ENTREVISTAS
Belle Arché Lou
O filme das nossas próprias vidas
· 07 Dez 2014 · 19:07 ·
Donos de uma música esquiva e pouco amiga dos holofotes, apropriada para os jantares à luz das velas nas mesinhas de canto dos restaurantes franceses desta vida, os irmãos Wesley e Alexis Paul são, em estúdio e em cima de palco, os Belle Arché Lou, uma dupla movida pelo amor fraternal que os une e que verte para a arte que juntos criam (e basta ouvir Seeking Solace, EP da dupla lançado em Maio deste ano, para sentir isso à flor da pele). Tendo os concertos do projecto em solo nacional como mote, falámos com Alexis, numa conversa sobre o futuro do crowdfunding (que financiou a mini digressão europeia que cá os traz), bandas sonoras e projectos de futuro. Marquem nas vossas agendas: dia 9 no Café au Lait, no Porto, e dia 11 na Casa Independente, em Lisboa.
Angariaram dinheiro para financiar esta tour através duma campanha de crowdfunding. O que é que acham deste “modelo de negócio” emergente? Acreditam que o crowdfunding se tornará, no futuro, o standard de financiamento dos projectos dos artistas e bandas independentes?

Acredito que o crowdfunding é capaz de ser uma das coisas mais positivas que a internet criou. Através dele, todos os projectos têm a possibilidade de se tornarem realidade, pois facilita imenso a vida aos artistas que têm dificuldade em financiar os seus próprios projectos. E acho que se tornará um standard, mesmo em coisas não-culturais, pois insere-se numa forma de pensar que emancipa as pessoas.

O vosso objectivo, de 1200€, apesar de não ser extraordinariamente elevado, foi conseguido (e ligeiramente ultrapassado) num curtíssimo espaço de tempo. Estavam à espera desta disponibilidade dos fãs, ou foi algo que vos surpreendeu?

Claro que não era um valor incrivelmente elevado (e basta comparar com outros projectos, que estão a tentar angariar vários milhares de euros, para ter essa noção), mas para nós é sempre uma surpresa ver este tipo de apoio por parte dos fãs.

Para além de serem companheiros de banda, vocês os dois são irmãos. Como é que esta ligação fraternal influencia a vossa música?

Eu diria que traz muito mais força à nossa música, que está, ela própria, ligada a essa ideia de família e fraternidade. Todas as notas e todas as melodias que ressoam da minha guitarra e do vibrafone do meu irmão são movidas por esta ligação fraternal que nos une. Eu sei tudo sobre o Wesley, e ele sabe tudo sobre a minha vida, incluindo as minhas incertezas e os meus medos, e nós sabemos que a nossa música será sempre muito sincera e que a nossa relação nunca será afectada pelas nossas discussões criativas.

A vossa música evoca um tom um tanto ou quanto cinematográfico, algo que vocês próprios admitem abertamente, chegando mesmo a categorizá-la de “banda sonora” na vossa página no Bandcamp. Que imagens passam pelas vossas cabeças quando estão no estúdio? Há algum filme (ou filmes) em específico a passar nas vossas cabeças?

Na verdade, nenhuma imagem passa pelas nossas cabeças quando estamos a criar. Nós tentamos concentrarmo-nos ao máximo na beleza da melodia para poder expandir melhor o sentimento ou a situação que queremos partilhar. É por isso que os títulos das nossas peças surgem muito dos nossos estados de espírito. Por trás de cada título “esconde-se” sempre uma história ou um poema. E só depois disso é que as imagens vêm até nós; o único filme projectado nas nossas cabeças é o filme das nossas próprias vidas.



Que bandas sonoras escolheriam como as vossas favoritas de sempre?

A banda sonora de Amélie, de Yann Tiersen, tem sempre um lugar de destaque na nossa “lista”.

Seeking Solace, lançado em Maio, confirma uma mudança, que já era visível em Pura Vida!, na direcção dum som mais cheio e expansivo, em contraste com a singeleza e quietude da vossa estreia. Isto foi propositado, ou foi algo que aconteceu como consequência natural do envolvimento de “pessoas de fora” no vosso processo criativo?

É uma evolução natural da nossa música. À medida que vamos ganhando experiência, vamos começando também a alargar os recursos que temos à nossa disposição. Mas apenas o coração da banda compõe; quando tocamos com outros músicos, eles desenvolvem a sua própria maneira de sentir a nossa música, mas não mudam em nada o nosso processo criativo inicial.

Estão felizes com o feedback que têm recebido com o lançamento deste EP?

Sim, temos tido um feedback muito mais positivo do que o que recebemos com discos anteriores, e isso deixa-nos felizes.

O que é que os fãs portugueses podem esperar destes concertos no Porto e em Lisboa?

Vamos actuar em quarteto para apresentar o nosso mais recente LP, Toute la nuit dans les veines, que acabámos de anunciar. E se os nossos fãs portugueses demonstrarem muito amor pela nossa música, partilharemos com eles uma canção exclusiva que sairá no nosso próximo registo.

Depois desta tour, o que é que podemos esperar para o futuro dos Belle Arché Lou?

Essa é uma boa questão; como já disse, estamos para lançar um LP, que foi inspirado por um poema de Paul Eluard, um poeta francês. 2015 marcará o início de um novo projecto que levará a música dos Belle Arché Lou a todo mundo através dum realejo, mas acho que isso é algo que discutiremos numa próxima conversa.
João Morais
joao.mvds.morais@outlook.com
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