ENTREVISTAS
Bruma
Amor Vezes Quatro
· 27 Out 2014 · 22:31 ·
Surgiu, naturalmente, a pergunta: estará Braga a crescer? É verdade que a Cidade dos Arcebispos há muito que pauta pela qualidade das bandas que de lá vêm, sendo que nestes últimos dois anos já se assistiu à ascensão semi-meteórica dos Ermo, muito provavelmente a melhor banda portuguesa do momento. Os Bruma, quarteto que pega no rock e no jazz e lhes dá uma roupagem bastante diferente daquela a que estamos habituados, ainda só estão a dar os primeiros passos, tendo lançado uma demo há poucas semanas (que podem escutar aqui) , quase um ano após terem dado os seus primeiros concertos sob esta designação. Ao Bodyspace, André Pepe, João Alegria, Mário Abreu e Pedro Guedes desvendaram um pouco o véu e deram-nos a conhecer mais sobre aquilo que se poderá esperar deles.
© Gonçalo Delgado | Low Light Press
A pergunta do costume: quem são vocês e como se juntaram?

João Alegria: Somos os Bruma, naturais de Braga. Tudo começou quando o Guedes (guitarra), a convite meu (bateria) e do Pepe (baixo), se juntou a nós para fazer umas jams sem compromisso. Mais tarde o Mário (piano) juntou-se e o piano definiu o nosso som, completando assim a nossa formação. Aí começámos a compor com propósito.

Porquê a mudança de Shabalo, com single editado na Favela Discos, para Bruma?

Mário Abreu: A Favela Discos é uma editora de amigos nossos que estudam no Porto. Quando eles começaram esse projecto precisavam de algumas bandas para publicitar o mesmo, e os nossos ecos vindos da Rua dos Chãos, em Braga, durante os fins-de-semana de ensaio, despertaram o seu interesse. Assim sendo, falaram connosco e nós respondemos com umas gravações muito cruas, ainda no nosso estado mais embrionário e sem nome oficial. "Shabalo" foi a apresentação "anónima" da banda e o nome que escolhemos para que esse single pudesse ser lançado pela Favela.

Após terem dado alguns concertos o ano passado, lançaram recentemente a vossa primeira demo. Normalmente é ao contrário. Qual a razão desta "demora"?

André Pepe: Foi uma questão de oportunidades, e as de dar concertos surgiram primeiro. Sempre fizemos as coisas sem pressão, e de certa forma sem expectativas, mas os primeiros convites começaram a surgir com alguma frequência e, assim sendo, não nos focámos logo em gravar o nosso material. Foi benéfico para nós, pois assim tivemos a oportunidade de o deixar amadurecer. Quando começámos a desejar que a nossa música fosse ouvida além de Braga, gravar era a nossa melhor opção, e nasceu assim a nossa primeira demo.

Num desses concertos, são apresentados como sendo uma banda de pós-rock. No entanto, estas canções presentes na demo estão algo longe daquilo que normalmente se associa ao género... como é que apresentariam a vossa sonoridade a alguém que nunca vos tenha ouvido?

Pedro Guedes: Essa é uma pergunta à qual nenhum de nós quatro sabe muito bem o que responder. Nunca nos conseguimos rotular; as nossas músicas surgem de improvisos, em que cada membro dá o seu contributo com base nas suas influências, e apesar de termos gostos musicais em comum diferimos em muitos aspectos - o que faz com que se possam ouvir algumas nuances de vários géneros musicais de tema para tema, ou até dentro de cada um deles. Apontar o dedo e dizer um género? Achamos que a resposta seria "depende”.

Foi gravada em Braga, no Espaço Quatorze. Como decorreu o processo de gravação, e porquê a escolha deste espaço?

MA: Quando a banda começou não tínhamos sítio para ensaiar, e o Espaço Quatorze foi o local que nos albergou e nos ajudou imenso. É caso para dizer que a banda não existia se este sítio não existisse. Pareceu-nos bem que o nosso primeiro registo fosse criado no sítio onde a banda começou a ganhar forma e onde as nossas primeiras músicas foram criadas. Foi como gravar em casa. Numa tarde, ligámo-nos todos à mesa de mistura e tocámos o alinhamento todo, limámos uns pormenores, regravámos outros e no final todos ficámos satisfeitos com o resultado. Achamos que para uma demo a qualidade até ficou melhor do que aquela que pretendíamos.

© Gonçalo Delgado | Low Light Press

Anunciaram, juntamente com o lançamento da demo, que poderíamos esperar um EP. Podem desde já adiantar algo sobre o mesmo?

JA: O EP está em composição. Irá incluir alguns temas da demo e outros novos que andámos a trabalhar. Mais não podemos adiantar, é aguardar pelo resultado final.

Ermo, Canto-Esquina, e agora vocês – para além de uma série de outras bandas que ainda não se conhecem bem ou não se deram a conhecer. Braga está a crescer?

PG: Sim, bastante, mas ainda tem um longo caminho a percorrer. Braga é uma cidade pequena mas grande ao mesmo tempo, o que faz com que toda a gente que faça música se conheça, se entreajude. "Precisas de um amplificador? Força, pega no meu", "Precisas de cabos ou de um pedal? Às 15h no arco da porta nova"... A cidade tem ganho destaque graças ao trabalho dos músicos e artistas locais que não baixam os braços. A nível musical as pessoas não têm ideia do quão potente o cenário Bracarense poderá vir a ser.

Quem é o Pimenta, por vós designado como "o quinto elemento do grupo"?

AP: O Pimenta é uma das pessoas que contribuiu activamente para que Braga surgisse no mapa. Foi a primeira pessoa que nos ouviu e, como dono do Quatorze, a pessoa que mais apostou e acreditou em nós. Chamamos-lhe o "quinto elemento" pelo carinho que temos por ele e por tudo o que fez por nós. Foi o mecenas de Bruma e de outras bandas locais e, como dissemos anteriormente, sem Espaço Quatorze não havia Bruma. O mesmo se pode dizer do Pimenta em relação à nossa existência.

Para quando uma colaboração com Shikabala?

MA: Nunca se sabe, não é? Mas a falta de comparência aos treinos preocupa-nos. Talvez num futuro. Mas fica desde já aqui um comunicado.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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