ENTREVISTAS
Wes Swing
De loop em loop até à vitória
· 13 Nov 2013 · 01:49 ·
Começou a estudar violino e depois descobriu o violoncelo. E depois encontrou o caminho para as canções. E nunca mais foi o mesmo. Com o seu disco de estreia, Through a Fogged Glass, Wes Swing mostrou que a sua sensibilidade na escrita de canções só poderá trazer-lhe grandes coisas no futuro. Com um violino, um violoncelo e uma guitarra, e com a ajuda de alguns amigos, o norte-americano construiu um disco de canções onde transparece claramente a influência de largos anos dedicados à música clássica, mas onde se nota sobretudo a mestria com que escreve canções. E parece que não tardará muito até que o seu talento seja amplamente reconhecido. Nos próximos dias, Wes Swing começa uma digressão que marca a sua estreia na península ibérica. No dia 18 de Novembro, segunda-feira, apresenta-se no Maus Hábitos. Fomos falar com o norte-americano para descobrir um pouco mais acerca das suas motivações, do seu processo, das suas ambições. E ainda ousamos perguntar o que gostaria de ver quando daqui a trinta anos olhar para o seu passado.
Estudaste violino e violoncelo durante a universidade. Que lembranças tens dessa época?

Algumas das minhas primeiras memórias são de tocar violino em casa. A minha mãe sentava-se a ajudar-me e foi muito paciente, enquanto o cão uivava na sala de estar. Eu sempre me interessei pelo violoncelo, mas quando comecei a aprender o instrumento na universidade, encontrei o meu verdadeiro amor na música. Abraçar e tocar um violoncelo é uma sensação incrível, e eu sinto-me um sortudo pela oportunidade.

Como foi deixar o mundo da música académica e começar a escrever canções?

Foi fantástico! É realmente óptimo tocar a música que eu escrevo, uma vez que o meu amor pela interpretação é profundo. Escrever canções para mim é muito mais imediato e íntimo, e descobri que posso comunicar os meus pensamentos e sentimentos de forma mais eficaz. Mas estou muito feliz por ter passado algum tempo a escrever música clássica porque aprendi muita coisa que me tem ajudado na orquestração em estúdio, e porque tive a oportunidade de estudar com alguns compositores fantásticos. Quando eu comecei a tocar violoncelo e a cantar, fez sentido também começar a fazer loops, para que eu pudesse gravar e colocar em camadas partes de violoncelo na interpretação. Mesmo com a banda completa (cinco ou seis músicos), eu ainda uso o pedal de loop regularmente.

Ainda tocas violoncelo clássico com um quarteto de cordas ou numa orquestra?

Costumo tocar música clássica, tanto a solo nas suites para violoncelo de Bach como com vários outros músicos num cenário de música de câmara. Também toco violino clássico ainda.



Qual é o teu compositor favorito? Qual é o teu concerto para violoncelo favorito?

É difícil escolher um compositor favorito, mas sou muito influenciado pelos últimos quartetos de cordas de Beethoven, Arvo Part, os quartetos de cordas de Phillip Glass, Steve Reich, e, claro, as suites para violoncelo de Bach. O meu concerto de violoncelo favorito é definitivamente o de Schumann, mas adoro a sonata para violoncelo solo de Kodaly.

Abandonar o teu trabalho como professor e dedicar-te à música... Era uma escolha difícil?

Eu gostei verdadeiramente de ensinar, mas dedicar-me à música a tempo inteiro definitivamente parecia-me certo. Eu sempre soube que tinha pelo menos de tentar fazer da música a minha vida, e a verdade é que me sinto mais vivo quando estou a tocar a escrever música.

Como é que estão a correr as coisas? Estás feliz com a tua escolha?

Sinto-me bem com a minha escolha. Às vezes, para ganhar algum dinheiro extra, vou dar aulas particulares a alunos, mas estou completamente empenhado em fazer da escrita e da música a minha vida. Não é fácil vivendo a maior parte do tempo na estrada, constantemente em digressão, e muitas vezes é difícil pagar as contas, mas tudo isso vale a pena pela oportunidade de tocar música.

Fala-me sobre o teu disco de estreia. Como foi a experiência de construir um disco para ti?

Escrever e gravar o Through a Fogged Glass foi uma experiência incrível. Uma vez que é o meu primeiro álbum, levei três anos para o gravar e o tempo extra valeu a pena. Eu gravei em dois estúdios e até mesmo algumas das canções numa cabana nas montanhas da Virgínia. Fui buscar muita influência aos dias em que escrevia quartetos de cordas e música clássica, e algumas das letras vêm da era favorita de poesia (escritores do século XX como T.S. Eliot e outros).



Tens algumas colaborações neste disco. Podes contar-nos um pouco acerca do processo?

Tive muita sorte de poder trabalhar com a cantora Devon Sproule nas vozes. Eu gostei sempre muito da voz dela, e estava realmente muito entusiasmado por ela fazer parte do projecto. Acho que as nossas vozes combinaram muito bem. Além disso, com o artwork do disco e com o vídeo de "Lullaby", o meu amigo Bolanle Adeboye tem sido uma força criativa. Ela é uma das pessoas mais artísticas que eu já conheci... Uma verdadeira artista, todo o seu trabalho é de perder o fôlego. Além disso, conheci o meu baterista e amigo Brian Caputo enquanto estava no estúdio de gravação e temos vindo a colaborar desde então.

Como é viver na Virgínia? Sentes-te parte de uma forte comunidade musical e artística?

Tenho vindo a dividir ao meu tempo entre a Virgínia e a Califórnia (São Francisco). A comunidade artística em Charlottesville, na Virgínia é muito boa. Tenho vindo a colaborar com um grupo de pessoas realmente talentosas artísticas na Virgínia, especialmente a Bolanle Adeboye e o meu amigo e baixista Jeff Gregerson. O Jeff vai juntar-se a mim em Espanha e Portugal e temos vindo a tocar juntos desde os tempos da escola secundária.

Tens uma digressão europeia pela frente. O que esperas desta aventura?

Esta será a nossa primeira digressão em Espanha e em Portugal, e espero conhecer imensa gente realmente incrível ao longo do caminho.O meu baixista Jeff e eu sentimo-nos ambos felizes e honrados por podermos tocar música para as pessoas de Espanha e Portugal. Temos novas músicas, novos arranjos, e teremos os dois grandes instrumentos de cordas nos nossos concertos.

Daqui a trinta anos, quando olhares para trás, o que gostarias de ver na tua música?

Gostaria de ver que segui os meus sonhos musicais. Principalmente, quero ver que mantive a desafiar-me a mim mesmo para aprender mais, partilhar mais e criar mais. Gostaria de continuar a colaborar com pessoas incríveis, e continuar em digressões para partilhar a minha música com outras pessoas. Gostaria de incluir mais instrumentistas de cordas e continuar a seguir um som orquestral. Principalmente, quero continuar a tocar música, e continuar a sentir-me vivo quando escrevo e toco música.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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