ENTREVISTAS
Guta Naki
Canções de desejo
· 14 Fev 2014 · 11:54 ·
© Joana Areal
Parece-me bastante óbvio que existe uma progressão no som da banda com este último disco. Foi uma escolha consciente?
Precisava conhecer os limites do inconsciente, mas há quem diga que as escolhas se pensam, as decisões acontecem. Queríamos fazer outras coisas, sair do lugar, queremos sempre. Nesse sentido, pode haver um distanciamento em relação ao primeiro disco, mas é uma progressão, como dizes, há entre eles uma relação.
Se pudesses resumir este disco num par de ideias, como o farias?
Se pudesse, não sei se o faria, sou mais da expansão que do resumo. Não podendo, numa ideia diria, é do desejo.
Como foi o processo de escrita e gravação do álbum? Foi difícil chegar a este resultado final?
O processo de composição foi de trabalho muito árduo, havia muitas ideias complicadas de reunir num só objecto, foi de minúcia e estudo, de muito prazer também, o difícil dá mais tesão. Nas gravações aconteceu de tudo, tanto gravarmos o primeiro take e a música ficar pronta, como ser o resultado da gravação a fazer descobrir uma nova estrutura.
Há alguma canção que tenha sido especialmente difícil de apurar?
Talvez “O Homem que Dança”, era muito maior inicialmente, teve várias versões, usufruiu de muitas transformações.
Houve alguma canção que tivesse saído como que por magia, definindo até, quem sabe, o rumo do disco no geral?
Acho que há sempre uma propriedade mágica em qualquer fazer, ainda que possa haver toda a técnica e cálculo. Tínhamos uma visão do disco, antes de o fazer, quando começámos a fazer a “Onde Ela Mora” percebemos que podia ser um ponto por onde todas as canções orbitam. Agora acho que todas conseguem ser esse lugar, o disco tem um coração sem centro. Às vezes a magia é quando tu fazes e refazes, e repensas, e mudas, e depois desse caos, conseguiste fazer uma canção que soa inteira. A “Ainda Não Sei”, a “TuNunca”, o “Zeferino”, foram algumas das que o esqueleto apareceu logo como um todo.
Da tua perspectiva, parece que este disco é um disco com uma sensibilidade feminina, apesar de estares em minoria? Por outras palavras, sentes que este disco “recai” muito em ti?
Acho que esse elemento do feminino está presente, não tanto numa perspectiva de género, mas numa perspectiva que é tanto de homens como de mulheres, é um devir minoritário, transversal e em potência. Se recai em mim, de nós se ergue.
Explica-me o sentido do título do disco. E de que forma inspirou ou expirou o próprio disco…
O título pode ter vários sentidos, prefiro sempre os múltiplos. Um deles pode ser o de um exercício de aproximação. Pode ser uma pergunta: como fazer o perto? Diminuir as distâncias, inventar linhagens imprevistas. E comer, comer é sempre bom. Há um poema do Ponge que diz “O sol intitula a natureza”, acho que é a melhor forma de explicar um título.
© Joana Areal
Sentem que os Guta Naki ocupam algum lugar específico na música portuguesa? Por outras palavras, sentem alguma proximidade com alguma realidade musical nacional?
Sentimos a proximidade suficiente para admirar muita gente, se isso se traduz numa proximidade musical, já não sei, diz-me tu. E é mesmo a sério, diz, fico com curiosidade de saber.
Olhando par trás, como te parece o caminho que vos trouxe a todos até aos Guta Naki?
Pergunta difícil. Os meus olhos estão no agora e olham em frente.
Nada de arrependimentos?
Como assim? Eu quero é errar tudo outra vez! Mas melhor, errar melhor, outra vez, sempre.
O que podem as pessoas esperar do concerto de apresentação e dos que se seguem?
Não podem esperar, têm de ir, a esperança cansa. Anda logo!
andregomes@bodyspace.net
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