ENTREVISTAS
Laura Stevenson
Laura, simplesmente Laura
· 26 Mai 2016 · 13:00 ·
Laura Stevenson, nova-iorquina, artista, que não de variedades, mas de variada formas de música, como aquela que no dia 29 de Maio trará á Casa Independente – Lisboa. A solo, longe da banda que a acompanha, Laura regressa às origens,local onde a guitarra e um ocasional amigo instrumentista eram a sua companhia. Antes, porém, acedeu, gentilmente, ao nosso apelo e dele se fez entrevista. Discurso que corre e discorre sobre o novo álbum Cocksure sem esquecer o peso, que não o foi, de carregar o sucesso do anterior Wheel às costas. Fala, ainda, sobre um bordel, casa emprestada onde encontrou a paz para criar o rebento em formato disco que a lança para a tournée que passa por Portugal e uma palavra para o avô Harry Simeone, pianista e compositor que a marcou. Eis Laura, simplesmente Laura…
© Dave Garwacke
Não conheço a tua música. O que dirias para me convenceres a ouvir as tuas canções, para além de um lacónico “Ouve-as!” ?

Diria para as ouvires, porque descrever música com palavras pode ser, não raras vezes, inadequado. Diria que me preocupo bastante com aquilo que escrevo…é a minha vida, o meu propósito, por isso…espero que, essa, seja razão suficiente para alguém ouvir o que faço.

“Estou a aprender a não me preocupar”, é este o lema do teu novo álbum? Deixaste de ser uma “mãe super-protectora” com Cocksure?

Ainda sou protectora em relação às minhas canções – são uma parte de mim – mas estou a tentar divertir-me mais com este álbum – especialmente durante o processo de gravação. Trabalhei com um dos meus amigos mais próximos, Jeff Rosenstock, amigo que produziu o álbum e, em conjunto com a banda, trabalhou durante muito tempo para que as canções surgissem suficientemente coesas para serem tocadas ao vivo com a sua verdadeira energia.

Foi difícil carregar com o peso do sucesso de Wheel e entregares-te a um novo projecto?

Honestamente, não pensei em Wheel enquanto gravava o novo disco. Apenas tentei escrever as melhores canções que consegui, que é o que fiz em Wheel e nos dois álbuns anteriores a esse. Estou em constante crescimento enquanto escritora, por isso, foi apenas um exercício de aperfeiçoamento como sempre fiz.

© Shervin Lainez

O processo criativo de Cocksure foi consumado nas instalações de um antigo bordel. Este pequeno detalhe influenciou, de algum modo, a criação do novo álbum?

Bem, vivi naquela casa com a minha banda, por isso, penso que o facto de escrevermos na casa influenciou os arranjos. Tivemos tempo para nos sentarmos, tocar e, verdadeiramente, trabalhar nas coisas no mais confortável das acomodações – tivemos possibilidade de fazer pausas sempre que quisemos, não tínhamos uma agenda apertada. Foi muito descontraído e simples.

Conheceste o teu avô (Harry Simeone, pianista e compositor de sucesso)? Se sim, como foi a tua relação com ele? Teve alguma coisa a ver com a “Laura Stevenson” músico?

Sim, eu e o meu avô éramos muito próximos. Ele parecia-me um pouco severo quando eu era pequena, mas estreitamos laços para o fim da sua vida porque me mudei para uma escola a um par de quarteirões do seu apartamento em Nova Iorque. Ele foi um dos melhores músicos que conheci – um improvisador incrível. Foi, definitivamente, uma inspiração vê-lo a tocar piano.

Sabias que, no dia em que nasceste, 25 de Abril, os portugueses celebram a “Revolução dos Cravos”, o dia da Liberdade? Podemos dizer que a tua música representa liberdade?

Wow! Não sabia. Brutal. Podes dizer isso se quiseres.

© Shervin Lainez

Continuando por Portugal. Estarás cá nos próximos dias, o que é que preparaste para nós?

Sim, estarei aí para um espectáculo a solo – algo que será muito diferente dos concertos com a banda como aqueles que tenho feito ao longo da tournée europeia. Vou tocar algumas das minhas canções mais calmas – será pacífico e intimista.

Quão difícil foi, para ti, sair da sombra e saltar para a liderança de uma banda?

Foi um processo muito gradual. No início, ocasionalmente, alguém acompanhava-me – um amigo tocava trombone, um violino, uma guitarra ou outra coisa qualquer. Demorou o seu tempo até começar a tocar e a fazer tournées com um grupo consistente de músicos, por isso, tive tempo para aprender a liderar a banda à minha maneira.

Crias música de quem podemos dizer que se trata de folk/indie rock. Levas estas etiquetas muito a sério ou é apenas o que é, isto é, tu crias e isto é o que sai?

Isto é, eu chamo-lhe folk porque escrevo músicas só com a companhia de uma guitarra acústica. É muito virado para o lírico nutrido a melodias simples. No entanto, se ouvires os discos, o som que sai é muito dinâmico e alimentado por inúmeras influências. Por isso, não me retenho nesse género, ele é apenas o ponto de partida e a forma como a maior parte das pessoas o cataloga.

Ainda estás em tournée mas, num qualquer dia, terás que guardar o Cocksure numa prateleira. O que virá a seguir?

O próximo álbum já está escrito e penso começar a organizar-me para a sua consumação quando chegar a casa…e, talvez dormir uma sesta…

Uma última questão. Se pudesses dedicar uma música a um tipo chamado Donald Trump, qual seria e porque razão?

Hmmmm – talvez a “Hands” da Jewell, porque ele parece ficar extremamente irritado quando as pessoas dizem que ele tem as mãos pequenas e…por ser fácil e divertido irritá-lo.
Fernando Gonçalves
f.guimaraesgoncalves@gmail.com

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