ENTREVISTAS
House of Wolves
À procura de Salácia
· 07 Jan 2016 · 00:42 ·
Salácia, na mitologia romana, era a deusa dos oceanos, prometida em casamento a uma outra entidade divina pelo seu pai. Acobardou-se e fugiu antes que o casamento se realizasse. Escondeu-se no fundo dos mares. Agora, Rey Villalobos - ou House of Wolves, conforme se apresenta - chama por ela no mais recente trabalho que lançou este ano, Daughter of the Sea. É um trabalho que não pode deixar de ser associado ao divino - talvez por ter sido gravado na costa da Irlanda ou, talvez, por não conseguirmos perceber como é que uma só pessoa é capaz de compor algo tão belo. Daughter of the Sea cativa qualquer infiel, não só pelas notas devastadoras do piano ou da guitarra de Rey, mas pela vulnerabilidade com que conta cada história. House of Wolves promete tentar passar por Portugal no início do próximo ano e nós queremos mesmo, mesmo que tal aconteça.
Como descreverias a tua música? Nostálgica? Ou agridoce?

Eu diria um sonho nostálgico e nebuloso.

Qual é a principal diferença entre este álbum e o anterior?

O novo disco é mais sombrio e mais íntimo. No anterior houve mais produção, mais instrumentos. Chamei alguns amigos para colaborarem – com guitarras, trombetas e bateria, por isso havia mais colaboração... Mas no “Daughter of the Sea” era eu a gravar as partes todas sozinho.

Qual é o significado por detrás da “Daughter of the Sea”?

É sempre muito difícil descrever o significado por detrás de uma canção, porque eu nunca decido o tema antes de escrever uma música. Mas se olhar para trás, posso dizer que, para mim, é sobre um homem que tem saudades da sua amada e está a chamá-la através do mar. Eles estão separados… E ele está a lembrá-la nos sonhos dele e a chamá-la através desses sonhos.



O teu último trabalho tem uma vertente mais cósmica do que o anterior. Porquê?

Estas canções, na sua essência, são bastante simples e eu acredito que isso transmite uma sensação mais “ampla”. Mas também é do sítio – gravei na costa da Irlanda, e isso ajuda à vertente etérea do disco. O produtor - Darrragh Nolan - também deixou a sua marca.

Há mais desespero e desamparo no “Daughter of the Sea” do que no anterior. Isso reflecte a forma como vês as coisas como artista ou como pessoa?

Há desespero misturado com esperança e espero, sinceramente, que seja essa a forma como vejo o Mundo quer como artista, quer como pessoa.

Estiveste pela Europa no ano passado, em digressão. Como foi isso?

Eu adoro passar pela Europa e fazer digressões. Estou lá desde 2011 e tem sido mesmo bom. As pessoas são bastante simpáticas e tenho tido a possibilidade de ir a sítios muito peculiares nessas digressões. Estou a ver se passo por Portugal no próximo ano, em Março ou Abril… Espero que sim!

Quais são as tuas referências, que te inspiram como artista?

O John Lennon é uma grande referência… Adoro como era honesto e cru com o que escrevia. E também adoro as "Nocturnes" do Chopin – são como um sonho… Perfeitas do início até ao fim. Ando com uma cassete delas que o meu professor de piano do liceu me deu… Ando com ela desde aí.

Como é o teu processo criativo?

Eu trabalho afincadamente durante períodos de tempo curtos, depois nem sequer pego na guitarra ou na guitarra durante meses… Esqueço totalmente a música… E depois inspiro-me outra vez e começo de novo.



O teu trabalho é muito íntimo, como se nos estivesses a dizer coisas que não devias. Isso faz parte do teu estilo como artista ou és mesmo assim?

Estou a ser 100% honesto e é assim que sou na vida “real”… Bastante sombrio e sarcástico.

Há um elemento comum em todos os teus trabalhos: a natureza. Porquê?

Eu cresci e vivi no interior grande parte da minha vida e sinto-me bastante próximo da natureza… A natureza é pura, honesta e não mente… Faz sentir-te no momento onde quer que estejas. Obriga-te a assentares os pés na terra.

O que andas a ouvir?

Nada… Estou viciado em séries neste momento: Narcos e Magic City.

O que podemos esperar de House of Wolves no futuro?

Dois meses depois de acabar o Daughter of the Sea fui até Portland e gravei o meu terceiro álbum com o John Askew, que também produziu o meu primeiro álbum, Fold in the Wind. Estou ansioso por lançá-lo em 2016… Vai ser um trabalho diferente dos outros dois, até porque gravei com a minha banda e um quarteto de cordas… É muito mais “Americana” e tem um pouco de David Lynch.
Rita Neves
ritaneves31@gmail.com

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