ENTREVISTAS
Josephine Foster
O céu é o limite
· 01 Out 2013 · 23:52 ·
O que nos podes dizer acerca do teu disco anterior, Blood Rushing, e os músicos que tocam nele?
A Paz e a Heather são minhas amigas do Oeste americano, as melhores instrumentistas de cordas com as quais tive a oportunidade de colaborar, e a música liga-se à vasta geografia de lá - e elas perceberam isso intuitivamente. O Victor ajudou-me tanto a enfatizar as inflexões da América do Sul que existem na música, tendo sempre em consideração que as Montanhas Rochosas vão até ao Chile e desejando vincular abertamente as influências nativas do norte e do sul. O Ben foi uma descoberta espontânea, fomos abençoados pela sua simplicidade e pelo Groove horizontal sólido, por tocar de joelhos e por entender o bater do coração com graciosidade.
Este disco anterior parece ter um flow muito espontâneo, parece ser fruto de alguma improvisação. Foi tua intenção não produzir demasiado ou compor em demasia as canções?
Fluir com a poesia das canções de uma forma natural e sem forma, sim.
O teu marido, Victor Herrero, toca contigo ao vivo e nos teus discos há já muito tempo. De que forma dirias que ele influenciou a tua própria música?
Ele continua a ampliar o meu sentido e o meu horizonte de ritmo. Ele ajudou-me a viver uma vida com um passo mais firme e isso afecta o pulso da minha música também. É um enorme privilégio colaborar com ele.
Sentes que o sul de Espanha influencia continuamente a música que fazes?
Estou no norte agora. O sul de Espanha foi uma musa incrível, no entanto nós não temos uma residência fixa.
Como é para ti viver em Espanha, culturalmente falando?
Existem qualidades simples de vida aqui que me caem muito bem e que ajudam-me a balançar a psique. Existe uma força particular de pureza que pode ser encontrada, já para não mencionar velhos e estranhos rituais que me fascinam.
Começas a sentir-te negativamente influenciada por toda esta depressão económica que continua a ter um impacto enorme, por exemplo, em Espanha?
Desde o meu ponto de vista a depressão não é uma depressão complete mas um esmagamento tal que faz com que o espírito criativo fundamental das pessoas seja encorajado. A construção de edifícios sem fim não é uma fonte sustentável de prosperidade. É entusiasmante sentir que as pessoas se tornam conscientes disso e começam a ter gestos populares de independência.
Achas que alguma vez irás voltar definitivamente aos Estados unidos? Do que é que sentes mais falta?
Sim, passei alguns meses lá recentemente. Eu adoro o espírito juvenil e espontâneo do meu país. Paradoxalmente, o lado negro desse espírito é o que me põe louca quando lá estou.
Em termos de opções estilísticas, a tua música tem passado por diferentes fases ao longo do tempo. É uma forma de manter viva a tua criatividade?
Ter diferentes abordagens à música não é algo que eu faço propriamente para manter a minha criatividade, é a natureza do meu fluxo de consciência, a minha imaginação. Não tenho uma mente com apenas um sentido nem me preocupo com tentar construir a minha identidade ou reputação por qualquer motivo estratégico.
Tens um novo disco a sair em breve. O que nos podes contar sobre esse disco?
Sim, no dia 11 de Novembro será lançado o meu novo disco, I'm a Dreamer, uma nova colecção de canções gravadas com músicos de sessão em Nashville. O sentimento geral do disco é algo como a música americana de saloon com o piano, o contrabaixo, a steel guitar...
O que é que significa para ti ser capa da revista Wire? Sentes que alguma coisa mudou desde essa altura?
Sinceramente não notei qualquer tipo de mudança, sobretudo porque a Wire não é uma revista comercial. Na foto da capa fui apanhada da forma como estou em casa – sem maquilhagem, “soutien” e cabelo arranjado no secador. Muitas pessoas falaram-me disso, que tinham encontrado uma naturalidade e sensualidade nas fotos (que são do André Cepeda, que é do Porto) que é pouco usual e inspiradora.
A tua música foi originalmente associada com todo o movimento freak-folk. Achas que existe alguma coisa ainda desse espírito?
Não tenho a certeza. Nunca foi um comboio em que eu viajasse.
Na primeira vez que tocaste no Porto, há imenso tempo atrás, lembro-me que sentiste uma paixão enorme pela cidade. Como é que te sentes no Porto, uma cidade onde tens voltado tantas vezes nos últimos tempos?
Honestamente, o Porto para mim é único e tem uma vibração poética muito forte. Dediquei uma canção à cidade (“Sim não” no meu disco This Coming Gladness) que fala de algumas experiências fora do vulgar que por lá tive. Parece é que não existe nenhum sítio onde encontrar toranjas, aparentemente.
André GomesA Paz e a Heather são minhas amigas do Oeste americano, as melhores instrumentistas de cordas com as quais tive a oportunidade de colaborar, e a música liga-se à vasta geografia de lá - e elas perceberam isso intuitivamente. O Victor ajudou-me tanto a enfatizar as inflexões da América do Sul que existem na música, tendo sempre em consideração que as Montanhas Rochosas vão até ao Chile e desejando vincular abertamente as influências nativas do norte e do sul. O Ben foi uma descoberta espontânea, fomos abençoados pela sua simplicidade e pelo Groove horizontal sólido, por tocar de joelhos e por entender o bater do coração com graciosidade.
Este disco anterior parece ter um flow muito espontâneo, parece ser fruto de alguma improvisação. Foi tua intenção não produzir demasiado ou compor em demasia as canções?
Fluir com a poesia das canções de uma forma natural e sem forma, sim.
O teu marido, Victor Herrero, toca contigo ao vivo e nos teus discos há já muito tempo. De que forma dirias que ele influenciou a tua própria música?
Ele continua a ampliar o meu sentido e o meu horizonte de ritmo. Ele ajudou-me a viver uma vida com um passo mais firme e isso afecta o pulso da minha música também. É um enorme privilégio colaborar com ele.
Sentes que o sul de Espanha influencia continuamente a música que fazes?
Estou no norte agora. O sul de Espanha foi uma musa incrível, no entanto nós não temos uma residência fixa.
Como é para ti viver em Espanha, culturalmente falando?
Existem qualidades simples de vida aqui que me caem muito bem e que ajudam-me a balançar a psique. Existe uma força particular de pureza que pode ser encontrada, já para não mencionar velhos e estranhos rituais que me fascinam.
Começas a sentir-te negativamente influenciada por toda esta depressão económica que continua a ter um impacto enorme, por exemplo, em Espanha?
Desde o meu ponto de vista a depressão não é uma depressão complete mas um esmagamento tal que faz com que o espírito criativo fundamental das pessoas seja encorajado. A construção de edifícios sem fim não é uma fonte sustentável de prosperidade. É entusiasmante sentir que as pessoas se tornam conscientes disso e começam a ter gestos populares de independência.
Achas que alguma vez irás voltar definitivamente aos Estados unidos? Do que é que sentes mais falta?
Sim, passei alguns meses lá recentemente. Eu adoro o espírito juvenil e espontâneo do meu país. Paradoxalmente, o lado negro desse espírito é o que me põe louca quando lá estou.
Em termos de opções estilísticas, a tua música tem passado por diferentes fases ao longo do tempo. É uma forma de manter viva a tua criatividade?
Ter diferentes abordagens à música não é algo que eu faço propriamente para manter a minha criatividade, é a natureza do meu fluxo de consciência, a minha imaginação. Não tenho uma mente com apenas um sentido nem me preocupo com tentar construir a minha identidade ou reputação por qualquer motivo estratégico.
Tens um novo disco a sair em breve. O que nos podes contar sobre esse disco?
Sim, no dia 11 de Novembro será lançado o meu novo disco, I'm a Dreamer, uma nova colecção de canções gravadas com músicos de sessão em Nashville. O sentimento geral do disco é algo como a música americana de saloon com o piano, o contrabaixo, a steel guitar...
O que é que significa para ti ser capa da revista Wire? Sentes que alguma coisa mudou desde essa altura?
Sinceramente não notei qualquer tipo de mudança, sobretudo porque a Wire não é uma revista comercial. Na foto da capa fui apanhada da forma como estou em casa – sem maquilhagem, “soutien” e cabelo arranjado no secador. Muitas pessoas falaram-me disso, que tinham encontrado uma naturalidade e sensualidade nas fotos (que são do André Cepeda, que é do Porto) que é pouco usual e inspiradora.
A tua música foi originalmente associada com todo o movimento freak-folk. Achas que existe alguma coisa ainda desse espírito?
Não tenho a certeza. Nunca foi um comboio em que eu viajasse.
Na primeira vez que tocaste no Porto, há imenso tempo atrás, lembro-me que sentiste uma paixão enorme pela cidade. Como é que te sentes no Porto, uma cidade onde tens voltado tantas vezes nos últimos tempos?
Honestamente, o Porto para mim é único e tem uma vibração poética muito forte. Dediquei uma canção à cidade (“Sim não” no meu disco This Coming Gladness) que fala de algumas experiências fora do vulgar que por lá tive. Parece é que não existe nenhum sítio onde encontrar toranjas, aparentemente.
andregomes@bodyspace.net
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