ENTREVISTAS
Dum Dum Girls
Precisamos de barulho
· 24 Fev 2014 · 21:58 ·
As Dum Dum Girls ocupam um dos lugares cimeiros no grupo de bandas formadas por mulheres que nos últimos anos se entreteu a escangalhar guitarras e a fazer bonitas canções, juntamente com Best Coast ou Vivian Girls. Depois de dois discos, uma cassete e uma série de EPs, o quarteto de Los Angeles regressa agora com Too True, disco onde abandonam quase por completo aquilo que nos fez gostar delas em primeiro lugar: o ruído. Ficaram as melodias, ainda cheias de vida como nos registos anteriores, perdeu-se o rock n' roll. Se é uma mudança para melhor ou pior, só o tempo o dirá. Para já fiquemos com a certeza de que voltarão a Portugal este ano (depois de uma passagem pelo Optimus Alive) e que "Rimbaud Eyes", mesmo pesando-lhe o cliché oitentista, é um single fenomenal. Ao Bodyspace, Dee Dee Penny falou pouco, mas falou.
Nos anos do punk existiam fanzines, agora existem webzines. Esta entrevista é para uma destas últimas. Como é que a Internet ajudou as Dum Dum Girls desde que começaram?

A Sub Pop assinou connosco através do Myspace, e as duas editoras pequenas que foram as primeiras a editar material nosso encontraram-nos da mesma forma (HoZac e Captures Tracks). Não há muito mais para saber além disto.

2013 foi um ano em que não houve novas edições por parte das Dum Dum Girls. Que andaram a fazer?

Gravámos o Too True durante esse período mas tivemos de parar por quase um ano, por causa das tournées e porque precisava de recuperar a minha voz.



O Too True é o vosso terceiro disco. No que à escrita de canções diz respeito, que aprenderam desde o primeiro? O processo criativo para este disco foi diferente do I Will Be e do Only In Dreams?

Escrever canções é ao mesmo tempo um trabalho, que estudo e tento aperfeiçoar, e uma experiência visceral e canalizadora. Este foi o primeiro disco em que me sentei com a intenção primária de o escrever e gravar de uma assentada. Levou basicamente nove dias a ser concebido.

O Too True destaca-se por ser um disco mais bem produzido; não existe tanto do lo-fi que vocês tinham nos vossos dois outros discos. É também muito mais virado para a pop que para o rock. É esta a direcção que sempre quiseram tomar?

O I Will Be é, na verdade, o único disco que eu classificaria como lo-fi, já que o gravei eu mesma com tecnologia muito rudimentar (e conhecimentos de gravação ainda mais rudimentares) e misturei-o de forma a que o instrumental soasse alto e distorcido e os vocais ficassem enterrados. Desde então que temos gravado em estúdios a sério, com engenheiros que sabem o que fazem. Usar distorção e fuzz e efeitos não significa que seja lo-fi... pelo menos para mim.

Têm uma canção chamada "Season In Hell" no EP End Of Daze, agora temos "Rimbaud Eyes". Como é que o poeta te influenciou pessoalmente?

Alguns dos meus poemas favoritos são dele. Musiquei alguns dos versos d'"O Barco Bêbado" e é daí que vem a "Rimbaud Eyes". Tinha a expressão antes de perceber como escrever o corpo da canção.

Numa altura em que todos discutiram a Miley Cyrus e a sexualização das estrelas pop, devo perguntar se a capa do Too True é alguma afirmação sobre o caso. Que pensaste dessa controvérsia?

Não posso falar por mais ninguém para além de mim. A capa associada ao Too True é uma afirmação no sentido estético.

Mesmo que adore todas as vossas canções, devo dizer que o momento em que acho que vocês estão nos píncaros é na versão que fizeram da "There Is A Light That Never Goes Out". Considerando que os Smiths são uma daquelas bandas em que é quase sacrilégio fazer uma versão de uma canção sua, sentiste algum receio? O Morrissey já vos contactou?

Estava definitivamente hesitante em lançar essa versão, mas acabei por sentir que não era mais que uma humilde homenagem - e o próprio Moz já fez versões de outros artistas. Ainda não nos contactou.



És amiga do Alex, de Dirty Beaches. De momento ele está em Lisboa em residência artística. Consegues ver-te a expandir a tua criatividade para além da música e a trabalhar noutros campos artísticos? Que mais gostarias de fazer?

Gostava de compor música para coisas que não estivessem relacionadas com as Dum Dum Girls, seja para outras bandas, outros artistas, escrever bandas-sonoras... também gostava de me focar na escrita ou na fotografia mas, em última instância, a música é aquilo que mais me move.

Provavelmente não sabes, mas "Dum Dum" é uma empresa portuguesa que fabrica insecticidas. Por isso... que tipo de insectos mais odeias?

Mosquitos e baratas. São nojentos.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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