ENTREVISTAS
The Twist Connection
Rock em tempos de cólera
· 17 Fev 2017 · 11:49 ·
Junte-se Samuel Silva (The Jack Shits, Los Saguaros), na guitarra, Sérgio Cardoso(Wraygunn, É Mas Foice), no baixo, e Kaló (Wraygunn, Bunnyranch), na bacteria, junte-se Coimbra e a paixão pelo rock’n’roll e o resultado é The Twist Connection, banda que junta três nomes "batidos" da música portuguesa e lhes injecta nova vida. O primeiro álbum, Stranded Downtown, foi lançado no final do ano passado e irá andar, este ano, pelo país inteiro e ainda terá um saltinho a Espanha.

O próximo concerto é no Sons de Vez, a 18 de Março, com os Bed Legs. Ao Bodyspace, Samuel Silva comenta a utilidade e propósito da música rock em tempos de incerteza política e diplomática, quando se “torna particularmente importante que os indivíduos comuns consigam ter momentos em que se desliguem dos desafios do seu dia-a-dia, se alheiem das nuvens negras que por aí andam a pairar”. E diz que “há quem ande por aí a abanar ancas com particular assertividade” no rock nacional.
O rock é hoje em dia ainda mais necessário, tendo em conta o estado do mundo e da política internacional?

Talvez. Não é uma pergunta fácil de responder... no entanto, acho que existem duas grandes abordagens possíveis: por um lado o rock'n'roll pode ser necessário no sentido em que pode servir para a tomada de posições políticas diretas e claras que influenciem de alguma forma a pessoas. O cancioneiro de protesto é muito rico e há quem o faça particularmente bem. Nós não entramos por aí... quanto muito podemos ser incluídos na segunda abordagem possível! Aquela em que, face ao estado do mundo, se torna particularmente importante que os indivíduos comuns - como nós somos! - consigam ter momentos em que se desliguem dos desafios do seu dia-a-dia, se alheiem das nuvens negras que por aí andam a pairar e que, com a ajuda de um performer mais ou menos inspirado ou talentoso, possam transcender por uns breves minutos as dificuldades terrenas que certamente amaldiçoam.

Por que decidiram avançar para uma nova banda depois de terem, os três, percursos notáveis na música nacional?

Porque a notabilidade dos percursos é sempre questionável! E porque "percursos notáveis" alimentados de conquistas passadas valem pouco ou nada no presente. E também porque não queremos nem conseguimos estar parados: havia, por diferentes motivos (o Kaló porque estava há demasiado tempo sentado atrás de uma bateria, de uma forma que, obviamente, não lhe permite a expressão de todo o seu potencial como "frontman"; o Sérgio porque os Wraygunn estão em modo de pausa prolongada e eu porque, com a "fuga" do Diogo Augusto para o estrangeiro mais ou menos longínquo, estava impedido de ter os The Jack Shits em modo hiperactivo como sempre quis), em todos nós, essa vontade de fazermos mais e de fazermos melhor... de criarmos algo de novo, de escrevermos mais canções, de pisarmos mais palcos! É isso que, tanto tempo depois, nos continua a mover: a vontade de fazer acontecer e a vontade de melhorar e de crescer naquilo que fazemos.



Nas várias entrevistas que têm dado nos últimos meses, fiquei com a ideia de que a dança está fortemente ligada ao som que procuram aqui. Podem explicar melhor esta ligação e o que traz à vossa sonoridade?

Não temos particular interesse em vincar a temática da dança. Mas se conseguirmos fazer alguém dançar, melhor. O facto de ser "Twist" não significa que traduzamos a ideia de forma literal. Mas que gostamos do ambiente, sim. Agora é ver como as coisas correm. Como descreveriam o vosso estilo?

Não há necessidade de complicar aquilo que é simples: apesar de todos bebermos inspiração de coisas diferentes, acabamos todos por confluir no rock'n'roll e é essa a única definição estilística que consideramos adequada para aquilo que fazemos! Que influências se podem sentir no vosso trabalho?

A vida. Boa ou má, miserável ou mais alegre. Musicalmente falando, penso que se encontram "coisas" que vão desde o rockabilly, soul, garage, punk rock, até aos dias de hoje.

O que podemos esperar dos próximos concertos da banda? E, por outro lado, o que é que vocês esperam conseguir trazer ao público?

Desfilar de temas do álbum. Não sabemos o que conseguimos trazer ao público assim como ainda não sabemos o que esperar de nós!

Depois de lançarem o álbum de estreia no final do ano, já pensam num segundo trabalho de estúdio?

Sim, estamos sempre a pensar um passo à frente. Não olhamos para isto como um projeto deste momento mas sim como algo que nos acompanhará por muitos e bons anos. Nem faria sentido se assim não fosse. Assim, sim, já pensamos, já discutimos ideias e projetos, já nos questionamos acerca das formas de trabalhar mais adequadas para conseguirmos chegar ao resultado que pretendemos e que tem, naturalmente, que obedecer a uma lógica de crescimento e melhoria contínuos. Não sabemos ainda quando concretizaremos este projeto mas é certo que não demoraremos muito...

Quanto a esse primeiro álbum, qual/quais consideram ser os temas predominantes nas canções? Há uma mensagem, ou um fio condutor, por todo o álbum, ou cada faixa isolada?

Não existe nenhuma mensagem clara, não tem nada de conceptual. Juntamos o nosso melhor lixo e formalizamos a banda.



Nesse sentido, quais consideram ser os temas predominantes do álbum?

Cada faixa é um tema relativo ao que se foi vivendo até os temas serem gravados. Os temas predominantes são: Nite Shift, Turn Off the Radio, Breath in, Cruisin´for a bad time, i´m watchin´n you, it´s not workin´out.

O que está nos planos da banda para 2017?

Tocar, tocar e tocar. Levar o disco e as nossas canções a todos os que nos queiram ouvir. Fazer aquilo que mais gostamos que é precisamente "andar na estrada" a mostrar o que fazemos chegando cada vez mais longe e a cada vez mais gente.

A internacionalização está nos vossos planos para a banda? Podemos esperar concertos lá fora e/ou uma edição internacional do disco?

Apesar das inúmeras coisas a acontecer neste nosso rectângulo, é inegável que vivemos num país pequeno e que os espaços para tocar são limitados. Assim, é clara a nossa vontade de tocar lá fora. Já demos um primeiro pequeno salto aqui ao lado, a Espanha, e ao longo deste ano vamos certamente lá voltar. E mal surjam oportunidades, não vamos ficar por Espanha.

Consideram que há falta de música rock ‘n’ roll feita e tocada em Portugal, ou, por outro lado, os estilos vivem bem cá no burgo e recomendam-se?

Não considero que haja falta de coisa nenhuma na música tocada no nosso país. Podemos questionar "gostos", podemos pôr em causa abordagens, mas é inegável que há muita coisa a acontecer por cá e, em particular no rock'n'roll ou nas suas milhentas ramificações, há quem ande por aí a abanar ancas com particular assertividade.
Simão Freitas
spfreitas25@gmail.com

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