Assim como quem não quis a coisa, os Throes, juntamente com os The Shine, decidiram meter toda a gente a abanar o cu, o rabo, o pandeiro, as nádegas, aquilo que lhe queiram chamar. Rockuduro, rótulo e título, revelou-se uma surpresa agradável em 2011, quando tocaram no Milhões de Festa pela primeira vez, e em 2012, quando editaram o disco pela Lovers & Lollypops. Se é verdade que este assumir de identidade se pode revelar algo forçado e gerar alguns problemas no futuro – isto é, no dia em que fugirem ao rockuduro já ninguém quererá saber –, por agora o que nos interessa é o presente: e o presente obriga abandonar o corpo e a anca e a alma. Ao Bodyspace este supergrupo conta-nos como foi chegar até aqui e o que nos pode reservar esta infecção daqui a tempos.

© Luísa Cativo

Pergunta da praxe, claro: como e quando olharam uns para os outros e pensaram “hey, devíamos fazer umas canções juntos”?

Diron: Teve tudo início no Festival Naice, no Plano B, os The shine estavam a ver o concerto de Throes, e lembraram-se que poderiam ser as pessoas certas para realizar uma ideia que já tinham há algum tempo, que consistia em unir ritmos de Kuduro com melodias rock. Surgiu assim a ideia de se fazer uma participação que logo se desenvolveu e deu à vida um projecto com pés e cabeça.

Considerando que o concerto no Milhões de estaF de 2011 e os lançamentos de “Batida” e de “Se Tá Kuiar” foram imediatamente bem recebidos e elogiados, foi difícil chegar até este disco? Esta resposta do público deu-vos mais força para continuar a colaboração?

Igor Domingues: Não foi difícil, mas como disseste houve logo um feedback muito positivo por parte do público, e quando isso acontece a expectativa por parte do público fica alta, o que nos deu ainda mais vontade de fazer isto como deve ser. Chegamos até este disco facilmente, estávamos bastante motivados para o fazer, e queríamos realmente ver tudo isto a acontecer e para além disso nós felizmente tivemos sempre os nossos amigos, e o pessoal que nos apoia do nosso lado. Ora, o feed do público manteve-nos firmes para seguir em frente e fazer aquilo que gostamos, com bom gosto e com o intuito de fazermos algo que nos orgulhe.

Quando o gravaram procuraram transportar para o disco a energia e selvajaria dos vossos concertos ao vivo, ou, no estúdio, pensaram as canções de forma diferente? Rockuduro é um disco de pleno direito ou age mais como um cartão de apresentação?

Diron: É importante para nós, vermos as pessoas alegres, felizes e cheias de energia por isso quisemos transpor ao máximo toda essa energia em disco, é óbvio que os nossos concertos também vivem muito da performance em palco, e isso não tínhamos como passar para o disco, e talvez por isso acabe por funcionar também como um cartão de apresentação. Por outro lado nós gostamos de considerar o Rockuduro o nosso filho, e como tal é um disco de pleno direito, pois, foi necessário muito esforço e dedicação para chegarmos até a ele.

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Consideram que de alguma forma esta popularidade se deve ao “exotismo” do projecto, visto que não só cruzam o rock com kuduro – o que é uma novidade -, como são para todos os efeitos uma banda de kuduro do Porto – e a cena concentra-se quase exclusivamente em Lisboa?

Igor Domingues: Sim, pensamos que tem funcionado tão bem por ser o cruzamento de dois estilos musicais tão díspares e por ser algo que ainda não tinha sido feito, acho que também ajuda bastante o exotismo e a selvajaria a que o projecto está associado. Para sermos sinceros, não achamos que ser do Porto traga alguma vantagem ou desvantagem, é indiscutível que em Lisboa existem mais bandas de kuduro, mas sempre que lá vamos somos bem recebidos, por isso não acho que faça uma grande diferença.

O que mais vos impressionou até agora, neste trajecto?

Diron: Tivemos dois concertos que por razões diferentes nos deixaram mais impressionados, um deles foi o de Bordéus em que ninguém nos conhecia e por volta da terceira música do concerto já tínhamos o público rendido. Outro foi o concerto de Serralves [em Festa] em que tivemos a oportunidade de ver e saber que a nossa banda não é apenas para jovens do kuduro ou do rock, é para todo tipo de pessoas. Em serralves vimos todo tipo de pessoas a dançar, cantar e encantar com o rockuduro, isso impressionou-nos bastante.

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O que reserva o futuro imediato a nível de concertos? Depois do espectáculo em França tencionam voltar rapidamente lá fora, há planos nesse sentido?

Igor Domingues: Em relação a concertos só podem esperar concertos cada vez mais enérgicos e cada vez melhores. Gostamos bastante da experiência de tocar lá fora, até porque tivemos uma recepção bastante calorosa, mas gostávamos de em primeiro lugar criar uma base sólida cá em Portugal de pessoas que apareçam frequentemente nos concertos e que apoiem a banda, e depois sim, pensamos em internacionalizar o projecto. Como qualquer artista que faz um trabalho, espera e ou, deseja tornar-se internacional, no nosso caso é a mesma coisa, desejamos tornar a nossa banda, o rockuduro internacional, queremos mostrar os nossos trabalhos ao mundo fora, desde já não há plano, mas, temos vindo a trabalhar para isso.

Temem que o rótulo rockuduro se vos cole demasiado? Isto é, que haja reacções adversas se um dia decidirem experimentar um pouco mais com a vossa música?

7- Igor Domingues: Não, até porque apesar de o álbum se chamar Rockuduro apresenta outras sonoridades que vão além do kuduro e do rock, também tem algumas misturas de electrónica por exemplo. Por outro lado também achamos que como músicos devemos fazer aquilo que queremos a nível criativo, sem ligar a opiniões que venham de fora da banda.