ENTREVISTAS
Led Bib
Amplitude
· 27 Jul 2012 · 19:16 ·
Como nasceu a banda?
A banda começou como um projecto do meu mestrado na Middlesex University, em Londres. O meu projecto era compor e tocar música com um grupo formado para essa ocasião. Todos os músicos da banda estavam ligados a Middlesex, alguns deles ainda estudavam, outros já tinham acabado o curso. No início a formação era completamente diferente, eu fui o único membro desse grupo original que continuou. Passámos por várias mudanças, vários músicos, até à altura em que gravámos o nosso primeiro álbum, em 2005. Percebi que tinha encontrado o grupo de pessoas ideal e temos estado juntos desde então.
A vossa música combina uma estrutura jazz com espírito rock. Como alcançaram o vosso som?
Tem sido um processo muito natural e orgânico. Desde o início da banda que tentei alcançar algo que expressasse as várias coisas com as quais mais me identificava. Na altura eu estava interessado numa música mais improvisada, mas também adorava as coisas que o John Zorn andava a fazer. Com o passar do tempo a banda evoluiu e absorveu as influências de todos os membros da banda. Provavelmente, este trabalho da banda também fez com os nossos interesses individuais se tivessem alterado... Neste momento sentimos que somos uma banda mais unida, cujo som é o resultado dos contributos que cada pessoa acrescenta.
Como descreveriam a vossa música, para quem não vos conheça?
Essa é uma questão complicada... Eu costumo chamar “jazz”, mas já percebi que isso chateia algumas pessoas que tocam um jazz mais tradicional, bem como pode afastar outras pessoas... Tenho pena que a maior parte das pessoas não entenda o jazz como a música ampla como eu acho que é. Por algum motivo, as pessoas acham que o rock é um universo muito lato, porque engloba músicos como Frank Zappa, Pink Floyd, Nickelback, Velvet Underground, Kasabian, The Monkees, etc. Mas para mim o jazz é igualmente amplo, com músicos como Tim Berne, Charlie Parker, Louis Armstrong, Albert Ayler, etc. Mas trata-se apenas um nome, certo? De uma forma geral, diria que a nossa música é improvisada, pegando em referências de diversos géneros.
Poderia indicar algumas dessa referências?
No início eu guiava-me por músicos como John Zorn, Ornette Coleman e Tim Berne, mas há medida que os anos passam algo tem mudado... Não só pelo facto de eu pensar actualmente de forma diferente, mas também cada membro do grupo tem sido fundamental para o nosso som e esse som é o resultado das referências ndividuais. Hoje em dia não diria que a ligação com a cena da “downtown” novaiorquina dos anos ´80 e ´90 seja tão clara e julgo que conseguimos alcançar um som próprio – mas isso é algo que o ouvinte é que tem de decidir.
O vosso álbum “Sensible Shoes” foi nomeado para o prémio Mercury Prize de 2009. Foi uma surpresa?Foi um momento importante para mostrar a vossa música a mais pessoas?
Sim, foi uma grande surpresa. Tem sido habitual aparecer um álbum de jazz na lista dos melhores discos do ano, mas acho que nunca tinha sido nomeado um álbum tão “fora”, por isso quando nos escolheram foi uma surpresa. Não estou a dizer que acho que os Led Bib são muito “fora”, mas se compararmos com bandas como Florence and The Machine provavelmente sim. E sim, foi um momento muito importante para conseguirmos chegar a novos públicos. Naturalmente a nomeação é muito prestigiante, mas ter a oportunidade de tocar na televisão foi uma oportunidade muito boa, porque chegou a pessoas que, por exemplo, não ligariam o rádio numa estação de jazz.
Concorda que actualmente existe uma “cena londrina”, com bandas que combinam jazz e o rock, como a vossa banda, Acoustic Ladyland, Polar Bear e World Service Project? Existe alguma ligação entre as bandas ou trata-se de uma coincidência?
É uma questão difícil... Do lado de fora diria que sim, mas não tenho a certeza que haja uma ligação. É óbvio que os Polar Bear e os Acoustic Ladyland partilham alguns músicos e estão naturalmente ligados,
e os Led Bib começaram a tocar sensivelmente na mesma altura que eles e andávamos a ouvir aquilo que os outros faziam. Penso também que o entusiasmo da imprensa ajudou ao nascimento dessa noção de “cena”, o que por sua vez fez com que alguns jovens músicos tivessem optado por seguir o seu próprio caminho, em vez de tocar simplesmente “standards”. E consequentemente hoje existirão várias bandas novas a tocar um som mais “londrino”, vários músicos a colaborar... Mas nós, como Led Bib, temos trabalhado à parte desse mundo... talvez sejamos anti-sociais...
E de uma forma mais lata, existirá uma diferença entre o jazz britânico e o jazz continental?
Penso que estamos num momento de mudança. Quando aqui cheguei, no ano 2000, vindo dos Estados Unidos, existia uma cena de música improvisada sólida e uma cena de jazz moderno, que existiam de forma bem separada. Nesta altura os músicos mais jovens estão a começar a tocar com os improvisadores e nota-se um maior cruzamento de estéticas. O principal problema da actualidade é o dinheiro (ou a falta dele), o que imagino que aconteça também em muitos outros sítios. Quando começámos existiam muitos sítios para tocar, que pagavam bem e nos permitiam fazer grandes tours pelo Reino Unido. Nesta altura estamos numa posição priveligiada, somos bem conhecidos e podemos continuar a fazer isso, mas para os músicos mais novos é muito complicado, porque é aí que a música se desenvolve. Neste momento estão a surgir imensas bandas na Escandinávia e, apesar de não estar por dentro dos pormenores, imagino que um dos motivos seja o financiamento às artes, uma vez que as pessoas têm mais possibilidades de desenvolver a música se não estiverem preocupadas com o pagamento da renda.
Concordam que os Led Bib fazem uma música “jazz para quem não gosta de jazz”?
Mais uma vez é uma questão difícil de responder, porque penso que tudo depende do quão ampla é a definição de jazz para cada um. Para mim, é jazz para pessoas que gostam de “groove” e electrónica, improvisação e muitas outras coisas. Aquilo que nos interessa é chegar às pessoas que gostam de música, independentemente das classificações, de géneros, etc. Essas pessoas andam por aí, temos de conseguir chegar até elas!
O vosso disco mais recente é “Bring Your Own”. Sente que estão agora muito diferentes da altura em que começaram a tocar?
Sim, penso que a banda mudou um bocado ao longo dos anos. Não tem sido uma mudança muito significativa, mas tem acontecido de forma gradual, por isso se formos ouvindo os discos pela ordem de gravação provavelmente fará sentido, mas se ouvirmos o primeiro discos e logo de seguida o último sente-se um choque maior. Estamos agora a tocar a música do disco ao vivo, por isso provavelmente esta música também vai evoluir.
Preferem o estúdio ou tocar ao vivo?
Ao vivo. O estúdio é sempre um desafio para a nossa banda. É muito difícil conseguirmos alcançar em estúdio a energia que queremos e soar de forma natural. Apesar de estar muito satisfeito com os discos que temos gravado, assumo que somos uma banda “live” e é esse o nosso território natural.
Vão tocar pela primeira vez em Portugal. Conhecem alguma coisa do jazz em Portugal?
É claro que tenho acompanhado a fantástica editora Clean Feed, mas de resto não conheço muita coisa - apesar de já ter tocado com músicos portugueses aqui em Londres. Estou curioso para conhecer mais coisas.
Quais são as vossas expectativas para o concerto no festival Jazz em Agosto?
Tenho ouvido maravilhas do festival e estamos ansiosos para tocar. Vai ser o nosso último festival de verão, temos muitas coisas novas e estamos com muita vontade de tocar.
Nuno CatarinoA banda começou como um projecto do meu mestrado na Middlesex University, em Londres. O meu projecto era compor e tocar música com um grupo formado para essa ocasião. Todos os músicos da banda estavam ligados a Middlesex, alguns deles ainda estudavam, outros já tinham acabado o curso. No início a formação era completamente diferente, eu fui o único membro desse grupo original que continuou. Passámos por várias mudanças, vários músicos, até à altura em que gravámos o nosso primeiro álbum, em 2005. Percebi que tinha encontrado o grupo de pessoas ideal e temos estado juntos desde então.
A vossa música combina uma estrutura jazz com espírito rock. Como alcançaram o vosso som?
Tem sido um processo muito natural e orgânico. Desde o início da banda que tentei alcançar algo que expressasse as várias coisas com as quais mais me identificava. Na altura eu estava interessado numa música mais improvisada, mas também adorava as coisas que o John Zorn andava a fazer. Com o passar do tempo a banda evoluiu e absorveu as influências de todos os membros da banda. Provavelmente, este trabalho da banda também fez com os nossos interesses individuais se tivessem alterado... Neste momento sentimos que somos uma banda mais unida, cujo som é o resultado dos contributos que cada pessoa acrescenta.
Como descreveriam a vossa música, para quem não vos conheça?
Essa é uma questão complicada... Eu costumo chamar “jazz”, mas já percebi que isso chateia algumas pessoas que tocam um jazz mais tradicional, bem como pode afastar outras pessoas... Tenho pena que a maior parte das pessoas não entenda o jazz como a música ampla como eu acho que é. Por algum motivo, as pessoas acham que o rock é um universo muito lato, porque engloba músicos como Frank Zappa, Pink Floyd, Nickelback, Velvet Underground, Kasabian, The Monkees, etc. Mas para mim o jazz é igualmente amplo, com músicos como Tim Berne, Charlie Parker, Louis Armstrong, Albert Ayler, etc. Mas trata-se apenas um nome, certo? De uma forma geral, diria que a nossa música é improvisada, pegando em referências de diversos géneros.
Poderia indicar algumas dessa referências?
No início eu guiava-me por músicos como John Zorn, Ornette Coleman e Tim Berne, mas há medida que os anos passam algo tem mudado... Não só pelo facto de eu pensar actualmente de forma diferente, mas também cada membro do grupo tem sido fundamental para o nosso som e esse som é o resultado das referências ndividuais. Hoje em dia não diria que a ligação com a cena da “downtown” novaiorquina dos anos ´80 e ´90 seja tão clara e julgo que conseguimos alcançar um som próprio – mas isso é algo que o ouvinte é que tem de decidir.
O vosso álbum “Sensible Shoes” foi nomeado para o prémio Mercury Prize de 2009. Foi uma surpresa?Foi um momento importante para mostrar a vossa música a mais pessoas?
Sim, foi uma grande surpresa. Tem sido habitual aparecer um álbum de jazz na lista dos melhores discos do ano, mas acho que nunca tinha sido nomeado um álbum tão “fora”, por isso quando nos escolheram foi uma surpresa. Não estou a dizer que acho que os Led Bib são muito “fora”, mas se compararmos com bandas como Florence and The Machine provavelmente sim. E sim, foi um momento muito importante para conseguirmos chegar a novos públicos. Naturalmente a nomeação é muito prestigiante, mas ter a oportunidade de tocar na televisão foi uma oportunidade muito boa, porque chegou a pessoas que, por exemplo, não ligariam o rádio numa estação de jazz.
Concorda que actualmente existe uma “cena londrina”, com bandas que combinam jazz e o rock, como a vossa banda, Acoustic Ladyland, Polar Bear e World Service Project? Existe alguma ligação entre as bandas ou trata-se de uma coincidência?
É uma questão difícil... Do lado de fora diria que sim, mas não tenho a certeza que haja uma ligação. É óbvio que os Polar Bear e os Acoustic Ladyland partilham alguns músicos e estão naturalmente ligados,
e os Led Bib começaram a tocar sensivelmente na mesma altura que eles e andávamos a ouvir aquilo que os outros faziam. Penso também que o entusiasmo da imprensa ajudou ao nascimento dessa noção de “cena”, o que por sua vez fez com que alguns jovens músicos tivessem optado por seguir o seu próprio caminho, em vez de tocar simplesmente “standards”. E consequentemente hoje existirão várias bandas novas a tocar um som mais “londrino”, vários músicos a colaborar... Mas nós, como Led Bib, temos trabalhado à parte desse mundo... talvez sejamos anti-sociais...
E de uma forma mais lata, existirá uma diferença entre o jazz britânico e o jazz continental?
Penso que estamos num momento de mudança. Quando aqui cheguei, no ano 2000, vindo dos Estados Unidos, existia uma cena de música improvisada sólida e uma cena de jazz moderno, que existiam de forma bem separada. Nesta altura os músicos mais jovens estão a começar a tocar com os improvisadores e nota-se um maior cruzamento de estéticas. O principal problema da actualidade é o dinheiro (ou a falta dele), o que imagino que aconteça também em muitos outros sítios. Quando começámos existiam muitos sítios para tocar, que pagavam bem e nos permitiam fazer grandes tours pelo Reino Unido. Nesta altura estamos numa posição priveligiada, somos bem conhecidos e podemos continuar a fazer isso, mas para os músicos mais novos é muito complicado, porque é aí que a música se desenvolve. Neste momento estão a surgir imensas bandas na Escandinávia e, apesar de não estar por dentro dos pormenores, imagino que um dos motivos seja o financiamento às artes, uma vez que as pessoas têm mais possibilidades de desenvolver a música se não estiverem preocupadas com o pagamento da renda.
Concordam que os Led Bib fazem uma música “jazz para quem não gosta de jazz”?
Mais uma vez é uma questão difícil de responder, porque penso que tudo depende do quão ampla é a definição de jazz para cada um. Para mim, é jazz para pessoas que gostam de “groove” e electrónica, improvisação e muitas outras coisas. Aquilo que nos interessa é chegar às pessoas que gostam de música, independentemente das classificações, de géneros, etc. Essas pessoas andam por aí, temos de conseguir chegar até elas!
O vosso disco mais recente é “Bring Your Own”. Sente que estão agora muito diferentes da altura em que começaram a tocar?
Sim, penso que a banda mudou um bocado ao longo dos anos. Não tem sido uma mudança muito significativa, mas tem acontecido de forma gradual, por isso se formos ouvindo os discos pela ordem de gravação provavelmente fará sentido, mas se ouvirmos o primeiro discos e logo de seguida o último sente-se um choque maior. Estamos agora a tocar a música do disco ao vivo, por isso provavelmente esta música também vai evoluir.
Preferem o estúdio ou tocar ao vivo?
Ao vivo. O estúdio é sempre um desafio para a nossa banda. É muito difícil conseguirmos alcançar em estúdio a energia que queremos e soar de forma natural. Apesar de estar muito satisfeito com os discos que temos gravado, assumo que somos uma banda “live” e é esse o nosso território natural.
Vão tocar pela primeira vez em Portugal. Conhecem alguma coisa do jazz em Portugal?
É claro que tenho acompanhado a fantástica editora Clean Feed, mas de resto não conheço muita coisa - apesar de já ter tocado com músicos portugueses aqui em Londres. Estou curioso para conhecer mais coisas.
Quais são as vossas expectativas para o concerto no festival Jazz em Agosto?
Tenho ouvido maravilhas do festival e estamos ansiosos para tocar. Vai ser o nosso último festival de verão, temos muitas coisas novas e estamos com muita vontade de tocar.
nunocatarino@gmail.com
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