ENTREVISTAS
Mandrax Icon
Blitz, tampax, mama mondrax
· 27 Mar 2012 · 01:22 ·
De onde vem a imaginação de Mandrax Icon? Qual foi a primeira coisa que te inspirou e te levou a querer compor canções?
Compor canções acaba por ser uma necessidade, e sempre esteve presente comigo desde que comecei a tocar, aos 13 anos. Já na altura tinha mais interesse em fazer os meus próprios temas, ainda que rudimentares, do que aprender músicas de outras pessoas. Desde novo estive envolvido em vários projectos e em meados de 2006 comecei a explorar uma temática mais folkie, que revisitava as bandas que comecei a ouvir quando era novo, como o lado mais pastoral dos Pink Floyd, Neil Young, Crosby, Stills, Nash & Young e Syd Barret. Entretanto, o meu interesse por este tipo de som cresceu e comecei a explorar e a conhecer outros autores como Robbie Basho, John Fahey e Jack Rose que acabaram por me influenciar enquanto guitarrista e compositor. Foram surgindo novas ideias e começou a fazer sentido arranjar um nome. Acabou por surgir após um documentário que vi sobre a vida do Syd Barret, no qual o David Gilmour descreveu as sessões do Madcap Laughs como erráticas e o Syd constantemente "high on Mandrax". É uma homenagem a um dos meus Ãdolos de infância.
Que nos podes dizer acerca de Mary Climbed the Ladder for the Sun que ainda mais ninguém saiba? Como correram as gravações?
As gravações decorreram de maneira muito espontânea. O disco foi gravado maioritariamente durante o verão na garagem do Filipe da Graça, em Albufeira, donde eu venho. O lado bom de não gravar num estúdio convencional é a liberdade com que podes ir fazendo as coisas. Liberta-te do stress de estares enfiado num cubÃculo, a pagar e a ver as horas a passar, comprometendo muitas vezes o resultado final. Creio que o disco reflecte um bocado esse ambiente descontraÃdo. O Filipe é o tipo de pessoa com o qual eu gosto de trabalhar e foi mantendo as sessões a fluir sem serem demasiado cansativas. Os restantes overdubs foram feitos em Lisboa, nos Estúdios do Vigário, e em vários locais por Londres, assim como a mistura. O plano inicial de trabalho consistiu em 16 temas, mas à medida que fomos trabalhando alguns foram sendo eliminados e terminámos com 10. O facto de a edição fÃsica ser em vinil também limitou, neste caso de maneira positiva, a duração do disco.
Sendo que alguns dos temas que lá irão estar presentes têm alguns anos, houve a necessidade de os reformular/reinventar ou soam tal qual como foram pensados da primeira vez?
Dos temas mais antigos, apenas dois ficaram no disco e esses levaram uma roupagem nova - ainda assim, não se mexeu na estrutura. Neste caso, a inclusão de violinos maximizou o seu potencial. No geral foi relativamente fácil fazer com que as músicas incluÃdas no disco fizessem sentido juntas, pois houve à partida uma pré-selecção das que iam ser gravadas de maneira a termos um álbum e não um compêndio de temas soltos. A ideia inicial para Mandrax Icon era a de ser uma banda e muitas das músicas, que neste momento tenho arquivadas, foram compostas para esse formato. No entanto resolvi limitar-me apenas à guitarra e à voz, facilitando assim a direcção musical folkie que acabei por seguir, definindo quais os temas a trabalhar e a abandonar.
Mandrax Icon já existe desde 2006, mas só agora lança um disco. Qual a razão deste tempo de espera? É uma reacção à velocidade com que tudo se processa hoje em dia?
Os principais motivos desta demora são dois: o primeiro é não ter conseguido arranjar uma formação estável para o projecto - não foi fácil, numa cidade como Albufeira, arranjar músicos que quisessem tocar este tipo de som. Outro problema é também a falta de espaços onde apresentar o teu trabalho e a escassez de público, fazendo com que as coisas não fluam. O segundo deve-se ao facto de desde 2007 ter andado a saltitar entre Albufeira, Lisboa e Porto. Os habituais processos de adaptação a uma cidade nova fazem-te pensar em coisas triviais como arranjar um trabalho merdoso, teres dinheiro para comer e pagar o teu T0 a tempo. Isto atrasou um bocado o processo, mas vendo bem até foi benéfico pois permitiu-me perceber o que queria fazer enquanto Mandrax Icon. Penso que é bom deixar as coisas amadurecer um bocado antes de as lançar para perceber se realmente estás satisfeito com o que fizeste, para que daqui a uns anos continuem a fazer sentido para ti enquanto autor e continues a gostar delas.
Ser a primeira edição oficial da Nostril Records configura-lhe um estatuto maior, ou essa situação não foi mais do que um acaso fortuito?
Acho que a maior parte das pessoas não sabe mas a Nostril Records foi criada por mim e pela minha namorada. Desde 2006 que tenho vindo a receber algumas propostas para editar; no entanto, nenhuma proposta me pareceu viável o suficiente para que a coisa se concretizasse. Para mim, que cresci a ouvir Punk Hardcore, o DIY ainda está bem presente na minha maneira de fazer as coisas. Embora haja muito boa vontade por aÃ, acho que estar completamente independente e fazer as coisas à minha maneira é o que resulta melhor; assim sendo, resolvi criar uma plataforma para lançar, numa primeira fase, projectos no qual eu esteja envolvido, e num futuro próximo editar projectos no qual eu acredito. Também tenho marcado os concertos através da Nostril e é engraçado que o tipo de resposta que se recebe é diferente do que se for uma banda a contactar em nome próprio, mas sim, para mim configura-lhe um estatuto maior.
A ideia de o editar somente em vinil é uma tentativa de o tornar num objecto de culto? Se não me engano, ainda está a ser masterizado. Qual prevês que será a tua reacção quando pegares numa cópia? É como ter um fiho?
Ora, a ideia de o editar em Vinil tem tudo a ver com o culto do Disco enquanto objecto e o prazer que retiras em adquiri-lo. O primeiro disco que comprei na vida foi o In Utero de Nirvana, tinha eu 12 anos. Na minha colecção já tinha alguns, mas tinham sido oferecidos. Lembro-me de ver o videoclip da "Heart Shaped Box" e de ter pensado para mim "quero aquele disco!". Acabei por ir a uma loja na baixa de Albufeira chamada Stop buscá-lo e, desde aÃ, todo o dinheiro que tinha disponÃvel ia para discos que mandava vir da Carbono de Lisboa. Aquela cena de escolher discos por catálogo e esperar uma semana, à s vezes mais, conferia um gosto especial à coisa. Hoje em dia só compro Vinil pois tenciono aumentar a colecção que herdei do meu Pai e é definitivamente o meu formato de eleição. Também tenho vindo a notar um crescente desinteresse no formato CD, e tendo em conta que o download será gratuito, prefiro lançá-lo no meu formato de eleição... verdade seja dita, ter um LP na mão não é o mesmo que um CD, e a ideia de permanecer somente em MP3 dentro de um computador é um bocado deprimente.
Já tiveste canções tuas numa curta-metragem. Imaginas que possam um dia ser adoptadas noutras obras da sétima-arte? Que filmes gostarias de musicar?
Essa pequena colaboração surgiu através do convite do André PÃfaro, amigo meu também de Albufeira, que me pediu para fazer um tema instrumental para uma curta realizada por ele chamada "The Apology". Já antes tinha colaborado com ele em "We Are The Animal", numa abordagem mais electrónica, sob outro nome. Neste caso foi fácil fazer algo, pois quando conheces bem a pessoa com quem trabalhas, tens noção do que é pretendido, e tendo nós mais ou menos a mesma visão estética das coisas, a coisa faz-se rápido. Quanto à ideia de ter temas de Mandrax Icon de futuro em filmes, é possÃvel e agrada-me imenso também a ideia de fazer bandas sonoras em especÃfico; contudo, apenas se o projecto me agradar esteticamente. Gostava de fazer coisas como os Popol Vuh fizeram para o Herzog. É a minha chávena de chá. Bonito era fazer algo para o Jonas Mekas.
Está prevista uma tour de apresentação do disco ou por agora vais limitar-te a saborear o momento?
Estou a pensar fazer uma mini tour, em princÃpio menor do que a do ano passado, mas irá depender. No ano passado tive datas que valeram a pena e outras em que tinha ganho mais em estar quieto. Se calhar, tendo um disco cá fora poderão aumentar os convites para tocar, mas para já penso que 4-6 datas para este próximo ano será o mÃnimo a assegurar.
Paulo CecÃlioCompor canções acaba por ser uma necessidade, e sempre esteve presente comigo desde que comecei a tocar, aos 13 anos. Já na altura tinha mais interesse em fazer os meus próprios temas, ainda que rudimentares, do que aprender músicas de outras pessoas. Desde novo estive envolvido em vários projectos e em meados de 2006 comecei a explorar uma temática mais folkie, que revisitava as bandas que comecei a ouvir quando era novo, como o lado mais pastoral dos Pink Floyd, Neil Young, Crosby, Stills, Nash & Young e Syd Barret. Entretanto, o meu interesse por este tipo de som cresceu e comecei a explorar e a conhecer outros autores como Robbie Basho, John Fahey e Jack Rose que acabaram por me influenciar enquanto guitarrista e compositor. Foram surgindo novas ideias e começou a fazer sentido arranjar um nome. Acabou por surgir após um documentário que vi sobre a vida do Syd Barret, no qual o David Gilmour descreveu as sessões do Madcap Laughs como erráticas e o Syd constantemente "high on Mandrax". É uma homenagem a um dos meus Ãdolos de infância.
Que nos podes dizer acerca de Mary Climbed the Ladder for the Sun que ainda mais ninguém saiba? Como correram as gravações?
As gravações decorreram de maneira muito espontânea. O disco foi gravado maioritariamente durante o verão na garagem do Filipe da Graça, em Albufeira, donde eu venho. O lado bom de não gravar num estúdio convencional é a liberdade com que podes ir fazendo as coisas. Liberta-te do stress de estares enfiado num cubÃculo, a pagar e a ver as horas a passar, comprometendo muitas vezes o resultado final. Creio que o disco reflecte um bocado esse ambiente descontraÃdo. O Filipe é o tipo de pessoa com o qual eu gosto de trabalhar e foi mantendo as sessões a fluir sem serem demasiado cansativas. Os restantes overdubs foram feitos em Lisboa, nos Estúdios do Vigário, e em vários locais por Londres, assim como a mistura. O plano inicial de trabalho consistiu em 16 temas, mas à medida que fomos trabalhando alguns foram sendo eliminados e terminámos com 10. O facto de a edição fÃsica ser em vinil também limitou, neste caso de maneira positiva, a duração do disco.
Sendo que alguns dos temas que lá irão estar presentes têm alguns anos, houve a necessidade de os reformular/reinventar ou soam tal qual como foram pensados da primeira vez?
Dos temas mais antigos, apenas dois ficaram no disco e esses levaram uma roupagem nova - ainda assim, não se mexeu na estrutura. Neste caso, a inclusão de violinos maximizou o seu potencial. No geral foi relativamente fácil fazer com que as músicas incluÃdas no disco fizessem sentido juntas, pois houve à partida uma pré-selecção das que iam ser gravadas de maneira a termos um álbum e não um compêndio de temas soltos. A ideia inicial para Mandrax Icon era a de ser uma banda e muitas das músicas, que neste momento tenho arquivadas, foram compostas para esse formato. No entanto resolvi limitar-me apenas à guitarra e à voz, facilitando assim a direcção musical folkie que acabei por seguir, definindo quais os temas a trabalhar e a abandonar.
Mandrax Icon já existe desde 2006, mas só agora lança um disco. Qual a razão deste tempo de espera? É uma reacção à velocidade com que tudo se processa hoje em dia?
Os principais motivos desta demora são dois: o primeiro é não ter conseguido arranjar uma formação estável para o projecto - não foi fácil, numa cidade como Albufeira, arranjar músicos que quisessem tocar este tipo de som. Outro problema é também a falta de espaços onde apresentar o teu trabalho e a escassez de público, fazendo com que as coisas não fluam. O segundo deve-se ao facto de desde 2007 ter andado a saltitar entre Albufeira, Lisboa e Porto. Os habituais processos de adaptação a uma cidade nova fazem-te pensar em coisas triviais como arranjar um trabalho merdoso, teres dinheiro para comer e pagar o teu T0 a tempo. Isto atrasou um bocado o processo, mas vendo bem até foi benéfico pois permitiu-me perceber o que queria fazer enquanto Mandrax Icon. Penso que é bom deixar as coisas amadurecer um bocado antes de as lançar para perceber se realmente estás satisfeito com o que fizeste, para que daqui a uns anos continuem a fazer sentido para ti enquanto autor e continues a gostar delas.
Ser a primeira edição oficial da Nostril Records configura-lhe um estatuto maior, ou essa situação não foi mais do que um acaso fortuito?
Acho que a maior parte das pessoas não sabe mas a Nostril Records foi criada por mim e pela minha namorada. Desde 2006 que tenho vindo a receber algumas propostas para editar; no entanto, nenhuma proposta me pareceu viável o suficiente para que a coisa se concretizasse. Para mim, que cresci a ouvir Punk Hardcore, o DIY ainda está bem presente na minha maneira de fazer as coisas. Embora haja muito boa vontade por aÃ, acho que estar completamente independente e fazer as coisas à minha maneira é o que resulta melhor; assim sendo, resolvi criar uma plataforma para lançar, numa primeira fase, projectos no qual eu esteja envolvido, e num futuro próximo editar projectos no qual eu acredito. Também tenho marcado os concertos através da Nostril e é engraçado que o tipo de resposta que se recebe é diferente do que se for uma banda a contactar em nome próprio, mas sim, para mim configura-lhe um estatuto maior.
A ideia de o editar somente em vinil é uma tentativa de o tornar num objecto de culto? Se não me engano, ainda está a ser masterizado. Qual prevês que será a tua reacção quando pegares numa cópia? É como ter um fiho?
Ora, a ideia de o editar em Vinil tem tudo a ver com o culto do Disco enquanto objecto e o prazer que retiras em adquiri-lo. O primeiro disco que comprei na vida foi o In Utero de Nirvana, tinha eu 12 anos. Na minha colecção já tinha alguns, mas tinham sido oferecidos. Lembro-me de ver o videoclip da "Heart Shaped Box" e de ter pensado para mim "quero aquele disco!". Acabei por ir a uma loja na baixa de Albufeira chamada Stop buscá-lo e, desde aÃ, todo o dinheiro que tinha disponÃvel ia para discos que mandava vir da Carbono de Lisboa. Aquela cena de escolher discos por catálogo e esperar uma semana, à s vezes mais, conferia um gosto especial à coisa. Hoje em dia só compro Vinil pois tenciono aumentar a colecção que herdei do meu Pai e é definitivamente o meu formato de eleição. Também tenho vindo a notar um crescente desinteresse no formato CD, e tendo em conta que o download será gratuito, prefiro lançá-lo no meu formato de eleição... verdade seja dita, ter um LP na mão não é o mesmo que um CD, e a ideia de permanecer somente em MP3 dentro de um computador é um bocado deprimente.
Já tiveste canções tuas numa curta-metragem. Imaginas que possam um dia ser adoptadas noutras obras da sétima-arte? Que filmes gostarias de musicar?
Essa pequena colaboração surgiu através do convite do André PÃfaro, amigo meu também de Albufeira, que me pediu para fazer um tema instrumental para uma curta realizada por ele chamada "The Apology". Já antes tinha colaborado com ele em "We Are The Animal", numa abordagem mais electrónica, sob outro nome. Neste caso foi fácil fazer algo, pois quando conheces bem a pessoa com quem trabalhas, tens noção do que é pretendido, e tendo nós mais ou menos a mesma visão estética das coisas, a coisa faz-se rápido. Quanto à ideia de ter temas de Mandrax Icon de futuro em filmes, é possÃvel e agrada-me imenso também a ideia de fazer bandas sonoras em especÃfico; contudo, apenas se o projecto me agradar esteticamente. Gostava de fazer coisas como os Popol Vuh fizeram para o Herzog. É a minha chávena de chá. Bonito era fazer algo para o Jonas Mekas.
Está prevista uma tour de apresentação do disco ou por agora vais limitar-te a saborear o momento?
Estou a pensar fazer uma mini tour, em princÃpio menor do que a do ano passado, mas irá depender. No ano passado tive datas que valeram a pena e outras em que tinha ganho mais em estar quieto. Se calhar, tendo um disco cá fora poderão aumentar os convites para tocar, mas para já penso que 4-6 datas para este próximo ano será o mÃnimo a assegurar.
pauloandrececilio@gmail.com
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