ENTREVISTAS
Wraygunn
Arte (bruta) em constante mutação
· 04 Abr 2012 · 00:37 ·

© André Cepeda
Após um hiato prolongado, como foi despir a pele de tigre e voltar a ter a companhia dos colegas de Wraygunn? Do que sentias mais saudade: trabalhar e tocar em grupo ou ter aquela energia mais rock e a possibilidade de te soltares mais nos concertos?
Bem, por um lado não foi imediatamente fácil, vinha de um ritmo muito alto de trabalho e tive que, de certa maneira, adaptar-me, bem como todas as pessoas da banda, aos ritmos uns dos outros. Mas assim que começámos a trabalhar as canções tudo se encaixou e foi óptimo trabalhar com todos outra vez. E sim, a energia dos concertos de Wraygunn é algo de muito diferente do que eu faço a solo... confesso que também gosto muito do trabalho de estúdio com a banda, permite-me ir mais longe e explorar coisas que por feitio não é possível explorar em Legendary Tigerman.
Nos concertos de Legendary Tigerman dos Coliseus tocaste a “Kerosene Honey” (além da “She´s a Go Go Dancer”) com Wraygunn. Qual é a sensação de poderes passar por estas duas caras da mesma moeda na mesma ocasião?
Não foi a primeira vez, já noutras situações aconteceu. Nos Coliseus foi muito bom, senti-me muito bem e foi uma ocasião especial de celebração... mas normalmente gosto de separar as águas...
Até que ponto os trabalhos em Legendary Tigerman e Wraygunn comunicam entre si, se influenciam mutuamente?
Talvez não exactamente os trabalhos, mas as vivências que esses trabalhos proporcionam acabam por transpirar de um projecto para o outro. No Femina acho que cresci muito como músico, e esse conhecimento veio de certa forma contribuir para podermos chegar a este disco, que é bastante diferente de tudo o que está para trás. E vice-versa. Aprendi também com o L´Art Brut e com certeza isso irá dar-me outra bagagem daqui para a frente... A arte para mim é como a vida, está sempre em mutação e evolução.
Em L´art Brut nota-se um certo abrandamento em termos rítmicos, existem mais momentos calmos do que noutros álbuns de Wraygunn. A energia parece estar mais domada. Isso foi intencional ou algo que simplesmente acabou por acontecer?
Foi natural. As canções estavam a pedir isso, e portanto foi isso que lhes fizemos. Seguimos sempre as canções, sem pensar muito. Talvez noutra altura achássemos que eram demasiadas canções calmas num disco, mas pareceu-nos normal agora... Deixámos canções mais rápidas de fora, trabalhámos no fundo o que nos deu mais gozo...
O título deste disco e a parte conceptual das imagens também se reflectem de alguma forma nas canções?
Não sei... A arte bruta é uma inspiração... mas não dessa forma, não musical. Creio que não. Creio que estamos demasiado “poluídos” pelo mundo... Mas as canções de certa forma inspiraram as imagens, a música é sempre o mais importante, o ponto de partida e o motivo para as outras artes...
Um dos temas que se destaca neste disco é “Track You Down”, escrito e cantado pela Raquel Ralha de forma arrebatadora. É verdade que foi esta música a culpada de voltarem a tocar juntos e criarem “L´art Brut”?
É sim. Foi essa música que nos “acordou” do pequeno hiato em que estávamos...
L´art Brut, ou a Arte Bruta, caracteriza-se por ser feita por pessoas fora do mercado da arte e cujo objectivo não passa pelo retorno financeiro. Disseste numa entrevista que os Wraygunn nunca foram sustentáveis. Pergunto se Legendary Tigerman será o projecto sustentável e Wraygunn o espaço onde te juntas a amigos para tocar pelo gozo que isso dá, quando podem, até pela logística e maior dificuldade em conciliar a agenda dos membros da banda?
Eu faço ambos os projectos pelo gozo que me dá fazer música, de forma diferente em cada um deles. Nunca tomei nada como garantido, em tempos nenhum dos projectos era sustentável... E estou preparado para a eventualidade de nenhum o ser. Acho que quando fazes música de forma honesta tens que estar preparado para isso.
Os azares com o agenciamento em França quebraram um pouco o ritmo que a banda tinha iniciado para se impor lá fora. Pretendem apresentar L´art Brut fora de portas duma forma consistente, além de irem tocar por França já em Abril?
Claro que sim, estamos a trabalhar nisso. Mas neste momento são expectativas. Expectativas fortes.
Disseste que este é um disco que não anda atrás de nenhum som, de nenhuma moda que esteja a acontecer. Penso que isso é algo transversal a Wraygunn e Legendary Tigerman. Andamos mais distraídos do que nunca atrás das últimas modas, em vez de prestarmos atenção ao que realmente merece ser escutado? O que também poderá ser aplicado a alguns músicos, mais interessados em cavalgar ondas do que em mergulhar na sua essência para criar algo único…
Pois, acho que é verdade, sim... tenho o meu caminho, que às vezes é paralelo, outras vezes é perpendicular, umas vezes à frente, outras atrás, em relação à História da Música. Não me interessa muito seguir modas ou tendências, mas não sou indiferente a elas. Sou influenciado por toda a música dos últimos duzentos anos ou mais até hoje. Mas sim, estou mais interessado em descobrir-me como artista, em olhar para o mundo mas também em olhar para dentro. E em criar algo que, apesar de todas as influências, possa chamar de meu.
Se a Optimus te convidasse para fazer um dueto improvável, preferias tocar com o Quim Barreiros ou com o B Fachada?
Na realidade já fui convidado.
Assumes ter um feitio irascível. Podes partilhar algum episódio exemplificativo?
Nem pensar nisso. [risos]
Hugo Rocha PereiraBem, por um lado não foi imediatamente fácil, vinha de um ritmo muito alto de trabalho e tive que, de certa maneira, adaptar-me, bem como todas as pessoas da banda, aos ritmos uns dos outros. Mas assim que começámos a trabalhar as canções tudo se encaixou e foi óptimo trabalhar com todos outra vez. E sim, a energia dos concertos de Wraygunn é algo de muito diferente do que eu faço a solo... confesso que também gosto muito do trabalho de estúdio com a banda, permite-me ir mais longe e explorar coisas que por feitio não é possível explorar em Legendary Tigerman.
Nos concertos de Legendary Tigerman dos Coliseus tocaste a “Kerosene Honey” (além da “She´s a Go Go Dancer”) com Wraygunn. Qual é a sensação de poderes passar por estas duas caras da mesma moeda na mesma ocasião?
Não foi a primeira vez, já noutras situações aconteceu. Nos Coliseus foi muito bom, senti-me muito bem e foi uma ocasião especial de celebração... mas normalmente gosto de separar as águas...
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© André Cepeda |
Até que ponto os trabalhos em Legendary Tigerman e Wraygunn comunicam entre si, se influenciam mutuamente?
Talvez não exactamente os trabalhos, mas as vivências que esses trabalhos proporcionam acabam por transpirar de um projecto para o outro. No Femina acho que cresci muito como músico, e esse conhecimento veio de certa forma contribuir para podermos chegar a este disco, que é bastante diferente de tudo o que está para trás. E vice-versa. Aprendi também com o L´Art Brut e com certeza isso irá dar-me outra bagagem daqui para a frente... A arte para mim é como a vida, está sempre em mutação e evolução.
Em L´art Brut nota-se um certo abrandamento em termos rítmicos, existem mais momentos calmos do que noutros álbuns de Wraygunn. A energia parece estar mais domada. Isso foi intencional ou algo que simplesmente acabou por acontecer?
Foi natural. As canções estavam a pedir isso, e portanto foi isso que lhes fizemos. Seguimos sempre as canções, sem pensar muito. Talvez noutra altura achássemos que eram demasiadas canções calmas num disco, mas pareceu-nos normal agora... Deixámos canções mais rápidas de fora, trabalhámos no fundo o que nos deu mais gozo...
O título deste disco e a parte conceptual das imagens também se reflectem de alguma forma nas canções?
Não sei... A arte bruta é uma inspiração... mas não dessa forma, não musical. Creio que não. Creio que estamos demasiado “poluídos” pelo mundo... Mas as canções de certa forma inspiraram as imagens, a música é sempre o mais importante, o ponto de partida e o motivo para as outras artes...
Um dos temas que se destaca neste disco é “Track You Down”, escrito e cantado pela Raquel Ralha de forma arrebatadora. É verdade que foi esta música a culpada de voltarem a tocar juntos e criarem “L´art Brut”?
É sim. Foi essa música que nos “acordou” do pequeno hiato em que estávamos...
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© André Cepeda |
L´art Brut, ou a Arte Bruta, caracteriza-se por ser feita por pessoas fora do mercado da arte e cujo objectivo não passa pelo retorno financeiro. Disseste numa entrevista que os Wraygunn nunca foram sustentáveis. Pergunto se Legendary Tigerman será o projecto sustentável e Wraygunn o espaço onde te juntas a amigos para tocar pelo gozo que isso dá, quando podem, até pela logística e maior dificuldade em conciliar a agenda dos membros da banda?
Eu faço ambos os projectos pelo gozo que me dá fazer música, de forma diferente em cada um deles. Nunca tomei nada como garantido, em tempos nenhum dos projectos era sustentável... E estou preparado para a eventualidade de nenhum o ser. Acho que quando fazes música de forma honesta tens que estar preparado para isso.
Os azares com o agenciamento em França quebraram um pouco o ritmo que a banda tinha iniciado para se impor lá fora. Pretendem apresentar L´art Brut fora de portas duma forma consistente, além de irem tocar por França já em Abril?
Claro que sim, estamos a trabalhar nisso. Mas neste momento são expectativas. Expectativas fortes.
Disseste que este é um disco que não anda atrás de nenhum som, de nenhuma moda que esteja a acontecer. Penso que isso é algo transversal a Wraygunn e Legendary Tigerman. Andamos mais distraídos do que nunca atrás das últimas modas, em vez de prestarmos atenção ao que realmente merece ser escutado? O que também poderá ser aplicado a alguns músicos, mais interessados em cavalgar ondas do que em mergulhar na sua essência para criar algo único…
Pois, acho que é verdade, sim... tenho o meu caminho, que às vezes é paralelo, outras vezes é perpendicular, umas vezes à frente, outras atrás, em relação à História da Música. Não me interessa muito seguir modas ou tendências, mas não sou indiferente a elas. Sou influenciado por toda a música dos últimos duzentos anos ou mais até hoje. Mas sim, estou mais interessado em descobrir-me como artista, em olhar para o mundo mas também em olhar para dentro. E em criar algo que, apesar de todas as influências, possa chamar de meu.
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© André Cepeda |
Se a Optimus te convidasse para fazer um dueto improvável, preferias tocar com o Quim Barreiros ou com o B Fachada?
Na realidade já fui convidado.
Assumes ter um feitio irascível. Podes partilhar algum episódio exemplificativo?
Nem pensar nisso. [risos]
hrochapereira@bodyspace.net
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