ENTREVISTAS
Zola Jesus
Sinfonia Desconcertante
· 09 Nov 2009 · 19:03 ·
Para além do seu trabalho com os Former Ghosts (onde divide funções com Freddy Ruppert e Jamie Stewart dos Xiu Xiu), Nika Roza Danilova investe agora e muito no projecto Zola Jesus como forma de expulsar todos os seus fantasmas. A urgência que Nika revela nesta entrevista ao Bodyspace é a explicação que precisávamos para perceber como nasce e de onde vem esta música tão poderosa. Em conversa com Nika Roza Danilova, foi possível perceber mais do que aquilo que a sua música deixa adivinhar e encontrar nela uma alma inquieta, desejosa por deitar cá para fora tudo aquilo que de artístico lhe corre nas veias. Uma coisa é certa: ainda vamos ouvir falar muito de Zola Jesus.
Quando é que começaste a fazer música? Como é que foi para ti começar a fazê-lo?
Eu tenho vindo a escrever música a minha vida toda. Toda a minha vida foi uma ópera épica. Eu era uma criança com muitas alucinações nesse sentido. Toda a vida fui cantando e escrevendo canções. Só comecei com Zola Jesus oficialmente quando tinha uns 16 ou 17 anos.
Tanto quanto sei a criação de Zola Jesus nasceu da reacção a um período muito mau na tua vida. O que é que nos podes contar acerca disso?
Eu usava Zola Jesus como um meio de confrontar as minhas ansiedades acerca de cantar e de criar arte de uma forma geral. Tinha passado por um período em que era tão auto-crítica que era impossível para mim fazer alguma coisa remotamente criativa sem odiar tudo no processo e o produto final. Foram tempos muito negros para mim. Sinto-me muito, muito vazia quando não estou a criar alguma coisa. Por isso, estar nessa posição foi muito difícil para as minhas emoções. Não tinha uma saída para a minha paixão.
Cresceste a ouvir nomes como The Swans, Throbbing Gristle, Diamanda Galas, Lydia Lunch. Gostaste imediatamente deles, do que eles transmitiam? O que te fazia gostar da música deles? Era o total oposto do que andavas a ouvir na altura?
Lembro-me da primeira vez que ouvi o Eskimo dos Residents, o meu irmão estava a tocá-lo no quarto dele. Fiquei tão ofendida, tão incomodada com o disco. Eu era muito nova, talvez 12 ou 13 anos. Mas não muito depois, comecei a desenvolver um gosto por coisas ofensivas e repugnantes. Fiquei verdadeiramente aborrecida e pouco estimulada com a música que ouvia (na altura era o velho punk de 77 e música pop). Por isso entrei sorrateiramente no quarto do meu irmão e ouvia toda aquela música que antes me fazia sentir tão desconfortável. Chegou a uma altura em que essa música se tornou cada vez menos desconfortável de ouvir, por isso comecei a procurar coisas que fossem mais e mais bizarras e estimulantes.
Voltando a Zola Jesus, li algures que na escola secundária usavas o nome Zola Jesus como forma de desencorajar os teus colegas de falarem contigo. Isso resultou?
Sim, surpreendentemente bem.
Estudar numa escola Americana é tão difícil quanto se diz ou isso é apenas o que nos mostram os filmes e lemos nos jornais?
Será mais duro que na Europa? Não é demasiado duro, acho que depende da escola que frequentas.
Vives em Madison, Wisconsin. De que forma é que isso afecta ou influencia a música que fazes? Como é isso de viver onde tu vives?
Viver em Madison tem definitivamente os seus prós e contras. O tempo é sempre muito poético, e inspirador para criar. Os invernos são tão rigorosos aqui, força-te mesmo a ser um sobrevivente. Nesse sentido fez de mim uma pessoa muito forte, o que por sua vez afectou a minha música. De qualquer das formas, a cidade é bastante transitória porque é uma cidade de universidades. Vivem aqui muitos estudantes.
Como é um dia-a-dia comum para ti? Sei que estudas e trabalhas ao mesmo tempo…
A minha vida é muito ocupada. Sou a rainha de me desdobrar em projectos, mas não sei fazer as coisas de outra forma. Sou estudante a tempo inteiro na universidade, e vou a todas as aulas possíveis para ser possível licenciar-me este ano. Também trabalho numa galeria de arte. Todo o tempo livre que tenho é passado a trabalhar na minha música, a dar concertos, e a fazer tudo o que está em meu poder para concretizar todas as minhas ambições. Neste momento estou a trabalhar no duro para terminar a escola para me ser possível fazer música a tempo inteiro. É isso que eu realmente quero. Acho que não vou estar totalmente satisfeita enquanto não me seja possível concentrar toda a minha energia na minha música.
O que é que estás a estudar?
Eu estudo francês, russo e filosofia. Há muitas outras coisas que eu teria estudado se tivesse o tempo para isso também.
Como é que encontrar tempo para fazer música no meio disso tudo? Quais são os teus momentos favoritos do dia parta criar?
É sempre um processo que me consome muito tempo para mim por isso, por exemplo, quando eu gravei o The Spoils estava em ferias da escola e tirei algum tempo do trabalho para me ser possível passar cada minuto a trabalhar nestas canções. Gosto de criar pela manhã, quando as ideias estão frescas e ainda estou a sair dos meus sonhos e pesadelos. Gosto de ter a manhã para escrever uma canção, depois à noite volto a ela e vejo o que posso editar sem acordar os vizinhos.
E como é que te sentes a lançar este The Spoils? Sentes-te confiante relativamente ao trabalho que conseguiste neste disco? Foi difícil chegar ao resultado final?
Estava tão nervosa no momento que o enviei para a editora. Sentia que tinha criado muitas canções verdadeiramente poderosas, ou pelo menos foram poderosas para mim ao fazê-las. Mas quando passas tanto tempo a gravar ficas realmente de certa forma desorientada acerca de aquilo que a canção pode soar para outra pessoa. Depois de ouvir o disco na sua totalidade consegui definitivamente reconhecer o crescimento relativamente às minhas gravações anteriores. E senti que as canções diziam muito acerca daquilo pelo qual estava a passar naquela altura.
Tens alguma vez medo que as tuas canções some demasiado pessoais? Alguma vez te sentes desprotegida?
Sim. Especialmente agora que estou a começar a remover as camadas de efeitos da minha voz. Toquei recentemente num concerto em Nova Iorque em que era apenas eu e um pequeno teclado da Casio. Não havia microfones, não havia pedais, nem nada. Foi a última tarefa para enfrentar os meus medos. Foi muito desconfortável para mim.
A minha canção favorita deste disco é a “Clay Bodies”. Parece uma canção de certa forma mágica, estranhamente positiva. Quais são os teus sentimentos relativamente a essa canção?
Senti-me mesmo exausta depois de ter escrito essa canção… mas de uma boa forma. A canção é sobre eu ir basicamente atrás daquilo que eu quero, em qualquer circunstância. Sempre que faço alguma coisa faço-o sempre com tanta intensidade. Não consigo fazer simplesmente alguma que fique a meio caminho. A estrutura da própria canção reflecte igualmente isto, da maneira que é uma balada épica e cheia. Queria escrever uma canção que também reflectisse especificamente o quanto eu adoro fazer música. Depois de ter experimentado a vida sem música, sem arte, sem paixão, sinto-me tão sortuda por a ter de volta. Sinto que nunca poderei viver sem a música de novo, e farei tudo no meu poder para fazer com que a música fique sempre perto de mim. Todo o álbum é basicamente um tributo ao facto de ter saído de um profundo entorpecimento, e mesmo que esteja triste por alguma razão, enquanto tiver Zola Jesus eu sei que serei capaz de seguir em frente.
Tens também outro projecto, os Former Ghosts. Como é trabalhar com o Jamie Stewart dos Xiu Xiu e com o Freddy? É totalmente diferente do trabalho que tens enquanto Zola Jesus?
Não é completamente diferente, mas sim, é diferente ainda assim. Eles são ambos tão fantásticos. Queremos todos a mesma coisa da nossa música, partilhamos mesmo uma visão forte em conjunto. Existe muito menos controlo nas canções, deixo muitas vezes para o Freddy 3 para o Jamie a escrita e eu apenas junto as vozes. É divertido poder fazer apenas aquilo que sei fazer melhor. Adoro escrever canções mas às vezes gosto apenas de cantar, também.
Tendes a ouvir a tua própria música? Consegues de certa forma colocar-te do outro lado numa posição de outsider e avaliar o teu próprio trabalho?
Tento não o fazer. Às vezes estou interessada nisso apenas por uma questão de ser capaz de melhorar, mas depois de ter estudado ópera durante tanto tempo e de não fazer mais nada senão apanhar as falhas na minha voz e na minha técnica, isso pode realmente danificar a tua confiança. Tento ter fé nos primeiros takes e defender as falhas e o erro numa gravação. Estou mesmo a tentar ensinar a mim mesma a não ser tão perfeccionista. Foi o ímpeto da minha queda anteriormente.
O que é que queres que as pessoas pensam ou percepcionem, ideitnfiquem na tua música? Existe algum sentimento ou atitude para alguém receber as tuas canções ou achas que isso pode e deve variar e pessoa para pessoa?
Sinceramente, quero apenas que sintam a energia e a paixão por aquilo que estou a fazer. As pessoas podem associar o que quiserem às minhas canções. Quero que as pessoas sejam capazes de criar as suas próprias memórias e significados na minha música. A música é uma coisa muito pessoal. Sinto que ser um músico é apenas ser um conduto para ajudar as outras pessoas a explorarem-se a si mesmas e o mundo que as rodeia através de inputs baseados em canções. Isso, eu estou apenas a prestar um serviço, mesmo que entretanto também esteja a realizar-me com isso pelo caminho.
A tua música é de alguma forma incluída nesta nova coisa do hypnagogic pop. Sentes-te parte de alguma coisa de todo? Sentes que partilhas sensibilidades musicais com alguns artistas em particular neste momento?
Não tenho a certeza, sinceramente. Ainda não percebo sinceramente o nascimento desse fenómeno. No que diz respeito a sensibilidades musicais partilhadas, também não tenho a certeza se me podia alinhar com outro artista qualquer. Não sei quais são as intenções dos outros músicos quando eles estão a fazer a música deles.
Tocaste recentemente no Adventures in Modern Music Festival da Wire. Achas que isto está de certa forma a acontecer demasiado rápido?
Não está a acontecer suficientemente rápido!
Como é que geres toda essa urgência? Tentas por exemplo impedir-te a ti mesma de editar demasiada música ou de fazer demasiado planos?
Fico excitada pela determinação de levar isto o mais longe que me for possível. Mas ao fazer isso tento ser inteligente no processo. Estou determinada em ter sucesso naquilo que faço, o que é diferente de ser apenas uma oportunista. Tive várias outras propostas de muitas editoras diferentes, mas até encontrar a editora certa serei paciente. Estarei sempre a gravar, mas aquilo que mostro ao mundo é extremamente limitado. O público não precisa de ouvir tudo o que eu criar. Apenas tem de ouvir o melhor. Por isso até eu conseguir produzir material suficiente que eu ache suficientemente bom para o público ouvir, vou trabalhar calmamente no meu canto.
Onde é que vês Zola Jesus em, digamos, cinco anos? Antecipas o teu futuro demasiado?
Sim, antecipo-o muito. Eu estabeleço expectativas verdadeiramente altas para mim mesma, por isso aquilo que eu tenho em mente para o meu futuro é provavelmente ridículo para qualquer outra pessoa. Mas e daí, eu achei que soava ridículo quando eu disse que queria ter um disco cá fora quanto tivesse 18 anos. O que eu quero para a minha música e para a indústria como um todo é mais do que eu posso sequer imaginar, mas estou preparada para trabalhar no duro até que isso se torne uma realidade.
André GomesEu tenho vindo a escrever música a minha vida toda. Toda a minha vida foi uma ópera épica. Eu era uma criança com muitas alucinações nesse sentido. Toda a vida fui cantando e escrevendo canções. Só comecei com Zola Jesus oficialmente quando tinha uns 16 ou 17 anos.
Tanto quanto sei a criação de Zola Jesus nasceu da reacção a um período muito mau na tua vida. O que é que nos podes contar acerca disso?
Eu usava Zola Jesus como um meio de confrontar as minhas ansiedades acerca de cantar e de criar arte de uma forma geral. Tinha passado por um período em que era tão auto-crítica que era impossível para mim fazer alguma coisa remotamente criativa sem odiar tudo no processo e o produto final. Foram tempos muito negros para mim. Sinto-me muito, muito vazia quando não estou a criar alguma coisa. Por isso, estar nessa posição foi muito difícil para as minhas emoções. Não tinha uma saída para a minha paixão.
Cresceste a ouvir nomes como The Swans, Throbbing Gristle, Diamanda Galas, Lydia Lunch. Gostaste imediatamente deles, do que eles transmitiam? O que te fazia gostar da música deles? Era o total oposto do que andavas a ouvir na altura?
Lembro-me da primeira vez que ouvi o Eskimo dos Residents, o meu irmão estava a tocá-lo no quarto dele. Fiquei tão ofendida, tão incomodada com o disco. Eu era muito nova, talvez 12 ou 13 anos. Mas não muito depois, comecei a desenvolver um gosto por coisas ofensivas e repugnantes. Fiquei verdadeiramente aborrecida e pouco estimulada com a música que ouvia (na altura era o velho punk de 77 e música pop). Por isso entrei sorrateiramente no quarto do meu irmão e ouvia toda aquela música que antes me fazia sentir tão desconfortável. Chegou a uma altura em que essa música se tornou cada vez menos desconfortável de ouvir, por isso comecei a procurar coisas que fossem mais e mais bizarras e estimulantes.
Voltando a Zola Jesus, li algures que na escola secundária usavas o nome Zola Jesus como forma de desencorajar os teus colegas de falarem contigo. Isso resultou?
Sim, surpreendentemente bem.
Estudar numa escola Americana é tão difícil quanto se diz ou isso é apenas o que nos mostram os filmes e lemos nos jornais?
Será mais duro que na Europa? Não é demasiado duro, acho que depende da escola que frequentas.
Vives em Madison, Wisconsin. De que forma é que isso afecta ou influencia a música que fazes? Como é isso de viver onde tu vives?
Viver em Madison tem definitivamente os seus prós e contras. O tempo é sempre muito poético, e inspirador para criar. Os invernos são tão rigorosos aqui, força-te mesmo a ser um sobrevivente. Nesse sentido fez de mim uma pessoa muito forte, o que por sua vez afectou a minha música. De qualquer das formas, a cidade é bastante transitória porque é uma cidade de universidades. Vivem aqui muitos estudantes.
Como é um dia-a-dia comum para ti? Sei que estudas e trabalhas ao mesmo tempo…
A minha vida é muito ocupada. Sou a rainha de me desdobrar em projectos, mas não sei fazer as coisas de outra forma. Sou estudante a tempo inteiro na universidade, e vou a todas as aulas possíveis para ser possível licenciar-me este ano. Também trabalho numa galeria de arte. Todo o tempo livre que tenho é passado a trabalhar na minha música, a dar concertos, e a fazer tudo o que está em meu poder para concretizar todas as minhas ambições. Neste momento estou a trabalhar no duro para terminar a escola para me ser possível fazer música a tempo inteiro. É isso que eu realmente quero. Acho que não vou estar totalmente satisfeita enquanto não me seja possível concentrar toda a minha energia na minha música.
O que é que estás a estudar?
Eu estudo francês, russo e filosofia. Há muitas outras coisas que eu teria estudado se tivesse o tempo para isso também.
Como é que encontrar tempo para fazer música no meio disso tudo? Quais são os teus momentos favoritos do dia parta criar?
É sempre um processo que me consome muito tempo para mim por isso, por exemplo, quando eu gravei o The Spoils estava em ferias da escola e tirei algum tempo do trabalho para me ser possível passar cada minuto a trabalhar nestas canções. Gosto de criar pela manhã, quando as ideias estão frescas e ainda estou a sair dos meus sonhos e pesadelos. Gosto de ter a manhã para escrever uma canção, depois à noite volto a ela e vejo o que posso editar sem acordar os vizinhos.
E como é que te sentes a lançar este The Spoils? Sentes-te confiante relativamente ao trabalho que conseguiste neste disco? Foi difícil chegar ao resultado final?
Estava tão nervosa no momento que o enviei para a editora. Sentia que tinha criado muitas canções verdadeiramente poderosas, ou pelo menos foram poderosas para mim ao fazê-las. Mas quando passas tanto tempo a gravar ficas realmente de certa forma desorientada acerca de aquilo que a canção pode soar para outra pessoa. Depois de ouvir o disco na sua totalidade consegui definitivamente reconhecer o crescimento relativamente às minhas gravações anteriores. E senti que as canções diziam muito acerca daquilo pelo qual estava a passar naquela altura.
Tens alguma vez medo que as tuas canções some demasiado pessoais? Alguma vez te sentes desprotegida?
Sim. Especialmente agora que estou a começar a remover as camadas de efeitos da minha voz. Toquei recentemente num concerto em Nova Iorque em que era apenas eu e um pequeno teclado da Casio. Não havia microfones, não havia pedais, nem nada. Foi a última tarefa para enfrentar os meus medos. Foi muito desconfortável para mim.
A minha canção favorita deste disco é a “Clay Bodies”. Parece uma canção de certa forma mágica, estranhamente positiva. Quais são os teus sentimentos relativamente a essa canção?
Senti-me mesmo exausta depois de ter escrito essa canção… mas de uma boa forma. A canção é sobre eu ir basicamente atrás daquilo que eu quero, em qualquer circunstância. Sempre que faço alguma coisa faço-o sempre com tanta intensidade. Não consigo fazer simplesmente alguma que fique a meio caminho. A estrutura da própria canção reflecte igualmente isto, da maneira que é uma balada épica e cheia. Queria escrever uma canção que também reflectisse especificamente o quanto eu adoro fazer música. Depois de ter experimentado a vida sem música, sem arte, sem paixão, sinto-me tão sortuda por a ter de volta. Sinto que nunca poderei viver sem a música de novo, e farei tudo no meu poder para fazer com que a música fique sempre perto de mim. Todo o álbum é basicamente um tributo ao facto de ter saído de um profundo entorpecimento, e mesmo que esteja triste por alguma razão, enquanto tiver Zola Jesus eu sei que serei capaz de seguir em frente.
Tens também outro projecto, os Former Ghosts. Como é trabalhar com o Jamie Stewart dos Xiu Xiu e com o Freddy? É totalmente diferente do trabalho que tens enquanto Zola Jesus?
Não é completamente diferente, mas sim, é diferente ainda assim. Eles são ambos tão fantásticos. Queremos todos a mesma coisa da nossa música, partilhamos mesmo uma visão forte em conjunto. Existe muito menos controlo nas canções, deixo muitas vezes para o Freddy 3 para o Jamie a escrita e eu apenas junto as vozes. É divertido poder fazer apenas aquilo que sei fazer melhor. Adoro escrever canções mas às vezes gosto apenas de cantar, também.
Tendes a ouvir a tua própria música? Consegues de certa forma colocar-te do outro lado numa posição de outsider e avaliar o teu próprio trabalho?
Tento não o fazer. Às vezes estou interessada nisso apenas por uma questão de ser capaz de melhorar, mas depois de ter estudado ópera durante tanto tempo e de não fazer mais nada senão apanhar as falhas na minha voz e na minha técnica, isso pode realmente danificar a tua confiança. Tento ter fé nos primeiros takes e defender as falhas e o erro numa gravação. Estou mesmo a tentar ensinar a mim mesma a não ser tão perfeccionista. Foi o ímpeto da minha queda anteriormente.
O que é que queres que as pessoas pensam ou percepcionem, ideitnfiquem na tua música? Existe algum sentimento ou atitude para alguém receber as tuas canções ou achas que isso pode e deve variar e pessoa para pessoa?
Sinceramente, quero apenas que sintam a energia e a paixão por aquilo que estou a fazer. As pessoas podem associar o que quiserem às minhas canções. Quero que as pessoas sejam capazes de criar as suas próprias memórias e significados na minha música. A música é uma coisa muito pessoal. Sinto que ser um músico é apenas ser um conduto para ajudar as outras pessoas a explorarem-se a si mesmas e o mundo que as rodeia através de inputs baseados em canções. Isso, eu estou apenas a prestar um serviço, mesmo que entretanto também esteja a realizar-me com isso pelo caminho.
A tua música é de alguma forma incluída nesta nova coisa do hypnagogic pop. Sentes-te parte de alguma coisa de todo? Sentes que partilhas sensibilidades musicais com alguns artistas em particular neste momento?
Não tenho a certeza, sinceramente. Ainda não percebo sinceramente o nascimento desse fenómeno. No que diz respeito a sensibilidades musicais partilhadas, também não tenho a certeza se me podia alinhar com outro artista qualquer. Não sei quais são as intenções dos outros músicos quando eles estão a fazer a música deles.
Tocaste recentemente no Adventures in Modern Music Festival da Wire. Achas que isto está de certa forma a acontecer demasiado rápido?
Não está a acontecer suficientemente rápido!
Como é que geres toda essa urgência? Tentas por exemplo impedir-te a ti mesma de editar demasiada música ou de fazer demasiado planos?
Fico excitada pela determinação de levar isto o mais longe que me for possível. Mas ao fazer isso tento ser inteligente no processo. Estou determinada em ter sucesso naquilo que faço, o que é diferente de ser apenas uma oportunista. Tive várias outras propostas de muitas editoras diferentes, mas até encontrar a editora certa serei paciente. Estarei sempre a gravar, mas aquilo que mostro ao mundo é extremamente limitado. O público não precisa de ouvir tudo o que eu criar. Apenas tem de ouvir o melhor. Por isso até eu conseguir produzir material suficiente que eu ache suficientemente bom para o público ouvir, vou trabalhar calmamente no meu canto.
Onde é que vês Zola Jesus em, digamos, cinco anos? Antecipas o teu futuro demasiado?
Sim, antecipo-o muito. Eu estabeleço expectativas verdadeiramente altas para mim mesma, por isso aquilo que eu tenho em mente para o meu futuro é provavelmente ridículo para qualquer outra pessoa. Mas e daí, eu achei que soava ridículo quando eu disse que queria ter um disco cá fora quanto tivesse 18 anos. O que eu quero para a minha música e para a indústria como um todo é mais do que eu posso sequer imaginar, mas estou preparada para trabalhar no duro até que isso se torne uma realidade.
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