ENTREVISTAS
TV Buddhas
Cidadãos do mundo
· 01 Nov 2011 · 14:19 ·
A religião, bem como a TV, são o ópio do povo. Juntando os dois, temos o sonho molhado de qualquer aspirante a ditador. Ou a TV Record, que é quase a mesma coisa. Mas se a junção destas duas palavras soa assustadora ao mais paranóico dos anarcas, há um trio vindo da longínqua Israel que lhe retira toda e qualquer qualidade de medo que possa ter pela força avassaladora do riff. Quando faltam poucos dias para estarem no Porto, Aveiro, Barcelos, Braga e em Bragança, e numa altura em que lançaram um single pela mítica Rough Trade, conseguimos com que os hiperactivos TV Buddhas ficassem quietos durante um bocado para responderem às nossas perguntas – mesmo que todas, salvo uma, fossem uma merda. Mal terminaram, partiram de imediato em direcção ao horizonte, para salvar adolescentes embrutecidos. É assim a vida dos verdadeiros punks. No mundo contemporâneo hão-de ser os nossos super-heróis.
Começando com uma questão que tem sido amplamente discutida: o rock n´roll está morto?

Mickey: Sim.

Juval: Mmm.

Vocês são uma banda que se foca mais nas digressões, e explicam porquê no vosso site. Onde encontram forças para viver este estilo "nómada"?

Mickey: Nunca quero ir em digressões, é sempre uma luta. Faço sempre birras a meio, a querer voltar para casa. Mas acho que nunca tive coragem para desistir, por isso deixo-me sempre ir.

Uri: Eu por acaso gosto. Sou normalmente bastante calmo, mas lá no fundo sou hiperactivo e acabo por aborrecer-me com pessoas e lugares, por isso ir mudando de sítio é-me natural. Nos últimos dois anos não fiquei mais de um mês num sítio.

Juval: Eu estou numa competição com o meu pai para ver quem faz mais dinheiro. Para já ele está a ganhar.


Como é que uma banda underground recupera de um falhanço como aquele que foi a vossa digressão pelos EUA?

Mickey: A digressão nos EUA foi a coisa mais difícil que já tive de fazer. Foi assustador, estava com fome e cansada. Eventualmente, pôde-se retirar muitas coisas boas: tornámo-nos mais "banda", fez com que situações reais viessem ao de cima e pudémos escrever sobre coisas que sentimos realmente. Desde então é isso que temos feito.

Uri: Fizemos um filme sobre isso e ajudou a lidar com o que estávamos a passar.

Têm recebido elogios ao filme, de outras bandas que tiveram de enfrentar as mesmas situações? Que acham que pode motivar uma mudança na maneira como as pessoas olham para as bandas independentes?

Juval: Acho que aquilo que pode ser uma salvação é o regresso a um sentimento de comunidade (a sério, não virtual), localidade, e talvez mais paciência e menos competição.

Uri: Como a Slow Food.

A cena Israelita é assim tão má que tiveram necessidade de sair daí depressa? O melhor concerto que já vi foi de uma banda de Israel (Monotonix)...

Juval: Pelo contrário, Israel tem muitas boas bandas. O problema é que é difícil ganhar lá a vida enquanto artista.

Mickey: Acho que há por lá muita gente talentosa. Apenas sentimos a necessidade de ir em digressão e Israel é demasiado pequena.

Uri: Só após ter deixado Telavive é que me apercebi de como é fixe, mas continuo a preferir ir lá apenas de visita.

Estão prestes a entrar em nova digressão pela Europa, cerca de 50 datas. Vão tocar em algum sítio onde nunca tenham tocado? Qual é a melhor cidade em que já tocaram?

Juval: Acho que já estivemos na maior parte das cidades europeias. Eu pessoalmente gosto de ir a Londres, é excitante e eu gosto do Reino Unido.

Mickey: Eu gosto de Portugal por causa da comida, mas na maior parte das vezes não sei exactamente onde estou. É como se estivesse meio a dormir.

Uri: Gosto da Suíça e de Portugal.

Estão também prestes a lançar um novo 7´´, que vai ser o primeiro de uma série. Considerando que estão mais tempo em digressão do que num estúdio, ser-vos-ia mais fácil lançar apenas singles em vez de trabalhar em LPs? Sendo os Ramones a vossa principal influência, pensam nos discos como eles pareciam pensar neles, como apenas um conjunto de canções?

Juval: A ideia de um disco feito de diferentes gravações em diferentes locais e diferentes ocasiões é só mesmo para que o disco seja mais "orgânico", que represente melhor o nosso modo de vida.

Mickey: É uma boa maneira de experienciar sons e gravações diferentes e experimentar de tudo um pouco.

Uri: Não vejo os discos como apenas colecções de canções. Há um fio condutor entre cada canção, e esse fio é muito bem pensado.


Vi uma entrevista na internet onde vocês diziam que não faziam jams. Como surgem as canções?

Juval: Sugerimos canções. Um de nós traz uns acordes, ou letra, ou qualquer coisa, e juntamos tudo. Mas não fazemos jams. Acontece tudo logo à primeira, é assustador.

Mickey: Escrevemos canções durante as digressões, como consequência das mesmas. Falamos bastante no carro e uma canção toma forma rapidamente porque os nossos cérebros estão sincronizados e temos todos o período ao mesmo tempo, e essas cenas.

Uri: Eu faço jams comigo próprio.

Que séries de TV têm acompanhado, se é que o têm feito?

Mickey: Finalmente uma pergunta de jeito. Eastbound And Down é triste e divertida, como as nossas vidas. E, em jeito de embaraço, ficámos viciados no Fringe, que leva imenso a construir [um enredo]. Começa muito chato e CSI-cado, mas cresce na segunda temporada e vai mais para o campo do LOST encontra os X-Files.

Juval: 30 Rock. É bom ver uma comédia bem escrita como Arrested Development.

Uri: Há algum tempo que não vejo tudo, tenho um blog sobre comida, o que me mantém fechado na cozinha.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

Parceiros