ENTREVISTAS
Vivian Girls
A democracia do rock ‘n’ roll
· 30 Nov 2009 · 01:47 ·
Elas são Cassie Ramone, Kickball Katy e Ali Koehler e adoram rock n roll. Chamam-se Vivian Girls, chegam-nos de Nova Iorque e já não serão novidade para quem acompanha estas coisas do rock sem peneirices e aditivos. Fazem canções muitas vezes furiosas, cheias de ruído e com uma noção de tempo maravilhosamente perdida entre décadas de consumo rock. Não são a salvação do rock mas também não se anunciam como tal - e isso é bonito. Fazem música simplesmente porque querem - abençoado sejas punk - e porque isso as ajuda na luta contra o dia-a-dia esmagadoramente igual, o emprego das 9 às 5 e a assustadora rotina de quem leva uma vida adulta limitada na sua liberdade. Que bonita é a democracia do rock ‘n’ roll. Nesse contexto, esta é provavelmente o único tipo de música que poderiam fazer. Com o segundo disco, Everything Goes Wrong, dão mais um passo rumo à liberdade e deixam no ar um sentimento de diversão e de fruição do tempo que muitos terão forçosamente que agarrar - enquanto é tempo. Cassie e Ali aceitaram o convite do Bodyspace e responderam a uma série de perguntas que colocaram as Vivian Girls à prova, permitindo a entrada no universo de um trio que vive mesmo para esta coisa infinita do rock n roll. Enquanto lhes seja permitido, enquanto nos seja permitido a todos.
O que é que permanece nas vossas mentes dos dias em que as Vivian Girls começaram? O que é que recordam desses dias?

Cassie Ramone: Nós só queríamos tocar alto, depressa e curto. Queríamos dar muitos concertos locais e andar muito em digressão também, e lançar muito vinil.

Ali Koehler: Felizmente fomos capazes de concretizar todos esses sonhos e ainda mais. Estamos muito contentes por estarmos onde estamos hoje em dia e temos a noção de quão sortudas somos por estarmos nesta posição.

Acham que as coisas aconteceram muito rapidamente para vocês? Quero dizer, de repente estão a tocar com Jay Reatard, Sonic Youth e King Khan & BBQ Show. Como é que soube essa ascensão?

C.R.: Não foi assim tão rapidamente. Com muita determinação e trabalho duro conseguimos entrar nos cartazes com bandas das quais somos fãs.

A.K.: E não foi como se estivéssemos constantemente a partilhar cartazes com bandas tão fantásticas como os Sonic Youth e outros assim. Ainda estamos muito no processo de mostrar trabalho, de dar concertos pequenos, a tentar mostrar a nossa música a novas pessoas todos os dias.

Isto poderia ter acontecido com esta intensidade em qualquer outro lugar que não Brooklyn ou Nova Iorque? Sentem-se alimentadas pelo local em que vivem, culturalmente e musicalmente?

C.R.: Acho que a cidade teve definitivamente um impacto na nossa música. Seria difícil para mim imaginar a mesmíssima banda nascer de outro lado qualquer quando nasceu, mas quem sabe…

A.K.: Mas há muitas bandas agora que recebem atenção e que não são de Nova Iorque. Acontece apenas que Nova Iorque é uma cidade massiva e cheia de gente que migrou para lá com a intenção de fazer música, por isso é como se estivesse a gerar uma quantidade desproporcionada de bandas neste momento, mas na verdade não é assim tão diferente de qualquer outra grande cidade.


A vossa banda é uma banda só de mulheres. Isto aconteceu de forma totalmente circunstancial ou tinham mesmo a intenção de fazer isto no feminino?

A.K.: Esta não devia sequer ser uma questão. Acho que não farias a mesma pergunta acerca de uma banda só de homens. O nosso género não tem nada a ver com a nossa música.

C.R.: Foi totalmente circunstancial. Aconteceu apenas sermos três amigas que tocavam música, que por acaso eram todas mulheres.

Têm aí um novo disco, intitulado Everything Goes Wrong. O que é que nos podem contar acerca deste segundo álbum? É bastante diferente do álbum de estreia?

C.R.: É mais longo e angustiado que o primeiro. Na minha opinião é um disco mais pensado, menos apressado, e mais verdadeiro para a nossa visão.

A.K.: É o primeiro disco em que estou envolvida e estou muito orgulhosa daquilo que fizemos. Espero que os nossos fãs também vejam este disco como uma progressão, tal como eu.

Como é um dia típico no estúdio para vocês? Acham que têm um processo criativo normal e standard como qualquer outra banda?

A.K.: Não tenho a certeza se o nosso processo criativo é normal uma vez que não fiz parte de muitas outras bandas, mas é definitivamente normal e aquilo que faz sentido para nós e isso é tudo o que importa.

C.R.: No estúdio nós limitamo-nos a trabalhar até não conseguirmos trabalhar mais, desde manhãzinha até ficar tarde. Somos muito boas a economizar o nosso tempo.

De que forma é que serem Vivian Girls mudou a vossa vida? Esperavam seguir uma caminho similar a este para as vossas vidas ou estavam a preparar-se para um emprego normal e um vida igualmente normal?

C.R.: Eu estava a preparar-me a mim mesma para uma carreira freelance em ilustração e a Katy para ensinar Física. A Ali estava a ter muita dificuldade em arranjar um emprego na altura em que se tornou parte da banda. Independentemente disso, acho que nenhuma de nós estava a planear ter uma vida normal. Quer a banda arrancasse a sério ou não estaríamos a tocar música na mesma e a seguir com os nossos sonhos.

A.K.: Ser músico como estilo de vida nunca foi algo que eu considerasse sequer porque parecia demasiado inalcançável. Nunca quis ter as minhas esperanças muito em cima. É claro que é algo com que sonhava desde que era uma miúda mas preparei-me sempre a mim mesma para uma vida das 9 às 5, e ainda estou a preparar-me. Para a maior parte das pessoas este tipo de sucesso é muito exigente, eu estou a apenas a gozá-lo enquanto dura.


Parece que passamos sempre por um período de tempo em que o rock é apreciado com todos os seus extras e depois uma altura em que as pessoas querem voltar às origens do rock n roll, puro e simples. Acham que vamos andar nisto para sempre?

C.R.: Provavelmente. Tudo nas artes é cíclico.

A.K.: Acho que a razão pela qual o tipo de rock que estamos a tocar está a tentar tanta atenção neste momento é em parte resultado das pessoas estarem a ficar cansadas de bandas indie rock demasiado produzidas e com autotune. Tenho a certeza que as pessoas também se cansarão de produções cruas em breve.

Por falar nisso, digam-me assim de rajada três bandas que fizeram do rock n roll um sitio melhor para se viver…

C.R.: Os Ramones, Sonic Youth e os Wipers.

A.K.: Sonic Youth, Bikini Kill e Nirvana

Acham que vivemos tempos excitantes no que diz respeito ao “novo” rock n roll, seja lá o que isso significa? Acham que existe um grupo particular de bandas que valem a pena ouvir?

C.R.: Sim, vivemos tempos bastante excitantes para o rock nos dias que correm. Há bandas como os Woods, Wavves, Crystal Stilts, Best Coast, Eat Skull, e outras tantas bandas que estão a fazer música maravilhosa.

A.K.: A era musical que estamos a viver agora vai ser certamente recordada com carinho. Temos muita sorte de estarmos a fazer o que estamos a fazer com os nossos pares. Há tantas bandas incríveis neste momento que fazem música com tanta qualidade e aque trabalham no duro para isso… Temos o apoio de um número interminável de músicos que realmente se importam com a música e esse é um sentimento fantástico.

Nesse processo, a In The Red é a casa perfeita para os vossos discos, para a vossa música? Existe um sentimento de comunidade ou apenas uma relação profissional?

C.R.: A In The Red é incrível. Existe definitivamente um sentimento de camaradagem entre todos os artistas na editora. E o Larry Hardy, o proprietário, tem um excelente gosto e contrata apenas bandas em que ele acredita realmente.

A.K.: Eu respeito de corpo e alma o Larry e a In The Red enquanto editora. As Vivian Girls não seriam o que são hoje se não fossem eles e estamos totalmente em divida com eles.

Tocar na Europa é um fetiche para vocês? Será que teremos a oportunidade de vê-las em Portugal em breve?

C.R.: Eu espero que sim.

A.K.: Nós vamos definitivamente eventualmente estar em Portugal. A Europa é a nossa segunda casa.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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