ENTREVISTAS
Ginger and the Ghost
Exóticos, nós?
· 23 Jul 2014 · 17:46 ·
Missy e Daniel são australianos e encontraram nos Ginger and the Ghost o veículo perfeito para concretizarem todas as suas fantasias sonoras e visuais. Com um par de EPs e uma mão cheia de singles (ou algo assim), têm vindo a provocar algum burburinho e com razão. A pop que concebem, de fino recorte, tem a imaginação suficiente para nos fazer sonhar em tempos de realidades extremas. O disco de estreia está no horizonte mas entretanto a dupla tem vindo a mostrar a sua música por todo o mundo. E eis que chegou a vez de Portugal poder testemunhar a urgência da música de Missy e Daniel. Na próxima sexta-feira, dia 25 de Julho, os Ginger and the Ghost actuam na edição 2014 Milhões de Festa para mostrar aquilo que de que são feitos. E sobretudo para provar os motivos pelos quais ainda vamos ouvir falar muito deles no futuro. É uma questão de tempo. E se calhar de exotismo.
Vocês são ambos artistas visuais. Como é que começaram a fazer música?

Começamos em mundos musicais distintos com outras bandas, depois eu pedi ao Daniel para ir comigo visitar um produtor com quem eu queria trabalhar. Nós literalmente entramos e começamos a gravar e a escrever ao mesmo tempo e essa é a forma como trabalhamos desde esse momento até agora.

Foi fácil para vocês construir um mundo adequado, equilibrando a música e tudo o resto? Sei que são um casal na “vida real”…

Sim, é, mas nós coexistimos em situações extremas como viajar com bagagem enormes por todo o mundo. É stressante equilibrar o nosso yin e yang, e às vezes queremos ter uma viagem sozinhos para um deserto bem longe, mas esta é provavelmente a coisa mais porreira do mundo para fazer parte. Por exemplo, ontem chegou a primeira mistura do nosso novo single que acaba de ficar pronto e nós estávamos em Londres a preparar-nos para jantar e pusemos a canção a dar nos nossos iPhones e pusemo-nos a dançar e a dar hi fives no meio da rua. É incrível quando penso em tudo isso. Estamos também á frente de um armazém colectivo, onde residem serviços criativos de instalações de arte/direção de arte /design/interiores/vídeo e projetos paralelos estranhos e maravilhosos. Um prato cheio, com certeza.

Que tipo de influência têm as artes visuais na vossa música, para além das influências claras no palco e nos vossos videoclipes?

É tudo! Nós somos influenciados por muitas pessoas e eu sempre mudo a resposta quando me fazem esta pergunta para que as pessoas possam ver diferentes influências, porque há tantas! Então, pesquisem pelo Gary Card, Husmann/Tschaeni e fotógrafos ou estilistas na revista Dark Beauty, todos os criativos da Camilla Lowther Management.



Pensam em lançar um álbum em breve? Sentem-se prontos para isso?

Nós temos um álbum praticamente pronto mas acabamos de começar a escrever canções de novo por isso neste momento vamos lançando apenas singles.

Têm andado em digressão por todo o mundo nos últimos tempos. Como é que é essa experiência para vocês?

É selvagem e confuso e enquanto escrevo isto estou num comboio a ir para um festival fora de Londres, por isso para mim é como ser um camaleão, e eu estou a aprender a fazer de cada cidade a minha casa, vou a aulas de ioga e encontro um café local próximo para ir lá todas as manhãs para que possa organizar-me mentalmente com facilidade.

É sempre uma boa experiência isso de andar na estrada em digressão?

Hummmmmm, não, mas é sempre real e interessante e eu dou-me bem com essa vibração em vez de ser complacente.

Sentem-se de alguma forma espantados e agradecidos pela possibilidade de viajar pelo mundo todo mostrando as vossas canções?

Sim, nós sentimo-nos definitivamente abençoados por sermos capazes de fazer isto, especialmente Portugal e Espanha, países que estão na nossa lista há anos! Mas ser independente é uma loucura, termos de nos financiar (o que é difícil), mas optamos por fazer isso, o que significa que temos liberdade e essa é a melhor parte.

Os vossos concertos têm um lado performativo muito forte. Quão importante é esse lado para a vossa visão da vossa própria música?

Hummm, é curioso porque as novas faixas são também baseadas em sintetizadores por isso ainda está tudo em desenvolvimento. Eu adoro cordas por isso tento colocá-las na música por isso está sempre tudo a crescer. Parece funcionar na perfeição com o belíssimo trabalho de guitarra do Daniel.

Até onde esperam que a vossa música vos leve? Têm objectivos definidos, metas específicas?

Muitos objectivos, mas são um segredo... Queremos criar um novo estilo de espectáculo, mais artístico e não baseado em produções de milhões de dólares como a Lady Gaga… Mais como a ópera rock da Karen O chamada Stop the virgins.



Quão inspirador pode ser viver na Austrália? Ou seja, o país é tão exótico para vocês como é para nós?

As pessoas nesta carruagem deste comboio vão responder a esta pergunta, não tenho certeza se eles foram embora ou não... As medusas são exóticas… As Pocket Pies não são exóticas... As Tim Tams são exóticas, os macacos atrevidos em Byron Bay não são exóticos, mas sim, o interior é o mais exótico para mim... É selvagem e puro e espiritual, se não o fizeres numa excursão da Contiki.

Como está o cenário musical do país neste momento? Podes dizer-nos algo acerca de bandas novas e excitantes?

Ok, então... Indian Summer, Flume, Ta-Ku, ão, canal, ta-ku. Basta sintonizar na rádio FBi para encontrares algumas coisas realmente underground.

O que vocês esperam dos concertos em Portugal e em Espanha?

Pessoas barulhentas divertidas e selvagens com grande sentido de humor que não tenham medo de serem estranhas e que amem a vida.

Conheci-vos numa esquina de uma rua em Londres por causa de um Hummer. O que é que nos podes dizer acerca desses carros e quando é que podemos esperar uma canção anti-Hummer?

[risos] Ouvi falar de um movimento anti-Hummer a começar por aí, onde as pessoas cortam os Hummers ao meio e os obrigam a ser carros de tamanho normal. Além disso, as pessoas que andam nesses casos são levadas a festas a sério e é-lhes mostrado como as pessoas normais se divertem sem arrogância e dinheiro... O Green Peace apoia esse movimento também. [risos]

Diz-me algo que gostarias de dizer neste momento ou algo que aches que eu nunca teria coragem suficiente para perguntar…

Eu quero que todos os que visitam este site se juntem ao site AVAAZ, que é uma organização online que está a lutar em batalhas para o novo mundo. Quero que assinem petições on-line que mudam algumas situações, uma por uma! É incrível e eu acredito neles! Também quero encontrar o David Attenborough em carne e osso e ser a nova estrela dos documentários da vida selvagem! Vale a pena tentar, certo?
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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