ENTREVISTAS
Botswana
This rock of ours
· 15 Mar 2011 · 00:37 ·
De certeza que já vos fizeram esta pergunta muitas vezes, mas porquê o Botswana?
Marco Castro: É daquelas coisas que não tem grande explicação. Surgiu mesmo antes de termos ensaiado e foi magicado pelo João Pimenta. Acho que todos gostámos imediatamente da entoação do nome e acabou por ficar.
João Chaves: O João Pimenta foi o mentor do nome e quando eu entrei isso já estava escolhido. Não costumo perguntar o porquê dos nomes das bandas, apenas me soou bem.
Cada um de vós tem currículo em várias outras bandas. Que levou a que se juntassem?
MC: Aconteceu depois de Throes ter aberto um concerto de ALTO!, em Vale de Cambra. O João gostou do que fizemos por lá e decidiu combinar uns ensaios por e-mail, trazendo a Sofia a bordo, também. O Chaves acabou por entrar mais tarde na formação, mas integrou-se na perfeição. Acho que se juntou malta que faz coisas muito diferentes umas das outras nos projectos individuais, mas acabou por resultar bem.
JC: Eu acabei por conhecer o Marco porque ele estava à procura de alguém para dividir a sala de ensaios e eu precisava de uma para ensaiar com Dreams. Conhecemo-nos, e algum tempo depois ele disse-me que curtia o meu trabalho e perguntou-me se estaria interessado em adicionar teclados aos Botswana. Experimentámos e deu certo.
É difícil conciliar o que fazem nessas bandas com o que estão a fazer agora nos Botswana?
JC: Não. É algo que se consegue repartir. Quando não estamos a ensaiar com Botswana, há sempre algum tempo para ensaiar com as outras bandas. Existe alguma flexibilidade.
MC: Acabo por ecoar um pouco o que o Chaves disse. E acho positivo uma pessoa ter projectos diferentes, permite libertar impulsos criativos distintos. Há coisas que funcionam para Botswana e não para Throes, e vice-versa. Certamente que sentimos todos um pouco isso, nos projectos individuais.
Nessa mesma onda, poder-se-á dizer que vocês apareceram enquanto Botswana praticamente da noite para o dia - acham que esse "currículo" que já tinham foi essencial para que tenham desde logo causado algum burburinho?
JC: Não me parece. A banda já anda em ensaios desde Fevereiro de 2010 e o EP é editado em Fevereiro de 2011 - um ano depois. Houve bastante trabalho depositado na banda e não foi uma coisa da noite para o dia. Dá essa sensação, porque só nos "mostrámos" recentemente, mas foi algo que nós queríamos... aparecer quando já tivéssemos algo sólido.
MC: A verdade é mesmo essa, a banda existe há um ano e pouco. Houve muito trabalho para encontrar um patamar comum entre todos e um som que fosse mais unânime, algo que não aconteceu nos primeiros meses. Mas também acredito que o facto de já todos termos projectos vindos de trás ajudou na forma como conseguimos propagar as músicas e o nome. Ainda está tudo numa fase muito inicial nesse aspecto, não dá para analisar em grande detalhe para já.
Quase que parece que a OU! Records foi criada de propósito para editar o vosso EP. Era uma ideia traçada à partida, ou foi falta de confiança noutras/por parte de outras editoras?
MC: A ideia nasceu do João Pimenta, a editora é dele. Era algo que ele já queria experimentar há algum tempo e nós achámos por bem apoiar a ideia. É uma experiência que está a correr bem. Já temos os discos nas lojas e nos concertos e temos uma agenda que vai começando a ficar preenchida. Nos dias de hoje é perfeitamente possível qualquer banda fazer isto e nós quisemos experimentar, o que não invalida que se trabalhe com outros meios no futuro. Existem pessoas que trabalham muito bem nesses campos, não se trata de falta de confiança ou interesse.
JC: O João já andava com a ideia de formar uma editora há algum tempo. As coisas aconteceram naturalmente, não se trata de falta de confiança. Como diz o Marco, há pessoas que fazem um óptimo trabalho neste campo e não estamos alheios a isso.
Contem-me como foi o processo de gravação. Sei que foi gravado no Porto e masterizado em Londres. A quem pertence a maior parte das ideias presentes no EP? Há alguma coisa que repesquem dos vossos outros projectos?
JC: O EP foi gravado nos Estúdios Sá da Bandeira, pelo Diogo Oliveira e misturado pelo João Brandão. Em estúdio há sempre ideias a flutuar à medida que se vão gravando as diferentes partes. Cada um contribuiu com a sua, todos fomos falando sobre o que deveria ou poderia ser e foi-se experimentando de maneira a chegar àquilo que realmente pretendíamos. Há sempre influências dos outros projectos, ainda que inconscientes ou subtis, mas que acabam sempre por se adaptar ao trabalho de Botswana.
MC: É exactamente o que o Chaves disse. Houve um espírito colaborativo entre todos. Cada um dá opiniões e ideias sem grandes problemas. Há abertura para corrigir e ouvir o que os outros dizem. Não é o projecto de ninguém, é colectivo. Pessoalmente, tentei distanciar um pouco o som de Botswana do de Throes, uso uma afinação diferente e uma abordagem oposta, mas é óbvio que acaba por cair sempre algum floreado aqui ou ali. Faz parte da pessoa, é normal.
O engenheiro de som que tratou do vosso EP em Londres, o Stuart Hawkes, tem um longo percurso de trabalho, especialmente com artistas de vertente mais electrónica. Ficaram satisfeitos com o resultado final?
JC: Muito. Apesar da sua vertente mais electrónica também já trabalhou com Super Furry Animals e These New Puritans, o que nos impressionou bastante. No final de tudo o resultado foi o pretendido e estamos bastante satisfeitos.
MC: Ficámos satisfeitos. Trabalham de uma forma muito profissional e conseguiram moldar as coisas da forma que pedimos. É sempre bom poder trabalhar com pessoas que já lidaram com artistas que respeitamos e de que gostamos imenso.
Quais são os planos imediatos dos Botswana, a seguir ao lançamento da edição física do disco? Já se pensa em LP?
MC: Para já pensamos em ir para a estrada, ganhar coesão em concerto e dar o melhor espectáculo possível. Mas a verdade é que já pensamos em fazer um álbum. Estamos a apontar para o final do ano, em princípio. É algo que ainda está dependente de muitas coisas. Tanto pode ser adiantado como adiado, mas penso que será uma inevitabilidade.
JC: Acho que não preciso de responder, o Marco disse tudo.
Sentem que, com todas as bandas que têm surgido e festivais que têm tido relativo sucesso, esta é a melhor altura para se fazer música em Portugal?
MC: Creio que é uma óptima altura para se fazer música por cá. É mais fácil de divulgar, é mais fácil de tocar e é mais fácil de atraíres um determinado público. No entanto, ainda acho que seja algo efémero, a maioria da malta faz as coisas por amor à camisola. Ainda é complicado tirar dividendos que permitam que um gajo se dedique por completo a isto.
JC: Acho que a melhor altura é quando tu quiseres desde que haja trabalho e dedicação. É certo que estamos numa altura em que se consome mais música feita em Portugal, mas também grande parte dela apenas é consumida por "likes", porque no que toca a concertos e compra de álbuns a coisa já não é bem assim.
E, claro está: imaginam-se a tocar no próprio Botswana?
MC: Claro que não. Ainda éramos devorados por tigres. Se bem que até soa engraçado.
JC: Óbvio que não, se bem que com tudo pago não me importava.
Paulo CecílioMarco Castro: É daquelas coisas que não tem grande explicação. Surgiu mesmo antes de termos ensaiado e foi magicado pelo João Pimenta. Acho que todos gostámos imediatamente da entoação do nome e acabou por ficar.
João Chaves: O João Pimenta foi o mentor do nome e quando eu entrei isso já estava escolhido. Não costumo perguntar o porquê dos nomes das bandas, apenas me soou bem.
Cada um de vós tem currículo em várias outras bandas. Que levou a que se juntassem?
MC: Aconteceu depois de Throes ter aberto um concerto de ALTO!, em Vale de Cambra. O João gostou do que fizemos por lá e decidiu combinar uns ensaios por e-mail, trazendo a Sofia a bordo, também. O Chaves acabou por entrar mais tarde na formação, mas integrou-se na perfeição. Acho que se juntou malta que faz coisas muito diferentes umas das outras nos projectos individuais, mas acabou por resultar bem.
JC: Eu acabei por conhecer o Marco porque ele estava à procura de alguém para dividir a sala de ensaios e eu precisava de uma para ensaiar com Dreams. Conhecemo-nos, e algum tempo depois ele disse-me que curtia o meu trabalho e perguntou-me se estaria interessado em adicionar teclados aos Botswana. Experimentámos e deu certo.
É difícil conciliar o que fazem nessas bandas com o que estão a fazer agora nos Botswana?
JC: Não. É algo que se consegue repartir. Quando não estamos a ensaiar com Botswana, há sempre algum tempo para ensaiar com as outras bandas. Existe alguma flexibilidade.
MC: Acabo por ecoar um pouco o que o Chaves disse. E acho positivo uma pessoa ter projectos diferentes, permite libertar impulsos criativos distintos. Há coisas que funcionam para Botswana e não para Throes, e vice-versa. Certamente que sentimos todos um pouco isso, nos projectos individuais.
Nessa mesma onda, poder-se-á dizer que vocês apareceram enquanto Botswana praticamente da noite para o dia - acham que esse "currículo" que já tinham foi essencial para que tenham desde logo causado algum burburinho?
JC: Não me parece. A banda já anda em ensaios desde Fevereiro de 2010 e o EP é editado em Fevereiro de 2011 - um ano depois. Houve bastante trabalho depositado na banda e não foi uma coisa da noite para o dia. Dá essa sensação, porque só nos "mostrámos" recentemente, mas foi algo que nós queríamos... aparecer quando já tivéssemos algo sólido.
MC: A verdade é mesmo essa, a banda existe há um ano e pouco. Houve muito trabalho para encontrar um patamar comum entre todos e um som que fosse mais unânime, algo que não aconteceu nos primeiros meses. Mas também acredito que o facto de já todos termos projectos vindos de trás ajudou na forma como conseguimos propagar as músicas e o nome. Ainda está tudo numa fase muito inicial nesse aspecto, não dá para analisar em grande detalhe para já.
Quase que parece que a OU! Records foi criada de propósito para editar o vosso EP. Era uma ideia traçada à partida, ou foi falta de confiança noutras/por parte de outras editoras?
MC: A ideia nasceu do João Pimenta, a editora é dele. Era algo que ele já queria experimentar há algum tempo e nós achámos por bem apoiar a ideia. É uma experiência que está a correr bem. Já temos os discos nas lojas e nos concertos e temos uma agenda que vai começando a ficar preenchida. Nos dias de hoje é perfeitamente possível qualquer banda fazer isto e nós quisemos experimentar, o que não invalida que se trabalhe com outros meios no futuro. Existem pessoas que trabalham muito bem nesses campos, não se trata de falta de confiança ou interesse.
JC: O João já andava com a ideia de formar uma editora há algum tempo. As coisas aconteceram naturalmente, não se trata de falta de confiança. Como diz o Marco, há pessoas que fazem um óptimo trabalho neste campo e não estamos alheios a isso.
Contem-me como foi o processo de gravação. Sei que foi gravado no Porto e masterizado em Londres. A quem pertence a maior parte das ideias presentes no EP? Há alguma coisa que repesquem dos vossos outros projectos?
JC: O EP foi gravado nos Estúdios Sá da Bandeira, pelo Diogo Oliveira e misturado pelo João Brandão. Em estúdio há sempre ideias a flutuar à medida que se vão gravando as diferentes partes. Cada um contribuiu com a sua, todos fomos falando sobre o que deveria ou poderia ser e foi-se experimentando de maneira a chegar àquilo que realmente pretendíamos. Há sempre influências dos outros projectos, ainda que inconscientes ou subtis, mas que acabam sempre por se adaptar ao trabalho de Botswana.
MC: É exactamente o que o Chaves disse. Houve um espírito colaborativo entre todos. Cada um dá opiniões e ideias sem grandes problemas. Há abertura para corrigir e ouvir o que os outros dizem. Não é o projecto de ninguém, é colectivo. Pessoalmente, tentei distanciar um pouco o som de Botswana do de Throes, uso uma afinação diferente e uma abordagem oposta, mas é óbvio que acaba por cair sempre algum floreado aqui ou ali. Faz parte da pessoa, é normal.
O engenheiro de som que tratou do vosso EP em Londres, o Stuart Hawkes, tem um longo percurso de trabalho, especialmente com artistas de vertente mais electrónica. Ficaram satisfeitos com o resultado final?
JC: Muito. Apesar da sua vertente mais electrónica também já trabalhou com Super Furry Animals e These New Puritans, o que nos impressionou bastante. No final de tudo o resultado foi o pretendido e estamos bastante satisfeitos.
MC: Ficámos satisfeitos. Trabalham de uma forma muito profissional e conseguiram moldar as coisas da forma que pedimos. É sempre bom poder trabalhar com pessoas que já lidaram com artistas que respeitamos e de que gostamos imenso.
Quais são os planos imediatos dos Botswana, a seguir ao lançamento da edição física do disco? Já se pensa em LP?
MC: Para já pensamos em ir para a estrada, ganhar coesão em concerto e dar o melhor espectáculo possível. Mas a verdade é que já pensamos em fazer um álbum. Estamos a apontar para o final do ano, em princípio. É algo que ainda está dependente de muitas coisas. Tanto pode ser adiantado como adiado, mas penso que será uma inevitabilidade.
JC: Acho que não preciso de responder, o Marco disse tudo.
Sentem que, com todas as bandas que têm surgido e festivais que têm tido relativo sucesso, esta é a melhor altura para se fazer música em Portugal?
MC: Creio que é uma óptima altura para se fazer música por cá. É mais fácil de divulgar, é mais fácil de tocar e é mais fácil de atraíres um determinado público. No entanto, ainda acho que seja algo efémero, a maioria da malta faz as coisas por amor à camisola. Ainda é complicado tirar dividendos que permitam que um gajo se dedique por completo a isto.
JC: Acho que a melhor altura é quando tu quiseres desde que haja trabalho e dedicação. É certo que estamos numa altura em que se consome mais música feita em Portugal, mas também grande parte dela apenas é consumida por "likes", porque no que toca a concertos e compra de álbuns a coisa já não é bem assim.
E, claro está: imaginam-se a tocar no próprio Botswana?
MC: Claro que não. Ainda éramos devorados por tigres. Se bem que até soa engraçado.
JC: Óbvio que não, se bem que com tudo pago não me importava.
pauloandrececilio@gmail.com
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