum, “The Mists of Pluto”, está a perder mas pode ser desculpado com o facto de que o grupo, com quatro integrantes dos 19 aos 21 anos, não está filiado a nenhuma editora ou promotora.

Ainda assim, vão ganhando tração através de fãs dedicados que partilham a música do grupo no YouTube e com os concertos que a vida académica vai permitindo. A 08 de abril, apresentaram o novo álbum num duplo concerto com Marvin, uma banda associada, no Woodstock 69, no Porto, mas há mais atuações ao vivo a caminho.

Numa conversa rápida e coloquial com Luís Gigante, guitarrista e vocalista da jovem banda, o Bodyspace traçou o retrato de um grupo que começou “péssimo”, em 2012, mas em 2015 voltou “com uma sonoridade completamente diferente” e abordagem séria que já os leva a pensar em voos mais altos – e europeus, bem como num segundo álbum – “algo mais jazzy”.
© Francisco Melo
Contem-me o processo de nascimento da banda. O momento em que surgiu a ideia, como se juntaram os elementos...

Bem, a banda surgiu em 2012 sob outro nome e registo completamente diferente. Eu e o André arranjámos umas guitarras e ensaiávamos no quarto do Tiago, o nosso baterista. Nessa altura, tínhamos apenas 3 membros, duas guitarras e uma bateria, e pronto, eramos péssimos. Mais tarde, não sei ao certo a data, juntou-se o Miguel no baixo, que veio completar o som da banda. Embora já toquemos juntos desde aí só em 2015 é que a coisa se tornou mais séria, adotámos o nome atual e basicamente recomeçamos do zero, com uma sonoridade completamente diferente.

Quem são os elementos, o que tocam, idades, passado musical e/ou ocupação aparte da música? Conta-me tudo.

Temos quatro elementos: na guitarra e voz, Luís Gigante, 19 anos; na outra guitarra, André Pereira, 19 anos; no baixo, Miguel Ferreira, 21 anos; por fim, na bateria, Tiago França, 19 anos. Vamos tendo alguns projetos paralelos, é porreiro ir experimentando outras cenas. O André e o Miguel tocam os dois em Marvin, uma banda que nos tem acompanhado desde o início e com a qual fomos dando concertos. Eles também lançaram agora um álbum, quem não ouviu não sabe o que perde. Fora isso, somos todos estudantes. Eu e o André estudamos na Faculdade de Belas Artes, no Porto, o Miguel em Arquitetura, também no Porto, e o Tiago em Psicologia em Braga [Universidade do Minho].

Como descreveriam a vossa música? De que género consideram que se aproxima mais?

Não nos identificamos propriamente com nenhum estilo específico, mas tendo de descrever o som pode-se dizer [que é] uma mistura de stoner, blues e rock psicadélico.

© Francisco Melo

Quando decidiram avançar para “The Mists of Pluto”? Qual o tema e as sonoridades que queriam invocar?

Logo a seguir a lançarmos o primeiro EP, começámos a escrever músicas para o álbum. A coisa surgiu naturalmente, não houve propriamente uma premissa estabelecida no que toca ao rumo que queríamos tomar. No entanto, acho que para todos os membros foi uma experiência intensa, optamos por gravar nós tudo, no nosso estúdio no STOP [Porto], por isso é que também demoramos tanto tempo a tê-lo pronto. Embora possa haver algumas falhas no que toca à qualidade de som e velocidade da gravação, foi bom termos total controlo sobre todo o processo e há sem dúvida uma envolvência que se cria devido a esta situação.

Como avaliam a receção ao álbum?

Até agora tem sido excelente, ficámos surpreendidos. Temos recebido boas críticas e particularmente o pessoal fora de Portugal parece ter gostado do álbum. Quem sabe não tocamos em breve aí pela Europa, mas cada coisa a seu tempo.

Têm alguma faixa favorita deste LP?

Não, preferimos que o pessoal ouça o LP inteiro.

Já pensam num próximo registo de estúdio?

Sem dúvida, já estamos a preparar o próximo álbum. Algo mais jazzy...

Como avaliam o panorama musical nacional dentro daquilo que é próximo da vossa sonoridade?

Portugal tem montes de bandas excelentes! Há uma comunidade muito forte de bandas de rock e stoner, muitas delas que até estão a conseguir atingir toda a Europa e arredores. Isto para não falar das editoras e promotoras que têm surgido e que sem dúvida servem um grande papel na propagação da música de qualidade portuguesa. Há muito bom produto nacional por aí!© ©

© Francisco Melo

Podemos encontrar a vossa música no Bandcamp e em alguns vídeos no YouTube – já pensaram em usar o Spotify, ou é algo que não vos interessa?

Talvez, sinceramente ainda não exploramos muito o processo necessário para por a nossa música lá. Mesmo os álbuns que estão no YouTube foram lá colocados por fãs estrangeiros que gostaram do álbum e aos quais agradecemos imenso.

Atendendo ao panorama atual de promoção de bandas e de audição de música, é hoje mais difícil fazer dinheiro com a música?

Sem dúvida, nós temos tido bastantes dificuldades, esperemos que a coisa melhore agora com este álbum. No geral, acho que há muita gente que não dispensa o tempo para ouvir com atenção, parece que com a Internet as pessoas se habituaram a absorver tudo o mais rápido possível. É verdade que o dinheiro aqui em Portugal é escasso mas podendo há todo o interesse em apoiar os projetos de que se gosta.

Que objetivos traçam para o que resta de 2017? E para lá deste ano?

O objetivo neste momento é conseguir fazer uma tour por Portugal no Verão, mas isso ainda vai exigir coordenar toda a logística necessária, ainda para mais quando não temos qualquer tipo de afiliação com editoras ou promotoras. Para além disso, gostávamos imenso de ter um novo álbum pronto até ao fim do ano, vamos ver se corre tudo bem...
Simão Freitas
spfreitas25@gmail.com

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