ENTREVISTAS
Lila
Fazer música é um ato político
· 24 Nov 2016 · 00:20 ·
Lila é um dos nomes mais interessantes da nova cena musical brasileira. O primeiro EP, homónimo, saiu no ano passado e levou a vários prémios e nomeações – incluindo para Artista Revelação nos Prémio Multishow – e o Spotify aponta-a como uma das apostas a ter em conta em 2016. Agora que o ano se encaminha para o fim, foi “Não é Não”, um tema em breve editado em single sobre a cultura de estupro no Brasil, a agarrar títulos, com “Não Fui Eu, Foi o Carnaval” como face dançante de Lila, aqui numa colaboração com DJ João Brasil, que fez duma “marchinha de Carnaval” uma mistura de samba e música electrónica. Em entrevista ao Bodyspace, Lila confessa que espera um convite para poder actuar em Portugal, à porta da gravação do primeiro álbum de estúdio. Para já, ficam as influências, a relação da música com a política e a sociedade, o sucesso do primeiro EP e o “momento delicado” que vive o Brasil. “O simples facto de fazer música e estar activamente pensando a cultura no país já é um ato político”, diz.
Quando lançaste o EP, em 2015, esperavas tanto sucesso – prémios, nomeações, destaque do Spotify, concertos, etc?

Quando lancei o EP não pensava em nada disso. Só queria que ele chegasse pro maior número de pessoas possível. Os destaques e as repercussões acabam ajudando bastante nisso, então eu fiquei muito feliz com toda a repercussão.

Não é não” é um tema enraizado no feminismo e no poder das mulheres, em particular por causa da problemática do estupro. No Brasil, e no mundo, a música tem de ser mais política para poder fazer chegar mais do que cultura às pessoas?

Acho que não existe regra e vai muito do que o artista tem vontade. Uma música pode ser política sem ser, pois tem o poder de modificar profundamente as pessoas. Independente de se levantar bandeiras ou não ela é capaz de transformar a sociedade em volta e isso é maravilhoso.



Como é criar música no meio da hostilidade política que se vive, até com um dos lados da discussão a querer cortar no apoio à cultura?

Estamos vivendo um momento delicado aqui no Brasil em que a cultura está sendo aos poucos marginalizada. Eu acredito no poder da arte como modificadora e mobilizadora e acredito que faremos resistência frente a tudo isso. Penso que não é preciso levantar bandeiras específicas, pois o simples fato de fazer música e estar activamente pensando a cultura no país já é um ato político, mas acho que esses temas vão começar a aparecer naturalmente mais dentro das artes.

O teu percurso musical passa por vários estilos e experiências – é por isso que a tua música mistura várias influências?

Meu caminho na música foi muito variado mesmo. Acredito que nesse primeiro momento eu quis realizar um corte com o que já tinha vivido e partir pra novas experiências dentro da música brasileira, mas é claro que o que vivi está lá. O meu desejo era de fazer uma música brasileira mais contemporânea e minhas influências são dos artistas que fizeram isso na sua época e ainda fazem, como Caetano, Gal e Gil. Eles estão sempre se reinventando e ligados no que está em volta.

Em que referências musicais (ou outras) te inspiras para criar?

Olha, tudo me inspira. Já fiz música a partir de uma conversa com um amigo, uma música que ví num show, uma casa que morei… Acho que pra criar é preciso que estejamos abertos pro mundo e abertos pra nós mesmos. Mas em termos de música me inspiro na Gal, Caetano, Tom Jobim, Gil e todos esses grandes mestres da música brasileira.



No Coala Festival, tiveste mais de oito mil pessoas na assistência. Contavas com tanta gente, e com muitos a saber cantar as novidades? Como foi sentir esse 'amor'?

Na minha opinião, o Coala é um dos festivais mais legais que rolam aqui no Brasil de música brasileira e, apesar de imaginar que estaria cheio, foi muito poderoso ver aquele mar de gente ali na minha frente .Mas a surpresa maior foi a conexão instantânea que rolou com as pessoas que estavam lá e que me acolheram de uma forma tão amorosa. Foi realmente especial e fico muito emocionada de lembrar.

No Facebook, já garantiste um novo single na berlinda – vem com videoclipe também? O que podemos saber desse novo trabalho?

O single que está por vir é o “Não é não” com produção do Leo Justi (Heavy Baile). Será lançado nas próximas semanas e virá com um clipe sim. O que posso adiantar é que fizemos uma música feminista pra dançar e rebolar porque dançar também é um ato político pra nós mulheres.

O que podemos esperar da Lila até final de 2016? Quando sairá novo trabalho de estúdio (e o que se pode saber sobre esse álbum)?

Pra o fim desse ano podem esperar o lançamento do single e do clipe de “não é não”. Ano que vem quero começar a produção de um disco de estúdio, mas ainda não sei nada sobre ele. Já tenho algumas músicas que vão entrar, mas tudo pode mudar. Estou ansiosa por esse novo momento e esse novo projeto.

Para quando uma vinda a Portugal?

Adoraria ir à Portugal levar meu som, mas ainda não tenho nada agendado. Estou aguardando um convite

Segues a cultura musical do nosso país? O que conheces/gostas?

Gosto muito do Zambujo e da Carminho que tem vindo bastante aqui pro Brasil e tenho podido acompanhar mais de perto a carreira deles.
Simão Freitas
spfreitas25@gmail.com

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