ENTREVISTAS
RED Trio
Vermelho vivo
· 30 Jul 2010 · 14:45 ·
O RED Trio é um dos mais inovadores grupos nacionais da actualidade. Nasceu ligado ao jazz, utiliza os elementos da improvisação, mas vai para além de categorizações simples. Este trio encarnado desenvolve uma música altamente criativa, que experimenta, descobre, dialoga. Três instrumentos clássicos - piano, contrabaixo e bateria - ganham novas cores, descobrem novas dinâmicas. Com um disco editado no início do ano, através da Clean Feed, a colher elogios um pouco por todo o lado, o grupo tem enveredado por colaborações com improvisadores de topo, como o saxofonista John Butcher ou o trompetista Nate Wooley. O trio reúne Rodrigo Pinheiro (piano), Hernâni Faustino (contrabaixo) e Gabriel Ferrandini (bateria) e daqui a alguns dias estes músicos apresentam-se ao vivo no Jazz Em Agosto. Enquanto esperamos por esse concerto, o contrabaixista contou-nos um pouco da história do grupo.
Como nasceu o RED trio?

Achei que era altura de começar a ter uma formação com músicos com os quais tinha afinidades em comum e também na forma de pensar e de improvisar a música. No fundo queria desenvolver algo mais sólido junto de músicos em que pudesse confiar e partilhar música, estas foram as principais premissas para a formação do trio.

Como é que te lembraste do Rodrigo Pinheiro e o Gabriel Ferrandini?

A primeira vez que conheci o Rodrigo Pinheiro foi num concerto do decateto de Ernesto Rodrigues no Hot Clube. O Rodrigo é um pianista fantástico e na altura gostei imenso de ter tocado com ele, e também de o conhecer pessoalmente. Pouco tempo depois conheci o Gabriel Ferrandini, que também tocou em alguns concertos da VGO, e achei interessante a forma como ele explorava a bateria. A partir daí a ideia do trio começou a ganhar forma e depois bastou um simples e-mail para começarmos a tocar juntos.

O trio de piano é um formato clássico no jazz, porquê a escolha por este formato tão típico, para fazer uma música pouco tradicional?

O trio de piano aconteceu de forma natural. O importante são os músicos com quem tu partilhas música, se o Rodrigo ou o Gabriel tocassem outros instrumentos provavelmente tocaríamos juntos porque o que interessa são as ideias e afinidades que nos juntam como músicos.

© Nuno Martins

O RED Trio editou este ano um disco pela Clean Feed. Ficaram satisfeitos com o resultado? Esse disco é o melhor reflexo daquilo que é o trabalho do RED Trio?

Foi bastante positivo e estamos satisfeitos com o resultado. O disco é o melhor reflexo da linguagem que o trio desenvolveu até à data da gravação. A prova disso têm sido as excelentes críticas que o disco tem tido a nível nacional e mundial, são poucas as pessoas que não nos entendem!

Aqui há uns tempos (e também mais recentemente no festival galego ImaxinaSons) deram alguns concertos com o lendário saxofonista inglês John Butcher. Como correu a experiência?

Foi uma experiência muito importante para nós. O John Butcher é um músico que adora desafios e tem uma concepção musical que nos agrada imenso. Foi importante sentir a evolução musical do trio com o John ultrapassar o "trio + um", e assistir ao despoletar de uma comunhão de ideias transformar-se num quarteto coerente e de grande empatia.

Actuaram em Nova Iorque e Chicago, na edição deste ano do Festival Clean Feed. Como correram esses concertos?

Foram concertos bastante diferentes. Em Nova Iorque convidamos o trompetista Nate Wooley. O Nate é outro músico que admiramos bastante. São impressionantes todas as técnicas extensivas que ele desenvolveu e depois é um músico com uma criatividade e visão bastante amplas. A música do trio nunca antes tinha alcançado atmosferas e ambientes das conseguidas com o Nate. Esperamos um dia voltar a tocar juntos e, se possível, gravar. Em Chicago fizemos um concerto em trio que correu bem, apesar das dificuldades com o piano e a amplificação da sala. Para surpresa nossa tivemos uma assistência atenta e foi bom poder apresentar a nossa música nestas duas cidades emblemáticas dos Estados Unidos da América. Esperamos um dia fazer mais concertos por lá.

O que esperam da actuação no Jazz Em Agosto, levam algum truque na manga?

Não temos truques. O Jazz em Agosto é um festival com que nos identificamos e estamos bastante agradados em poder actuar num evento desta importância em Portugal. De qualquer forma esperamos surpreendermo-nos mais do que o costume, uma vez que de concerto para concerto têm acontecido com frequência novas e inesperadas investidas na nossa música.

Dois terços do RED Trio [Hernâni e Gabriel] fazem parte do trio do Nobuyasu Furuya, que mais recentemente também gravou em quinteto, com o Rodrigo Pinheiro e o Eduardo Lála como convidados. O trabalho com o Nobuyasu Furuya é uma extensão do RED Trio?

O trabalho com o Nobuyasu Furuya é bastante distinto do RED Trio. O Nobuyasu é um músico que está directamente ligado ao free jazz e a toda a carga histórica dessa corrente do jazz. A música do RED Trio não tem barreiras, para nós o que interessa é apenas o som. A única afinidade do RED Trio com a música do Nobuyasu acaba por ser a improvisação, mas acabamos sempre por andar em terrenos musicais muito diferentes do Nobuyasu Furuya Trio/Quinteto... mas é claro que existem alguns pólos de contacto.


Os membros do trio mantém colaborações permanente com outros projectos, será que isso dará alguma instabilidade ao grupo?

Antes pelo contrário, tal atitude é um enriquecimento. É bom poder desenvolver trabalho com outros músicos e projectos. Esta partilha permite trazer novas formas de encarar a música dentro do trio.

A vossa música é claramente herdeira do jazz, assenta na improvisação, mas nota-se uma permanente fuga aos lugares comuns, através da utilização de diversas estratégias. Como poderias definir a vossa música?

A nossa música é o reflexo das nossas experiências e influências pessoais.

Depois de actuarem com o John Butcher e o Nate Wooley, com quem têm planos (ou gostariam) de tocar?

Não temos planos para próximas colaborações. Queremos continuar a trabalhar com o John Butcher e se possível com o Nate Wooley. Mas é claro que existem alguns músicos com quem gostaríamos de poder tocar no futuro.

Há planos para novas gravações do trio?

Gravámos quase a totalidade dos concertos da tour que fizemos em Portugal com o John Butcher e estivemos também uma tarde com ele num estúdio de Lisboa. Estamos já a trabalhar na selecção de material do que vai ser o próximo disco.

Quais são os planos a curto e também a longo prazo?

O próximo passo é terminar o processo do nosso segundo disco. Estamos a trabalhar no sentido de conseguir tocar mais vezes no estrangeiro e também em Portugal.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
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