ENTREVISTAS
Marco Luz
Luminosidade
· 24 Jun 2015 · 01:38 ·
Guitarrista virtuoso, Marco Luz é novo valor que está a emergir na cena nacional. Luz estudou na Escola Superior de Música de Lisboa, passou pelos Bypass e toca actualmente com os imprevisíveis Zorra (se ainda não os conhecem, ouçam-nos, s.f.f.). Agora, Marco Luz assume que chegou a sua hora, apresentando-se em nome próprio, sozinho, na companhia das suas guitarras. Com o novíssimo disco Cores o guitarrista apresenta um conjunto de temas originais, onde uma técnica assombrosa se entrelaça com melodias delicadas, numa música que reflecte a mais pura luminosidade de Lisboa. O seu talento não está a passar despercebido, um tema do seu disco de estreia integra a compilação Novos Talentos FNAC '15 e, nos próximos tempos, Marco Luz vai andar a tocar pelo país fora. Antecipando o concerto que vai dar na Galeria Zé dos Bois a 26 de Junho (toca na mesma noite de Peixe), o guitarrista apresenta-se ao Bodyspace.
© Vitorino Coragem
Como se aproximou da guitarra e como decorreu o processo de aprendizagem e evolução?

Foi algo que aconteceu de uma forma muito natural. Havia uma guitarra em casa, escondida no guarda-roupa da minha avó, de vez em quando lá ia às escondidas e tocava um pouco, na altura tinha 6 anos. Aos 11 ingressei numa escola de música, aprendi uns acordes. E aos 17 decidi levar a guitarra a sério, entrei para a Academia de Amadores de Música de Lisboa, onde fiz o 8º grau em guitarra clássica, depois mais tarde ingressei Escola Superior de Música de Lisboa. Paralelamente ao meu percurso académico, fiz parte de vários projectos e bandas.

Que projectos foram esses?

Fiz parte de alguns projectos que ainda acarinho bastante. Tive o prazer e o privilégio de fazer parte de algumas bandas interessantes e que acima de tudo me ajudaram a crescer enquanto músico e não só, enquanto pessoa também. Um dos projectos foram os Bypass, um projecto de post-rock muito bom, digo isto não por ter feito parte mas porque musicalmente é mesmo muito bom. Outro projecto pelo qual passei e continuo a participar são os Zorra, projecto muito interessante também (confesso que sou suspeito).

© Vitorino Coragem

Quais foram os músicos - ou discos - mais importantes para a sua evolução como músico?

Discos importantes na minha evolução enquanto músico foram uma série deles... Poderei enumerar alguns autores, tendo sido entre eles: Carlos Bica, Jaga Jazzist, Trans Am, Portic Quartet, Esbjorn Svensson Trio, Gustavo Santaolalla, entre outros...

Dos projectos referidos vários estão ligados ao jazz. Qual a sua relação com o jazz e a improvisação?

A minha relação com o jazz é de um enorme respeito, a minha formação é clássica, fiz a superior de Música em guitarra clássica, tirei alguns cursos de guitarra flamenco, algumas masterclasses em improvisação mas sinto que tenho muito que aprender. O que é bom, enquanto estudante de música, é que quanto mais conhecimentos tivermos maior é o leque de ideias e técnica que nos permite expressar. Por isso nunca é demais aprender e colocar em prática todos os conhecimentos que adquirimos enquanto músicos.

Acaba de editar o disco Cores. Que ideias e sensações pretendeu transmitir com a música do disco?

Nada em especial, apenas um retrato do que tenho vivido até hoje, enquanto músico e ser humano. E acima de tudo é quase como uma dedicatória a todas as pessoas especiais que tido o privilégio de conhecer até hoje.

Algumas músicas do disco têm nomes enigmáticos, como “Corte do Pinto, Amanhecer” e “Dois Macacos Apaixonados No Tahiti”. Como chegou a estes títulos?

Foram temas que nasceram através de algumas improvisações e ideias. Que me fizeram viajar. Paisagens, sentimentos, memórias e intenções. “Corte do Pinto, Amanhecer” é um tema dedicado à terra do meu avô, pela qual nutro um carinho especial pelo povo e pela terra em si. Os “Macacos”, por ter a ver com a própria dinâmica da música, o início espelha uma brincadeira entre dois macacos, que partilham os seus gostos, ideias e interesses, num sítio lindíssimo, como o Tahiti e que no final se apaixonam um pelo outro, tal como pode acontecer entre duas pessoas que sentem afinidade uma pela outra mas neste caso entre dois seres, que são incrivelmente belos e inteligentes. O amor está em todo o lado. É bom lembrarmo-nos que existe entre todos, nós que partilhamos esta Terra.

© Vitorino Coragem

Vai actuar na ZDB na mesma noite que Peixe. Qual a sua relação coma sua música?

Sinto um grande privilégio em poder partilhar o mesmo palco com o Pedro Cardoso, o Peixe. Sinto uma grande admiração pelo trabalho dele, enquanto músico e artista, especialmente numa noite onde ambos iremos apresentar os nossos dois bebés.

Actualmente existem vários guitarristas a fazer música a solo, como Norberto Lobo, Tó Trips, Filho da Mãe... Como vê os trabalhos destes músicos? Considera que neste momento a guitarra é um instrumento mais valorizado?

Existem muitos bons trabalhos a nível nacional. Adoro o trabalho do Norberto, acho-o um músico fantástico. Conheci-o já há uns bons anos num concerto com os Norman. Em relação a Filho da Mãe, sinto um profundo respeito pelo trabalho dele, acho que ele elevou a guitarra a outros patamares, bastante arrítmico e cru na forma de tocar, o que a torna bastante poética e expressiva. Em relação ao trabalho do Tó Trips, confesso que que cada vez que lança um novo álbum, surpreende-me sempre bastante pela positiva. A questão se neste momento é um instrumentos mais valorizado ou não é uma boa questão, mas como a minha relação com a guitarra sempre foi muito próxima, sempre vivi num ambiente onde a guitarra está muito presente.

Quais os planos para os próximos tempos?

Viver a vida. Escrever grandes malhas. Tocar muito. E retribuir mais ainda.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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