ENTREVISTAS
Marques Toliver
Ter o mundo como palco
· 03 Set 2013 · 00:03 ·
Quando olha para o seu percurso musical até hoje, qual o passo mais importante que tomou?
Mudar-me para Nova Iorque. Na cidade, tive oportunidade de interagir com músicos muito influentes. Tocar nas ruas da cidade permitiu-me ver o meu talento e capacidades musicais reconhecidos. A minha primeira digressão pela América foi iniciada com o meu tempo em Williamsburg, Brooklyn.
Quando tocava nas ruas de Nova Iorque, alguma vez pensou que isto lhe aconteceria? Que as pessoas realmente prestariam atenção e teria uma carreira musical fora dos Estados Unidos?
Ansiava pelo dia em que teria a possibilidade de tocar as minhas próprias canções e composições. Tocar nas ruas e nos metros de Nova Iorque permitiu-me ensaiar e aperfeiçoar as minhas capacidades enquanto violinista e a escrita de canções. Aprendi a sentir-me confortável a tocar frente a uma audiência completamente indiferente à minha arte e ainda assim conseguir envolver e encantar as pessoas. Isso é algo que levei para os meus concertos em digressões com os Beach House, Lianne La Havas, Vetiver, James Blake, Paloma Faith. Quando subi ao palco para fazer as primeiras partes desses artistas, os fãs deles podiam não conhecer as minhas músicas, mas no final das atuações já me tinha dado a conhecer.
O que o fez sair às ruas para tocar?
Foi uma necessidade, penso eu… A voz é um instrumento e eu gosto do meu instrumento. A necessidade de comer e ter dinheiro para subsistir também foi outro incentivo. Já tinha alguma experiência nas ruas de St. Augustine, na Florida, antes de ir para Nova Iorque. Os turistas receberam-me muito bem e o encorajamento por parte da minha família, colegas e amigos ajudou à determinação que eu já tinha à partida.
Como lida com o facto de ser o novo artista favorito da Adele? Já a conheceu?
Aconteceu tudo muito rápido. Fico muito agradecido por ela ter expressado os seus pensamentos relativamente à minha música. Sim, foi bastante lisonjeiro. Quando me mudei para Nova Iorque, a Adele também estava na cidade para promover o primeiro álbum. Na altura lembro-me de pensar que seria fantástico se nos juntássemos para escrever juntos. Passado uns anos, parece que estou um passo mais perto de um objectivo. Conhecemo-nos no início da minha carreira. Ela veio comigo a uma reunião numa grande editora que expressou interesse em mim quando eu estava em Londres.
Entretanto, já colaborou com artistas como TV On The Radio, Holly Miranda, Bat For Lashes, Grizzly Bear, Paloma Faith… Que coisas aprendeu com eles?
Aprendi o significado de produção. Cada um desses artistas é tão único. Percebi que nem todas as audiências são iguais. Todos esses artistas sabem como oferecer um espectáculo cativante. Dar sempre o melhor de mim foi a lição mais importante que aprendi com eles.
Como surgiu a oportunidade de participar no teledisco de "Laura", de Bat For Lashes?
«Laura» é uma canção comovente, mesmo sem o vídeo. A Bat For Lashes é uma verdadeira artista. Ela sabe o que faz. Quando tocava nas ruas em Nova Iorque, um amigo em comum falou-lhe de mim e depois, quando comecei a passar mais tempo em Brighton, tive finalmente oportunidade de a conhecer pessoalmente num dos meus concertos no The George. A Natasha e eu mantivemo-nos em contacto e tornámo-nos amigos. Ela também participa na minha revista Love Is The Law. Quando chegou o momento de fazer o teledisco de «Laura», simplesmente ligou-me a convidar e eu disse que sim.
Porque decidiu mudar-se para Londres?
A possibilidade de fazer digressões e de me dar a conhecer são o que me faz vir para a Europa neste momento. Foi na Europa que comecei a gravar, a minha equipa de assessoria está centrada na Europa. A Bella Union, editora por quem assinei descobriu-me a tocar debaixo de uma ponte em Brick Lane. O blogue da Adele ajudou a Universal Music Publishing do Reino Unido a saber da minha existência, a assinar contrato e a colocar-me no seu catálogo. Muitos dos meus amigos são ingleses e os meus agentes de concertos também estão baseados em Londres. Neste momento, divido o meu tempo entre Antuérpia, onde o meu management está, Londres, onde está a minha banda, e Nova Iorque, onde tenho de estar de três em três meses por ser o sítio onde comecei.
Como se tornou o violino tão importante para si?
O violino é o meu instrumento principal. Foi a arte que passei mais tempo a aperfeiçoar com lições particulares, recitais (públicos e privados). Comecei a estudar violino aos 10 anos. Fazia parte do currículo da escolar primária Turie T. Small em Daytona Beach. Quando o professor tocou aquele instrumento, fiquei encantado pela voz que dele saía. O violino é como uma segunda voz para mim.
É bastante activo no Facebook. As redes sociais são hoje um barómetro perfeito para os artistas avaliarem a sua carreira?
Tens de estar ligado aos fãs. São eles quem me vai ajudar a concretizar os meus sonhos. As redes sociais têm algum poder, mas não têm todo o poder. Pela minha experiência nesse tipo de sites, percebi que não são um barómetro perfeito mas um simples ponto de referência.
Qual a mensagem que recebeu que mais o deixou orgulhoso da sua música?
A Erykah Badu mandou-me um tweet. Fiquei eufórico, porque foi uma confirmação de que a minha música está a chegar às pessoas e ao mundo, um dia de cada vez. Tenho apenas de me manter concentrado e continuar a andar, mesmo que esteja sozinho. Não vou deixar nunca que alguém tente parar-me, tenho de acompanhar a minha alma.
Num dos seus posts no Facebook, fala de Nelson Mandela. É o seu maior ídolo?
Sinto-me inspirado por muitas pessoas. O Nelson Mandela é seguramente uma delas. O abolicionista Frederick Douglass e os seus escritos inspiraram a temática deste álbum. Os poemas e as prosas de Mya Angelou e James Baldwin deram-me umas bases de inspiração bastante férteis. Estas individualidades conheciam e conhecem bem a face da adversidade e mesmo assim conseguiram vingar. Só me posso sentir agradecido. Presto-lhes homenagem nas minhas canções e a todos os que me abriram o caminho. Nunca teria conseguido fazer isto sozinho.
De onde vem Land of CanAan?
Land of CanAan foi inspirado por Frederick Douglass e a sua autobiografia My Bondage and My Freedom. A história dele é tão incrível que não consegui fugir a abordar temas da sua vida. Ele fala dos escravos a cantar enquanto estão a trabalhar nos campos... Essa canção fez nascer algumas das emoções que eu tentei transmitir quando gravei este trabalho.
É um álbum político?
Se quiser que seja…
Já o compararam a Prince e Stevie Wonder. É um ouvinte eclético? Que músicos o impressionaram mais quando era pequeno?
Ouvia muita música gospel, fui criado com ela. À parte disso, sou fã do r&b dos anos 90. Os Isley Brothers e a Teena Marie estão sempre a tocar no meu computador. A Teena Marie tem uma canção intitulada «Ooo La La La» que inspirou o primeiro single retirado do álbum.
O que quer da música?
Revolução.
Mário Rui VieiraMudar-me para Nova Iorque. Na cidade, tive oportunidade de interagir com músicos muito influentes. Tocar nas ruas da cidade permitiu-me ver o meu talento e capacidades musicais reconhecidos. A minha primeira digressão pela América foi iniciada com o meu tempo em Williamsburg, Brooklyn.
Quando tocava nas ruas de Nova Iorque, alguma vez pensou que isto lhe aconteceria? Que as pessoas realmente prestariam atenção e teria uma carreira musical fora dos Estados Unidos?
Ansiava pelo dia em que teria a possibilidade de tocar as minhas próprias canções e composições. Tocar nas ruas e nos metros de Nova Iorque permitiu-me ensaiar e aperfeiçoar as minhas capacidades enquanto violinista e a escrita de canções. Aprendi a sentir-me confortável a tocar frente a uma audiência completamente indiferente à minha arte e ainda assim conseguir envolver e encantar as pessoas. Isso é algo que levei para os meus concertos em digressões com os Beach House, Lianne La Havas, Vetiver, James Blake, Paloma Faith. Quando subi ao palco para fazer as primeiras partes desses artistas, os fãs deles podiam não conhecer as minhas músicas, mas no final das atuações já me tinha dado a conhecer.
O que o fez sair às ruas para tocar?
Foi uma necessidade, penso eu… A voz é um instrumento e eu gosto do meu instrumento. A necessidade de comer e ter dinheiro para subsistir também foi outro incentivo. Já tinha alguma experiência nas ruas de St. Augustine, na Florida, antes de ir para Nova Iorque. Os turistas receberam-me muito bem e o encorajamento por parte da minha família, colegas e amigos ajudou à determinação que eu já tinha à partida.
Como lida com o facto de ser o novo artista favorito da Adele? Já a conheceu?
Aconteceu tudo muito rápido. Fico muito agradecido por ela ter expressado os seus pensamentos relativamente à minha música. Sim, foi bastante lisonjeiro. Quando me mudei para Nova Iorque, a Adele também estava na cidade para promover o primeiro álbum. Na altura lembro-me de pensar que seria fantástico se nos juntássemos para escrever juntos. Passado uns anos, parece que estou um passo mais perto de um objectivo. Conhecemo-nos no início da minha carreira. Ela veio comigo a uma reunião numa grande editora que expressou interesse em mim quando eu estava em Londres.
Entretanto, já colaborou com artistas como TV On The Radio, Holly Miranda, Bat For Lashes, Grizzly Bear, Paloma Faith… Que coisas aprendeu com eles?
Aprendi o significado de produção. Cada um desses artistas é tão único. Percebi que nem todas as audiências são iguais. Todos esses artistas sabem como oferecer um espectáculo cativante. Dar sempre o melhor de mim foi a lição mais importante que aprendi com eles.
Como surgiu a oportunidade de participar no teledisco de "Laura", de Bat For Lashes?
«Laura» é uma canção comovente, mesmo sem o vídeo. A Bat For Lashes é uma verdadeira artista. Ela sabe o que faz. Quando tocava nas ruas em Nova Iorque, um amigo em comum falou-lhe de mim e depois, quando comecei a passar mais tempo em Brighton, tive finalmente oportunidade de a conhecer pessoalmente num dos meus concertos no The George. A Natasha e eu mantivemo-nos em contacto e tornámo-nos amigos. Ela também participa na minha revista Love Is The Law. Quando chegou o momento de fazer o teledisco de «Laura», simplesmente ligou-me a convidar e eu disse que sim.
Porque decidiu mudar-se para Londres?
A possibilidade de fazer digressões e de me dar a conhecer são o que me faz vir para a Europa neste momento. Foi na Europa que comecei a gravar, a minha equipa de assessoria está centrada na Europa. A Bella Union, editora por quem assinei descobriu-me a tocar debaixo de uma ponte em Brick Lane. O blogue da Adele ajudou a Universal Music Publishing do Reino Unido a saber da minha existência, a assinar contrato e a colocar-me no seu catálogo. Muitos dos meus amigos são ingleses e os meus agentes de concertos também estão baseados em Londres. Neste momento, divido o meu tempo entre Antuérpia, onde o meu management está, Londres, onde está a minha banda, e Nova Iorque, onde tenho de estar de três em três meses por ser o sítio onde comecei.
Como se tornou o violino tão importante para si?
O violino é o meu instrumento principal. Foi a arte que passei mais tempo a aperfeiçoar com lições particulares, recitais (públicos e privados). Comecei a estudar violino aos 10 anos. Fazia parte do currículo da escolar primária Turie T. Small em Daytona Beach. Quando o professor tocou aquele instrumento, fiquei encantado pela voz que dele saía. O violino é como uma segunda voz para mim.
É bastante activo no Facebook. As redes sociais são hoje um barómetro perfeito para os artistas avaliarem a sua carreira?
Tens de estar ligado aos fãs. São eles quem me vai ajudar a concretizar os meus sonhos. As redes sociais têm algum poder, mas não têm todo o poder. Pela minha experiência nesse tipo de sites, percebi que não são um barómetro perfeito mas um simples ponto de referência.
Qual a mensagem que recebeu que mais o deixou orgulhoso da sua música?
A Erykah Badu mandou-me um tweet. Fiquei eufórico, porque foi uma confirmação de que a minha música está a chegar às pessoas e ao mundo, um dia de cada vez. Tenho apenas de me manter concentrado e continuar a andar, mesmo que esteja sozinho. Não vou deixar nunca que alguém tente parar-me, tenho de acompanhar a minha alma.
Num dos seus posts no Facebook, fala de Nelson Mandela. É o seu maior ídolo?
Sinto-me inspirado por muitas pessoas. O Nelson Mandela é seguramente uma delas. O abolicionista Frederick Douglass e os seus escritos inspiraram a temática deste álbum. Os poemas e as prosas de Mya Angelou e James Baldwin deram-me umas bases de inspiração bastante férteis. Estas individualidades conheciam e conhecem bem a face da adversidade e mesmo assim conseguiram vingar. Só me posso sentir agradecido. Presto-lhes homenagem nas minhas canções e a todos os que me abriram o caminho. Nunca teria conseguido fazer isto sozinho.
De onde vem Land of CanAan?
Land of CanAan foi inspirado por Frederick Douglass e a sua autobiografia My Bondage and My Freedom. A história dele é tão incrível que não consegui fugir a abordar temas da sua vida. Ele fala dos escravos a cantar enquanto estão a trabalhar nos campos... Essa canção fez nascer algumas das emoções que eu tentei transmitir quando gravei este trabalho.
É um álbum político?
Se quiser que seja…
Já o compararam a Prince e Stevie Wonder. É um ouvinte eclético? Que músicos o impressionaram mais quando era pequeno?
Ouvia muita música gospel, fui criado com ela. À parte disso, sou fã do r&b dos anos 90. Os Isley Brothers e a Teena Marie estão sempre a tocar no meu computador. A Teena Marie tem uma canção intitulada «Ooo La La La» que inspirou o primeiro single retirado do álbum.
O que quer da música?
Revolução.
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