ENTREVISTAS
NACO
El Naco Bueno
· 07 Mar 2013 · 00:46 ·
© Pedro Nascimento
Fazes parte de várias bandas, de géneros dispares até. O que te despertou vontade de iniciar um projecto a solo? Quando se deu o click?
Não vejo NACO como um projecto a solo mas como o resultado de experiências que fiz nos últimos anos. Umas sozinho, outras com amigos. Desde sempre que toquei em contextos de banda, onde a composição é feita por todos, de forma “anarca” e espontânea. Depois comecei a integrar projectos de outros músicos e a interpretar e a executar a música de outras pessoas. Comecei a sentir necessidade de criar um cantinho musical mais pessoal, onde pudesse experimentar e descobrir música minha, com as minhas fantasias, com as minhas vontades e limitações. O click deu-se quando consegui ter um computador e uma placa de som para começar a registar essas coisas que me surgiam.
Começando pelo início… Qual foi a tua primeira experiência com música no geral? E a tocar propriamente?
Lembro-me de um episódio engraçado que a minha mãe me conta. Tinha eu pouco mais de um ano e estava sentado em frente à televisão. Estava a dar um concerto do James Brown, e pelos vistos fiquei colado e maravilhado com aquilo. Sinto que onde comecei de facto a tocar e a procurar foi com a minha primeira banda, os Insert Coin. Tive experiências anteriores com a iniciação de guitarra clássica e com a Orquestra Orff do Porto. Mas foi com os Coin que comecei a tentar pôr cá para fora.
Explica-nos em palavras breves o conceito de NACO. Primeiro surgiu a sigla NACO ou o desígnio por extenso, NuncaAcordoComoOntem?
Não existe nenhum conceito na palavra NACO. Surgiu como brincadeira. Estava num jantar e pedi um naco na pedra, um amigo carismático levantou-se de imediato e começou a cantarolar em tom de gozo “el naco bueno, el naco bueno”. Algumas pessoas próximas alinharam no gozo e começaram a tratar-me por Naco. Quando comecei a gravar ideias no computador, intitulei a pasta onde salvava essas coisas de El Naco Bueno. Depois passou a NACO e daí surgiu o Nunca Acordo Como Ontem.
Apesar de ser um disco composto, interpretado, gravado e produzido por ti, quer no concerto nos Maus Hábitos, quer na Videoteca optaste por te fazer acompanhar. Aliás o teu disco tem vários convidados. Sentes algum tipo de necessidade em partilhar o que fazes ou é uma escolha puramente musical?
Sinto necessidade de partilhar o que vou fazendo e o que vou vivendo. E como tenho a sorte de ter amigos que tocam, cantam, e que vivem a música, convidá-los foi muito natural. Cada pessoa tem uma linguagem e um som. As músicas ganharam outras dimensões com o contributo que cada um deu.
Noutros projectos foste, ou eras, baixista. NACO obrigou-te a pegar em novos instrumentos e a cantar? O teu leque de valências explodiu?
Não sei se o meu leque de valências explodiu... Acho que não. Sinto que não sei tocar muitos dos instrumentos que utilizei nas músicas mas percebi melhor os sons, as funções e as particularidades de cada instrumento. Foi bom vivenciar outras ” visões do jogo”, diferentes da visão de quem toca um baixo. Depois deste processo, nunca mais toquei baixo da mesma forma. Passei a ouvir de outra forma.
A dada altura da apresentação do teu álbum pode ler-se sobre NACO, "um projecto que vive […] do fazer coisas apenas pelo gozo e desafio de as fazer." Pode depreender-se pelo espírito que não houve grande preocupação em levar quatro anos a construir este álbum? Ainda que conste 26 composições…
Não houve essa preocupação. Até porque eu não sentia que estava a gravar um disco. Estava a explorar e a procurar música. Quando percebi que havia algumas coisas que me diziam bastante, senti vontade de as mostrar e de fazer um objeto que me ajudasse a fechar ou a marcar um ciclo na minha vida musical.
Lê-se ainda que o projecto tem uma forte ligação à sétima arte. Se este álbum fosse um filme, qual seria?
[risos] Um filme que apenas existe na minha cabeça e na das pessoas que me são próximas. Uma mistura do que tem sido a minha vida nos últimos anos e das fantasias e sonhos, dos meus desejos imaginários. Já deu para perceber que a vida de cada pessoa dava um filme.
Ainda a nível visual, optaste por fazer acompanhar o disco de um caderno com ilustrações. Essas ilustrações são referentes às músicas? Não consegues dissociar o teu trabalho musical de algum tipo de imagética? Isto é, é bastante "visível"?
Gosto muito de desenhar, e acaba por ser mais uma necessidade minha, mais um veículo de comunicação. As ilustrações não são referentes às músicas que ali estão, mas saem de mim, da mesma forma que as músicas saíram. Estou sempre a tentar ser o que sou. Tive sempre dificuldade ou muito pouco interesse no estudo formal das artes, mas acabo por “estudar” com a prática e com o consumo que vou vivenciando. Gosto quando sinto que a música pinta e que o desenho canta. Nunca tinha pensado se consigo ou não dissociar a música da imagem. No entanto, as músicas que estão neste disco podem soar a pequenas bandas sonoras, a representações de momentos ou sensações. Estou a libertar alguns vídeos, feitos por amigos, que ilustram algumas das músicas. Gostava de ter vídeos para todas as músicas do disco. Se houver alguém interessado, ainda tenho muitas músicas disponíveis...
No que diz respeito a actuações ao vivo, vais continuar a tocar acompanhado ou subirás ao palco sozinho?
Nunca quis formar uma banda para NACO. Já experimentei várias formações e todas elas têm piada. Neste momento estou a ensaiar com um amigo e a tentar perceber se conseguimos tocar aquelas coisas em duo. No entanto, prefiro sentir que a qualquer momento poderá haver uma mudança e convidar mais ou menos gente para ajudar a fazer e refazer música.
Por fim, o que tens em mente a médio prazo?
Espero ter concertos para dar. Estou a ensaiar para isso! Gostava de colaborar com pessoas ligadas ao cinema, ao teatro... E continuar a procurar a minha música e a fazer os meus desenhos.
Alexandra João MartinsNão vejo NACO como um projecto a solo mas como o resultado de experiências que fiz nos últimos anos. Umas sozinho, outras com amigos. Desde sempre que toquei em contextos de banda, onde a composição é feita por todos, de forma “anarca” e espontânea. Depois comecei a integrar projectos de outros músicos e a interpretar e a executar a música de outras pessoas. Comecei a sentir necessidade de criar um cantinho musical mais pessoal, onde pudesse experimentar e descobrir música minha, com as minhas fantasias, com as minhas vontades e limitações. O click deu-se quando consegui ter um computador e uma placa de som para começar a registar essas coisas que me surgiam.
Começando pelo início… Qual foi a tua primeira experiência com música no geral? E a tocar propriamente?
Lembro-me de um episódio engraçado que a minha mãe me conta. Tinha eu pouco mais de um ano e estava sentado em frente à televisão. Estava a dar um concerto do James Brown, e pelos vistos fiquei colado e maravilhado com aquilo. Sinto que onde comecei de facto a tocar e a procurar foi com a minha primeira banda, os Insert Coin. Tive experiências anteriores com a iniciação de guitarra clássica e com a Orquestra Orff do Porto. Mas foi com os Coin que comecei a tentar pôr cá para fora.
Boneco e instrumentos moldados por Frederico, foto de Matilde Ramos
Explica-nos em palavras breves o conceito de NACO. Primeiro surgiu a sigla NACO ou o desígnio por extenso, NuncaAcordoComoOntem?
Não existe nenhum conceito na palavra NACO. Surgiu como brincadeira. Estava num jantar e pedi um naco na pedra, um amigo carismático levantou-se de imediato e começou a cantarolar em tom de gozo “el naco bueno, el naco bueno”. Algumas pessoas próximas alinharam no gozo e começaram a tratar-me por Naco. Quando comecei a gravar ideias no computador, intitulei a pasta onde salvava essas coisas de El Naco Bueno. Depois passou a NACO e daí surgiu o Nunca Acordo Como Ontem.
Apesar de ser um disco composto, interpretado, gravado e produzido por ti, quer no concerto nos Maus Hábitos, quer na Videoteca optaste por te fazer acompanhar. Aliás o teu disco tem vários convidados. Sentes algum tipo de necessidade em partilhar o que fazes ou é uma escolha puramente musical?
Sinto necessidade de partilhar o que vou fazendo e o que vou vivendo. E como tenho a sorte de ter amigos que tocam, cantam, e que vivem a música, convidá-los foi muito natural. Cada pessoa tem uma linguagem e um som. As músicas ganharam outras dimensões com o contributo que cada um deu.
Noutros projectos foste, ou eras, baixista. NACO obrigou-te a pegar em novos instrumentos e a cantar? O teu leque de valências explodiu?
Não sei se o meu leque de valências explodiu... Acho que não. Sinto que não sei tocar muitos dos instrumentos que utilizei nas músicas mas percebi melhor os sons, as funções e as particularidades de cada instrumento. Foi bom vivenciar outras ” visões do jogo”, diferentes da visão de quem toca um baixo. Depois deste processo, nunca mais toquei baixo da mesma forma. Passei a ouvir de outra forma.
A dada altura da apresentação do teu álbum pode ler-se sobre NACO, "um projecto que vive […] do fazer coisas apenas pelo gozo e desafio de as fazer." Pode depreender-se pelo espírito que não houve grande preocupação em levar quatro anos a construir este álbum? Ainda que conste 26 composições…
Não houve essa preocupação. Até porque eu não sentia que estava a gravar um disco. Estava a explorar e a procurar música. Quando percebi que havia algumas coisas que me diziam bastante, senti vontade de as mostrar e de fazer um objeto que me ajudasse a fechar ou a marcar um ciclo na minha vida musical.
Pedro Nascimento
Lê-se ainda que o projecto tem uma forte ligação à sétima arte. Se este álbum fosse um filme, qual seria?
[risos] Um filme que apenas existe na minha cabeça e na das pessoas que me são próximas. Uma mistura do que tem sido a minha vida nos últimos anos e das fantasias e sonhos, dos meus desejos imaginários. Já deu para perceber que a vida de cada pessoa dava um filme.
Ainda a nível visual, optaste por fazer acompanhar o disco de um caderno com ilustrações. Essas ilustrações são referentes às músicas? Não consegues dissociar o teu trabalho musical de algum tipo de imagética? Isto é, é bastante "visível"?
Gosto muito de desenhar, e acaba por ser mais uma necessidade minha, mais um veículo de comunicação. As ilustrações não são referentes às músicas que ali estão, mas saem de mim, da mesma forma que as músicas saíram. Estou sempre a tentar ser o que sou. Tive sempre dificuldade ou muito pouco interesse no estudo formal das artes, mas acabo por “estudar” com a prática e com o consumo que vou vivenciando. Gosto quando sinto que a música pinta e que o desenho canta. Nunca tinha pensado se consigo ou não dissociar a música da imagem. No entanto, as músicas que estão neste disco podem soar a pequenas bandas sonoras, a representações de momentos ou sensações. Estou a libertar alguns vídeos, feitos por amigos, que ilustram algumas das músicas. Gostava de ter vídeos para todas as músicas do disco. Se houver alguém interessado, ainda tenho muitas músicas disponíveis...
No que diz respeito a actuações ao vivo, vais continuar a tocar acompanhado ou subirás ao palco sozinho?
Nunca quis formar uma banda para NACO. Já experimentei várias formações e todas elas têm piada. Neste momento estou a ensaiar com um amigo e a tentar perceber se conseguimos tocar aquelas coisas em duo. No entanto, prefiro sentir que a qualquer momento poderá haver uma mudança e convidar mais ou menos gente para ajudar a fazer e refazer música.
Por fim, o que tens em mente a médio prazo?
Espero ter concertos para dar. Estou a ensaiar para isso! Gostava de colaborar com pessoas ligadas ao cinema, ao teatro... E continuar a procurar a minha música e a fazer os meus desenhos.
alexandrajoaomartins@gmail.com
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