ENTREVISTAS
Glass Animals
Trópico psicadélico
· 29 Set 2014 · 16:14 ·
Glass Animals era um nome desconhecido até este ano. Um EP, Leaflings, lançado em 2012, não tinha dado a conhecer a banda a um público muito vasto, mas um contrato com a editora Wolf Tone, de Paul Epworth, fez com que a banda chegasse ao primeiro longa duração, Zaba. O álbum, lançado em Junho deste ano, fez com que a banda oriunda de Oxford chegasse aos ouvidos de muitos, e os elogios continuam. A tour com St. Vincent e o concerto no South By Southwest também ajudaram. Joe Seaward falou à bodyspace.net dos desafios da criação de Zaba, dos planos futuros, das experiências no South By Southwest e de gravar com Paul Epworth. Pelo meio, fica a análise ao “trópico psicadélico” que pauta o álbum de estreia, ao processo criativo da banda e às influências de Seaward.
Como foi trabalhar com um produtor como o Paul Epworth?
 
Foi óptimo. Ele produziu muitos álbuns fantásticos, coerentes, e este foi o primeiro álbum que qualquer um de nós na banda alguma vez tinha gravado. Não sabíamos muito bem o que estávamos a fazer. Ter alguém tão experiente como ele, e cuja opinião confiávamos imenso, enquanto mentor, foi muito útil.
 
Zaba é um grande passo em frente em relação ao EP anterior. Estão satisfeitos com o resultado final? 

 
Fico contente por achar que é um passo em frente. Não queríamos repetir-nos. Estou satisfeito com o resultado. É uma boa fotografia de onde estávamos, a nível creativo, naquele momento. Se o ouvir agora, tenho a certeza que encontro muitas coisas que mudaria, mas penso que o que faz um álbum é a capacidade de capturar um momento na vida de um artista, e quem éramos naquela altura.
 
“Flip”, a primeira faixa de Zaba, soa a algo que poderia vir de Flying Lotus. É uma influência preponderante no vosso trabalho? 
 
Flying Lotus é certamente uma influência. Não conscientemente, mas passo muito tempo a ouvir os álbuns dele, e acho que o som acaba por entrar no que estiver a trabalhar na altura.


 
Como foi atuar no South By Southwest?
 
Divertido, mas intenso. É diferente do habitual. Ligas o equipamento todo em três minutos, e depois começas a tocar e esperas que tudo corra bem. O som nunca é muito bom, por isso a qualidade do concerto depende totalmente da energia física. Tens de dançar, e dançar muito.
 
O vosso som tem ressonâncias de batidas de hip hop. De onde é que isso veio? 
 
Acho que vem de crescer a ouvir hip hop. Só havia duas estações de radio na cidade onde cresci nos Estados Unidos da América. Uma tocava música country moderna, que eu não gostava. A outra tocava rap, por isso ouvia essa estação. Dr. Dre, Snoop [Dogg], Missy [Elliott], Busta Rhymes, Eminem, etc.
 
E os sons trópicos que inundam o álbum? É uma ambiência que queriam atingir propositadamente? 
 
Estava a ler muitos livros sobre os trópicos e sobre pessoas que se imiscuem no meio selvagem, e subconscientemente comecei a colocar a atmosfera desses livros na minha música. Livros como A Ilha do Dr. Moreau, Mosquito CoastHeart of Darkness. E, depois, quando chegou ao ponto em que tínhamos de criar um som coerente para o álbum, apercebi-me de que já existia essa ambiência tropical em algumas faixas, por isso acrescentei isso às outras e gravei algumas samples de animais e da Natureza para incluir.
 
Há quem diga que as faixas de Zaba criam um groove único quando ligadas entre si, e ao mesmo tempo contêm muitas camadas dentro delas mesmas. Tinham essa ideia de criar um álbum tão complexo a nível mental?
 
Não sei se foi propositado, acabou por acontecer. É o tipo de música que gosto, várias camadas a interagir e a trabalhar umas com as outras.


 
A letra de “Gooey” é, no mínimo, psicadélica. O que vos inspirou para criar essa letra?
 
Tinha todo o instrumental escrito antes das letras. A <i>vibe</i> do álbum ajudou a criar uma <i>storyline</i> adequada. Também queria que os sons das palavras contribuíssem para a atmosfera e para a música.
 
O álbum, como um todo, parece teletransportar-nos para um ambiente diferente, quase uma dimensão diferente. Foi algo que tentaram alcançar?
 
Sim! Estou contente que pense que consegue fazer isso. Os meus álbuns favoritos fazem isso e acho que tentei copiar isso. Dark Side Of The Moon [dos Pink Floyd] faz isso de forma brilhante. Leva-nos para um outro sítio e ficamos lá durante todo o processo.
 
Esperavam que o álbum fosse tão bem recebido?
 
Não sabia o que esperar. Ultimamente, nós só queríamos criar música que gostássemos, e é bom que as pessoas também gostem da música.
 
O que podemos esperar de Glass Animals no futuro? 
 
Provavelmente, algumas colaborações. Estamos constantemente a desenvolver o nosso espectáculo ao vivo…Espero que consigamos começar a fazer alguma coisa com o design do set. Depois disso, quem sabe? Talvez comecemos a experimentar com gaitas de foles.
Simão Freitas
spfreitas25@gmail.com
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