ENTREVISTAS
Oathbreaker
De volta à mitologia grega
· 11 Out 2016 · 22:39 ·
Oathbreaker é um nome já bastante conhecido do público português dado a estas coisas. Não só por circularem na esfera da Church of Ra, que basta andar pela rua para perceber que tem inúmeros aficionados por cá, mas por em tempos recentes terem passado, em média, uma vez por ano por território nacional. Em 2016 fazem a dupla, com um concertos marcados para 26 e 27 de Novembro, no Musicbox, em Lisboa, e no Cave 45, no Porto, respectivamente, depois já terem passado pelo Amplifest. Foi precisamente no festival da Amplificasom que conversámos com a vocalista Caro Tanghe e com o baixista (agora também guitarrista) Gilles Demolder a propósito de Rheia, novo disco acabado de sair, três anos depois do álbum que os tornou famosos, Eros | Anteros, tudo editado pela Deathwish Inc, este último com a gravação a cargo de Jack Shirley, o mesmo produtor de Deafheaven. Rheia é um álbum diferente do passado destes belgas, mais pensativo e menos bruto, mas mantendo o posicionamento no mapa dos cruzamentos entre metal e punk.

Falem-me do novo disco.
Caro Tanghe: O que é que queres ouvir?
Tudo. O último disco teve uma excelente receção, o que faz com que fique curioso por vos ouvir sobre como é trabalhar para suceder a isso.
Gilles Demolder: Demorámos um pouco. Nunca acho que é interessante. Nunca queremos fazer o mesmo disco.
Caro Tanghe: Nem um bocadinho.
Gilles Demolder: Tínhamos algumas ideias. Queríamos todas estas coisas estranhas na voz e a vida mudou. A vida estava calma. Não era tão frustrante. Grande parte de nós está num lugar bom.
Agora?
Gilles Demolder: Sim. E na escrita não tínhamos a necessidade de escrever canções agressivas. Acho que essa foi a abordagem. Vamos fazer o disco, que tem que transmitir aquilo que nós sentimos. E acabou por ser muito mais calmo, sossegado e não tão agressivo como o último. É completamente diferente, mas estou muito entusiasmado. É a primeira vez que acabámos de gravar e estou satisfeito. Só posso falar por mim, sempre que fazemos algo, uma semana ou duas depois não consigo ouvir aquilo. Levou-nos foi muito tempo para encontrar essa confiança. Conheço a Caro há 15 anos e sempre soube que ela conseguia cantar e só há um ano e meio é que descobrimos como fazer todas aquelas peças funcionarem como uma só.
Caro Tanghe: Juntá-las numa só coisa.

E em termos de letras?
Caro Tanghe: Foi praticamente o mesmo. Neste disco, devido ao momento que atravessávamos naquela altura, tudo é muito honesto. A música sente-se como honesta. As letras também. Antes, não sabia como o fazer. Não tinha a confiança para escrever como me sentia. Por vezes, o embaraço leva a que seja difícil trazer à tona algo doloroso.
Gilles Demolder: Faz com que as pessoas fiquem desconfortáveis.
Caro Tanghe: Antes, nunca tive a coragem para o fazer, mas com este disco ele [o Gilles] ajudou-me imenso a fazer isso emergir. Memórias, experiências na vida, a minha infância. Não fui criada numa família normal, por exemplo, e todas essas pequenas experiências foram escritas.
Gilles Demolder: O que eu sentia da escrita dela era autorreflexão, quase autoajuda. E porque ela me estava a dizer estas coisas todas pela primeira vez – já a conheço há tanto tempo e há ali coisas que eu não sabia, os pais não sabem, o irmão não sabe – eu estava pasmado com a forma como tudo isto estava a ser escrito. Causou-me desconforto e já nos conhecemos há imenso. É música que vai fazer com que as pessoas se sintam estranhas. Pessoas que esperavam coisas agressivas...
Caro Tanghe: Talvez fiquem desiludidas.
Gilles Demolder: Isso. “Que merda é esta?” Mas faz sentido.
Expliquem-me o título.
Caro Tanghe: “Rheia”? É uma figura da mitologia grega. Eu não estou obcecada com mitologia grega. Rheia é a mãe dos deuses e na sua vida inteira tomou conta de todos e nunca recebeu crédito por isso. Não é uma deusa, é apenas uma pessoa. E sinto que quando tentámos juntar todos os pedaços das letras combinava tão bem com a forma como me sentia na altura. Todos os meus amigos, as pessoas mais próximas, mesmo os meus pais, sinto que sempre fui eu a tomar conta deles.
Gilles Demolder: Em vez de ser ao contrário.
Caro Tanghe: Sabes como às vezes os pais não criam uma criança, mas é a criança que os educa a eles? É como me sinto. Quando tropeçámos na figura de Reia fez sentido.
Gilles Demolder: Tivemos muitas dúvidas.
Caro Tanghe: Em particular por causa da cena da mitologia grega, mas é apenas uma coincidência.

Como é que se tropeça nisso?
Gilles Demolder: Gosto de ler coisas e do nada apareceu isto.
Caro Tanghe: Foi muito cedo no processo.
Quanto tempo demoraram a compor?
Gilles Demolder: Começámos a escrever há dois anos, mas demorámos muito a experimentar. Não tínhamos pontos de referência. Seria este o caminho? Isto soa-nos bem, mas será a opção correta?
Caro Tanghe: Tentar combinar uma voz limpa com blastbeats não é fácil. E também, como ele disse, não tínhamos pontos de referência. Não quero dizer que inventámos algo, mas tentámos algo que nos fez duvidar se estaríamos a fazer a coisa certa. Enquanto estás a escrever estás numa bolha.
Gilles Demolder: E nisso o Jack [Shirley, produtor de Deafheaven] ajudou-nos muito.
Ia perguntar-vos que diferença fez ter o Jack a produzir.
Gilles Demolder: Apresentámos um disco praticamente pronto quando fomos ter com ele, mas ele ajudou-nos a fazer com que as coisas acontecessem em vez de estarmos enervados com tudo. Costumávamos pensar que tudo tinha que estar perfeito e ele foi uma pessoa em quem confiei e fez-me ver que nem tudo tem que estar impecável. “Isto soa bem, porque é que queres repetir?”
Tiago DiasCaro Tanghe: O que é que queres ouvir?
Tudo. O último disco teve uma excelente receção, o que faz com que fique curioso por vos ouvir sobre como é trabalhar para suceder a isso.
Gilles Demolder: Demorámos um pouco. Nunca acho que é interessante. Nunca queremos fazer o mesmo disco.
Caro Tanghe: Nem um bocadinho.
Gilles Demolder: Tínhamos algumas ideias. Queríamos todas estas coisas estranhas na voz e a vida mudou. A vida estava calma. Não era tão frustrante. Grande parte de nós está num lugar bom.
Agora?
Gilles Demolder: Sim. E na escrita não tínhamos a necessidade de escrever canções agressivas. Acho que essa foi a abordagem. Vamos fazer o disco, que tem que transmitir aquilo que nós sentimos. E acabou por ser muito mais calmo, sossegado e não tão agressivo como o último. É completamente diferente, mas estou muito entusiasmado. É a primeira vez que acabámos de gravar e estou satisfeito. Só posso falar por mim, sempre que fazemos algo, uma semana ou duas depois não consigo ouvir aquilo. Levou-nos foi muito tempo para encontrar essa confiança. Conheço a Caro há 15 anos e sempre soube que ela conseguia cantar e só há um ano e meio é que descobrimos como fazer todas aquelas peças funcionarem como uma só.
Caro Tanghe: Juntá-las numa só coisa.

E em termos de letras?
Caro Tanghe: Foi praticamente o mesmo. Neste disco, devido ao momento que atravessávamos naquela altura, tudo é muito honesto. A música sente-se como honesta. As letras também. Antes, não sabia como o fazer. Não tinha a confiança para escrever como me sentia. Por vezes, o embaraço leva a que seja difícil trazer à tona algo doloroso.
Gilles Demolder: Faz com que as pessoas fiquem desconfortáveis.
Caro Tanghe: Antes, nunca tive a coragem para o fazer, mas com este disco ele [o Gilles] ajudou-me imenso a fazer isso emergir. Memórias, experiências na vida, a minha infância. Não fui criada numa família normal, por exemplo, e todas essas pequenas experiências foram escritas.
Gilles Demolder: O que eu sentia da escrita dela era autorreflexão, quase autoajuda. E porque ela me estava a dizer estas coisas todas pela primeira vez – já a conheço há tanto tempo e há ali coisas que eu não sabia, os pais não sabem, o irmão não sabe – eu estava pasmado com a forma como tudo isto estava a ser escrito. Causou-me desconforto e já nos conhecemos há imenso. É música que vai fazer com que as pessoas se sintam estranhas. Pessoas que esperavam coisas agressivas...
Caro Tanghe: Talvez fiquem desiludidas.
Gilles Demolder: Isso. “Que merda é esta?” Mas faz sentido.
Expliquem-me o título.
Caro Tanghe: “Rheia”? É uma figura da mitologia grega. Eu não estou obcecada com mitologia grega. Rheia é a mãe dos deuses e na sua vida inteira tomou conta de todos e nunca recebeu crédito por isso. Não é uma deusa, é apenas uma pessoa. E sinto que quando tentámos juntar todos os pedaços das letras combinava tão bem com a forma como me sentia na altura. Todos os meus amigos, as pessoas mais próximas, mesmo os meus pais, sinto que sempre fui eu a tomar conta deles.
Gilles Demolder: Em vez de ser ao contrário.
Caro Tanghe: Sabes como às vezes os pais não criam uma criança, mas é a criança que os educa a eles? É como me sinto. Quando tropeçámos na figura de Reia fez sentido.
Gilles Demolder: Tivemos muitas dúvidas.
Caro Tanghe: Em particular por causa da cena da mitologia grega, mas é apenas uma coincidência.

Como é que se tropeça nisso?
Gilles Demolder: Gosto de ler coisas e do nada apareceu isto.
Caro Tanghe: Foi muito cedo no processo.
Quanto tempo demoraram a compor?
Gilles Demolder: Começámos a escrever há dois anos, mas demorámos muito a experimentar. Não tínhamos pontos de referência. Seria este o caminho? Isto soa-nos bem, mas será a opção correta?
Caro Tanghe: Tentar combinar uma voz limpa com blastbeats não é fácil. E também, como ele disse, não tínhamos pontos de referência. Não quero dizer que inventámos algo, mas tentámos algo que nos fez duvidar se estaríamos a fazer a coisa certa. Enquanto estás a escrever estás numa bolha.
Gilles Demolder: E nisso o Jack [Shirley, produtor de Deafheaven] ajudou-nos muito.
Ia perguntar-vos que diferença fez ter o Jack a produzir.
Gilles Demolder: Apresentámos um disco praticamente pronto quando fomos ter com ele, mas ele ajudou-nos a fazer com que as coisas acontecessem em vez de estarmos enervados com tudo. Costumávamos pensar que tudo tinha que estar perfeito e ele foi uma pessoa em quem confiei e fez-me ver que nem tudo tem que estar impecável. “Isto soa bem, porque é que queres repetir?”
tdiasferreira@gmail.com
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