ENTREVISTAS
Liars
Dança, dança, dança
· 29 Out 2014 · 15:25 ·
E ao sétimo disco, os Liars não descansaram. Mess, editado há poucos meses, é de tal forma fresco, que em certas alturas quase nos perguntamos se este não é o primeiro disco da banda. Não é, mas a forma como Angus Andrew, Aaron Hemphill e Julian Gross encaram o estúdio –um momento único para explorar e aprender –, ajuda a que cada novo disco traga consigo uma mudança de pele. Não há dois discos iguais na discografia dos Liars. Há, isso sim, um mosaico sonoro cada vez mais vibrante, imediato e físico, que em vez de deitar alguma luz sobre o caminho a seguir, só os faz ser mais imprevisíveis. Esta quinta-feira, no Lux – numa noite que também conta com a (boa) insanidade de Ramos, Dias, Flama & Quesadilla –, o melhor mesmo é esperar o inesperado, com apenas uma certeza: que o corpo não vai resistir ao belo baile punk que é Mess. Enquanto não se sua para os lados de Santa Apolónia, aproveitámos para falar com Anguns Andrew sobre o momento actual dos Liars.
O Mess saiu há poucos meses, mas algumas das canções foram tocadas, por exemplo, no Primavera Sound do ano passado. Costumam testar as malhas em palco antes de as editar?

Sim, é verdade. No verão passado tocamos muito material do Mess numa série de festivais. Foi óptimo poder andar em tour e tocar as canções antes de as gravar, porque também te ajuda a ter noção de quais são os elementos realmente importantes numa música.

Mess é uma palavra que pode aplicar-se a muita coisa, mas neste caso em específico refere-se a vocês ou ao estado das coisas que vos rodeiam?

A palavra "mess" (confusão) é um conceito interessante para nós, principalmente porque também tem uma perspectiva subjectiva. O que a mim me parece ou soa a uma amálgama de vários elementos, pode muito bem ser algo com uma ordem muito específica e particular.

Como é que foi escrever e compor este disco em comparação com o WIXIW?

Ambos os processos [de composição e gravação] desses discos foram completamente opostos um do outro. Enquanto que para o WIXIW foi longo, cerebral e até difícil, para o Mess foi tudo mais rápido, impulsivo e divertido.



O som do novo disco é ainda mais electrónico. Que material usaram na gravação?

Principalmente sintetizadores e módulos de bateria de um programa chamado Reaktor.

Mas concordas que o vosso som está mais eletrónico, mais dançável até?

Claro. Acho que é uma evolução natural, fruto de toda a exploração e aprendizagem da banda. Nunca tínhamos usado um programa de computador como um instrumento, por exemplo, e percebemos que era um campo desconhecido para nós, mas que devíamos explorar.

O disco parece ter duas partes distintas, uma mais uptempo e outra mais etérea. Esta divisão foi consciente?

Sim, procurámos agrupar certos ambientes e tempos de forma a tornar a audição do disco numa experiência mais contínua.

Podes falar-nos um pouco do artwork do Mess?

O conceito é simples, procurámos ilustrar a ideia de confusão – como é que um objecto pode parecer desordenado e preciso ao mesmo tempo. Também quisemos usar muita cor, de forma a exprimir o bom humor e a imediatez da música que fizemos.

O mais incrível é que este artwork não se limitou à capa do disco: de repente comecei a vê-lo em cartazes, jornais, na net…

Sempre quisemos transpor a linguagem visual deste disco para o mundo real. Por exemplo, largámos um monte de fios coloridos numa sarjeta em plena Sunset Boulevard e fomos fotografá-los a seguir porque acho que isso ilustra bem a dicotomia entre o que é confusão e o que é uma instalação devidamente pensada.

Vocês nunca fizeram o mesmo disco duas vezes e apesar das mudanças, continuam a ter muita gente interessada em vocês. O que é que faz as pessoas continuar a ouvir os Liars?

Não tenho bem a certeza. A única coisa que eu sei realmente e que me preocupa a sério,é manter o processo de fazer discos sempre fresco e desafiante para nós. É isso que tem mantido os Liars juntos e motivados ao longo dos anos – a ideia de que nunca vamos ficar parados, nunca vamos ficar confortáveis e que vamos sempre estar a aprender.



Quais é que diriam que são as maiores influências dos Liars neste momento?

Hmmm, não te sei responder bem a essa pergunta. Gosto do trabalho do Andy Stott. Também gosto muito da Kelela. E não consigo parar de ouvir Alice in Chains.

Tens algum interesse no lado mais experimental da electrónica ou preferes a parte mais “concreta” do género?

Gosto de ambas! Um dos nossos melhores amigos em Los Angeles é o John Wiese, um músico de eletrónica mais experimental. Fazemos imensas digressões com ele. Mas também gosto imenso desse lado mais “concreto” da música eletrónica, e também de hip-hop e R&B.

Tens alguma opinião sobre o EDM e pessoas como o Steve Aoki, Deadmaus5, Avicii, David Guetta…?

Ugh, nem por isso. Nunca ouvi disso sequer. Supostamente é música sobre celebração ou algo assim…? Mas não, não é algo com que me identifique geralmente.

Por ultimo, o que podemos esperar do vosso concerto em Lisboa?

Caos, intensidade, enganos e suor.
António M. Silva
ant.matos.silva@gmail.com
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