ENTREVISTAS
Six Organs of Admittance
Nascido para perder o barco
· 07 Out 2009 · 11:05 ·
Six Organs of Admittance, a falsa banda de Ben Chasny, significa já um vasto e denso corpo estético, com alguns dos melhores discos que a música independente dos últimos anos já ofereceu, como For Octavio Paz (2003) e School of the Flower (2005). Lança agora Luminous Night, disco em que a guitarra tem um papel menos central, muito graças à participação de músicos convidados como Hans Teuber (flautas), Tor Dietrichson (tablas) e Eyvind Kang (viola). "Queria um som mais cheio que não dependesse tanto da guitarra", explica Chasny, em entrevista ao Bodyspace. Mas o futuro deverá ser diferente, revela. O músico, que se mudou recentemente para Seattle, desfia ainda o nada ortodoxo processo de criação de um dos temas do disco e declara amor aos nossos Gala Drop.
Luminous Night é um disco bastante diferente do anterior. Como foi o processo de composição e de gravação?

Foi bastante parecido com o dos outros discos. Mudei-me para Seattle há pouco tempo e queria lá gravar com outros músicos.

Como é que definirias a cidade?

É muito bonita. Muito verde.

Diria que os convidados ajudam a dar forma ao som e determinam mudanças nos teus discos. O que é que tinhas em mente quando convidaste os músicos que tocam em Luminous Night?

Foi uma grande honra ter alguém como o Eyvind Kang no disco. Adoro a música dele há anos. Queria um som mais cheio que não dependesse tanto da guitarra.

Mas quando os convidas já tens um som em mente ou ele surge naturalmente, tocando com os músicos?

As canções já estavam pensadas e escritas. De qualquer forma, os músicos podem fazer o que quiserem quando os convido para tocar...

Este novo disco é mais preenchido do que os anteriores. É psicadélico, mas de uma forma clássica – às vezes até me lembra os Pink Floyd ou algum rock progressivo. É resultado de uma maior confiança tua enquanto músico?

Não diria que estou mais confiante do que antes. Só quis ter um som mais cheio desta vez. O próximo disco será, provavelmente, bastante esparso.


Este não é bem um disco de guitarra, como eram os anteriores. Experimentaste outros instrumentos ou esse papel ficou para os convidados?

Esse papel é deixado aos convidados. Brinco com outros instrumentos, mas nada que outras pessoas devam ouvir.

Ao retirares um pouco o enfoque da guitarra, foi uma forma de te forçares a fazer as coisas de forma diferente?

Não, nem por isso. Foi mais uma questão de ter texturas diferentes das dos outros discos.

Como é que reages quando lês pessoas que lamentam o polimento em demasia nos últimos dois discos de Six Organs? É algo que procures para tornar as coisas mais claras e definidas?

Faz sentido porque neste momento ser lo-fi está in e na moda. Sendo uma pessoa que fez isso durante anos, antes de alguém querer saber, é muito engraçado ler pessoas a queixarem-se de já não ser lo-fi. Acho que nasci para perder o barco.

Tenho curiosidade sobre "Cover Your Wounds With The Sky". Lembra-me a electrónica paisagista de Tim Hecker, algo a que nunca tínhamos associado Six Organs. Como é que aconteceu isso?

É engraçado. Nunca tinha ouvido Tim Hecker antes de fazer essa canção, mas andava toda a gente a dizer isso e fui ouvir. E gostei muito da música dele! Essa canção fez uma longa viagem. Quis criar uma canção que fosse da criação digital mais genérica à forma mais orgânica e analógica. Comecei a criar drones no Garageband [programa de criação musical em Macintosh], coisa que qualquer pessoa pode fazer. Depois transferi-os para o Cubase [outro programa do género, mais complexo] e pus-me a fodê-los e a alterá-los com o pitch, efeitos, essas coisas. Depois, transferi as canções para um gravador de cassetes de quatro pistas e continuei a fodê-las, desta vez de forma analógica, com o pitch e o tone. Levei as cassetes e enterrei-as no meu quintal durante dois meses, durante as chuvas intermináveis aqui de Seattles. Desenterrei-as, limpei-as, pus a fita numa nova cassete vazia e pu-las a tocar de volta num quatro pistas, ligado a um full stack Sunn Model T num volume ensurdecedor. Gravei assim a pista básica. Depois juntou outros instrumentos, como o piano.


Tens já uma vasta obra enquanto Six Organs. O que é que une estes discos todos?

Penso que será o sentido de equilíbrio entre canções e exploração livre.

Já disseste que quando começaste com Six Organs estavas inspirado pelas boas coisas do underground? de então. Como é que vês o estado actual do underground?

Acho que já não existe underground. O termo underground indica que é preciso cavar para encontrar o que está debaixo do chão. Hoje só é preciso carregar em alguns botões e bam!, tens acesso a tudo o que queres. Exige muito pouca escavação. De qualquer forma, pondo a semiótica de lado, acho que há imensos músicos a fazer sons interessantes e grandes discos.

Dá alguns exemplos.

Bem, o Tim Hecker agora mesmo! Son Of Earth, Blues Control e Tomokawa Kazuki são alguns dos que ando a ouvir. Também Masayuki Takayanagi e o duo do [Chris] Corsano com [Mick] Flower.

Qual é a banda portuguesa que queres levar em digressão e que referiste no teu site?

Estou a tentar levar os Gala Drop comigo na carrinha. Estou confiante que vá acontecer. Acho que será uma excelente digressão. Ambas as bandas soam completamente diferentes, mas muito complementares. O CD deles tocou constantemente no carro durante meses e meses. Também devemos tocar em Portugal.

E os Comets On Fire? Avatar já tem mais de três anos...

Deve ainda levar mais tempo até que gravemos algo de novo.
Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com
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