ENTREVISTAS
Matt Valentine & Erika Elder
Agricultura celestial
· 24 Fev 2010 · 12:47 ·
© Andrew Kesin
Matt Valentine e Erika Elder iniciam hoje, no Teatro Viriato, em Viseu, uma série de três concertos em Portugal. O casal de Vermont, pioneiros da diluição estética da folk e dos blues na psicadelia mais livre e aberta ("agricultura celestial", dizem eles, em notável auto-definição), actuam amanhã no Museu do Chiado, em Lisboa, e sexta-feira, no Festival Para Gente Sentada, em Santa Maria da Feira. No ano passado, com a The Golden Road (onde anda J Mascis, dos Dinosaur Jr., Doc Dunn e outras personagens da música verdadeiramente independente), lançaram Barn Nova, notável colecção de canções que passou relativamente discreto. Merecia mais atenção: viajava entre a folk desassombrada e malhas de rock psicadélica, sempre com candura total (a voz trémula de Valentine, a slide guitar dolente de Elder) e boa onda para bros em matinées de erva e pizza ("Feelin' Fine"). Em plena digressão, Matt Valentine arranjou uns minutos para responder por e-mail a algumas perguntas do Bodyspace.
Fizeste há pouco tempo uma digressão com os Dinosaur Jr.. Gostaste de tocar para uma audiência maior?

Sem dúvida. Boas vibrações. Tocámos em regime acústico e eléctrico. Ter o J [Mascis, dos Dinosaur Jr.] na bateria foi do caraças.

Mudaste-te de Nova Iorque para Vermont, uma zona rural, há uns anos. O que é que te levou a isso?

Precisava de regressar a uma forma de vida mais simples… Ajuda-nos a ouvir os intervalos melhor, o que é especialmente inspirador para o material baseado em ragas.

© Andrew Kesin

O que é te fascina na vida rural, sendo tu um tipo de Nova Iorque?

Podes tirar o rapaz da cidade, mas não podes tirar a cidade do rapaz.

Descreve um dia do casal Matt Valentine-Erika Elder em Vermont.

Começamos a improvisar e procuramos entrar em sintonia com o ambiente.

A tua abordagem à folk é livre e solta, mas, ao mesmo tempo, consegues manter um pé firme nessa tradição. Fazes isto desde os Tower Recordings. O que é te fez pegar na folk e nos blues dessa forma?

Trata-se, sobretudo, de aplicares a nossa assinatura, com reverência pela tradição, mas mantendo-a coerente com a nossa forma de viver e ouvir.

© Andrew Kesin

Foste uma peça central naquele famoso artigo da “Wire” que cunhou a New Weird America. É incrível: esse artigo já saiu há uns sete anos. Como é que vês esse movimento hoje?

Não penso muito nisso… Só continuo a fazer aquilo que sinto ser correcto e o que me soa bem.

Inventaste a etiqueta free folk, bem melhor do que a bastardização parva freak folk que os media fizeram. A primeira é liberdade, a segunda é propensa a exibicionismos bacocos.

Ya, não estou muito na onda freak folk… Não nos considero parte disso.

Continuas a lançar discos na tua editora, a Child of Microtones, e outros na Ecstatic Peace. Qual é o critério que usas para escolheres a editora de um determinado disco?

Com a Child of Microtones, tendemos a editar mais as nossas gravações caseiras, no nosso estúdio, na Maximum Arousal Farm. Mas tudo isso está a mudar agora e alguns discos da Child of Microtones poderiam ser facilmente lançados em editoras “maiores” e vice-versa. O nosso calendário de edições deste ano vai, sem dúvida, ser uma colheita/encontro do amor mais unificado.

© Andrew Kesin

Em Gettin’ Gone (e um pouco menos em Barn Nova), mostras a tua paixão pelas jam rock’n’roll à Neil Young. O que é levou para campos mais rock?

Não ouço isso… É um som com o qual cresci, por isso aparece naturalmente - não é algo em que tenhamos pensado… Limitamo-nos a pôr os amplificadores mais alto em algumas canções.

O vosso cão chama-se Zuma. É o teu disco favorito de Neil Young?

Adoro todo o seu trabalho. Ele e Roky Erickson [fundador dos 13th Floor Elevators e deus psych] são as minhas primeiras paixões musicais.
Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com
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