ENTREVISTAS
Dom
Música mundo
· 19 Jun 2012 · 23:15 ·
Vamos começar pelo princípio. Como é que entra o violoncelo na tua vida?
Eu comecei a estudar música muito pequena, com cinco anos. Primeiro estudei piano, e logo comecei a estudar violoncelo com oito anos de idade no Brasil, em Porto Alegre. Escolhi o violoncelo um pouco por acaso. Obviamente gostava muito do instrumento, mas foi principalmente porque em uma viajem com a Escola de Música onde eu estudava, conheci o professor de violoncelo e adorei ele... Então decidi que queria estudar violoncelo com ele! Depois me mudei com minha família para Paris, e aqui com dez anos resolvi que queria ser violoncelista.
O que ouvimos de ti hoje em dia é o cruzamento da música erudita e da música pop? Como nasce a vontade de fundir as duas realidades?
De alguma maneira, sim, podemos dizer que é um cruzamento entre as duas. Acho que é um cruzamento de vários géneros musicais no qual eu cresci, o da música popular brasileira, francesa e argentina, da música clássica e da musica chamada "pop". Mas na hora de compor não penso nisso nem um pouco... Acho que as influências para mim são totalmente inconscientes na hora de compor. Nunca penso "vou fazer uma musica que nem tal outra"...
Achas que podes chocar quem confiava que tivesses uma carreira de solista na música erudita ou um lugar numa orquestra?
Provavelmente sim, mas não é algo no qual pense muito.
Tens o teu disco de estreia a ser editado em breve. O que é que nos podes contar acerca dele?
O disco já está pronto! É um disco que foi feito de uma maneira muito natural. A maioria das músicas dele foram escritas há quase dois anos, e comecei a gravá-las há um ano atrás. Primeiro tive a oportunidade de começar a gravá-las em estúdio, de maneira convencional, mas não me senti confortável. Apesar de já estar acostumada com o funcionamento das gravações em estúdio como violoncelista para outros artistas, desta vez não estava nada à vontade com este processo. Então parei e logo depois o Piers Faccini, com quem já havia trabalhado em outras ocasiões, me propôs gravar no seu "home-studio", na casa dele no sul da França (les Cévennes). Apartir dai tudo foi feito de uma maneira totalmente fluida... A casa dele fica em um lugar absolutamente mágico, no meio das montanhas, de uma calma impressionante, não há melhor âmbito para a concentração! E aí fui convidando alguns amigos para fazer participações pontuais... Acabo de assinar um contrato com uma gravadora americana chamada Six Degrees Records (a gravadora da Céu, Piers Faccini, Vieux Farka Touré, Bebel Gilberto, Curumim, Cibelle...) e agora estamos planejando o lançamento. Ainda não decidimos se vai ser lançado fim de 2012 ou início de 2013, mas estamos nos preparativos!
Imagino que o Piers Faccini tenha tido um papel primordial neste disco. Como foi trabalhar com ele?
O papel do Piers foi fundamental neste disco. Quando eu fui trabalhar no estúdio dele a ideia inicial não era de trabalharmos juntos... É claro que eu morria de vontade de propor a ele de participar do disco, já que era absolutamente fanática pelo seu trabalho, mas não sabia direito o que fazer. Além disso, como não havia gravadora (e nenhum dinheiro) envolvido, não me atrevia muito a pedir a ele... A primeira etapa da gravação foi de aproximadamente uma semana. Nos primeiros dias o Piers estava lá, e passava de vez em quando para escutar e ver se eu estaria precisando de alguma ajuda técnica... Foi assim que ele descobriu as musicas. Ele adorou, e sem que eu tivesse que pedir nada ele propôs de colocar algumas vozes, algumas guitarras, fazer alguns arranjos. Então eu gravei todas as bases durante esta semana, e logo deixei a ele os arquivos, mas sem nenhuma pauta, queria deixar ele com toda a liberdade e ver o que ele ia propor! Logo eu fui para São Paulo durante um mês, e aos poucos o Piers foi me mandando o que fazia... Foi um período muito excitante, eu gostava do fato de estar longe e receber essas pequenas surpresas cada tanto, e cada musica que ele mandava eu ficava perplexa pois o que ele fazia nelas era sempre de uma perfeição absoluta... Não teve praticamente nada que tenhamos tirado no final! Enfim, a gente se empolgou e finalmente produzimos o disco juntos. Isso para mim foi uma sorte enorme , um privilégio e é algo do qual me orgulho muito. Ele acompanhou e acompanha até hoje absolutamente todos os processos, seja a mistura ou as negociações com as gravadoras, os arranjos no palco, os shows, etc.
Que papel tem cada um dos outros convidados deste disco?
O disco conta com três outros convidados muito especiais: a cantora francesa Camille, e os paulistanos Thiago Pethit e Kiko Dinucci. A Camille foi alguém que também me ajudou muitíssimo neste disco. Ela acompanhou todas as etapas, desde as versões "demos" caseiras, até a versão final, e sempre me "encorajou" e me apoiou muito, o que também foi super importante para mim. Ela mesma se propôs de participar do disco, e foi tudo muito simples... Uma noite na casa dela, com meu computador e um microfone! O Thiago Pethit canta uma musica comigo, também. Quando fui a São Paulo o ano passado era minha primeira vez lá, e não conhecia absolutamente ninguém! Um amigo meu, o cineasta Vincent Moon, acabava de passar um tempo lá, e tinha me dado uma lista enorme de gente e músicos para entrar em contacto. Então ouvi a musica do Thiago e logo me encantei, achei nossos "mundos" muitos parecidos. Nos encontramos, ficamos bons amigos, tocamos juntos (eu acompanhei ele em um programa de televisão), e descobrimos varias coisas em comum. Uma delas era que tínhamos morado os dois em Buenos Aires, na mesma época, e na mesma rua! Então propus a ele que fizéssemos juntos uma musica minha que se chama "Buenos Aires". O Kiko Dinucci foi outro encontro pelo Vincent Moon... Ele me disse "o melhor músico que encontrei em São Paulo foi o Kiko Dinucci, você tem que conhecer a musica dele!". Entrei em contacto com o Kiko, marcámos um show juntos sem mesmo nos encontrar (antes de eu ir para São Paulo), e também muito rapidamente viramos grandes amigos. Sempre que vou a São Paulo tocamos juntos, ele é um músico absolutamente incrível, um dos melhores que conheci... Eu piro com a musica dele! Eu tinha uma musica na qual queria por percussões e perguntei a ele se ele podia me indicar bons percussionistas em São Paulo... E ele disse "deixa comigo!". Então, como com o Piers, deixei a ele a musica, e ele me mandou um tempo depois, quando eu já estava em Paris, um arranjo fantástico, que ele e um percussionista excelente Guilherme Kastrup fizeram! Eles tocaram caxixis, cocos, berimbau...tudo com uma delicadeza incrível!
Hoje em dia vives em Paris. Deixaste já que a música francesa influenciasse a tua música?
Sim, com certeza... Ouço muita musica francesa Barbara, Françoise Hardy, Gainsbourg, Jeanne Moreau, Moustaki, e coisas mais atuais como a Camille, por exemplo.
Tens saudades do Brasil? Como é para ti viver na Europa?
Muitas saudades! Da família, dos amigos, das cidades, da musica, de tudo... Mas ao mesmo tempo a vida aqui não pára, e é uma sorte enorme poder trabalhar com musica nessa cidade!
Como foi colaborar com a Jane Birkin em tão tenra idade? O que aprendeste com ela que guardes até hoje?
Acompanhar a Jane Birkin durante quase dois anos, foi uma experiência fantástica. Me considero muito sortuda e privilegiada de poder ter participado nessa digressão, com a qual viajamos pelo mundo inteiro! Aprendi muitíssimo, e tanto musicalmente como humanamente, foi algo que me fez crescer... Além de poder tocar o repertório do Gainsbourg com sua musa!
Subir a palco com um violoncelo e pedais de loops. Ainda é algo que te assuste?
Depende... Agora comecei a tocar com mais um músico no palco, que faz violão, guitarra, percussões, corais... Um pouco de tudo. Mas continuo com os loops, é só para enriquecer um pouco mais as musicas. E é claro que sempre dá um medo de dar uma pane no pedal e a gente ficar pagando, né? O que já me aconteceu várias vezes! Fazer as loops é algo que eu trabalhei muito e continuo diariamente treinando, porque exige muita coordenação e precisão.
André GomesEu comecei a estudar música muito pequena, com cinco anos. Primeiro estudei piano, e logo comecei a estudar violoncelo com oito anos de idade no Brasil, em Porto Alegre. Escolhi o violoncelo um pouco por acaso. Obviamente gostava muito do instrumento, mas foi principalmente porque em uma viajem com a Escola de Música onde eu estudava, conheci o professor de violoncelo e adorei ele... Então decidi que queria estudar violoncelo com ele! Depois me mudei com minha família para Paris, e aqui com dez anos resolvi que queria ser violoncelista.
O que ouvimos de ti hoje em dia é o cruzamento da música erudita e da música pop? Como nasce a vontade de fundir as duas realidades?
De alguma maneira, sim, podemos dizer que é um cruzamento entre as duas. Acho que é um cruzamento de vários géneros musicais no qual eu cresci, o da música popular brasileira, francesa e argentina, da música clássica e da musica chamada "pop". Mas na hora de compor não penso nisso nem um pouco... Acho que as influências para mim são totalmente inconscientes na hora de compor. Nunca penso "vou fazer uma musica que nem tal outra"...
Achas que podes chocar quem confiava que tivesses uma carreira de solista na música erudita ou um lugar numa orquestra?
Provavelmente sim, mas não é algo no qual pense muito.
Tens o teu disco de estreia a ser editado em breve. O que é que nos podes contar acerca dele?
O disco já está pronto! É um disco que foi feito de uma maneira muito natural. A maioria das músicas dele foram escritas há quase dois anos, e comecei a gravá-las há um ano atrás. Primeiro tive a oportunidade de começar a gravá-las em estúdio, de maneira convencional, mas não me senti confortável. Apesar de já estar acostumada com o funcionamento das gravações em estúdio como violoncelista para outros artistas, desta vez não estava nada à vontade com este processo. Então parei e logo depois o Piers Faccini, com quem já havia trabalhado em outras ocasiões, me propôs gravar no seu "home-studio", na casa dele no sul da França (les Cévennes). Apartir dai tudo foi feito de uma maneira totalmente fluida... A casa dele fica em um lugar absolutamente mágico, no meio das montanhas, de uma calma impressionante, não há melhor âmbito para a concentração! E aí fui convidando alguns amigos para fazer participações pontuais... Acabo de assinar um contrato com uma gravadora americana chamada Six Degrees Records (a gravadora da Céu, Piers Faccini, Vieux Farka Touré, Bebel Gilberto, Curumim, Cibelle...) e agora estamos planejando o lançamento. Ainda não decidimos se vai ser lançado fim de 2012 ou início de 2013, mas estamos nos preparativos!
Imagino que o Piers Faccini tenha tido um papel primordial neste disco. Como foi trabalhar com ele?
O papel do Piers foi fundamental neste disco. Quando eu fui trabalhar no estúdio dele a ideia inicial não era de trabalharmos juntos... É claro que eu morria de vontade de propor a ele de participar do disco, já que era absolutamente fanática pelo seu trabalho, mas não sabia direito o que fazer. Além disso, como não havia gravadora (e nenhum dinheiro) envolvido, não me atrevia muito a pedir a ele... A primeira etapa da gravação foi de aproximadamente uma semana. Nos primeiros dias o Piers estava lá, e passava de vez em quando para escutar e ver se eu estaria precisando de alguma ajuda técnica... Foi assim que ele descobriu as musicas. Ele adorou, e sem que eu tivesse que pedir nada ele propôs de colocar algumas vozes, algumas guitarras, fazer alguns arranjos. Então eu gravei todas as bases durante esta semana, e logo deixei a ele os arquivos, mas sem nenhuma pauta, queria deixar ele com toda a liberdade e ver o que ele ia propor! Logo eu fui para São Paulo durante um mês, e aos poucos o Piers foi me mandando o que fazia... Foi um período muito excitante, eu gostava do fato de estar longe e receber essas pequenas surpresas cada tanto, e cada musica que ele mandava eu ficava perplexa pois o que ele fazia nelas era sempre de uma perfeição absoluta... Não teve praticamente nada que tenhamos tirado no final! Enfim, a gente se empolgou e finalmente produzimos o disco juntos. Isso para mim foi uma sorte enorme , um privilégio e é algo do qual me orgulho muito. Ele acompanhou e acompanha até hoje absolutamente todos os processos, seja a mistura ou as negociações com as gravadoras, os arranjos no palco, os shows, etc.
Que papel tem cada um dos outros convidados deste disco?
O disco conta com três outros convidados muito especiais: a cantora francesa Camille, e os paulistanos Thiago Pethit e Kiko Dinucci. A Camille foi alguém que também me ajudou muitíssimo neste disco. Ela acompanhou todas as etapas, desde as versões "demos" caseiras, até a versão final, e sempre me "encorajou" e me apoiou muito, o que também foi super importante para mim. Ela mesma se propôs de participar do disco, e foi tudo muito simples... Uma noite na casa dela, com meu computador e um microfone! O Thiago Pethit canta uma musica comigo, também. Quando fui a São Paulo o ano passado era minha primeira vez lá, e não conhecia absolutamente ninguém! Um amigo meu, o cineasta Vincent Moon, acabava de passar um tempo lá, e tinha me dado uma lista enorme de gente e músicos para entrar em contacto. Então ouvi a musica do Thiago e logo me encantei, achei nossos "mundos" muitos parecidos. Nos encontramos, ficamos bons amigos, tocamos juntos (eu acompanhei ele em um programa de televisão), e descobrimos varias coisas em comum. Uma delas era que tínhamos morado os dois em Buenos Aires, na mesma época, e na mesma rua! Então propus a ele que fizéssemos juntos uma musica minha que se chama "Buenos Aires". O Kiko Dinucci foi outro encontro pelo Vincent Moon... Ele me disse "o melhor músico que encontrei em São Paulo foi o Kiko Dinucci, você tem que conhecer a musica dele!". Entrei em contacto com o Kiko, marcámos um show juntos sem mesmo nos encontrar (antes de eu ir para São Paulo), e também muito rapidamente viramos grandes amigos. Sempre que vou a São Paulo tocamos juntos, ele é um músico absolutamente incrível, um dos melhores que conheci... Eu piro com a musica dele! Eu tinha uma musica na qual queria por percussões e perguntei a ele se ele podia me indicar bons percussionistas em São Paulo... E ele disse "deixa comigo!". Então, como com o Piers, deixei a ele a musica, e ele me mandou um tempo depois, quando eu já estava em Paris, um arranjo fantástico, que ele e um percussionista excelente Guilherme Kastrup fizeram! Eles tocaram caxixis, cocos, berimbau...tudo com uma delicadeza incrível!
Hoje em dia vives em Paris. Deixaste já que a música francesa influenciasse a tua música?
Sim, com certeza... Ouço muita musica francesa Barbara, Françoise Hardy, Gainsbourg, Jeanne Moreau, Moustaki, e coisas mais atuais como a Camille, por exemplo.
Tens saudades do Brasil? Como é para ti viver na Europa?
Muitas saudades! Da família, dos amigos, das cidades, da musica, de tudo... Mas ao mesmo tempo a vida aqui não pára, e é uma sorte enorme poder trabalhar com musica nessa cidade!
Como foi colaborar com a Jane Birkin em tão tenra idade? O que aprendeste com ela que guardes até hoje?
Acompanhar a Jane Birkin durante quase dois anos, foi uma experiência fantástica. Me considero muito sortuda e privilegiada de poder ter participado nessa digressão, com a qual viajamos pelo mundo inteiro! Aprendi muitíssimo, e tanto musicalmente como humanamente, foi algo que me fez crescer... Além de poder tocar o repertório do Gainsbourg com sua musa!
Subir a palco com um violoncelo e pedais de loops. Ainda é algo que te assuste?
Depende... Agora comecei a tocar com mais um músico no palco, que faz violão, guitarra, percussões, corais... Um pouco de tudo. Mas continuo com os loops, é só para enriquecer um pouco mais as musicas. E é claro que sempre dá um medo de dar uma pane no pedal e a gente ficar pagando, né? O que já me aconteceu várias vezes! Fazer as loops é algo que eu trabalhei muito e continuo diariamente treinando, porque exige muita coordenação e precisão.
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