ENTREVISTAS
Garotas Suecas
Algumas Raparigas são maiores que outras
· 02 Mar 2009 · 19:38 ·
Deles dizem que são uma das últimas bandas de rock 'n' roll do Brasil mas o som dos Garotas Suecas incorpora e encerra mais do que isso: música negra, soul, funk, entre outras variantes - com Mutantes e Jorge Ben à mistura. são de São Paulo e são seis - e só um deles é de facto uma "garota". Seguem os passos que habitualmente estão disponíveis para uma banda no Brasil mas isso já os levou aos Estados Unidos - que parece ser o sonho de qualquer banda brasileira - e já caminham no território em que todas as hipóteses são possíveis. Quem sabe se o futuro não lhes reserva o sucesso alcançado pelos conterrâneos Cansei de Ser Sexy. Em entrevista, o vocalista Guilherme Saldanha avalia as possibilidades dos Garotas Suecas enquanto a festa acontece como pano de fundo.
Os Mutantes serão uma influência certamente dos Garotas Suecas. Li em textos sobre vocês também os nomes de Rolling Stones, Fela Kuti e Aretha Franklin. Está tudo certo aqui?

Tudo certo. Acho que a nossa ligação com os Mutantes tem muito a ver com uma postura meio irreverente e uma admiração pelo pastiche. Na verdade nós somos do mesmo bairro que eles, a Pompéia. É um bairro montanhoso e bem arborizado habitado por imigrantes italianos na casa dos 60, uma coisa bem tranquila. A diversão da juventude é organizar bailes nos fins-de-semana onde rolam todos esses discos maravilhosos que já foram gravados por aí.

Vocês definem-se aliás como garage/soul/rock. Pendem para algum lado em especial?

Se escutares as nossas primeiras gravações não vais ter dúvidas de que pendíamos para a garagem. Escutávamos, ou melhor, estudávamos, muitas bandas obscuras da década de 60, sobretudo americanas e britânicas, mas, também, brasileiras e até portuguesas. Depois de um tempo a começamos a ouvir bastantes coisas brasileiras, tipo os dinossauros Roberto Carlos, Tima Maia, Caetano Veloso, Gal e Luiz Melodia. Ultimamente temos ouvido bastante soul e funk. Muito Sly and the Family Stone e a turma da pesada.

O álbum homónimo do Gerson King Combo diz-vos alguma coisa? Poderá ser também uma influência para os Garotas Suecas?

Diz-nos que tu és muito porreiro, afinal de contas, quantas pessoas fora do Brasil conhecem esse disco? Contando contigo talvez umas sete. Em todo caso, o Gersão, como nós lhe chamamos, é o James Brown tupiniquim e como tal não poderia receber outra coisa do que nossa admiração.


Têm previsto o lançamento de algum disco nos próximos tempos? Isso é uma prioridade neste momento para os Garotas Suecas?

Nós acabamos de lançar um EP com cinco faixas. O nome do disco é “Dinossauros”. As faixas foram disponibilizadas no nosso myspace e também estamos a fazer CDs e LPs. Com certeza para o final do ano uma das nossas prioridades é lançar um disco “cheio”. Seria óptimo descolar um selo que desse uma força ao nosso projecto. Na verdade ele já tem até nome: o disco chamar-se-á “A Escaldante Banda do seu Tião Brilhantina”. Vai ser uma espécie de Sgt. Peppers tropical escrito e gravado em 2009.

É possível o crescimento dos Garotas Suecas em São Paulo? A cidade oferece essa possibilidade?

Os Garotas Suecas já rodaram praticamente todo o circuito alternativo de São Paulo, composto por seis casas de espectáculos, cinco bares e algumas pizzarias. Quero dizer, São Paulo é grande mas o circuito indie é um pouco limitado. O que estamos a começar a experimentar agora é tocar em lugares mais chiques, tipo uns teatros e coisas assim. Também estamos numa de tocar fora de São Paulo. Olha só, já tocamos em Washington e ainda não tocamos em Brasília! Será que vamos tocar em Lisboa antes de tocar lá?

Há muitas novas bandas a praticar o mesmo tipo de som dos Garotas Suecas no Brasil hoje em dia? Conhecem algumas?

Há um monte de bandas que escutam as mesmas coisas que nós e fazem um som porreiro, mesmo que em outras direcções. Por exemplo o pessoal da Trupe Chá de Boldo, uma banda bem divertida daqui de São Paulo, ou os Haxixins que até já tocaram aí em Portugal.

Os vossos concertos são tão festivos como as vossas canções deixam adivinhar? Fazem os possíveis para que isso possa acontecer?

Os nossos concertos são bem festivos, sim. Aliás, um dos nossos objectivos é tocar num trio eléctrico no carnaval. Nós demos um passo em direção a isso depois de termos banidos os acordes menores dos nossos concertos. Uma diferença entre as gravações e os concertos é que ainda não estamos a tocar com os sopros em palco porque ainda somos uma banda sem dinheiro e tal. Compensamos isso com muito fuzz e pouca vergonha.

Acabaram agora de chegar de uma digressão que vos levou aos Estados Unidos, a Nova Iorque nomeadamente. Como é que correu e qual é a importância disto para vocês?

Começou meio que por acaso, é uma história interessante. O nosso guitarrista, o Sesa, tinha-se mudado para Nova Iorque para estudar arquitectura em 2007. Em Julho de 2008 nós resolvemos tirar as nossas economias do banco, ir visitá-lo e aproveitar para fazer alguns concertos. Com a ajuda dele conseguimos marcar quatro modestos concertos em pequenos clubes de Brooklyn e Manhattan. Num desses concertoss estava o Heartwell, guitarrista e vocalista da banda The AAmerican Tenants. O Heartweel gostou tanto da banda que nos apresentou à Michelle. A Michelle, por sua vez, está numa das “booking agencys” mais porreiras dos EUA, a Panache. Ela alinhou em trabalhar connosco e marcar uma tournée de verdade, que foi essa que acabou de encerrar em Janeiro. Os concertos foram fantásticos e com a repercussão toda acabamos por ser convidados para tocar num monte de festas porreiras no South by Southwest, no Texas, e assim vai... Quer dizer, começou meio que por acaso mas as coisas estão a tomar um caminho porreiro lá fora. As pessoas dizem que nós trazemos além de um “fresh sound”, também uma “fresh atitutde”. Nós, claro, não temos a menor ideia do que eles estão a falar, mas o pessoal parece gostar, então vamos nessa...


Pretendem seguir o mesmo caminho de internacionalização de por exemplo as Cansei de ser Sexy?

Olha André, os CSS cantam em inglês e nós em português. Isso faz uma enorme diferença. Ainda que o nosso som seja baseado no rock, sentimo-nos profundamente ligados à música e à cultura brasileira de um modo geral. Claro que queremos tocar em todo o canto que tenha alguém disposto a ouvir-nos, mas para nós, cortar os laços com o que rola no Brasil seria um pouco complicado. Nós queremos mesmo é alugar uma casa na Bahia ou em Niterói e fazer umas canções tipo rock barato-total, entendes? Depois pegamos num avião e vamos derreter a neve e fritar a cabeça do pessoal aí de cima.

O vosso nome vem de realmente da admiração pelas garotas suecas ou foi a primeira coisa que vos veio à cabeça?

Se eu dissesse que foi a primeira coisa que nos passou pela cabeça eu estaria a mentir. Lembro-me de alguém ter sugerido Iggy Popular e os Patetas, depois Os Reis do Ritmo e depois Nico e suas Tangerinas Maduras. Posso dizer-te que quando eu sugeri Garotas Suecas todos se sentiram abençoados. Enfim, nós tivemos uma fase de admiração pelas garotas suecas, elas eram três. Eu e o Tomaz (guitarrista) escrevemos uma canção de acasalamento chamada “Swedish Girls” cujo refrão “Brazilian Guys” era cantado pelas garotas, mas isso já faz algum tempo.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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