ENTREVISTAS
Lac La Belle
Sem esquecer as raízes
· 10 Abr 2013 · 22:14 ·
© Garrett MacLean
Os Lac La Belle iniciaram com um repertório de músicas antigas, country e folk, mas depressa se dedicaram aos originais. Alguma razão especial para começarem a compor?
Nick Schillace: Muitas vezes, quando os músicos começam a tocar juntos, quer seja por diversão ou para formar uma banda a sério, é porque há algum tipo de interesse comum num determinado estilo ou género musical. Esse foi o meu caso e o da Jennie. Sendo músicos criativos, rapidamente começamos a compor o nosso próprio material porque o objectivo é sempre esse.
Como se conheceram e como começaram a tocar juntos como LacLaBelle?
N.S.: Eu e a Jennie conhecemo-nos quando tocávamos numa banda de Afrobeat tradicional, cujo vocalista era membro fundador dos Fela Kuti’s Egypt 80.
Jennie Knaggs: Tocámos juntos nessa banda durante meses, antes de descobrirmos que éramos ambos apaixonados pela música tradicional americana. Ouvi o Nick tocar peças dele a solo, na guitarra, e quis mesmo trabalhar com ele.
Têm as mesmas referências e influências musicais? Porquê estes instrumentos tradicionais?
N.S.: Cada um de nós tem as suas bandas favoritas, mas tendemos a gostar do mesmo tipo de música. Em primeiro lugar, sou e sempre fui guitarrista. Em segundo, toco banjo. Contudo recentemente tenho sentido a mesma ligação com os dois instrumentos.
J.K.: Gostamos realmente de música antiga, desde as field recordings à Carter Family, bem como o western sing, e Honkey Tonk, e Ernest Tubbs e Loretta Lynn. Vivemos em Detroit, por isso penso que também temos influências rock and roll. Relativamente aos instrumentos tradicionais, toquei guitarra eléctrica durante anos, mas continuando sempre a tocar com instrumentos acústicos e folk. Acho que isso nunca se perdeu! Foi o meu avô que me cativou para tocar bandolim e acordeão. É triste, nunca o ouvi a tocar. Teve um acidente no ano em que nasci, e daí em diante, só conseguia mover um ou dois dedos. Quando cresci, a minha família disse-me que tinha o ouvido musical dele.
Qual de vocês escreve as letras e qual de vocês compõem? É um processo colectivo?
N.S.: Tendemos a escrever as nossas próprias canções/letras mas colaborámos na música e nos arranjos. Temos estilos de escrita muito diferentes.
J.K.: Temos. É interessante que, mesmo tendo influências semelhantes, enveredamos pelo processo de escrita musical de forma um bocado diferente.Temos uma ou duas canções onde o Nick compôs a melodia e eu acrescentei as vozes e as letras, por exemplo "Autumn Song" e a versão de "New Memories of Oklahoma". Podem ouvir o instrumental do Nick, na gravação a solo Landscape and People.
Lac La Belle significa lago bonito em francês mas também se refere a um lago e a uma pequena comunidade em Michigan. O vosso nome tem alguma coisa a ver?
N.S.: Esta questão tem muito que se lhe diga! Como devem saber ou não, Detroit foi invadido pelos franceses, daí a conexão com a língua francesa. Michigan é também um estado extraordinariamente bonito e é rodeado pela maior reserva de água doce do mundo, com os Grandes Lagos (os nossos lindos lagos). Além disso, Michigan é feito de duas penínsulas separadas, a superior e a inferior. A superior é um local muito especial e mágico para nós, e lá, é onde se localiza a pequena vila de Lac La Belle. Tudo isso fez com que escolhêssemos esses nomes.
Bring on The Lights é o segundo álbum depois do homónimo. O que pensam ter mudado na vossa sonoridade?
N.S.: Bring on The Lights é diferente, até porque gravámos como duo, e não como trio. Esse tipo de mudança no som, alterou a maneira como abordamos tudo. Não usamos overdubs nesta gravação e foi quase tudo gravado ao vivo. Assim, o som é mais cru e mais imediato do que no nosso último disco.
O que encontraram no primeiro disco que usaram no segundo?
J.K.: Eu e o Nick contamos histórias com as nossas canções, e as letras são uma grande parte da composição. Penso que a nossa escrita tem sido bastante consistente entre os dois discos. Contudo, no último, a maior parte das músicas são observacionais; as canções eram mais sobre ideias do que acontecimentos actuais. Bring on The Lights é muito pessoal e as letras descrevem muitas coisas que nos aconteceram directamente, juntos e individualmente.
Ao ouvir a vossa música, imagino uma grande festa nas terras rurais americanas, mas também uma tranquilidade enorme. Nesse sentido, consideram a vossa música dicotómica?
N.S.: Sim. Sempre nos sentimos bem com a habilidade de conseguirmos ser parte do ambiente onde tocamos. Adoramos a música tradicional americana e muita dessa música foi escrita e tocada em festas, danças e convívios. É significativo fazer parte desse tipo de convívio social, não ser sempre o centro das atenções, mas uma parte do acontecimento. Mas também gostamos de tocar em situações intimistas, que também é parte da tradição da nossa música nativa. Tudo o que queremos realmente é ser parte da nossa audiência e partilhar a experiência no momento. Algumas vezes isso significa tornar javardo, e outras vezes significa uma performance mais introspectiva. Para nós, é quase o mesmo, sempre unidos.
Andam sempre com mil instrumentos atrás de vocês, suponho. Pretendem ser fiéis ao disco ou deixam espaço para o improviso?
N.S.: Mil não! Mas por vezes pode parecer. Tentamos continuar flexíveis. Tocar o mesmo todas as noites pode ser aborrecido. Às vezes não queremos tocar anda além das nossas canções, e às vezes não queremos tocar nada que não western swing. Na maioria das vezes, vamos indo e vamos decidindo.
J.K.: Temos alguns sons onde deixam espaço específico para a improvisação. Contudo, de forma frequente, pequenos detalhes das canções mudam em palco, naturalmente. A música quer espaço para respirar e mover. O objectivo é estarmos sintonizados um com o outro e com a audiência. Assim, a canção pode viver naquele exacto momento. Esta a parte excitante de tocar ao vivo.
Preferem concertos grandes ou a cena informal no pub?
N.S.: Ambos… A nossa experiência é determinada pelo ambiente e pela audiência. Gostamos de tocar rápido e alto num pub ou numa festa em casa, mas também gostamos de tocar num registo mais íntimo no teatro. Embora sejam dois tipos de espectáculo diferentes, os nossos sentimentos em relação à performance permanecem.
Diriam que o melhor de cada um de vocês converge neste projecto?
N.S.: Lac La Belle fez-me um músico completo e um cantautor. O grupo, e a Jennie Knaggs, ajudaram-me a realizar sonhos e objectivos que nem sabia que tinha. Portanto, sim. Sou eu no meu melhor, mas o meu melhor é com a Jennie.
J.K.: Trabalhar com o Nick trouxe-me definitivamente para um novo patamar musical. Ensinou-me como focalizar e abordar os meus instrumentos de uma forma inovadora. Trabalhar com ele também me ajudou a perceber como aprendo por mim, e, todos os dias fico mais entusiasmada! Também me ajudou a experienciar esta vida musical e estou-lhe grata para sempre.
O que pensam de Portugal? O que esperam do próximo concerto?
N.S.: Portugal, para mim, é um sítio muito especial. Tive o melhor dia da última vez que visitei Espanha e Portugal. Sinto-me em casa e ligado à cidade do Porto. Não me perguntes porquê... Só sei que sinto! Espero que o nosso concerto seja o melhor que possa ser com as magníficas pessoas que se vão aventurar a ouvir-nos.
J.K.: Concordo. O Porto é mágico! As ruas, o rio, as pessoas... E têm ruínas bonitas que gostamos, como na nossa terra, Detroit. Agora a nossa casa tem muitos galos pequeninos. Esperamos trazer mais do Porto.
Desde que estiveram em Portugal, procuraram inspiração na grande variedade de instrumentos e cânticos tradicionais?
N.S.: Não me ocupo com isso desde a última visita. Sempre soube que Portugal me trouxe quer o ukulele quer a guitarra slide, através do Hawaii. Espero que também saibas.
Alexandra João MartinsNick Schillace: Muitas vezes, quando os músicos começam a tocar juntos, quer seja por diversão ou para formar uma banda a sério, é porque há algum tipo de interesse comum num determinado estilo ou género musical. Esse foi o meu caso e o da Jennie. Sendo músicos criativos, rapidamente começamos a compor o nosso próprio material porque o objectivo é sempre esse.
Como se conheceram e como começaram a tocar juntos como LacLaBelle?
N.S.: Eu e a Jennie conhecemo-nos quando tocávamos numa banda de Afrobeat tradicional, cujo vocalista era membro fundador dos Fela Kuti’s Egypt 80.
Jennie Knaggs: Tocámos juntos nessa banda durante meses, antes de descobrirmos que éramos ambos apaixonados pela música tradicional americana. Ouvi o Nick tocar peças dele a solo, na guitarra, e quis mesmo trabalhar com ele.
Têm as mesmas referências e influências musicais? Porquê estes instrumentos tradicionais?
N.S.: Cada um de nós tem as suas bandas favoritas, mas tendemos a gostar do mesmo tipo de música. Em primeiro lugar, sou e sempre fui guitarrista. Em segundo, toco banjo. Contudo recentemente tenho sentido a mesma ligação com os dois instrumentos.
J.K.: Gostamos realmente de música antiga, desde as field recordings à Carter Family, bem como o western sing, e Honkey Tonk, e Ernest Tubbs e Loretta Lynn. Vivemos em Detroit, por isso penso que também temos influências rock and roll. Relativamente aos instrumentos tradicionais, toquei guitarra eléctrica durante anos, mas continuando sempre a tocar com instrumentos acústicos e folk. Acho que isso nunca se perdeu! Foi o meu avô que me cativou para tocar bandolim e acordeão. É triste, nunca o ouvi a tocar. Teve um acidente no ano em que nasci, e daí em diante, só conseguia mover um ou dois dedos. Quando cresci, a minha família disse-me que tinha o ouvido musical dele.
Qual de vocês escreve as letras e qual de vocês compõem? É um processo colectivo?
N.S.: Tendemos a escrever as nossas próprias canções/letras mas colaborámos na música e nos arranjos. Temos estilos de escrita muito diferentes.
J.K.: Temos. É interessante que, mesmo tendo influências semelhantes, enveredamos pelo processo de escrita musical de forma um bocado diferente.Temos uma ou duas canções onde o Nick compôs a melodia e eu acrescentei as vozes e as letras, por exemplo "Autumn Song" e a versão de "New Memories of Oklahoma". Podem ouvir o instrumental do Nick, na gravação a solo Landscape and People.
Lac La Belle significa lago bonito em francês mas também se refere a um lago e a uma pequena comunidade em Michigan. O vosso nome tem alguma coisa a ver?
N.S.: Esta questão tem muito que se lhe diga! Como devem saber ou não, Detroit foi invadido pelos franceses, daí a conexão com a língua francesa. Michigan é também um estado extraordinariamente bonito e é rodeado pela maior reserva de água doce do mundo, com os Grandes Lagos (os nossos lindos lagos). Além disso, Michigan é feito de duas penínsulas separadas, a superior e a inferior. A superior é um local muito especial e mágico para nós, e lá, é onde se localiza a pequena vila de Lac La Belle. Tudo isso fez com que escolhêssemos esses nomes.
Bring on The Lights é o segundo álbum depois do homónimo. O que pensam ter mudado na vossa sonoridade?
N.S.: Bring on The Lights é diferente, até porque gravámos como duo, e não como trio. Esse tipo de mudança no som, alterou a maneira como abordamos tudo. Não usamos overdubs nesta gravação e foi quase tudo gravado ao vivo. Assim, o som é mais cru e mais imediato do que no nosso último disco.
O que encontraram no primeiro disco que usaram no segundo?
J.K.: Eu e o Nick contamos histórias com as nossas canções, e as letras são uma grande parte da composição. Penso que a nossa escrita tem sido bastante consistente entre os dois discos. Contudo, no último, a maior parte das músicas são observacionais; as canções eram mais sobre ideias do que acontecimentos actuais. Bring on The Lights é muito pessoal e as letras descrevem muitas coisas que nos aconteceram directamente, juntos e individualmente.
Ao ouvir a vossa música, imagino uma grande festa nas terras rurais americanas, mas também uma tranquilidade enorme. Nesse sentido, consideram a vossa música dicotómica?
N.S.: Sim. Sempre nos sentimos bem com a habilidade de conseguirmos ser parte do ambiente onde tocamos. Adoramos a música tradicional americana e muita dessa música foi escrita e tocada em festas, danças e convívios. É significativo fazer parte desse tipo de convívio social, não ser sempre o centro das atenções, mas uma parte do acontecimento. Mas também gostamos de tocar em situações intimistas, que também é parte da tradição da nossa música nativa. Tudo o que queremos realmente é ser parte da nossa audiência e partilhar a experiência no momento. Algumas vezes isso significa tornar javardo, e outras vezes significa uma performance mais introspectiva. Para nós, é quase o mesmo, sempre unidos.
Andam sempre com mil instrumentos atrás de vocês, suponho. Pretendem ser fiéis ao disco ou deixam espaço para o improviso?
N.S.: Mil não! Mas por vezes pode parecer. Tentamos continuar flexíveis. Tocar o mesmo todas as noites pode ser aborrecido. Às vezes não queremos tocar anda além das nossas canções, e às vezes não queremos tocar nada que não western swing. Na maioria das vezes, vamos indo e vamos decidindo.
J.K.: Temos alguns sons onde deixam espaço específico para a improvisação. Contudo, de forma frequente, pequenos detalhes das canções mudam em palco, naturalmente. A música quer espaço para respirar e mover. O objectivo é estarmos sintonizados um com o outro e com a audiência. Assim, a canção pode viver naquele exacto momento. Esta a parte excitante de tocar ao vivo.
Preferem concertos grandes ou a cena informal no pub?
N.S.: Ambos… A nossa experiência é determinada pelo ambiente e pela audiência. Gostamos de tocar rápido e alto num pub ou numa festa em casa, mas também gostamos de tocar num registo mais íntimo no teatro. Embora sejam dois tipos de espectáculo diferentes, os nossos sentimentos em relação à performance permanecem.
Diriam que o melhor de cada um de vocês converge neste projecto?
N.S.: Lac La Belle fez-me um músico completo e um cantautor. O grupo, e a Jennie Knaggs, ajudaram-me a realizar sonhos e objectivos que nem sabia que tinha. Portanto, sim. Sou eu no meu melhor, mas o meu melhor é com a Jennie.
J.K.: Trabalhar com o Nick trouxe-me definitivamente para um novo patamar musical. Ensinou-me como focalizar e abordar os meus instrumentos de uma forma inovadora. Trabalhar com ele também me ajudou a perceber como aprendo por mim, e, todos os dias fico mais entusiasmada! Também me ajudou a experienciar esta vida musical e estou-lhe grata para sempre.
O que pensam de Portugal? O que esperam do próximo concerto?
N.S.: Portugal, para mim, é um sítio muito especial. Tive o melhor dia da última vez que visitei Espanha e Portugal. Sinto-me em casa e ligado à cidade do Porto. Não me perguntes porquê... Só sei que sinto! Espero que o nosso concerto seja o melhor que possa ser com as magníficas pessoas que se vão aventurar a ouvir-nos.
J.K.: Concordo. O Porto é mágico! As ruas, o rio, as pessoas... E têm ruínas bonitas que gostamos, como na nossa terra, Detroit. Agora a nossa casa tem muitos galos pequeninos. Esperamos trazer mais do Porto.
Desde que estiveram em Portugal, procuraram inspiração na grande variedade de instrumentos e cânticos tradicionais?
N.S.: Não me ocupo com isso desde a última visita. Sempre soube que Portugal me trouxe quer o ukulele quer a guitarra slide, através do Hawaii. Espero que também saibas.
alexandrajoaomartins@gmail.com
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