ENTREVISTAS
Flamingos
As asas servem para voar
· 18 Fev 2015 · 23:41 ·
A noite era do Coelho Radioactivo e suas Canções Mortas, mas houve tempo, mais para o final, para se ouvir os Flamingos - que é como quem diz, Coelho e Cão da Morte em dosagens equiparadas, duo pop que se cruzou através do lendário João Coração. Tanto um como o outro tinham já uma belíssima obra a solo quando decidiram unir-se e lançar "Passeio" / "Cabanas do Bonfim", o single que os apresentou ao mundo, no ano passado. Uma canção com Moxila depois, e já com vários planos na calha - incluindo o lançamento de um videoclip, brevemente - sentámo-nos com João Sousa (Coelho Radioactivo) e Luís Gravito (Cão da Morte) nos bastidores do Musicbox para dois dedos de conversa, onde tentámos perceber até onde poderão voar estes Flamingos.
Vocês já se conhecem há muito tempo - desde 2007. O que é que vos deu para começarem a fazer canções juntos agora?
Luís Gravito: Já tínhamos feito uma juntos, numa compilação que houve do Tiago [Guillul], 20 Anos de Ruptura Explosiva. Acho que é a nossa única música juntos, antes mesmo de [Flamingos]... Como é que essa música foi feita?
João Sousa: ...Fiz mais ou menos a música, mandei-te o vídeo [de mim] a tocar a música e tu "ya... gosto dessa", e eu, pronto...
Mas nessa altura ainda não eram Flamingos.
Ambos, em uníssono: Não, não.
Porquê Flamingos?
LG: Foi um bocado ao calhas, não foi? 'Távamos a ver bué da nomes, nunca havia nenhum nome com o qual estivéssemos satisfeitos...
JS: Havia mais alguns, mas não estávamos os dois de acordo com eles.
Vocês conheceram-se na casa do João Coração...
LG: Exactamente.
De que maneira é que o Muda Que Muda alterou a vossa vida?
JS: O Muda Que Muda? Acho que não mudou assim muito...
LG: Acho que não mudou mais que muitos outros discos dele. Ele tem um álbum anterior, o Sessão de Cezimbra, nº1, que me apela muito mais.
JS: Acho que a parte mais importante não foi propriamente [ouvir] nenhum disco, foi [conhecê-lo a] ele. Acima de tudo por o Daniel ser uma "pessoa de pessoas", de juntar imensa gente...
LG: Quanto eu tinha aí quinze [anos], ele foi mesmo fixe, porque eu tinha canções assim um bocado... tinha umas cenas fixes, mas aquilo ainda não estava assim tão bom. E ele foi uma pessoa que soube ver o que havia de bom.
Ele foi mais influência ou foi mais mentor?
LG: Mais mentor do que influência, na minha opinião. Mas nesse sentido de "ya, somos putos que ainda não fazem bem a cena", e há um gajo que [te] diz "isso é mais fixe", "isso não é tão fixe"... e havia imensos casos em que ele dizia "isso é que é fixe", e eu discordava...
Acaba por ser uma coisa parecida com aquilo que a malta da Cafetra tem com o B Fachada.
LG: Sim, mas no nosso caso é mais antigo...
JS: Não é por ser mais antigo, acho que é diferente. Com o Fachada é mais numa onda de produção, connosco é uma questão de juntar e conhecer pessoas... Mas não quero [criticar], não sei como funciona a cena com eles. O B tem a personalidade dele, que é completamente diferente [da do Daniel]. O Daniel é mais de conhecer pessoas, de comunicar através da música e partilhá-la com as pessoas.
Não é uma questão de comparações, é só que me parece ser a mesma relação.
LG: ...Sim, é um bocado. Quando ele ainda tocava nós acompanhávamo-lo, e isso foi algo que, quando eu tinha dezasseis anos, deixou-me "calmo"... Ir para o palco da Aula Magna antes das Au Revoir Simone, sendo um miúdo, foi bastante fixe.
JS: É o irmos tocar com ele, é o vermos filmes na casa dele, é o quando eu estava cá [em Lisboa] ia sempre para a casa dele com o Cão...
Considerando o vosso background enquanto artistas em nome próprio, os Flamingos devem ser encarados como um side project ou é muito mais do que isso?
LG: É uma boa questão... Acho que ponho ao mesmo nível. Não vou dizer que é mais importante ou menos importante. É outra coisa, um sítio onde faço o que não faço em Cão [da Morte], tal como faço coisas em Cão que não faço aqui, mas acho que não [separo], não digo "isto é que é o side project"...
Não é também uma desculpa para formarem uma banda...
LG: Não, não é, e eu digo-te uma coisa: eu sempre achei que, apesar de a nossa cena juntos às vezes ser um bocado um "choque" - ele puxa para um lado, eu puxo para o outro... - há imensas ocasiões em que nós, juntos, vamos a lugares onde nunca tínhamos ido a solo. Disso eu sei, não tenho a mínima dúvida. Porque ele, inevitavelmente, vai para coisas que só ele é que faz e eu, inevitavelmente, faço o mesmo... cenas de Coelho e de Cão juntos, mais outras coisas, que tudo junto dá algo decente. Porque eu acho que somos um bocado opostos em muitas coisas, apesar de as pessoas poderem dizer que é "o mesmo estilo". Eu sinto-nos opostos, e isso é bastante fixe.
Os opostos atraem-se...
LG: [risos] Exactamente, exactamente...
Falando desse "choque" e dessa oposição, como é que é o vosso processo de composição enquanto Flamingos? Só acontece quando estão juntos?
LG: Nós já estamos nisto há um ano e tal, já com esta ideia de ter "uma banda juntos". Numa fase inicial ainda equacionámos eu pôr uma música de Cão, ele pôr uma de Coelho, [canções] que não tínhamos usado, mas aí é que eu acho que teria sido muito mais a tal desculpa de [fazer isto para] ter uma nova banda. Desta forma, nós estamos juntos, alguém dá o mote... por acaso, acho que a ideia da "Passeio" fui eu e a da "Cabanas do Bonfim" foi dele... JS: É ao contrário. A "Cabanas do Bonfim" foi a primeira malha que nós fizemos, há um ano e pouco. E foi a partir daí que nós, mais ou menos [avançámos]... no início ainda era tudo [género] "então e este acorde?", era eu estar a tocar e ele vir dar ideias.
Dentro desse processo sentem a necessidade de fugir à vossa identidade já vincada de "Cão da Morte" e "Coelho Radioactivo"? Fazer algo que se possa dizer que é Flamingos?
LG: Nunca tive essa preocupação porque acho que isso acontece um bocado [naturalmente]...
JS: Nem eu. É um pouco por aí.
É verdade que a ideia é ir sempre lançando singles e esquecer o formato álbum?
LG: Eu não te disse isso exactamente assim... numa fase inicial, [talvez]...
JS: Quando fizemos o primeiro single, a ideia era de facto essa: fazer muitos singles e, talvez depois, algo mais.
LG: Mal tenhamos um tempo vago, mesmo vago, em que possamos estar duas ou três semanas juntos [pensaremos nisso].
Quanto tempo é que demoram a completar uma canção?
JS: Bué. Quanto mais melhor.
LG: A cena dos singles é só mesmo porque não temos assim tanto tempo juntos e o tempo que temos, imagina, uma semana em Setembro, uma semana em Outubro... é mais fixe que vá saindo singles. Acho que é mais fácil, faz-se duas músicas e não dez. O primeiro single foi feito em cinco dias, este novo idem...
Portanto: vocês só fazem uma canção de cada vez?
JS: Não é bem de cada vez... temos métodos diferentes de trabalhar, de fazer as coisas, e a cena tem de remoer. Eu não sou nada fã de pressões. Gosto de passar um dia no estúdio, mas não gosto de "passar um dia no estúdio porque temos de fazer esta merda para amanhã"...
LG: É isso que o Coelho me tem ensinado: a fazer as coisas com mais calma. Porque eu sou assim um bocado impulsivo, se for preciso estou cheio de sono e digo "siga, mais uma"...
Editaram, no Natal passado, uma canção com a Moxila. Podemos esperar que mais gente se junte a vocês?
LG: Ainda não tínhamos falado disto, mas eu estou com mais vontade é de lançar outro single com ela.
JS: Não tínhamos falado disso, mas sim, sim.
LG: No caso dela não houve intenção [da nossa parte], ela é que deu a sugestão de ser feito um EP natalício. E até esteve para haver mais gente [a juntar-se], mas ninguém quis... nem foi bem assim, ninguém tinha tempo, ninguém podia...
Acham que com Flamingos conseguiriam resgatar o João Coração?
JS: Nós tentámo-lo já...
LG: Não vou estar aqui a dizer nada, mas sei que ele está com "pica"... bué de vezes, na minha vida pessoal, sinto que ele tem essa vontade de voltar, mas esse dia há-de ser quando bem lhe apetecer.
Podem contar-me a história por detrás de cada canção? A "Cabanas Do Bonfim" sei que é um lugar fictício...
LG: É um aldeamento fictício. Eu quis imaginar um sítio bué calmo, onde uma pessoa que tem uma vida à noite, chega aí e sente que não lhe apetece nada desses excessos porque está nas "Cabanas do Bonfim"... não lhe apetece a vida que tinha, fica só ali nas calmas.
E a "Videmonte"?
LG: É a terra dos meus tios. Sou eu que tenho feito mais a componente lírica... mas não é algo tão assumido, e é possível que isso mude.
JS: Mas não há [divisão de tarefas]... é só porque nos é mais natural.
Nesse caso, fala-me da "Souvenir"...
LG: Essa até fomos os dois [a escrever a letra]... a "Souvenir" está para vir. Acho que aqui mudou um bocado: já somos os dois a fazer letras e a fazer músicas.
JS: Ele está a dizer que sou sempre eu que toco mas é porque ele me diz para eu tocar... "ah, tu sacas isso melhor..."
LG: A canção é sobre muitas coisas, mas sobretudo fala de muitos amigos nossos. É um bocado aquilo de estar com pessoas e não estar, e o videoclip trata disso.
Como é que se associaram à Gentle Records e porquê?
JS: Desde há uns tempos que os conheço... não sei, é fixe estarmos ligados a pessoal fixe. Gosto da Gentle Records, gosto da Moxila, gosto das bandas deles, e gostava que as bandas da Gentle que deixaram de existir voltassem. E fico contente só de estar ligado a eles. Quando surgiu a possibilidade [aceitámos]. E, na verdade, nós só temos single por causa [da Gentle], por causa da "semana de singles"... A Gentle é uma comunidade, não há chefes. Pelo menos o próximo de Flamingos sairá na semana de singles.
LG: Esta nossa ideia dos singles até vem um bocado daí...
E quanto a estúdio? Onde costumam gravar?
JS: O estúdio é aquele onde gravei o meu disco [Bau Uau, Aveiro], que tem muito material do Daniel...
LG: O Daniel empresta tanto material...
JS: Sim... a carreira do Daniel foi muito boa para a música portuguesa, principalmente nisso de juntar pessoal, e o fim da carreira dele foi igualmente muito boa: eu fiquei com material, o Cão ficou com material... ele foi a possibilidade [risos].
LG: Mics, cabos, pianos...
O Daniel é Cristo, portanto...
JS: "E ao segundo dia, Daniel passou o cabo Canon e disse: «tomem esse cabo Canon e ele dividir-se-à entre as vossas mãos...»" [risos] "E nós pegámos e o cabo se dividiu".
Que há no futuro próximo para Flamingos?
LG: Para além desse clip, há mais músicas... quanto a concertos, fica por saber.
Paulo CecÃlioLuís Gravito: Já tínhamos feito uma juntos, numa compilação que houve do Tiago [Guillul], 20 Anos de Ruptura Explosiva. Acho que é a nossa única música juntos, antes mesmo de [Flamingos]... Como é que essa música foi feita?
João Sousa: ...Fiz mais ou menos a música, mandei-te o vídeo [de mim] a tocar a música e tu "ya... gosto dessa", e eu, pronto...
Mas nessa altura ainda não eram Flamingos.
Ambos, em uníssono: Não, não.
Porquê Flamingos?
LG: Foi um bocado ao calhas, não foi? 'Távamos a ver bué da nomes, nunca havia nenhum nome com o qual estivéssemos satisfeitos...
JS: Havia mais alguns, mas não estávamos os dois de acordo com eles.
Vocês conheceram-se na casa do João Coração...
LG: Exactamente.
De que maneira é que o Muda Que Muda alterou a vossa vida?
JS: O Muda Que Muda? Acho que não mudou assim muito...
LG: Acho que não mudou mais que muitos outros discos dele. Ele tem um álbum anterior, o Sessão de Cezimbra, nº1, que me apela muito mais.
JS: Acho que a parte mais importante não foi propriamente [ouvir] nenhum disco, foi [conhecê-lo a] ele. Acima de tudo por o Daniel ser uma "pessoa de pessoas", de juntar imensa gente...
LG: Quanto eu tinha aí quinze [anos], ele foi mesmo fixe, porque eu tinha canções assim um bocado... tinha umas cenas fixes, mas aquilo ainda não estava assim tão bom. E ele foi uma pessoa que soube ver o que havia de bom.
Ele foi mais influência ou foi mais mentor?
LG: Mais mentor do que influência, na minha opinião. Mas nesse sentido de "ya, somos putos que ainda não fazem bem a cena", e há um gajo que [te] diz "isso é mais fixe", "isso não é tão fixe"... e havia imensos casos em que ele dizia "isso é que é fixe", e eu discordava...
Acaba por ser uma coisa parecida com aquilo que a malta da Cafetra tem com o B Fachada.
LG: Sim, mas no nosso caso é mais antigo...
JS: Não é por ser mais antigo, acho que é diferente. Com o Fachada é mais numa onda de produção, connosco é uma questão de juntar e conhecer pessoas... Mas não quero [criticar], não sei como funciona a cena com eles. O B tem a personalidade dele, que é completamente diferente [da do Daniel]. O Daniel é mais de conhecer pessoas, de comunicar através da música e partilhá-la com as pessoas.
Não é uma questão de comparações, é só que me parece ser a mesma relação.
LG: ...Sim, é um bocado. Quando ele ainda tocava nós acompanhávamo-lo, e isso foi algo que, quando eu tinha dezasseis anos, deixou-me "calmo"... Ir para o palco da Aula Magna antes das Au Revoir Simone, sendo um miúdo, foi bastante fixe.
JS: É o irmos tocar com ele, é o vermos filmes na casa dele, é o quando eu estava cá [em Lisboa] ia sempre para a casa dele com o Cão...
Considerando o vosso background enquanto artistas em nome próprio, os Flamingos devem ser encarados como um side project ou é muito mais do que isso?
LG: É uma boa questão... Acho que ponho ao mesmo nível. Não vou dizer que é mais importante ou menos importante. É outra coisa, um sítio onde faço o que não faço em Cão [da Morte], tal como faço coisas em Cão que não faço aqui, mas acho que não [separo], não digo "isto é que é o side project"...
Não é também uma desculpa para formarem uma banda...
LG: Não, não é, e eu digo-te uma coisa: eu sempre achei que, apesar de a nossa cena juntos às vezes ser um bocado um "choque" - ele puxa para um lado, eu puxo para o outro... - há imensas ocasiões em que nós, juntos, vamos a lugares onde nunca tínhamos ido a solo. Disso eu sei, não tenho a mínima dúvida. Porque ele, inevitavelmente, vai para coisas que só ele é que faz e eu, inevitavelmente, faço o mesmo... cenas de Coelho e de Cão juntos, mais outras coisas, que tudo junto dá algo decente. Porque eu acho que somos um bocado opostos em muitas coisas, apesar de as pessoas poderem dizer que é "o mesmo estilo". Eu sinto-nos opostos, e isso é bastante fixe.
© Rita Sousa Vieira
Os opostos atraem-se...
LG: [risos] Exactamente, exactamente...
Falando desse "choque" e dessa oposição, como é que é o vosso processo de composição enquanto Flamingos? Só acontece quando estão juntos?
LG: Nós já estamos nisto há um ano e tal, já com esta ideia de ter "uma banda juntos". Numa fase inicial ainda equacionámos eu pôr uma música de Cão, ele pôr uma de Coelho, [canções] que não tínhamos usado, mas aí é que eu acho que teria sido muito mais a tal desculpa de [fazer isto para] ter uma nova banda. Desta forma, nós estamos juntos, alguém dá o mote... por acaso, acho que a ideia da "Passeio" fui eu e a da "Cabanas do Bonfim" foi dele... JS: É ao contrário. A "Cabanas do Bonfim" foi a primeira malha que nós fizemos, há um ano e pouco. E foi a partir daí que nós, mais ou menos [avançámos]... no início ainda era tudo [género] "então e este acorde?", era eu estar a tocar e ele vir dar ideias.
Dentro desse processo sentem a necessidade de fugir à vossa identidade já vincada de "Cão da Morte" e "Coelho Radioactivo"? Fazer algo que se possa dizer que é Flamingos?
LG: Nunca tive essa preocupação porque acho que isso acontece um bocado [naturalmente]...
JS: Nem eu. É um pouco por aí.
É verdade que a ideia é ir sempre lançando singles e esquecer o formato álbum?
LG: Eu não te disse isso exactamente assim... numa fase inicial, [talvez]...
JS: Quando fizemos o primeiro single, a ideia era de facto essa: fazer muitos singles e, talvez depois, algo mais.
LG: Mal tenhamos um tempo vago, mesmo vago, em que possamos estar duas ou três semanas juntos [pensaremos nisso].
Quanto tempo é que demoram a completar uma canção?
JS: Bué. Quanto mais melhor.
LG: A cena dos singles é só mesmo porque não temos assim tanto tempo juntos e o tempo que temos, imagina, uma semana em Setembro, uma semana em Outubro... é mais fixe que vá saindo singles. Acho que é mais fácil, faz-se duas músicas e não dez. O primeiro single foi feito em cinco dias, este novo idem...
Portanto: vocês só fazem uma canção de cada vez?
JS: Não é bem de cada vez... temos métodos diferentes de trabalhar, de fazer as coisas, e a cena tem de remoer. Eu não sou nada fã de pressões. Gosto de passar um dia no estúdio, mas não gosto de "passar um dia no estúdio porque temos de fazer esta merda para amanhã"...
LG: É isso que o Coelho me tem ensinado: a fazer as coisas com mais calma. Porque eu sou assim um bocado impulsivo, se for preciso estou cheio de sono e digo "siga, mais uma"...
Editaram, no Natal passado, uma canção com a Moxila. Podemos esperar que mais gente se junte a vocês?
LG: Ainda não tínhamos falado disto, mas eu estou com mais vontade é de lançar outro single com ela.
JS: Não tínhamos falado disso, mas sim, sim.
LG: No caso dela não houve intenção [da nossa parte], ela é que deu a sugestão de ser feito um EP natalício. E até esteve para haver mais gente [a juntar-se], mas ninguém quis... nem foi bem assim, ninguém tinha tempo, ninguém podia...
Acham que com Flamingos conseguiriam resgatar o João Coração?
JS: Nós tentámo-lo já...
LG: Não vou estar aqui a dizer nada, mas sei que ele está com "pica"... bué de vezes, na minha vida pessoal, sinto que ele tem essa vontade de voltar, mas esse dia há-de ser quando bem lhe apetecer.
Podem contar-me a história por detrás de cada canção? A "Cabanas Do Bonfim" sei que é um lugar fictício...
LG: É um aldeamento fictício. Eu quis imaginar um sítio bué calmo, onde uma pessoa que tem uma vida à noite, chega aí e sente que não lhe apetece nada desses excessos porque está nas "Cabanas do Bonfim"... não lhe apetece a vida que tinha, fica só ali nas calmas.
E a "Videmonte"?
LG: É a terra dos meus tios. Sou eu que tenho feito mais a componente lírica... mas não é algo tão assumido, e é possível que isso mude.
JS: Mas não há [divisão de tarefas]... é só porque nos é mais natural.
Nesse caso, fala-me da "Souvenir"...
LG: Essa até fomos os dois [a escrever a letra]... a "Souvenir" está para vir. Acho que aqui mudou um bocado: já somos os dois a fazer letras e a fazer músicas.
JS: Ele está a dizer que sou sempre eu que toco mas é porque ele me diz para eu tocar... "ah, tu sacas isso melhor..."
LG: A canção é sobre muitas coisas, mas sobretudo fala de muitos amigos nossos. É um bocado aquilo de estar com pessoas e não estar, e o videoclip trata disso.
Como é que se associaram à Gentle Records e porquê?
JS: Desde há uns tempos que os conheço... não sei, é fixe estarmos ligados a pessoal fixe. Gosto da Gentle Records, gosto da Moxila, gosto das bandas deles, e gostava que as bandas da Gentle que deixaram de existir voltassem. E fico contente só de estar ligado a eles. Quando surgiu a possibilidade [aceitámos]. E, na verdade, nós só temos single por causa [da Gentle], por causa da "semana de singles"... A Gentle é uma comunidade, não há chefes. Pelo menos o próximo de Flamingos sairá na semana de singles.
LG: Esta nossa ideia dos singles até vem um bocado daí...
E quanto a estúdio? Onde costumam gravar?
JS: O estúdio é aquele onde gravei o meu disco [Bau Uau, Aveiro], que tem muito material do Daniel...
LG: O Daniel empresta tanto material...
JS: Sim... a carreira do Daniel foi muito boa para a música portuguesa, principalmente nisso de juntar pessoal, e o fim da carreira dele foi igualmente muito boa: eu fiquei com material, o Cão ficou com material... ele foi a possibilidade [risos].
LG: Mics, cabos, pianos...
O Daniel é Cristo, portanto...
JS: "E ao segundo dia, Daniel passou o cabo Canon e disse: «tomem esse cabo Canon e ele dividir-se-à entre as vossas mãos...»" [risos] "E nós pegámos e o cabo se dividiu".
Que há no futuro próximo para Flamingos?
LG: Para além desse clip, há mais músicas... quanto a concertos, fica por saber.
pauloandrececilio@gmail.com
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