ENTREVISTAS
Octa Push
Portugal tentacular
· 15 Nov 2010 · 22:10 ·

De Carcavelos para o mundo é uma coisa complicada? Ou estas coisas da internet e os novos media colocam toda gente onde toda a gente quiser?
Dizzycutter: Não foi muito complicado porque foi algo para a qual não nos esforçámos muito, logo não tínhamos grandes expectativas. Actualmente esforçamo-nos e trabalhamos mais pelas coisas, mas na altura levávamos na desportiva e aproveitámos o facto do Myspace ser uma plataforma que realmente ajudava os novos produtores a partilhar as suas músicas com outros produtores e não só. Hoje já não é bem assim, apesar dos inúmeros sites de partilha e de alojamento de músicas. O Twitter e o Facebook são o Hype do momento, e esse tipo de plataforma já não ajuda tanto o produtor a divulgar a sua música como o Myspace o fazia. A meu ver, quando um projecto tem qualidade, a probabilidade de ele chegar aos ouvidos de alguém importante, que pode divulgar a música é maior. Por vezes isso não acontece e grandes projectos morrem na gaveta, mas quero acreditar que esses são uma minoria.
Qual foi o input que vos levou a criar os Octa Push? Teve alguma coisa a ver com este impulso positivo da música dita urbana em Portugal dos últimos anos? Saúdam esse impulso?
Mushug: Já fazemos música há bastantes anos, o meu irmão começou por ser baterista de uma banda de metal/hip-hop na sua adolescência, mais tarde dedicou-se ao Drum'n'Bass e acabou por me motivar a produzir. Anos mais tarde, virei-me para sonoridades mais 140bpm e acabei por incentivar o Dizzycutter a voltar aos botões, já que ele andava desaparecido. Depois surgiram os Octa Push, um bocado obrigados até... pelo pessoal da Conspira/Iberian Records. Tínhamos algumas músicas que levávamos para os Conspira tocarem numas noites de dubstep no Mini-mercado à quinta-feira. Eles ouviram as nossas produções e disseram-nos para arranjarmos um nome que nos metiam a tocar um mês depois no Porto-Rio. Foi aí que arrancou. É claro que isto inserido numa altura em que myspace estava em alta também ajudou.
Como foi poder mostrar o vosso trabalho no Sónar, o Amsterdam Dance Event ou no Fabric quase antes de o vosso nome soar em Portugal?
Mushug: Foi bastante estranho, tocámos nesses sítios sempre por boca ou myspace, ou porque um viu e disse ao outro, e coisas assim. Na altura não tínhamos lançamentos cá fora nem agenciamento nem nada! Tocámos a primeira vez fora de portas em Abril de 2009 a convite da Madame e na altura uma pessoa do Fabric com que falávamos por e-mail, foi ver-nos a Londres, curtiu e convidou-nos para lá tocar. No dia seguinte tocámos em Bristol com o pessoal que viria a formar a Steakhouse Records, eles curtiram e convidaram-nos para o festival Glade e por aí fora… No Sonar 2009 um holandês viu-nos, curtiu, e chamou-nos para o Amsterdam Dance Event. Em Portugal houve um lag de mais ou menos 6 meses. Se calhar por culpa nossa (ou não). Só quando os discos começaram a sair é que divulgámos as coisas cá. Mas também sempre fomos mais de fazer as coisas com calma, nunca tivemos jeito para marketing e criar hype. Não sei se isso é bom ou mau, mas pelo menos tira-nos alguma pressão que possa surgir.
Editaram um tema ("Quebu Sabe") no segundo volume de Steppa's Delight na Soul Jazz Records. O que é que vos passou pela cabeça na altura?
Mushug: “Quebu Sabe” foi um dos nossos primeiros temas em conjunto e nem nos identificamos muito com a faixa em si ,mas ao mesmo tempo deixa-nos orgulhosos já que se trata de uma editora de culto da qual já admirávamos. Ficámos bastante contentes, pois também estamos ao lado do Mr Gasparov e dos Buraka na compilação, pessoal tuga que respeitamos bastante. Três músicas tugas numa compilação estrangeira é obra!
Dizzycutter: Quando o meu irmão me disse, achava que era tanga. Ele tinha estado na Red Bull Music Academy de Barcelona e tinha conhecido no LX Taster a Emma que é responsável pela compilação. A Emma tinha lhe dito que tinha seleccionado uma música, mas entretanto demoraram meses até ter as coisas todas tratadas e eu achava que ela tinha dito aquilo só na boa onda e tal, ou que o meu irmão tinha percebido mal… [risos]
A aposta da Iberian Records foi responsável importante de tudo isto que de bom vos aconteceu? Devem-lhes muito?
Mushug: Claro! Conhecemos o Xu da Conspira/Unidade Sonora/Iberian em 2005 e mais tarde o seu colega e amigo Roka. Eu enviava-lhes faixas e cheguei a tocar bastantes vezes com a Unidade Sonora, talvez por serem dos poucos projectos de dubstep da altura. Como dissemos anteriormente, foram eles que nos incentivaram a juntar forças e formar Octa Push, quando nos marcaram um gig no Porto Rio. E foram eles também os primeiros a apostar em nós em termos de lançamentos de originais em disco. Podemos dizer que somos fruto da Iberian Records. Somos a maçã podre daquele pomar.
Dizzycutter: E são acima de tudo amigos. Depois deles há mais pessoas importantes como o pessoal de Londres e Bristol da Steackhouse, a Madame e a Enchufada, mas eles foram os primeiros... E nunca se esquece a primeira vez!
Até onde é que querem ir e até onde até que acham que os Octa Push podem ir? Até que ponto acham que a qualidade musical pode hoje em dia ser factor exclusivo para chegar a muita gente?
Mushug: Não sabemos até onde podemos ir, em dois anos e meio tem superado as nossas expectativas… Mas queremos tocar mais vezes em formato banda, estreámos no Optimus Alive com bateria, vozes, percussões e correu bastante bem, já que as músicas ganham bastante nesse formato. Depois sítios tipo Japão, Malásia, Austrália, Canadá, África do Sul... Sei lá, também nunca pensámos muito nisso é deixar as cenas acontecerem.
Dizzycutter: Em relação à qualidade musical... Depende do que se define como qualidade musical. Oiço muita coisa que para mim tem pouca qualidade e que bomba forte. Mas se bomba, é porque o meu conceito de qualidade é diferente de outras pessoas. De nossa parte, estando inseridos num estilo electrónico, em certas músicas tentamos mudar um pouco a forma como estão estruturadas. Neste estilo existe muito o método da música com uma intro, desenvolvimento, paragem, repetição do desenvolvimento e fim. Por vezes tentamos mudar isso, e até usar ritmos com mais contratempos em músicas que funcionam acima de tudo em pista. É um risco, e podemos não chegar a tanta gente por fazer isso, pois tornam-se menos easy listening na pista, mas pelo menos tentamos mudar um pouco os conceitos já estabelecidos. Daqui a uns anos podemos nem existir, mas pelo menos fica o registo de uns produtores que faziam umas cenas assim meio eskizo dançáveis.
Sentem que existem poucos meios em Portugal onde a vossa música possa ser escutada ou criticada ou mostrada? Ou acham que a internet vai tender a resolver isso a curto prazo?
Dizzycutter: Ainda não conseguimos responder a essa questão a 100%. Meios existem, oportunidades é que já não sei. Quando tivermos um videoclip e um CD cá fora, aí sim, já poderemos responder melhor, pois ao contrário dos lançamentos em vinil, um CD ou um vídeo, ajuda a chegar mais facilmente às pessoas. Mas do que temos editado anteriormente (na maioria em vinil), a exposição tem sido razoável, embora agora comecem a surgir oportunidades e convites também cá em Portugal. Vamos esperar para ver. No final do ano pode ser que tenhamos uma opinião mais formada. Mas a internet não resolve tudo.
Viver só com o trabalho nos Octa Push, desejam que isso seja possível ou têm também os vossos afazeres noutras áreas?
Dizzycutter: Trabalho em Design e gosto do que faço. Hoje pode-me apetecer largar o Design e dedicar-me 100% à música, mas se calhar daqui a uns anitos, a música passa a ser a rotina e irei necessitar de descomprimir com o design. Sendo assim prefiro fazer as duas coisas.
Mushug: Neste momento estou a colaborar num projecto de inclusão social, também na área da música. Como o Leo disse, o importante é continuarmos a curtir com Octa Push e não nos fartarmos, mas se ajudar melhor… Os tempos estão complicados. [risos]
Dizia no outro dia o Hélio Morais dos Paus o seguinte: “hoje em dia começamos a gostar de nós próprios e a perceber que não devemos nada a ninguém. Não somos piores nem melhores que o que vem de fora, somos diferentes”. Presumo que concordem com isto a toda a força.
Mushug: E diz o Hélio muito bem! Passa um bocado por assumirmos a nossa identidade, logo aí será mais fácil a cena de se poder criar algo de novo. Temos uma enorme herança e riqueza sonora debaixo dos nossos narizes…
Dizzycutter: O tuga tem tendência para achar grandioso aquilo que não conhece. Antes, devido às limitações de distância, meios, etc... Achávamos que os Ingleses, Americanos eram superiores a nós. Hoje sendo mais fácil conhecer cada país e partilhar conhecimento com as pessoas, digo que têm melhores condições, mas não são melhores. Temos uma cultura riquíssima e só temos estado assim, digamos, um bocado atrasados, porque tirando nuestros hermanos, os nossos vizinhos são peixinhos. Com a net, fica fácil. Hoje temos as músicas que os ingleses, franceses, chineses têm e não é precisamos de ter uma tia que nos trás os discos quando vem a Portugal de férias - como há 15/20 anos - e é por isso que estamos a sair da toca…
Que feedback tiveram dos concertos lá fora? As pessoas estranham quando sabem que são portugueses ou será que os Buraka já prepararam bem o caminho nesse sentido?
Mushug: Temos tido feedback bastante bom. Tanto em festas de determinados nichos de som como em eventos com um público mais diversificado… Em relação a estranharem a nossa nacionalidade... Não acontece, pois sacam-nos logo pinta de tugas pela baixa estatura e pelo bigode do meu irmão.
Dizzycutter: Sim, os Buraka encarregaram-se de fazer a papinha toda. Nós e outros aproveitamos isso, e quando somos entrevistados ou falamos com pessoas, já não precisamos de dizer uma serie de coisas, tais como, as influências africanas que temos em Portugal, que isto aqui não é só Fado e que o Benfica já não é o nº1 de Portugal. O bigode é só às vezes, mas agora evito quando vamos tocar fora.
Acabei de saber que o DJ Shadow elogiou os Orelha Negra no twitter dele. Isto está a ficar bastante sério, não está?
Dizzycutter: Lá está! O que eu dizia na primeira questão.
Mushug: Sim e tanto eles, como por exemplo, os já falados PAUS, na minha opinião metem muitas bandas "patrocinadas" pela Pitchfork ou NME no bolso…
Só para fechar pedia que nos dessem algumas luzes acerca das novas edições preparadas para o futuro breve. É possível? Vem aí disco para breve?
Mushug: Saiu agora em Outubro um EP na Optimus Discos que se chama Baluba e conta com participações do Karlon (aka K-Tronik) dos Nigga Poison, Toni Clean dos Mundo Complexo e Infestus. O EP tem ainda uma música com o MC Zulu que já havia sido editada anteriormente. O Henrique Amaro propôs-nos editar algumas músicas que tínhamos editado, mas optámos por fazer umas novas. Tivemos pouco tempo para as produzir, mas foi uma experiência engraçada porque acabámos até por fazer uma ou outra coisa diferente do nosso registo habitual. Temos um tema numa compilação da Iberian Records a sair no inicio de 2011, assim como outros lançamentos e remisturas que irão surgir ao longo do ano. Continuamos a colaborar com alguns vocalistas, como o MC Zulu, o K-Tronik e Toni Clean. Os dois últimos são presença no formato banda. Vamos fazendo também coisas para o álbum que queremos apresentar no próximo ano que terá colaborações tugas e estrangeiras. Algumas músicas já estão finalizadas e gostamos bastante do resultado final. Ainda estamos à espera de umas respostas a nível de colaborações que irão enriquecer bastante aquilo que estamos a fazer.
André GomesDizzycutter: Não foi muito complicado porque foi algo para a qual não nos esforçámos muito, logo não tínhamos grandes expectativas. Actualmente esforçamo-nos e trabalhamos mais pelas coisas, mas na altura levávamos na desportiva e aproveitámos o facto do Myspace ser uma plataforma que realmente ajudava os novos produtores a partilhar as suas músicas com outros produtores e não só. Hoje já não é bem assim, apesar dos inúmeros sites de partilha e de alojamento de músicas. O Twitter e o Facebook são o Hype do momento, e esse tipo de plataforma já não ajuda tanto o produtor a divulgar a sua música como o Myspace o fazia. A meu ver, quando um projecto tem qualidade, a probabilidade de ele chegar aos ouvidos de alguém importante, que pode divulgar a música é maior. Por vezes isso não acontece e grandes projectos morrem na gaveta, mas quero acreditar que esses são uma minoria.
Qual foi o input que vos levou a criar os Octa Push? Teve alguma coisa a ver com este impulso positivo da música dita urbana em Portugal dos últimos anos? Saúdam esse impulso?
Mushug: Já fazemos música há bastantes anos, o meu irmão começou por ser baterista de uma banda de metal/hip-hop na sua adolescência, mais tarde dedicou-se ao Drum'n'Bass e acabou por me motivar a produzir. Anos mais tarde, virei-me para sonoridades mais 140bpm e acabei por incentivar o Dizzycutter a voltar aos botões, já que ele andava desaparecido. Depois surgiram os Octa Push, um bocado obrigados até... pelo pessoal da Conspira/Iberian Records. Tínhamos algumas músicas que levávamos para os Conspira tocarem numas noites de dubstep no Mini-mercado à quinta-feira. Eles ouviram as nossas produções e disseram-nos para arranjarmos um nome que nos metiam a tocar um mês depois no Porto-Rio. Foi aí que arrancou. É claro que isto inserido numa altura em que myspace estava em alta também ajudou.
Como foi poder mostrar o vosso trabalho no Sónar, o Amsterdam Dance Event ou no Fabric quase antes de o vosso nome soar em Portugal?
Mushug: Foi bastante estranho, tocámos nesses sítios sempre por boca ou myspace, ou porque um viu e disse ao outro, e coisas assim. Na altura não tínhamos lançamentos cá fora nem agenciamento nem nada! Tocámos a primeira vez fora de portas em Abril de 2009 a convite da Madame e na altura uma pessoa do Fabric com que falávamos por e-mail, foi ver-nos a Londres, curtiu e convidou-nos para lá tocar. No dia seguinte tocámos em Bristol com o pessoal que viria a formar a Steakhouse Records, eles curtiram e convidaram-nos para o festival Glade e por aí fora… No Sonar 2009 um holandês viu-nos, curtiu, e chamou-nos para o Amsterdam Dance Event. Em Portugal houve um lag de mais ou menos 6 meses. Se calhar por culpa nossa (ou não). Só quando os discos começaram a sair é que divulgámos as coisas cá. Mas também sempre fomos mais de fazer as coisas com calma, nunca tivemos jeito para marketing e criar hype. Não sei se isso é bom ou mau, mas pelo menos tira-nos alguma pressão que possa surgir.
![]() |
Editaram um tema ("Quebu Sabe") no segundo volume de Steppa's Delight na Soul Jazz Records. O que é que vos passou pela cabeça na altura?
Mushug: “Quebu Sabe” foi um dos nossos primeiros temas em conjunto e nem nos identificamos muito com a faixa em si ,mas ao mesmo tempo deixa-nos orgulhosos já que se trata de uma editora de culto da qual já admirávamos. Ficámos bastante contentes, pois também estamos ao lado do Mr Gasparov e dos Buraka na compilação, pessoal tuga que respeitamos bastante. Três músicas tugas numa compilação estrangeira é obra!
Dizzycutter: Quando o meu irmão me disse, achava que era tanga. Ele tinha estado na Red Bull Music Academy de Barcelona e tinha conhecido no LX Taster a Emma que é responsável pela compilação. A Emma tinha lhe dito que tinha seleccionado uma música, mas entretanto demoraram meses até ter as coisas todas tratadas e eu achava que ela tinha dito aquilo só na boa onda e tal, ou que o meu irmão tinha percebido mal… [risos]
A aposta da Iberian Records foi responsável importante de tudo isto que de bom vos aconteceu? Devem-lhes muito?
Mushug: Claro! Conhecemos o Xu da Conspira/Unidade Sonora/Iberian em 2005 e mais tarde o seu colega e amigo Roka. Eu enviava-lhes faixas e cheguei a tocar bastantes vezes com a Unidade Sonora, talvez por serem dos poucos projectos de dubstep da altura. Como dissemos anteriormente, foram eles que nos incentivaram a juntar forças e formar Octa Push, quando nos marcaram um gig no Porto Rio. E foram eles também os primeiros a apostar em nós em termos de lançamentos de originais em disco. Podemos dizer que somos fruto da Iberian Records. Somos a maçã podre daquele pomar.
Dizzycutter: E são acima de tudo amigos. Depois deles há mais pessoas importantes como o pessoal de Londres e Bristol da Steackhouse, a Madame e a Enchufada, mas eles foram os primeiros... E nunca se esquece a primeira vez!
Até onde é que querem ir e até onde até que acham que os Octa Push podem ir? Até que ponto acham que a qualidade musical pode hoje em dia ser factor exclusivo para chegar a muita gente?
Mushug: Não sabemos até onde podemos ir, em dois anos e meio tem superado as nossas expectativas… Mas queremos tocar mais vezes em formato banda, estreámos no Optimus Alive com bateria, vozes, percussões e correu bastante bem, já que as músicas ganham bastante nesse formato. Depois sítios tipo Japão, Malásia, Austrália, Canadá, África do Sul... Sei lá, também nunca pensámos muito nisso é deixar as cenas acontecerem.
Dizzycutter: Em relação à qualidade musical... Depende do que se define como qualidade musical. Oiço muita coisa que para mim tem pouca qualidade e que bomba forte. Mas se bomba, é porque o meu conceito de qualidade é diferente de outras pessoas. De nossa parte, estando inseridos num estilo electrónico, em certas músicas tentamos mudar um pouco a forma como estão estruturadas. Neste estilo existe muito o método da música com uma intro, desenvolvimento, paragem, repetição do desenvolvimento e fim. Por vezes tentamos mudar isso, e até usar ritmos com mais contratempos em músicas que funcionam acima de tudo em pista. É um risco, e podemos não chegar a tanta gente por fazer isso, pois tornam-se menos easy listening na pista, mas pelo menos tentamos mudar um pouco os conceitos já estabelecidos. Daqui a uns anos podemos nem existir, mas pelo menos fica o registo de uns produtores que faziam umas cenas assim meio eskizo dançáveis.
Sentem que existem poucos meios em Portugal onde a vossa música possa ser escutada ou criticada ou mostrada? Ou acham que a internet vai tender a resolver isso a curto prazo?
Dizzycutter: Ainda não conseguimos responder a essa questão a 100%. Meios existem, oportunidades é que já não sei. Quando tivermos um videoclip e um CD cá fora, aí sim, já poderemos responder melhor, pois ao contrário dos lançamentos em vinil, um CD ou um vídeo, ajuda a chegar mais facilmente às pessoas. Mas do que temos editado anteriormente (na maioria em vinil), a exposição tem sido razoável, embora agora comecem a surgir oportunidades e convites também cá em Portugal. Vamos esperar para ver. No final do ano pode ser que tenhamos uma opinião mais formada. Mas a internet não resolve tudo.
![]() |
Viver só com o trabalho nos Octa Push, desejam que isso seja possível ou têm também os vossos afazeres noutras áreas?
Dizzycutter: Trabalho em Design e gosto do que faço. Hoje pode-me apetecer largar o Design e dedicar-me 100% à música, mas se calhar daqui a uns anitos, a música passa a ser a rotina e irei necessitar de descomprimir com o design. Sendo assim prefiro fazer as duas coisas.
Mushug: Neste momento estou a colaborar num projecto de inclusão social, também na área da música. Como o Leo disse, o importante é continuarmos a curtir com Octa Push e não nos fartarmos, mas se ajudar melhor… Os tempos estão complicados. [risos]
Dizia no outro dia o Hélio Morais dos Paus o seguinte: “hoje em dia começamos a gostar de nós próprios e a perceber que não devemos nada a ninguém. Não somos piores nem melhores que o que vem de fora, somos diferentes”. Presumo que concordem com isto a toda a força.
Mushug: E diz o Hélio muito bem! Passa um bocado por assumirmos a nossa identidade, logo aí será mais fácil a cena de se poder criar algo de novo. Temos uma enorme herança e riqueza sonora debaixo dos nossos narizes…
Dizzycutter: O tuga tem tendência para achar grandioso aquilo que não conhece. Antes, devido às limitações de distância, meios, etc... Achávamos que os Ingleses, Americanos eram superiores a nós. Hoje sendo mais fácil conhecer cada país e partilhar conhecimento com as pessoas, digo que têm melhores condições, mas não são melhores. Temos uma cultura riquíssima e só temos estado assim, digamos, um bocado atrasados, porque tirando nuestros hermanos, os nossos vizinhos são peixinhos. Com a net, fica fácil. Hoje temos as músicas que os ingleses, franceses, chineses têm e não é precisamos de ter uma tia que nos trás os discos quando vem a Portugal de férias - como há 15/20 anos - e é por isso que estamos a sair da toca…
Que feedback tiveram dos concertos lá fora? As pessoas estranham quando sabem que são portugueses ou será que os Buraka já prepararam bem o caminho nesse sentido?
Mushug: Temos tido feedback bastante bom. Tanto em festas de determinados nichos de som como em eventos com um público mais diversificado… Em relação a estranharem a nossa nacionalidade... Não acontece, pois sacam-nos logo pinta de tugas pela baixa estatura e pelo bigode do meu irmão.
Dizzycutter: Sim, os Buraka encarregaram-se de fazer a papinha toda. Nós e outros aproveitamos isso, e quando somos entrevistados ou falamos com pessoas, já não precisamos de dizer uma serie de coisas, tais como, as influências africanas que temos em Portugal, que isto aqui não é só Fado e que o Benfica já não é o nº1 de Portugal. O bigode é só às vezes, mas agora evito quando vamos tocar fora.
Acabei de saber que o DJ Shadow elogiou os Orelha Negra no twitter dele. Isto está a ficar bastante sério, não está?
Dizzycutter: Lá está! O que eu dizia na primeira questão.
Mushug: Sim e tanto eles, como por exemplo, os já falados PAUS, na minha opinião metem muitas bandas "patrocinadas" pela Pitchfork ou NME no bolso…
Só para fechar pedia que nos dessem algumas luzes acerca das novas edições preparadas para o futuro breve. É possível? Vem aí disco para breve?
Mushug: Saiu agora em Outubro um EP na Optimus Discos que se chama Baluba e conta com participações do Karlon (aka K-Tronik) dos Nigga Poison, Toni Clean dos Mundo Complexo e Infestus. O EP tem ainda uma música com o MC Zulu que já havia sido editada anteriormente. O Henrique Amaro propôs-nos editar algumas músicas que tínhamos editado, mas optámos por fazer umas novas. Tivemos pouco tempo para as produzir, mas foi uma experiência engraçada porque acabámos até por fazer uma ou outra coisa diferente do nosso registo habitual. Temos um tema numa compilação da Iberian Records a sair no inicio de 2011, assim como outros lançamentos e remisturas que irão surgir ao longo do ano. Continuamos a colaborar com alguns vocalistas, como o MC Zulu, o K-Tronik e Toni Clean. Os dois últimos são presença no formato banda. Vamos fazendo também coisas para o álbum que queremos apresentar no próximo ano que terá colaborações tugas e estrangeiras. Algumas músicas já estão finalizadas e gostamos bastante do resultado final. Ainda estamos à espera de umas respostas a nível de colaborações que irão enriquecer bastante aquilo que estamos a fazer.
andregomes@bodyspace.net
RELACIONADO / Octa Push