ENTREVISTAS
Megafaun
Folk para a vida inteira
· 24 Fev 2012 · 02:06 ·
Basta ler a entrevista que publicamos de seguida para perceber que os norte-americanos Megafaun estão nesta coisa de escrever canções por todos os motivos certos - e mais algum. Sabendo do concerto que têm agendado para o Musicbox, onde apresentam o disco homónimo com selo da Hometapes, aproximamos-nos destes naturais de Durham, na Carolina do Norte, para perceber o que os move na hora de fazer música para usufruto colectivo e até quando estão dispostos a insistir nesta estranha forma de vida. No processo, obtivemos todas as respostas que poderíamos esperar de alguém tão dedicado à causa. Joe Westerlund, baterista dos Megafaun, tratou de responder às nossas perguntas - da forma mais directa possível, sem subterfúgios de qualquer espécie - e ainda deixou uma espécie de modelo de entrevista para o futuro; porque para eles o processo criativo é tudo e mais alguma coisa nesta experiência de partilhar canções com o mundo inteiro.
Para aqueles que não conhecem os Megafaun: o que é que eles precisam de saber imediatamente sobre a banda?

Nós somos melhores amigos e irmãos desde há muito tempo, que partilham um espaço amplo e semelhante de interesses musicais. Sentimo-nos agradecidos e gratos por termos uma plataforma para partilhar isto com o público. Tocar fora dos Estados Unidos é muito emocionante para nós, um sonho tornado realidade.

Lançaram quatro discos em cinco anos. Escrever um disco é algo simples para você? Como é todo o processo?

Não é de todo simples. É uma luta , mas já temos alguns discos para trás e sentimo-nos mais confiantes na nossa capacidade no momento de escrever canções. Sempre fomos arranjadores, mas agora estamos entusiasmados em entregar statements musicais de uma forma mais profunda. Escrevemos como uma unidade, assim como individualmente, e em todas as formações nesse processo.


Todos os vossos discos parecem acrescentar um novo elemento de um para o outro. Acham que são músicos hiperactivos com medo da repetição?

Nós não temos tanto medo de nos repetirmos como temos fome de novas experiências. A evolução é o nosso objectivo, porque isso mantém-nos ocupados e a trabalhar no duro. Muito raramente nos colocamos numa posição de olhar para trás... Tentamos sempre seguir em frente em cada passo que damos.

Sentes que todo o movimento da freak folk ajudou de certa forma a música folk, a nova música folk, a chegar a um público mais amplo, a um público mais jovem?

Nós estamos verdadeiramente desvinculados de qualquer tipo de movimento, acho eu. Temos bons amigos que tocam música em muitos círculos diferentes, todos eles inspiram-nos a procurar de uma forma mais profunda a nossa voz autêntica enquanto banda. Recebemos com alegria todas e quaisquer idades nos nossos concertos. Não sou um especialista em movimentos modernos em qualquer tipo de música, na verdade. Acho que a história é entusiasmante, no entanto.

Nestes tempos conturbados, achas que a música vai encontrar uma espécie de missão como nos anos 60? Achas que a música deve ser mais activa politicamente e culturalmente?

Nós escrevemos a partir de um ponto de vista mais pessoal e emocional. Em qualquer época do passado, a música desempenhou um papel importante em dar às pessoas algo para se agarrar, alguma coisa na onde possam ir buscar algum poder. Estou mais preocupado em passar a nossa própria inspiração para as pessoas que vão aos nossos concertos do que desempenhar qualquer tipo de papel político ou algo parecido.

Viver exclusivamente da música é uma realidade para vocês ou é apenas um desejo?

É na sua maior parte uma realidade, embora tenhamos outros interesses fora da banda. Ter isto como o nosso “pão e manteiga” é um sonho tornado realidade, mas isto ainda é complicado muitas das vezes.


Pelo que ouvi andar em digressão pela Europa e pelos Estados Unidos são experiências absolutamente diferentes. Concordas? Quais são as principais diferenças?

Sim, as bandas são tratadas muito melhor na Europa. O público na Europa também é muito mais silencioso e atento, de um modo geral. Nos Estados Unidos há muito mais conversa, e sentimos mais pressão ao actuar para manter as pessoas interessadas.

Vocês colaboraram com o senhor Bon Iver no passado. Estão surpreendidos com o sucesso dele?

Nem um pouco surpreendidos.

Acham que tocar nos Megafaun é mega fun?

Claro.

Para além disso, achas que os Megafaun são uma banda para ter uma carreira de 30 anos, 25 discos, dois Best Of e três discos ao vivo?

Esse é o nosso único sonho, sim, absolutamente. Cada decisão que tomamos, seja musical ou de gestão, é feita com a longevidade em mente. Somos melhores amigos há muito tempo, por isso sentimos que a nossa relação é uma que foi construída para durar muito tempo, o que é raro, e algo que damos o nosso melhor para não dar como garantida.


Esta é a primeira vez que eu faço isto, mas há sempre uma primeira vez. Que pergunta estás constantemente à espera que as pessoas te façam mas que nunca te fizeram realmente? E por favor sente-te à vontade para responder de imediato a essa mesma pergunta.

Sinceramente, acho que é só precisa meia-hora para alguém perceber o que quer realmente perguntar a um artista. Pessoalmente, posso ficar infinitamente a discutir o processo criativo com muitas pessoas. Acho que cada entrevista deve lidar quase exclusivamente com isso. Aqui vai uma pequena lista de questões que gostaria de lançar aos meus artistas favoritos: "O quê ou quem te influenciou para chegar a (inserir o título da canção)?", "Quando escreveste (inserir título da canção), onde é que estavas? Se pudesses escolher uma pessoa a quem dedicar essa canção, quem seria? Porquê?”, "Quando estás a escrever música, e sente que aquilo que está a sair se parece demasiado a outro artista, o que fazes para te conectares de novo com a tua própria expressão autêntica?", "Como é que lidas com um concerto quando sentes que estás demasiado dentro da tua cabeça?", “Dá-me um exemplom de uma altura em que te sentiste mais feliz a tocar para o público. Porque é que achas que esse momento se destaca para ti?”, “O que é que fazes para te sentires saudável em digressão? Isso pode ser a nível mental, físico, emocional, espiritual,criativo ou qualquer outra coisa que te venha à mente.", “Escreves na estrada ou em casa, ou ambos? Se sim, obrigas-te a seguir um horário diário ou simplesmente deixas as coisas tomarem o seu próprio rumo?”, “Algumas vez sentiste que tens outras ambições que não a música que estás a fazer? Poderia ser outro tipo de música, ou outra coisa que não a música, talvez outro negócio ou uma procura criativa totalmente diferente.”, "Se não fizesses música, o que achas que farias?”, “Alguma vez encontraste um padrão ou um estado mental (estar muito cansado, deprimido, feliz, apaixonado, etc) que produza a tua melhor criatividade, ou encontre o teu “eu” mais autêntico?", “Quando é que decidiste o que querias fazer com a tua vida?", “Define o momento em que encontraste a autenticidade nas tuas próprias palavras.", “Se tivesses que escolher um aspecto (gravar discos, tocar ao vivo, escrever canções, um instrumento específico, etc) de fazer música para a vida inteira, qual seria?", “Descrever-te-ias como um artista que mantém o seu dedo no pulso da música actual e na arte/média, ou como alguém que, ingenuamente, encontra novas ideias? Se ambas, como consegues conciliar as duas?", “Qual foi a última coisa que ouviste, leste, viste ou sentiste que te inspirou a mudar algo no teu processo criativo? Que mudança foi essa?", “Quem é a pessoa mais importante para o teu processo criativo? Quão diferente achas que seria a tua arte sem essa pessoa?".
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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