ENTREVISTAS
Nate Wooley
Metal pesado
· 22 Mar 2012 · 11:44 ·
Como se iniciou na música e porquê a escolha do trompete?
O meu pai é músico, toca saxofone, por isso nunca tive qualquer dúvida de que eu queria ser músico. Tenho tido sorte por saber aquilo que queria fazer a partir de uma idade muito precoce. Comecei a tocar trompete por causa de um colega da banda do meu pai, chamado Chip Hinkley, que era trompetista e morreu num acidente de carro quando eu era muito jovem. Para mim ele sempre foi uma pessoa maior do que a vida e acho que, por causa dele e de sua morte, quando eu entrei para a escola e fui escolher um instrumento, essa escolha gravitou automaticamente para o trompete.
foram as suas principais influências no trompete?
Eu sinto que posso sempre apreender alguma coisa de todos, por isso não tenho a certeza de influências de forma muito consciente. Gosto de algumas coisas de alguns músicos e uso-os como modelos, mas tenho tentado evitar aprofundar muito algum trompetista específico.
Qual foi o impacto de ter tocado com músicos como Evan Parker, John Zorn ou Anthony Braxton?
São todos muito diferentes entre si e com cada músicos trabalhei coisas muito diferentes. Não é apenas o nome que é importante. Quando se toca com alguém como o Zorn, percebemos que ele são quem são por aquilo que eles fazem. E aí o nome não interessa para nada. Tentas aguentar-se e tentas tocar ao mesmo nível que eles. Isso faz com que tenhas de trabalhar arduamente e dá-te uma ideia daquilo que é necessário fazer para chegar a um nível muito elevado.
No ano passado editou o disco (Put your) Hands Together, através da Clean Feed. Este é o álbum que melhor representa a sua música, até ao momento?
Não, é apenas uma amostra, uma pequena parte de um trabalho muito maior. Este tipo de escrita e forma de tocar é uma parte da minha história e sinto que é uma parte de mim, mas acaba por ser apenas uma pequena peça. É preciso ouvir também discos como High Society, The Almond e Throw Down Your Hammer and Sing para se ter uma ideia daquilo que eu faço. É a mesma coisa com qualquer outro artista, não se pode resumir a um único “statement”.
Como tem sido a ligação à editora Clean Feed?
O Pedro [Costa] e o resto do pessoal da Clean Feed têm-me acompanhado desde o começo, sempre me apoiaram e têm sido muito honestos. Quando encontras pessoas que acreditam naquilo que fazes, deves manter-te ao lado delas.
Tem tocado em duo com Peter Evans – lançaram no ano passado High Society e está na calha um novo disco, Instrumentals, Vol. 1. O objectivo deste duo é promover exploração do som do trompete?
Eu não penso nessa questão de explorar o trompete. Isto é a nossa forma de tocar e eu nunca planeei, conscientemente, em expandir as possibilidades do trompete. Eu toco aquilo que ouço e é só isso. Para mim é estimulante tocar com o Peter, mas trata-se mais de cada um de nós puxar pelas suas próprias capacidades e ideias do que uma tentativa consciente de acrescentar algo novo à história do trompete.
Sente que o trompete vive actualmente uma “época dourada”, com o trabalho de músicos como Peter Evans, Greg Kelley, Taylor Ho Bynum, entre outros?
Acho que cada um de nós pensa apenas em fazer a sua própria música. Talvez o facto de haver gente como o Greg, o Peter e o Taylor te façam trabalhar mais e tentar ser um melhor músico, mas se alguém pensa que está a revolucionar uma forma musical ou uma abordagem ao instrumento, então está a dar um tiro no pé. Estou entusiasmado por haver tantos trompetistas a trabalhar muito neste momento, mas não sei se isso irá representar algum movimento a nível histórico. Acho que ninguém está a pensar nisso.
Acaba de lançar um álbum a solo, [8] Syllables. Como poderia descrever a evolução da sua relação com o trompete?
Para mim o trompete sempre esteve ligado com a voz humana. Essa evolução tem passado por tentar que o instrumento seja cada vez mais uma expressão mais honesta da minha voz, e que se afaste da criação de música sem sentimento. O novo disco [8] Syllables é mais um passo nessa direcção.
Concorda que o grupo de músicos da sua geração – como Chris Corsano, C. Spencer Yeh, Peter Evans ou Mary Halvorson – tem injectado sangue novo na cena jazz contemporânea?
Não sei. Julgo que ninguém está a tentar fazer isso de forma consviente. Estão todos apenas a tocar.
Acaba de ser editado pela Clean Feed o novo disco Steam, em parceria com o RED Trio. O que poderemos esperar desta gravação?
Eu adoro o RED. É um trio que tem um som muito pessoal e ao mesmo tempo consegue adaptar-se a músicos muito diferentes, como aconteceu com o John Butcher, e daí resultar um som completamente coeso e orgânico. É uma questão de encontrar um terreno comum e com eles tem sido uma curva de aprendizagem incrivelmente rápida. Acho que o disco soa a música de um grupo maduro, a trabalhar na sua linguagem improvisacional própria – e ainda há espaço para crescer, o que é óptimo!
O que podemos esperar do concerto com o RED Trio? Será música próxima do disco?
Uma vez que se trata de música improvisada, é difícil dizer. Já conseguimos desenvolver uma certa linguagem de grupo, por isso certamente irão existir semelhanças com o álbum.
Participa num outro trio com um músico português - com Hugo Antunes (contrabaixo) e Marek Patrman (bateria). Como nasceu este projecto?
Este trio juntou-se só para uma ocasião. O Hugo juntou o trio e foi uma bomba. Mas agora nós estamos a preparar um trio diferente, com o Chris Corsano em vez do Marek – será diferente, mas também será muito divertido.
Há ideias para continuar a ligação com o RED Trio ou a ligação irá terminar após este concerto?
Espero que voltemos a tocar juntos. Tudo depende de como o disco correr e se surgir alguma oportunidade de fazer concertos, mas espero que a ligação continue.
Quais são os seus projectos para os próximos tempos?
Estou a trabalhar em duas novas bandas, um quarteto (com Peter Evans, Jim Black e Paul Lytton) e um duplo trio (com Ken Vandermark). Além disso, estou a finalizar a composição de material para um novo disco do quinteto e trabalho como escritor para o site soundamerican.org.
Nuno CatarinoO meu pai é músico, toca saxofone, por isso nunca tive qualquer dúvida de que eu queria ser músico. Tenho tido sorte por saber aquilo que queria fazer a partir de uma idade muito precoce. Comecei a tocar trompete por causa de um colega da banda do meu pai, chamado Chip Hinkley, que era trompetista e morreu num acidente de carro quando eu era muito jovem. Para mim ele sempre foi uma pessoa maior do que a vida e acho que, por causa dele e de sua morte, quando eu entrei para a escola e fui escolher um instrumento, essa escolha gravitou automaticamente para o trompete.
foram as suas principais influências no trompete?
Eu sinto que posso sempre apreender alguma coisa de todos, por isso não tenho a certeza de influências de forma muito consciente. Gosto de algumas coisas de alguns músicos e uso-os como modelos, mas tenho tentado evitar aprofundar muito algum trompetista específico.
Qual foi o impacto de ter tocado com músicos como Evan Parker, John Zorn ou Anthony Braxton?
São todos muito diferentes entre si e com cada músicos trabalhei coisas muito diferentes. Não é apenas o nome que é importante. Quando se toca com alguém como o Zorn, percebemos que ele são quem são por aquilo que eles fazem. E aí o nome não interessa para nada. Tentas aguentar-se e tentas tocar ao mesmo nível que eles. Isso faz com que tenhas de trabalhar arduamente e dá-te uma ideia daquilo que é necessário fazer para chegar a um nível muito elevado.
No ano passado editou o disco (Put your) Hands Together, através da Clean Feed. Este é o álbum que melhor representa a sua música, até ao momento?
Não, é apenas uma amostra, uma pequena parte de um trabalho muito maior. Este tipo de escrita e forma de tocar é uma parte da minha história e sinto que é uma parte de mim, mas acaba por ser apenas uma pequena peça. É preciso ouvir também discos como High Society, The Almond e Throw Down Your Hammer and Sing para se ter uma ideia daquilo que eu faço. É a mesma coisa com qualquer outro artista, não se pode resumir a um único “statement”.
© Peter Gannushkin |
Como tem sido a ligação à editora Clean Feed?
O Pedro [Costa] e o resto do pessoal da Clean Feed têm-me acompanhado desde o começo, sempre me apoiaram e têm sido muito honestos. Quando encontras pessoas que acreditam naquilo que fazes, deves manter-te ao lado delas.
Tem tocado em duo com Peter Evans – lançaram no ano passado High Society e está na calha um novo disco, Instrumentals, Vol. 1. O objectivo deste duo é promover exploração do som do trompete?
Eu não penso nessa questão de explorar o trompete. Isto é a nossa forma de tocar e eu nunca planeei, conscientemente, em expandir as possibilidades do trompete. Eu toco aquilo que ouço e é só isso. Para mim é estimulante tocar com o Peter, mas trata-se mais de cada um de nós puxar pelas suas próprias capacidades e ideias do que uma tentativa consciente de acrescentar algo novo à história do trompete.
Sente que o trompete vive actualmente uma “época dourada”, com o trabalho de músicos como Peter Evans, Greg Kelley, Taylor Ho Bynum, entre outros?
Acho que cada um de nós pensa apenas em fazer a sua própria música. Talvez o facto de haver gente como o Greg, o Peter e o Taylor te façam trabalhar mais e tentar ser um melhor músico, mas se alguém pensa que está a revolucionar uma forma musical ou uma abordagem ao instrumento, então está a dar um tiro no pé. Estou entusiasmado por haver tantos trompetistas a trabalhar muito neste momento, mas não sei se isso irá representar algum movimento a nível histórico. Acho que ninguém está a pensar nisso.
Acaba de lançar um álbum a solo, [8] Syllables. Como poderia descrever a evolução da sua relação com o trompete?
Para mim o trompete sempre esteve ligado com a voz humana. Essa evolução tem passado por tentar que o instrumento seja cada vez mais uma expressão mais honesta da minha voz, e que se afaste da criação de música sem sentimento. O novo disco [8] Syllables é mais um passo nessa direcção.
Concorda que o grupo de músicos da sua geração – como Chris Corsano, C. Spencer Yeh, Peter Evans ou Mary Halvorson – tem injectado sangue novo na cena jazz contemporânea?
Não sei. Julgo que ninguém está a tentar fazer isso de forma consviente. Estão todos apenas a tocar.
Acaba de ser editado pela Clean Feed o novo disco Steam, em parceria com o RED Trio. O que poderemos esperar desta gravação?
Eu adoro o RED. É um trio que tem um som muito pessoal e ao mesmo tempo consegue adaptar-se a músicos muito diferentes, como aconteceu com o John Butcher, e daí resultar um som completamente coeso e orgânico. É uma questão de encontrar um terreno comum e com eles tem sido uma curva de aprendizagem incrivelmente rápida. Acho que o disco soa a música de um grupo maduro, a trabalhar na sua linguagem improvisacional própria – e ainda há espaço para crescer, o que é óptimo!
© Vera Marmelo |
O que podemos esperar do concerto com o RED Trio? Será música próxima do disco?
Uma vez que se trata de música improvisada, é difícil dizer. Já conseguimos desenvolver uma certa linguagem de grupo, por isso certamente irão existir semelhanças com o álbum.
Participa num outro trio com um músico português - com Hugo Antunes (contrabaixo) e Marek Patrman (bateria). Como nasceu este projecto?
Este trio juntou-se só para uma ocasião. O Hugo juntou o trio e foi uma bomba. Mas agora nós estamos a preparar um trio diferente, com o Chris Corsano em vez do Marek – será diferente, mas também será muito divertido.
Há ideias para continuar a ligação com o RED Trio ou a ligação irá terminar após este concerto?
Espero que voltemos a tocar juntos. Tudo depende de como o disco correr e se surgir alguma oportunidade de fazer concertos, mas espero que a ligação continue.
Quais são os seus projectos para os próximos tempos?
Estou a trabalhar em duas novas bandas, um quarteto (com Peter Evans, Jim Black e Paul Lytton) e um duplo trio (com Ken Vandermark). Além disso, estou a finalizar a composição de material para um novo disco do quinteto e trabalho como escritor para o site soundamerican.org.
nunocatarino@gmail.com
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